quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Chryso Rocha

A música capixaba tem uma série de bons instrumentistas cujos trabalhos, na maioria das vezes, não chegam ao conhecimento do público. A mídia comercial, bem frisou Salsa no post anterior, não tem intuito de divulgar essas músicas recheadas de "coisas estranhas" que supostamente não estariam ao alcance do povaréu. Bobagem das grossas, sabemos.

Pois bem, tive o prazer de receber uma cópia (através do Salsa) do último disco do Chryso Rocha, guitarrista de linguagem bem contemporânea, também conhecido por suas performances nos grupos Nota Jazz e Mistura Fina. O cd, gravado em família, traz 9 composições do guitarrista e 1 do seu filho Rafael. Os temas têm estrutura agradável e de fácil digestão, trabalhados com boa coesão. Eu, pé no fusion que tenho, gostei de Estrada para Meaípe, tema de abertura. Outra que me agradou bastante, com sonoridade a la Jeff Beck, é a terceira do cd: Ói o tombo. Depois do porto é uma baladinha bem agradável, com guitarra com sonoridade mais smooth, que você pode dedicar à sua amada. O overdrive retorna com força em Voltando de lá. Podemos dizer que, nesse cd, Chryso Rocha presta uma homenagem a alguns nomes da moderna guitarra fusion mundial. Nele encontramos um pouco de Benson, Beck, Stern, Carlton. Uma boa homenagem às suas influências.

Sobre o que rolou na gravação, diz o guitarrista, no encarte, que "sempre há algo de novo naquele som". Explica: a música nunca se repete, a cada performance surge um acento aqui e acolá que pode imprimir um feeling diferente à interpretação. Assim sendo, as gravações têm que ser com todos juntos, à vera, num take que capturará o momento único, com seus erros e acertos.

Esse modus operandi é interessante, mas exige dos músicos segurança suficiente para se arriscarem, para ousarem alguma alteração que o momento da interpretação pode propiciar. Pareceu-me que, nesse sentido, os músicos da cozinha não aproveitaram a liberdade que tal idéia sugere - o baixo manteve o básico e bateria ídem. Apesar da boa perspectiva defendida por Chryso, o som soou comportado, soou como se os músicos estivessem detidos no que foi convencionado. Isso não significa que o disco seja ruim. Não é isso. Faltou a vivacidade que o "take one" permite. Se eu não tivesse lido o encarte não faria esse tipo de observação.

Lembro-me de uma cena do filme Straight, no chaser, no qual Monk, após uma sessão num estúdio, é interpelado pelo técnico de som que pensava estar presenciando um ensaio: "então, vamos gravar agora?", e Monk, dando aquelas voltinhas que lhes são peculiares, diz, irritado, que já deveria ter gravado pois ele está sempre ensaiando.

Vocês poderão ouvir Ói o tombo no podcast de jazz contemporâneo e todo o disco nesse link .

4 comentários:

Salsa disse...

Eu gosto muito da sonoridade e feeling do Chryso. Esse disco merece uma boa cotação e a atenção da rapaziada que curte um som mais contemporâneo. Parabéns para ele que, lá do alto do seu ninho, deve estar curtindo o visual de Guarapari e, como sempre, fazendo um sonzinho básico.

Don Oleari disse...

Vinyl:
outro dia ia postar um alô, mas cai no desvio. Seguinte: NOSSO programa radiofônico "Clube da Boa Música" é um "fora dos trilhos" do convencional do rádio pelaí.

Temos dado espaço pra muita coisa e gente que não toca em rádio nenhuma, nem aqui nem na...Te digo isso porque o programa tá aberto para mostrar bons trabalhos, notadamente instrumentais - vocais só os dusbão - e é só entrar em contato comigo ou com o filho João Paulo, que faz o novo da minha proposta "o velho e o novo". Tá às Ordis. O Salsa já foi convidado no "salão de visitas do Clube da Boa Música" e fizemos um som arrumado. Hora quidé, convido-o a participar também. Um abraço. Beleza o trabalho de vocês. Do Oleari.

ReAl disse...

O Salsa me falou do programa. Ele disse que vai arranjar uma cópia do cd para você.

Sergio disse...

Atenção amigos, duas recomendações de maintream da MPB já provadas e aprovadíssimas: os últimos, de Lenine e Ed Motta - respectivamente nessa ordem. Sendo que o do Ed, ele disponibiliza digratis no Site da Biscoito fino. Ótimos álbuns.