terça-feira, 30 de dezembro de 2008

So long, Freddie


Quando abri, há pouco, as páginas da web que costumo visitar (jazzseen, blog do Grijó e outras) li mais um necrológio. Mais uma estrela une-se à constelação que formou-se no céu durante esse ano de 2008. Morreu Hubbard, trompetista de poucos pecados, se é que foram.


Ouço agora um disco (na verdade são dois) gravados no clube San Francisco's Keystone Korner. Afirma o encarte que o boteco é próximo a uma infame esquina da Broadway e Columbus e que lá é lugar para se ouvir música de verdade. E não podia ser de outro modo. Esses lugares, próximos a regiões proibidas, átrio entre-mundos, são os lugares por onde trafegam os heróis. E Hubbard obviamente lá deixou sua marca. Não chega a ser o melhor dos seus trabalhos, mas é uma boa lembrança. Pedreira sonora.


Deixarei os volumes I & II, gravados nos dias 27 e 28 de novembro 1981. Com ele estão Joe Henderson, Hutcherson, Billy Childs, Larry Klein e Steve Houghton.


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segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Wilbur Harden & Coltrane

Lá pelas bandas de '58-'59 do século passado, um trompetista e "flueghelhornista" chamado Wilburn Harden gravou bons discos ao lado de um escrete sensacional: John Coltrane, Tommy Flanagan, Doug Watkins e Louis Hayes. Um dos discos é Mainstream 1958, disco vigoroso, com sonoridade que bem representa o título escolhido.

Na contracapa são tecidas algumas considerações, assinadas por H. Alan Stein, sobre a palavra-título que merecem ser lidas e anotadas. Diz-nos o autor que "mainstream é uma palavra que foi bastante explorada no ano passado [57] ... que geralmente é associada ao retorno da "big-voice", do "hard-swinging" - expressão da Era do Swing, acrescida de alguns elementos mais atuais (fim dos anos 50). Curiosamente, o autor destaca que alguns críticos viam nessa linguagem, fruto da costa leste, a influência (negativa) do rock'n'roll. Vê se pode uma coisa dessa. Imagina se o pessoal visse/ouvisse a fusão da década seguinte...

Pois bem, esse disco é supimpa. Wilburn Harden, aqui, só pilota o flueghel - e bem! Não é daqueles instrumentistas que despejam notas aos milhões, ao contrário, ele é até econômico. Mas o seu som é convinvente e merece destaque. São cinco faixas primorosas, nas quais se percebe os primeiros passos de Coltrane em busca daquele som que o caracterizou na década seguinte (desculpem-me os fãs, mas prefiro o Coltrane desse disco), como é o caso de seu solo em Snuffy, que deixarei no podcast Quintal do Jazz.

Sim, tá bom, eis o link para download

domingo, 28 de dezembro de 2008

Chet Baker

A vida não admite evitar emoções. Tarefa besta, fadada ao fracasso. Só morto. Acho. De acordo com o depoimento do morto-vivo do filme p&b que assisti, estar morto dói. Querer não sentir é bobagem galopante, pois. Prossigo.

Lembro-me de como me emocionou a cena dos beijos censurados no final de Cinema Paradiso. Momentos. Momentos de nossa vida que nada têm de efêmero. Lembro-me do beijo adolescente e da doce pergunta que aquela boquinha mais que meiga me dirigiu: "é assim?" Assustei-me: eu não sabia responder. Eu não sabia e me calei.

Os tropeços, aquilo que, segundo consta, deveriam nos fortalecer - entenda-se: enrijecer a alma - de fato, são janelas que se abrem para o oceano que tentamos represar. Eu tentei isso. Tento, ainda. Mas aí vem alguém e faz um belo filme, canta uma bela canção, aquela que eu não quis cantar - Body and soul, But beautiful, Cry me a river - e os diques sossobram.

Agora, por exemplo, estou às voltas com Chet Baker, monocórdio cantor que deveria continuar tocando seu trompete (como aconselhou seu pianista), me esvaindo em turvos pensamentos e eloqüentes emoções. Baker não canta nenhuma das canções citadas, mas canta um monte de outras, também belas.

Eu dedico esse disco às diversas meninas que têm, na hora marcada, me amado. Eu as amo também, de todo coração, naqueles momentos que, creiam, não são efêmeros.

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sábado, 27 de dezembro de 2008

The Jazz Crusaders

Imaginem a cena: um grupo de amigos de tempos escolares (high school), se reúnem e fundam uma banda. Coisa até prosaica, né mesmo? Mas quando os amigos são Joe Sample, Wilton Felder, Wayne Henderson e Stix Hooper a história muda sua coloração.

Esses camaradas formaram o The Jazz Crusaders, grupo com pegada funky de boa cêpa, principalmente em seus primeiros discos. Os membros mais conhecidos pelo povo são o pianista Sample e o trombonista Henderson, que, para mim, são a alma da banda (sem desmerecer o bom trabalho do tenorista Felder e do bom baterista Stix Hooper). Depois de alguns anos o grupo alterou seu groove (lá no link diz o seguinte " makes the change from an acoustic jazz group with soul and blues influences, to an electric bluesy soul band, with jazz influences") e passou a se chamar apenas Crusaders (quando Larry Carlton participa da festa).

Em minhas diárias ciscadas na web, eu encontrei o disco Powerhouse, lançado em 68. É balanço de primeira, da primeira à última faixa. É um disco ainda marcado fortemente pelo jazz, que antecede à reviravolta sonora do grupo (a faixa que anuncia os novos tempos que se aproximavam é Hey, Jude, dos Debítous, na qual Sample usa, segundo consta pela primeira vez, o Rhodes - e que eu até achei bonitinha, mas as outras são bem melhores).

Deixarei no Podcast do Jazz Contemporâneo as faixas Sting ray e Fancy dance.

Para os insaciáveis, eis o link para download

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Mais droga pesada

Alguns chamam de smooth jazz (o jazz da expressão é um elogio), outros chamam de música de elevador ou de consultório médico, outroutros de pop-rock, para muitos é porcaria mesmo. Eu acho, se comparando com Lee Ritenour, o Larry Carlton digerível. Tive um lp gravado ao vivo, no qual ele interpreta, entre outros, All blues e So what de modo agradável.


Achei nas encruzilhadas da web o disco Deep into it, de Carlton. Ali, o que domina é o mela-cueca com pitadas de groove funky/rock. Eu até que curto o timbre da guitarra do camarada. As notas picadas, frases curtas e som aveludado valorizam o disco que, ao fim e ao cabo, vai bem na sala de espera do dentista (fará você se sentir bem ao esburacarem seus dentes). Aos chegados que fizerem download, cuidado com a faixa Don't break my heart - o alto índice de açúcar pode desencadear diabetes (a situação pode piorar se acrescentar a cançãozinha mela-cueca I still believe - inacreditável o que se faz para ganhar uma grana) .


Para os fãs e drogadictos de plantão não deixarei o link. Sei que estou fazendo um bem para vocês. Encaminhem-se ao centro de desintoxicação mais próximo.

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Dexter Gordon: para espantar o bode Natalino

Craca, meu. Ô, bode arretado, esse tal de Natalino, que eu alimentei nesses "festivos" dois dias. O bicho, gordo, deve render mais uns três anos de análise. O pior é que, hoje, quando eu resolvi abandonar o "ninho" não havia nenhum boteco aberto para me servir de ancoradouro. Volto para casa abatido, desencantado da vida e resolvo brincar na rede. E foi nela que eu achei o meu presente de natal: o Master takes de Dexter Gordon, gravados para a Savoy. Partilharei, pois, com vocês. O disco, obviamente. O bode eu doarei para fazerem uma buchada.


Dexter é um dos saxofonistas que, quando eu crescer, quero tocar como ele. Sopro viril, pero sin perder la ternura, ele pode ser considerado uma das grandes influências para os instrumentistas das gerações seguintes. Em meados dos anos quarenta, Dexter participou de antológicas gravações com aquele fantástico clima bop ao lado de figuras como Sadik Hakin (ainda conhecido como Argonne Thornton), Leo Parker, Fats Navarro, Bud Powell, Tadd Dameron, Art Blakey e mais um monte de gente. São quinze faixas de primeira. Deixarei So easy no podcast Quintal do Jazz e, para os gulosos, deixarei o link para download

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

trilha sonora para o natal


Quando eu era criancinha, costumava assistir filmes de um trio que dominava a cena dos anos cinqüenta: Dean Martin, Frank Sinatra e Sammy Davis, Jr. Esses camaradas eram o sonho de consumo da mulherada e fonte de inveja dos marmanjos. Eles, como de hábito entre os gringos, gravaram o songbook natalino (cheio de melodias melancólicas) , que eu deixarei para vocês chorarem nesse natal.

O link: here

domingo, 21 de dezembro de 2008

Harold Land in New York

Você sabe o que é perder uma amor, meu senhor? Eu acabei de perder um: quarenta gigas de músicas da melhor espécie se foram, levadas por um vírus qualquer sem nome nem endereço, de índole nefasta. Perda irreparável, por ter-me desfeito dos lps originais. Restou-me a tristeza. Aos amigos, a quem recentemente cedi algumas cópias, peço uma segunda via. Por gentileza.

Mandei um desses programas-detetives seguir o rastro do malfeitor e consegui recuperar alguns poucos discos, como é o caso de In New York - Eastward Ho!, de Harold Land, gravado em 1960. Um bom lp desse excelente saxofonista, que, aqui, divide a cena com o trumpetista texano (assim com Land) Kenny Dorham. O êxodo rural levou o saxofonista para a costa oeste e o outro para a costa leste. Permito-me, agora, devanear um pouco: seria a origem texana que torna o sopro de Land mais ríspido que o dos seus confrades da escola cool? Vá lá saber.

Como tudo que eu conheço de Harold Land, esse disco também merece um lugar de destaque na discoteca. A sessão rítmica, é formada por um interessante Amos Trice ao piano, por Clarence Jones ao baixo e por Joe Peters à bateria. O grupo é forte, suportando com louvor a veemência dos sopros de Dorham e de Land. Gosto de todas as cinco faixas. Fica difícil escolher uma para deixar no podcast, mas, em nome da minha tristeza, deixarei uma versão nada melosa da balada Slowly, de David Raksin (mais conhecido por ter composto Laura).

Para os que gostarem, eu encontrei na rede um link para download. Divirtam-se!

sábado, 20 de dezembro de 2008

Quem não chora não mama

Sim, senhores, é possível ouvir um bom som na Estação Porto, em Vitória. Nós, que tanto sofremos em eventos anteriores (bossa, jazz, pop e outros que acontecem quase que semanalmente nesse esoaço), vimos a luz no fim do túnel ( e não é o trem chegando). Durante essa semana que finaliza aconteceu um festival de Choro, com a curadoria do cavaquinista Henrique Cazes (foto), um dos nomes (se não "o" nome) do choro contemporâneo, homenageando outro grande nome: Joel Nascimento, bandolinista fora de série.



Primeiro ponto a favor dos organizadores: convidaram alguém do ramo para ajudar na programação. Com essa estratégia, conseguiram propiciar um desfile do que há de melhor na cena do choro contemporâneo e permitiram aos nossos chorões partilharem o palco com aqueles que lhes servem de inspiração.



Segundo ponto favor: contrataram um engenheiro de som também de primeira linha: o simpático e bom papo Marcelo Sabóia (41, filho de Ed Lincoln), que mostrou ser possível ouvir música naquele espaço. Ele veio alguns dias antes e solicitou algumas adaptações simples (umas cortinas aqui e acolá, rebaixamento do teto do palco, alteração no posicionamento dos falantes etc e tal), e, constatando o que tinha de equipamento, trouxe alguns microfones para auxiliar na labuta.



Aí entra o ponto negativo: a sonorização continua a mesma. Ruim e obsoleta. Marcelo, muito educadamente, disse que se ele não trouxesse alguns equipamentos (assim como os músicos convidados, que trouxeram seus microfones e que tais) o som não teria o resultado obtido. E foi Marcelo que disse: "Conseguimos provar que é possível fazer um bom som nesse espaço". É certo, acrescento, e isso acontecerá se os responsáveis pelo Porto atentarem para as observações feitas: ajustes na acústica e um bom equipamento. São esses elementos que permitem ao ouvinte reconhecer quem está no palco, que permitem distinguir o profissional do amador, que permitem aos amadores absorverem as informações que os mestres passam em cada palhetada em suas cordas, que permitem ouvir o silêncio, que permitem perceber a dinâmica nas interpretações dos temas, e por aí vai.



Outro ponto negativo (ô, inferno!) é a boa parcela do público que fala pra caramba, maculando a beleza de alguns momentos sutis que nos foram apresentados. Mas isso é um hábito que, espero, com tempo e insistência, será resolvido.



Mas o que interessa mesmo é a iniciativa dos organizadores em buscarem solução para os problemas. Parabenizo-os por isso. E torço para que o nível melhore ainda mais, pois o povo merece, os músicos merecem, todos merecem. E viva a música!

domingo, 14 de dezembro de 2008

Last of the whorehouse piano players

Num daqueles festivais de música popular dos anos oitenta promovidos pela Globo, eu ouvi um forró forrado cujo refrão, desde então, não me sai da cabeça: "Afufe o fole da sanfona sanfoneiro/ eu sempre quis morar na zona/e o meu dinheiro é feito pra gastar". Sonho de consumo para muitos, morar na zona continua no plano idílico/romântico. A zona que resta é o cruel cotidiano.
Alguns conhecidos (só para disseminar o pecaminoso sentimento de inveja) disseram-me que, lá pelos anos sessenta, curtiram bons momentos como músicos de whorehouses. Eu, não. Já aconteceu de me convidarem para tocar em bordel mas, na época, declinei. Hoje, solteiro, nado livre, iria sem titubear, mas o convite perdeu-se no tempo. Uma pena!

Esse assunto veio-me à cabeça após encontrar na rede um disco que eu achei mais que agradável musicalmente, sem contar os excelentes título e capa: Last of the Whorehouse Piano Players. Os últimos pianistas, no caso, são Ralph Sutton e Jay McShann. Este, que iniciou sua carreira em Kansas City, um dos berços do bom jazz, tem uma mão esquerda de primeira e a direita não fica atrás, brincando com os intervalos (terças e oitavas) com fluência de bopper (vocês devem lembrar-se dele ao lado de Parker). Sutton, née em Missouri, por sua vez, é um filho do stride piano, aquele sonzinho gostoso que a gente ouve em filmes com cenas em antigos bordéis. A sessão rítmica fica aos cuidados de Milton Hinton (baixo) e Gus Johnson (bateria), meninos de boa índole mas que não vacilaram diante do convite para fazer esse disco.

Não deixarei nenhuma faixa, mas sim o disco inteiro (em três partes): Here, There & everywhere

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Disorder at the border

No dia seis do mês de setembro do ano de 1952, Coleman Hawkins levantou-se e, diante do espelho, sorriu com o canto dos lábios. Aquele dia seria o início de uma boa semana. Hawk tocaria jazz. Estava com saudade disso, do clima “ao vivo” que seria retomado, clima marcante em suas gravações dos anos quarenta (os críticos reclamavam de um certo desvio, em suas últimas interpretações, para um clima mais comercial).

Aquela semana seria diferente, afinal ele se reuniria com Roy Eldridge, Howard McGhee (trumpet), Horace Silver (piano), Curly Russell (bass) e Art Blakey & Connie Kay (drums) para reacender a velha chama do jazz. Disorder at the border é o curioso título do lp gravado naquelas sessões (6 a 13/09). Swing, bop e blues são os territórios visitados pela trupe (há também um guitarrista sonegado nos créditos – alguém se habilita a nomeá-lo?), são as raízes expostas nesse bom documento musical. Observem como o sopro de Hawkins está firme, sem tremolos, sem titubeios. Observem como a energia transparece em cada nota. Sim, senhores, vale a pena dedicar um lugar na estante para esse trabalho.

Ouça Rifftide no Podcast Quintal do Jazz

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quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Lookin' at Monk!


Não me lembro de nenhum apreciador de jazz que tenha afirmado não gostar de Monk. Ele é um exemplo de unanimidade – mesmo entre os músicos. É possível, sim, encontrar intérpretes de sua obra que não façam jus à tarefa. Há também aqueles que dão conta do recado. Hoje eu trouxe dois destes, dois grandes saxofonistas, dois sopros que impõem respeito em qualquer roda: Griffin e Lockjaw Davis.

Lookin’ at Monk, gravado em 1961, é o reconhecimento da genialidade do nosso pirado pianista por seus contemporâneos. Griffin e Davis cumprem o papel de bons intérpretes com o vigor que caracteriza suas vozes. Não se trata de mero cover, obviamente. Isso vocês podem observar também na performance do pianista Junior Mance, que se mantém na sua, sem se preocupar em buscar a pegada monkiana, mas se deixando envolver por sua música intensa. Destaque-se a sessão rítmica com Larry Gales (baixo) e Ben Riley (bateria), que já figurou ao lado de Monk, e, aqui, mantém o groove necessário para honrar seu nome.

O quinteto escolheu peças mais conhecidas de Monk, fato que não incomodou esse ouvinte. Enfim, é um privilégio ouvir Rhythm-a-ning, I mean you, Well you needn’t, Epistrophy, Ruby my dear e ‘Round midnight tocadas como foram por esse belo grupo.
Deixarei uma faixa no podcast Quintal do Jazz.

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domingo, 7 de dezembro de 2008

Barney Kessel - Breakfast at Tiffany's




Vocês assistiram Breakfast at Tiffany's (aka Bonequinha de luxo)? O filme, um clássico de Blake Edward (1961), mostra uma jovenzinha deliciosa e ambiciosa chamada Holly Golightly (Audrey Hepburn) tentando faturar um milionário, mas, por conspiração do destino, ela acaba tropeçando em um escritor que bagunça ainda mais sua cabecinha ôca.


Pois é, Kessel é o responsável pela trilha sonora. A minha impressão é a seguinte: é um daqueles discos que só funciona se você tiver em mente a fonte: o filme. Aí, sim, a coisa toma uma forma especial. O disco fez-me lembrar de Audrey fazendo aquela carinha de menina levada, e isso inflenciou decisivamente na minha avaliação do disco. Eu sossobrei ao encanto da jovenzinha. Se eu não soubesse disso, se eu não vislumbrasse Audrey babando pelos diamantes da Tiffany's, se eu não lembrasse de Audrey naquele vestidinho preto contornando seu corpinho juvenil, eu arremessaria o disco pela janela. Talvez, antes, eu copiasse a faixa The big blow out. Curiosidade: quando eu ouvi a introdução desse tema e o início do breve solo de sax alto veio-me à mente um clássico: The pink panther. Confira no podcast Quintal do Jazz.


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sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Lee Ritenour - Stolen moments

Este post só foi postado em nome do, como diz o Salsa, jornalismo verdade. Aliás, devo frisar, foi a pedido do meu citado partner de blog. O músico de quem aqui falarei nunca foi do meu agrado. Nem quando eu jovem era. Trata-se de Lee Ritenour.

O som de "Rit" é pop. A sua fusão funk do início de carreira soa-me como música de elevador. Apesar de a nítida influência de Wes Montgomery em seu modo de tocar, Ritenour desvia-se para um funk pueril que na maioria das vezes me entedia. Essa observação poderá deixar indignado os fãs que foram conquistados através de suas incursões na música popular brasileira (Djavan, Lins, Caetano, Bosco são alguns dos nossos que participaram de seus discos - fizeram um sucesso danado junto à crítica especializada). Eu achei chatinho.

Há dois discos, entre os dez ou doze que escutei, que considero um pouco mais apetecível aos ouvidos mais voltados para o mainstream jazzístico: um dedicado a Wes e outro, que dedicarei mais algumas linhas, chamado Stolen Moments, gravado em 1990.

Nesse último citado disco, Rit, sempre sem deixar sua verve pop, faz uma incursão mais jazzista, ajudado por Ernie Watts e seu tenor metálico, John Patitucci e seu baixo acústico, Harvey Mason e sua bateria (manda umas porradas e tanto no seu instrumento - nos pops anos noventa havia um lance de amplificar excessivamente os tambores - um saco), Alan Broadbent ao piano e Mitch Holder no violão. O repertório soma quatro standards (Stolen moments, Blue and green, Sometime ago e Haunted heart) a quatro temas de sua autoria.

Em Stolen moments (Oliver Nelson), Ritenour deixa Wes assumir o comando (a introdução do tema é todo com aquela peculiar oitava do finado mestre guitarrista). Com essa versão, Ritenour adiou sua estadia no inferno. Wes baixa também explicitamente em 24th Street Blues (aqui, a homenagem inclui o timbre da guitarra e a estrutura da composição de Rit). Essas duas faixas são motivo suficiente para não defenestrar esse disco. Merece uma audição.

Deixarei Stolen Moments e 24th Street Blues no podcast do Jazz Contemporâneo.

Para quem gosta, eis o link para download: here

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Barney Kessel - Some like it hot

Em 1959, Billy Wilder dirigiu Some like it hot, por aqui intitulado Quanto mais quente melhor: uma mais que sexy comédia, com a deusa Marylin Monroe bagunçando a vida de dois músicos (Curtis e Lemmon). Os rapazes testemunham a famosa chacina de mafiosos que aconteceu no dia dos namorados lá dos USA (São Valentim - creio que) e, para escaparem, eles se disfarçam de mulheres e entram em uma banda de belas moçoilas. Qual o perigo maior, gângsters ou Sugar Kane (Marylin)? Sem dúvida, creio que todos gostariam de, em momentos de perigo, esconderem-se sob as saias da musa Marylin.



O filme conta com um atrativo a mais: a trilha sonora. Barney Kessel reuniu um timaço - Art Pepper, Shelly Manne, Joe Gordon, Jimmy Howles, Jack Marshall e Monty Budwig - para fazer um som que fizesse jus a Marylin. E o resultado foi excelente. Swing de primeira. Alegria em cada nota. Vocês poderão curtir o sensacional bate-papo de nossos heróis em Runnin' wild, faixa que justifica a compra do cd. O bom é que o resto todo mantém o nível. Ouçam ali no podcast Quintal do jazz.



Para os duros de plantão eu deixo o link onde vocês poderão encontrar o disco completo para download. Basta clicar.

Real Book - Partituras


Prezados navegantes interessados em tocar jazz,

Eu achei um blog - Oh não!!! Mais um blog sobre jazz! - (link ao lado) que postou diversas partituras de clássicos do jazz com arranjos para várias vozes (sopros). Lá é possível encontrar alguns exemplares de Real book (Eb e Bb) e outros materiais interessantes. Vale a visita.

Para os preguiçosos, deixarei os links para os Real Books Eb e Bb

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Frank Morgan - Love, lost & found

Não sei se vocês repararam, mas aí do lado esquerdo tem alguns links de blogs que costumo visitar. Em alguns deles há uma profusão de links para baixarmos bons discos de jazz e de vários outros estilos. Há, por exemplo, no jazzever, um disco de Frank Morgan bem ao gosto do nosso partner e baladeiro Salsa.

Love, lost and found, de 1995, é uma compilação de standards muito bem interpretada por Morgan. Ao seu lado estão Cedar Walton (piano), Ray Brown (baixo) e Billy Higgins (drums), um time de respeito. A leveza de sentimento em suas interpretações nesse cd não revelam sua dura história: foram três décadas envoltas por drogas e prisão. É um sobrevivente. Sua experiência de vida, graças às musas, não fez sucumbir sua verve musical. Talvez nela tenha encontrado motivo para prosseguir até sua passagem em 12/2007.

Eu acharia melhor, cá com meus ouvidos, se Morgan equilibrasse a dose de açúcar desse disco. Mesmo sendo baladas, seria possível ele deixar seu sax alto mais arisco. Seu sopro está enraizado no campo do bebop, possivelmente usando palhetas pesadas, o que permite a região média do sax brilhar e lançar alguma luz no clima introspectivo peculiar às onze baladas que ele interpreta nesse disco. Achei um bom disco, pois o brilho está lá, mas os andamentos dos arranjos deixam a cena um pouco melosa demais - o que me impediu de curtí-lo da primeira "orelhada".


Vocês poderão ouvir My one and only love e All the things you are no podcast Quintal do Jazz

Caso vocês curtam, eis os links para download: parte 1 e parte 2.

domingo, 30 de novembro de 2008

Lee Konitz - Motion

João Luiz Mazzi, um dos patronos do Clube das Terças (reunião de amigos vitorianos apreciadores do jazz), fez chegar às minhas mãos e ouvidos um disco curioso do longevo Lee Konitz. Para quem não conhece, Konitz é um dos altoístas que mais gravaram (adorava fazer um duo). São quase sessenta anos pilotando seu sax alto. Calcule aí a discografia do camarada: dois discos em média por ano (sendo que dos anos oitenta para cá ele costuma gravar três ou quatro, às vezes mais) - é disco para encher estante. Eu, especificamente, gosto do período em que ele estava ao lado de Tristano, nos anos cinqüenta.

Pois bem, ouvi e ainda ouço Motion, gravado em dois mil e três, com uma formação para poucos: trio. Konitz está ladeado por Sonny Dallas, baixista de pulso firme garantindo um "chão" consistente (também tocou com Tristano e Mary Lou Williams) e pelo ícone da bateria moderna Elvin Jones. Quando digo que o trio sopro, baixo e bateria é uma formação para poucos deve-se ao nível de exigência que recai sobre os ombros da bateria e do baixo e também sobre o sax, instrumento melódico que não conta com os recursos harmônicos do piano ou da guitarra. Aí, já viu, né? O saxofonista tem que se desdobrar e destilar toda sua habilidade em construir frases sem se repetir excessivamente.

Motion é recheado com cinco standards (I remember you, All of me, Foolin' myself, You'd be so nice to come home to e I'll remember april). Apesar de baladeiro confesso, algo me incomodou enquanto ouvia o disco. Não, não se trata de um disco ruim, longe disso. Estaria mentindo se dissesse que não é um disco interessante - dou quatro estrelas. Achei apenas que Konitz, com seu timbre cool, foi obrigado a fazer mais esforço do que um Rollins ou um Redman, cujos tenores são mais agressivos (e que gravaram discos com a mesma formação), para conseguir dar consistência ao trabalho. E ele faz isso, mas não é Rollins nem Redman.

Depois de algumas audições eu consegui perceber outra coisa que me incomodou (e não incomoda mais): justamente o "chão" consistente de Sonny Dallas. Talvez em função da bateria ousada de Jones, o baixista se viu obrigado a manter-se excessivamente no chão, sem se arriscar em qualquer tipo de vôo mais alto - é um baixista clássico, de primeira, responsável, um Atlas. Achei que Sonny foi para o sacrifício, deixando o vôo para Konitz e para Jones. Ato heróico, mas que, para mim, faz o resultado final perder uma estrela. Como disse acima: leva quatro estrelas.

Deixarei All of me e Foolin' myself no podcast Quintal do jazz para o deleite dos amigos.

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Blue Mitchell - A sure thing


Esse post é dedicado aos campeões visitantes citados no outro post. Vai também para o intergalático Predador, que adivinhou a nossa intenção de escrever mais um pouco sobre a obra de Blue Mitchell.

A sure thing foi gravado em 1962 pelo time de craques da Riverside. A orquestra foi preparada para que Blue Mitchell mostrasse seu brilho. Destaque-se que ao seu lado estava Clark Terry, que funcionou apenas como um membro do naipe de sopros - os solos ficaram por conta de Mitchell (o resto do time vocês podem conferir na capa do cd).

Ouvi o disco quatro vezes enquanto escrevia os posts do dia. Devo admitir que Predador tem razão - A sure thing é mais consistente do que Big 6 (e isso não é um desmérito para este - que é muito bom). Os arranjos bem elaborados, as perfomances do grupo estão no plano da mestria e propiciam um plus no resultado final.

O sopro consistente mas sem estardalhaços de Mitchell está impecável. Ele não é daqueles que fazem incursões excessivas na região mais aguda do trompete. A região explorada por nosso herói faz o trompete soar próximo ao flueghel, preservando um certo "warm lirism", um clima aconchegante, mesmo naquelas peças mais up tempo.

Vocês poderão conferir isso em Hip to it (atentem também, nessa faixa, para o barítono de Pat Patrick) e em I can't get started.

Aos visitantes

Às vezes eu dou uma circulada pelo mapa dos visitantes (ao lado) para visualizar aqueles que mais prestigiam este sítio. No Rio, possivelmente o campeão é o Sérgio Sônico. Em BH, a reincidência deve ser por conta do chapa Wilson Garzon, mas tem outros contumazes navegadores espalhados pelo Brasil varonil. Descobri, vejam só, um visitante no interior do interior do Mato Grosso, no meio da floresta (quero crer que a foto do satélite não seja muito antiga), entre Guaraná do Norte e Peixoto Azevedo, à margem de um rio e próximo a um grande lago - será uma tribo jazzista ou será, de acordo com Salsa, o professor Benjamin, que desapareceu durante um safari na região? Vá lá saber...

Em Salvador, na Rua Carlos Gomes, quase esquina com a Faísca, tem outro bom visitante (nem só de Axé vive a Bahia). Em São Paulo, capital da América Latina, encontrei alguém na rua Paraíba. Em Porto Alegre, num bairro arborizado (Rio Branco, creio) na rua Vasco da Gama (também conhecida por Segundona) tem mais um jazzista costuma fazer suas incursões aqui no Quintal.

Empolgado, resolvi atravessar o Atlântico para conferir como está a freqüência daquelas bandas. Lá encontrei, entre outros, em Lisboa, no Largo das Olarias, num sítio chamado Socorro (entre Sta. Justa e Graça), próximo a uma área verde (um parque, possivelmente), um amigo transatlântico. Portugal, destaque-se, tem uma cena jazzista bastante expressiva (em breve postaremos alguma coisa sobre a produção dos lusos).

Apesar do pequeno número de visitas (em torno de setecentas mensais) - se comparado com outros blogs que têm esse número ou mais diariamente - não deixa de ser gratificante saber que o nosso trabalho (meu e do Salsa) ecoa no Brasil e pelo mundo a fora. Beleza!

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Blue Mitchell - Big 6


Às vésperas do feriado de 4 de julho, em 1958, um time de jovens jazzistas adentrou um estúdio de gravação em Nova Iorque. O band leader era o novato trompetista Richard "Blue" Mitchell, que migrou da ensolarada Miami para a noturna capital do mundo.


O trompetista já tinha o reconhecimento dos seus pares da costa leste, mas ainda planejava tomar de assalto os apreciadores do bom e velho jazz. Para alcançar seu objetivo reuniu o esquete formado por Curtis Fuller, Johnny Griffin, Wynton Kelly, Wilbur Ware e Philly Joe Jones. Essa é a base para o lp Big six: seis grandes nomes revelados no final dos anos cinqüenta.


O lp começa com o tema Blues march, de Golson, cujo arranjo me deixou um pouco apreensivo. A pegada militaresca inicial (com rufar dos tambores e tudo) fez-me querer saltar a faixa, mas, em nome do jornalismo verdade, segurei as ondas. Foi bom. O tema porta uma certa dose de ironia ao desconstruir gradativamente o dialeto militar inserindo doses do meu, do seu, do nosso blues. Aí, meus amigos, a moçada mostra qual exército nós precisamos. Som de primeira.


A tarefa de Mitchell seria conseguir se destacar no meio da rapaziada que o cercava - O que mais o seguraria depois disso? Ouçam Griffin e o piano de Kelly em Brother Ball (Mitchell) e me digam se a responsabilidade não é daquele tipo que dá vertigem. Mas eis que chega o trompetista e manda ver um "quatro" com Philly Joe Jones e mostra que não está ali para brincadeira. Aliás, está sim: para a boa brincadeira que os grandes músicos nos legam em suas fantásticas sessões. Posso atestar que Mitchell não foge da raia e a brincadeira é das boas.

Deixarei, para vosso deleite, dois teminhas no podcast Quintal do Jazz.

domingo, 16 de novembro de 2008

Eli Degibri - um bom começo

E por falar em novos nomes do jazz, ouvi o saxofonista Eli Degibri. O cd In the beginning (2003) me surpreendeu com a boa mescla do contemporâneo com a tradição. A equipe, como diz Salsa, é da confraria NY-Tel Aviv: o guitarrista Kurt Rosenwinkel e o pianista Aaron Goldberg mais Jeff Ballard e Ben Street compõem o quinteto liderado por Eli.

Achei na rede um comentário do vizinho John Lester (jazzseen), muito bem escrito, que reproduzo sem a devida autorização:


"Esse saxofonista judeu não coloca mais seu estojo na calçada para recolher nossas moedas. Nem cobra aqueles juros extorsivos denunciados por Lima Barreto em seu clássico Bruzundanga. Eli é apenas um grande músico, ainda não muito conhecido por aqui, mas que já anda aprontando as suas na cidade que hoje mantém o jazz vivo: New York. Começou a estudar música aos 7 anos e aos 16 já tocava profissionalmente. Primeiro músico judeu a receber bolsa integral para Berklee (imaginem a felicidade dele!), foi também um dos poucos bolsistas integrais (apenas 6 em todo o mundo) no Thelonious Monk Institute. Além de competente arranjador e compositor, Degibri possui uma sensibilidade bastante inusitada, considerando que o mundo do jazz contemporâneo tem se dedicado bastante ao tecnicismo irascível e ao academicismo afetado. Para mim existem traços claros de John Coltrane e Sonny Rollins em sua sonoridade e discurso, combinados em doses adequadas e equilibradas: inventividade e potência, graça e força, todas simetricamente dosadas por sua voz própria e original. Após tocar com gente como Herbie Hancock, Al Foster, Ron Carter e o brasileiro Paulo Braga, Eli merece a boa acolhida que tem recebido no meio jazzístico, com apresentações e gravações como líder de seus próprios grupos e álbuns".

Deixarei as faixas Cherokee e Shoohoo no podcast do Jazz Contemporâneo.

Pé de página:

Um bom começo?

ou

Silêncio, por favor, a música merece ser ouvida!

Foi inaugurada, ontem, a casa de shows Spirito Jazz. Não fui convidado, periferia que sou. Um amigo foi e me disse que o espaço é muito bom. Disse-me a testemunha que o show não foi de jazz, mas Filó é um grande músico. O que atrapalhou foi a ala vip, os "entendidos de música" convidados: estavam se lixando para o show de Filó Machado. A falação dominou o ambiente - total descaso com o músico convidado para a inauguração. É aquela história: o mau hábito de só freqüentar boteco e achar que música é trilha sonora para conversa (como acontece em botecos de Vitória). O que não acontecerá quando o restaurante for inaugurado? É uma pena.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Shades of Redd

A demora (uma semana já se passou) para postar mais alguma boa nova é justificável. Eu aguardava outros discos com Tina Brooks. Recebi um de um amigo em arquivo hermético (M4A), o qual não consegui abrir. O outro, liderado pelo pianista Freddie Redd, está, para minha alegria, em pleno funcionamento.


O disco é Shades of Redd, gravado em 1960 pelo selo Blue Note. O que me atrai no disco não é o pianista Freddie Redd (um bom pianista, comedido, percussivo na justa medida e explorador de acordes em bloco), mas sim a dupla encarregada de pilotar os saxes: Tina Brooks (tenor) e Jackie McLean (alto). São dois sopros que sabem ser agressivos quando necessário e sabem guardar uma dose dessa agressividade mesmo quando tocam baladas. Garantia de voluptuosa expressividade. A dupla ainda se reúne, até onde eu sei, em pelo menos mais dois discos: Back to the track (capitaneado por Brooks) e Street singer (sob a batuta dos dois saxofonistas - esse é aquele que eu não consegui abrir o arquivo).


O Shades of Redd, meus caros, é um disco excelente. Nossos heróis saxofonistas sabem dizer com eloqüência o que a música dita aos seus corações. Tarefa facilitada pela cozinha - com Paul Chambers (sempre preciso) e Louis Hayes passeando pelas searas dos rítmos de modo mais que aprazível. O piano de Redd (até esse momento ele era, para mim, um desconhecido), reafirmo, é de muito bom nível. São sete faixas (mais duas alternates) que satisfarão o apetite de qualquer jazzófilo (até mesmo aqueles que não apreciam as incursões latinosas - uma faixa, Olé, traz essa marca, mas não é algo que comprometa o resultado final).


Deixarei, para vosso deleite, três faixas no podcast Quintal do Jazz.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Tina Brooks

Quatro discos foram o legado do tenorista band leader Tina Brooks aos mortais. Acho mais que suficiente. Costumo dizer aos meus amigos: se todos conseguissem fazer uma coisa boa durante a vida (um verso, um poema, um conto, uma crônica, uma música) o mundo seria outro. Tina fez quatro. Salvou, com seu gesto criador, um monte de almas da quinta dos infernos.


Estou plugado no True Blue. Brooks, nesse disco, se fez acompanhar por um ainda jovem Freddie Hubbard, por Duke Jordan, por Sam Jones e por Art Taylor. Destaquemos o tenor e trompete se entrelaçando com fraseados, quase abraços, muito bem harmonizados. Isso acontece em todas as faixas. Brooks e Hubbard mostram-se como dois excelentes intrumentistas. O que dizer da cozinha? Jordan manobra seu piano como poucos, Sam Jones mantém aquela pegada firme (seus patterns são muito bem elaborados e dão uma cor moderna ao trabalho), Art Taylor está elegante em todas as faixas.


Deixarei duas faixas para vosso deleite no podcast Quintal do Jazz. A primeira, Miss Hazel, um belo exemplo de hardbop. A segunda, Nothing Ever Changes My Love for You, ouve-se frases independentes que se cruzam em determinados momentos produzindo um efeito agradabilíssimo. Divirtam-se.

domingo, 2 de novembro de 2008

Chano Dominguez - O novo som flamenco

Voltei. Mais contemporâneo, mais plugado no que rola por aí. Fiz uma breve viagem à Espanha e, lá estando, fui em uma casa de show para descobrir o que se passa na cabeça e nos ouvidos dos espanhóis. Fui levado por Juan Mendoza, meu contato na península, para conhecer as versões mais recentes do flamenco. Depois de uma barrica de tempranillo, não tive forças para recusar.

Ao chegarmos à casa, lá estava o pianista Chano Dominguez (*Cadiz, 1960) cuja formação não poderia deixar de ter uma boa dose de flamenco. No seu "myspace", ele nos conta que começou com o violão (na orelhada) e, depois, quando já encarava os teclados, fez algumas incursões no cenário rock'n'roll. Sua alma experimental, no entanto, o levou ao jazz e, a partir daí, a coisa mudou. O espanhol rapidamente tornou-se conhecido no meio jazzy e desenvolveu trabalhos com fugurinhas como Paco de Lucía, Joe Lovano, Herbie Hancock, Jack DeJohnette e Wynton Marsalis com a Lincoln Center Jazz Orchestra.

A linguagem desenvolvida por Chano Dominguez não nega suas raízes hispânicas. O flamenco permeia todo seu trabalho, mas é inflado com diversos rítmos e com a indefectível pegada do jazz e pitadas do rok'n'roll. Isso vocês poderão conferir no excelente New flamenco sound. Ali, a passionalidade flamenca é disseminada em cada nota tocada, em cada harpejo, mas está ancorada na estrutura do jazz contemporâneo. É um trabalho que pode incomodar os puristas das duas vertentes, mas é inegável a sua qualidade. Confiram ali no podcast do jazz contemporâneo.

PS - No blog SérgioSônico vocês encontram o cd Hecho a mano.

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Andy Kirk - Mary's Idea

Ok, imaginemos: estamos num night club em Kansas City. Também pode ser em New York. À mesa, uma garrafa de bourbon fabricado em Devil Smile Mountain, lugar ermo no qual a polícia nunca conseguiu chegar. A garçonete, gentil, acende o meu cigarro e, com seu sorriso, provoca alguns pensamentos libidinosos que logo são vaporizados pelos primeiros acordes da orquestra de Andy Kirk. Ele é um daqueles caras meio apagados mas que sabe se cercar de gente da melhor estirpe. Ao seu lado já desfilaram, só para citar alguns poucos, Don Byas, Howard McGhee, Fats Navarro e Charlie Parker.

Voltemos à música e ao sonho. O tenor de Dick Wilson invade o ambiente sustentado por um naipe sutil mas vigoroso. A orquestra reduz o ímpeto inicial e abre espaço para a sua alma aparecer. A estrela aparece no céu por entre nuvens: Mary Lou Williams dedilha seu piano e justifica o título da canção The lady who swings the band, interpretada por Pha Terrell, o crooner.

Sim, é ela, Mary Lou Williams, quem se encarrega dos arranjos e da maioria das composições interpretadas pela orquestra. É ela que, em Twinklin', balança um delicioso stride piano que faz os casais que giravam na pista de dança pararem, ouvirem, aplaudirem e pedirem mais. E ela não nega fogo. O night club swings all night long.
A orquestra pode ser de Andy, mas a cabeça, o feeling e o swing são de Mary. Enfim, como anuncia o título do cd que vos indico: é uma Mary's Idea. Nele, vocês encontrarão uma seleção deliciosa de gravações realizadas no período novaiorquino da banda (1937-41). Indispensável para quem aprecia o jazz e sua história. Deixarei alguma coisa ali no podcast Quintal do Jazz.

domingo, 26 de outubro de 2008

Kent & Bley at Vitória

O povo aplaudiu e pediu bis à cantora magrelinha e suruca chamada Stacey Kent. Afinada, simpática, bem articulada e visivelmente emocionada, ela iniciou sua apresentação com So many stars. O fato de ter cantado, na seqüência, temas de Vinícius e Jobim tornou mais fácil o contato com o público (graças ao bom deus ela não inventou de cantar em português - optou pelo francês e o inglês).


A banda esteve bem comportada - demais, para o meu gosto. Tudo bem arranjadinho, tudo no lugarzinho, tudo arrumado para a cantora passear. Jim Tomlinsom, o marido saxofonista e arranjador, não parece ser o tipo de músico que gosta de se arriscar. Um show honesto, mas com pouco jazz (os arranjos tinham conotação jazzística, mas ficava apenas nisso: num certo acento que o povaréu reconhece como jazz - lembra aqueles discos do Rod Stewart). Para Pedro Trêpa, meu amigo lusitano, a apresentação inaugurou a categoria "jazz mala". Maldade dele. Eu prefiro incluí-la naquele tipo de som que a gente pode deixar rolar num jantarzinho com a namorada - para não assustar.



O que eu aguardava não me decepcionou. Carla Bley e seus Lost Chords (a maga sabe como ninguém encontrar tais acordes). Minha bruxa predileta mandou a tal peça em seis movimentos que emocionou o irmão da Déa. Aí, sim, eu vi e ouvi os músicos se arriscarem no terreno movediço que o jazz nos revela. Carla compôs temas que abrem as portas para a inventividade dos seus parceiros de palco. E eles não negaram fogo.



O lirismo das composições da Carla foi muito bem interpretado pela banda, iniciando com um belo solo do maridão Steve Swallow que, palheta na mão, valorizou a envolvente melodia com seu baixo elétrico. O saxofonista Andy Sheppard e o trompetista Michael Rodriguez passearam pelas fronteiras da música como se estivessem em seus jardins mais conhecidos. O baterista Billy Drummond manteve um interessante contraponto ao lirismo de Carla com sua pegada nervosa e frenética - o seu modo de tocar ressaltou ainda mais a leveza melódica dos temas interpretados. Uma avalanche sonora.

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Carla Bley e Stacey Kent

Já falei disso em outro lugar, creio que no Jazzseen:

Meu contato com Carla Bley se deu através do realbook (bíblia pros jazzistas de plantão). Eu vi uma partitura cujo título chamou minha atenção: Sing me softly of the blues. Nunca toquei, mas tocarei - um dia ou uma noite dessas. Procurei e achei o disco Dinner music, do qual muito gostei por sua leveza e ligeireza para a digestão. Desde então passei a não dispensar os discos da minha maluquinha beleza. Amanhã, para minha alegria, poderei ouvi-la ao vivo. Júlio, irmão da minha amiga Déa, assistiu (no Rio) e fez o seguinte comentário:


"a veterana (72 aninhos) Carla Bley! Maravilhosa! Tocou uma longa peça composta e arranjada por ela. A banda é de arrasar, chamando especial atenção para o maridão (essas mulheres são muito bem casadas, hein?), o grande baixista Steve Swallow, que deve ter uns quase 80 anos, com um corpinho de 90! Difícil acreditar na combinação a imagem do velhinho em estado de quase decrepitude, com o movimento de suas mãos e o som que saia do baixo! Puta merda!"

Depois disso, só conferindo.

A outra que se apresentará, Stacey Kent, eu só conheci por interferência do colega Osvaldo, do mpbjazz (creio que tem alguma coisa para download). Ela é mais uma que aprecia a mpb Não me pareceu grande coisa. O seu maridão Jim Tomlinson, saxofonista, manda um som com pegada cool, à moda de Getz. De qualquer modo, ao vivo sempre é melhor. Júlio fez o seguinte comentário:

"Stacey Kent. Muito boa mesmo. Show mais bem comportado, intimista. Mas com oportunidade de mostrar a qualidade de sua interpretação e a de seu marido, Jim Tomlinson, excelente saxofonista (tenor e soprano) e arranjador."

Deixarei alguma coisa de tira-gosto para os navegantes no podcast contemporâneo.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Chryso Rocha

A música capixaba tem uma série de bons instrumentistas cujos trabalhos, na maioria das vezes, não chegam ao conhecimento do público. A mídia comercial, bem frisou Salsa no post anterior, não tem intuito de divulgar essas músicas recheadas de "coisas estranhas" que supostamente não estariam ao alcance do povaréu. Bobagem das grossas, sabemos.

Pois bem, tive o prazer de receber uma cópia (através do Salsa) do último disco do Chryso Rocha, guitarrista de linguagem bem contemporânea, também conhecido por suas performances nos grupos Nota Jazz e Mistura Fina. O cd, gravado em família, traz 9 composições do guitarrista e 1 do seu filho Rafael. Os temas têm estrutura agradável e de fácil digestão, trabalhados com boa coesão. Eu, pé no fusion que tenho, gostei de Estrada para Meaípe, tema de abertura. Outra que me agradou bastante, com sonoridade a la Jeff Beck, é a terceira do cd: Ói o tombo. Depois do porto é uma baladinha bem agradável, com guitarra com sonoridade mais smooth, que você pode dedicar à sua amada. O overdrive retorna com força em Voltando de lá. Podemos dizer que, nesse cd, Chryso Rocha presta uma homenagem a alguns nomes da moderna guitarra fusion mundial. Nele encontramos um pouco de Benson, Beck, Stern, Carlton. Uma boa homenagem às suas influências.

Sobre o que rolou na gravação, diz o guitarrista, no encarte, que "sempre há algo de novo naquele som". Explica: a música nunca se repete, a cada performance surge um acento aqui e acolá que pode imprimir um feeling diferente à interpretação. Assim sendo, as gravações têm que ser com todos juntos, à vera, num take que capturará o momento único, com seus erros e acertos.

Esse modus operandi é interessante, mas exige dos músicos segurança suficiente para se arriscarem, para ousarem alguma alteração que o momento da interpretação pode propiciar. Pareceu-me que, nesse sentido, os músicos da cozinha não aproveitaram a liberdade que tal idéia sugere - o baixo manteve o básico e bateria ídem. Apesar da boa perspectiva defendida por Chryso, o som soou comportado, soou como se os músicos estivessem detidos no que foi convencionado. Isso não significa que o disco seja ruim. Não é isso. Faltou a vivacidade que o "take one" permite. Se eu não tivesse lido o encarte não faria esse tipo de observação.

Lembro-me de uma cena do filme Straight, no chaser, no qual Monk, após uma sessão num estúdio, é interpelado pelo técnico de som que pensava estar presenciando um ensaio: "então, vamos gravar agora?", e Monk, dando aquelas voltinhas que lhes são peculiares, diz, irritado, que já deveria ter gravado pois ele está sempre ensaiando.

Vocês poderão ouvir Ói o tombo no podcast de jazz contemporâneo e todo o disco nesse link .