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Alguns chamam de smooth jazz (o jazz da expressão é um elogio), outros chamam de música de elevador ou de consultório médico, outroutros de pop-rock, para muitos é porcaria mesmo. Eu acho, se comparando com Lee Ritenour, o Larry Carlton digerível. Tive um lp gravado ao vivo, no qual ele interpreta, entre outros, All blues e So what de modo agradável.
Achei nas encruzilhadas da web o disco Deep into it, de Carlton. Ali, o que domina é o mela-cueca com pitadas de groove funky/rock. Eu até que curto o timbre da guitarra do camarada. As notas picadas, frases curtas e som aveludado valorizam o disco que, ao fim e ao cabo, vai bem na sala de espera do dentista (fará você se sentir bem ao esburacarem seus dentes). Aos chegados que fizerem download, cuidado com a faixa Don't break my heart - o alto índice de açúcar pode desencadear diabetes (a situação pode piorar se acrescentar a cançãozinha mela-cueca I still believe - inacreditável o que se faz para ganhar uma grana) .
Para os fãs e drogadictos de plantão não deixarei o link. Sei que estou fazendo um bem para vocês. Encaminhem-se ao centro de desintoxicação mais próximo.
Love, lost and found, de 1995, é uma compilação de standards muito bem interpretada por Morgan. Ao seu lado estão Cedar Walton (piano), Ray Brown (baixo) e Billy Higgins (drums), um time de respeito. A leveza de sentimento em suas interpretações nesse cd não revelam sua dura história: foram três décadas envoltas por drogas e prisão. É um sobrevivente. Sua experiência de vida, graças às musas, não fez sucumbir sua verve musical. Talvez nela tenha encontrado motivo para prosseguir até sua passagem em 12/2007.
Vocês poderão ouvir My one and only love e All the things you are no podcast Quintal do Jazz
Caso vocês curtam, eis os links para download: parte 1 e parte 2.E por falar em novos nomes do jazz, ouvi o saxofonista Eli Degibri. O cd In the beginning (2003) me surpreendeu com a boa mescla do contemporâneo com a tradição. A equipe, como diz Salsa, é da confraria NY-Tel Aviv: o guitarrista Kurt Rosenwinkel e o pianista Aaron Goldberg mais Jeff Ballard e Ben Street compõem o quinteto liderado por Eli.
Achei na rede um comentário do vizinho John Lester (jazzseen), muito bem escrito, que reproduzo sem a devida autorização:
"Esse saxofonista judeu não coloca mais seu estojo na calçada para recolher nossas moedas. Nem cobra aqueles juros extorsivos denunciados por Lima Barreto em seu clássico Bruzundanga. Eli é apenas um grande músico, ainda não muito conhecido por aqui, mas que já anda aprontando as suas na cidade que hoje mantém o jazz vivo: New York. Começou a estudar música aos 7 anos e aos 16 já tocava profissionalmente. Primeiro músico judeu a receber bolsa integral para Berklee (imaginem a felicidade dele!), foi também um dos poucos bolsistas integrais (apenas 6 em todo o mundo) no Thelonious Monk Institute. Além de competente arranjador e compositor, Degibri possui uma sensibilidade bastante inusitada, considerando que o mundo do jazz contemporâneo tem se dedicado bastante ao tecnicismo irascível e ao academicismo afetado. Para mim existem traços claros de John Coltrane e Sonny Rollins em sua sonoridade e discurso, combinados em doses adequadas e equilibradas: inventividade e potência, graça e força, todas simetricamente dosadas por sua voz própria e original. Após tocar com gente como Herbie Hancock, Al Foster, Ron Carter e o brasileiro Paulo Braga, Eli merece a boa acolhida que tem recebido no meio jazzístico, com apresentações e gravações como líder de seus próprios grupos e álbuns".
Deixarei as faixas Cherokee e Shoohoo no podcast do Jazz Contemporâneo.
Pé de página:
Um bom começo?
ou
Silêncio, por favor, a música merece ser ouvida!
Foi inaugurada, ontem, a casa de shows Spirito Jazz. Não fui convidado, periferia que sou. Um amigo foi e me disse que o espaço é muito bom. Disse-me a testemunha que o show não foi de jazz, mas Filó é um grande músico. O que atrapalhou foi a ala vip, os "entendidos de música" convidados: estavam se lixando para o show de Filó Machado. A falação dominou o ambiente - total descaso com o músico convidado para a inauguração. É aquela história: o mau hábito de só freqüentar boteco e achar que música é trilha sonora para conversa (como acontece em botecos de Vitória). O que não acontecerá quando o restaurante for inaugurado? É uma pena.
Ao chegarmos à casa, lá estava o pianista Chano Dominguez (*Cadiz, 1960) cuja formação não poderia deixar de ter uma boa dose de flamenco. No seu "myspace", ele nos conta que começou com o violão (na orelhada) e, depois, quando já encarava os teclados, fez algumas incursões no cenário rock'n'roll. Sua alma experimental, no entanto, o levou ao jazz e, a partir daí, a coisa mudou. O espanhol rapidamente tornou-se conhecido no meio jazzy e desenvolveu trabalhos com fugurinhas como Paco de Lucía, Joe Lovano, Herbie Hancock, Jack DeJohnette e Wynton Marsalis com a Lincoln Center Jazz Orchestra.
Pois bem, tive o prazer de receber uma cópia (através do Salsa) do último disco do Chryso Rocha, guitarrista de linguagem bem contemporânea, também conhecido por suas performances nos grupos Nota Jazz e Mistura Fina. O cd, gravado em família, traz 9 composições do guitarrista e 1 do seu filho Rafael. Os temas têm estrutura agradável e de fácil digestão, trabalhados com boa coesão. Eu, pé no fusion que tenho, gostei de Estrada para Meaípe, tema de abertura. Outra que me agradou bastante, com sonoridade a la Jeff Beck, é a terceira do cd: Ói o tombo. Depois do porto é uma baladinha bem agradável, com guitarra com sonoridade mais smooth, que você pode dedicar à sua amada. O overdrive retorna com força em Voltando de lá. Podemos dizer que, nesse cd, Chryso Rocha presta uma homenagem
a alguns nomes da moderna guitarra fusion mundial. Nele encontramos um pouco de Benson, Beck, Stern, Carlton. Uma boa homenagem às suas influências.
Sobre o que rolou na gravação, diz o guitarrista, no encarte, que "sempre há algo de novo naquele som". Explica: a música nunca se repete, a cada performance surge um acento aqui e acolá que pode imprimir um feeling diferente à interpretação. Assim sendo, as gravações têm que ser com todos juntos, à vera, num take que capturará o momento único, com seus erros e acertos.
Lembro-me de uma cena do filme Straight, no chaser, no qual Monk, após uma sessão num estúdio, é interpelado pelo técnico de som que pensava estar presenciando um ensaio: "então, vamos gravar agora?", e Monk, dando aquelas voltinhas que lhes são peculiares, diz, irritado, que já deveria ter gravado pois ele está sempre ensaiando.
Vocês poderão ouvir Ói o tombo no podcast de jazz contemporâneo e todo o disco nesse link .