 João Luiz Mazzi, um dos patronos do Clube das Terças (reunião de amigos vitorianos apreciadores do jazz), fez chegar às minhas mãos e ouvidos um disco curioso do longevo Lee Konitz. Para quem não conhece, Konitz é um dos altoístas que mais gravaram (adorava fazer um duo). São quase sessenta anos pilotando seu sax alto. Calcule aí a discografia do camarada: dois discos em média por ano (sendo que dos anos oitenta para cá ele costuma gravar três ou quatro, às vezes mais) - é disco para encher estante. Eu, especificamente, gosto do período em que ele estava ao lado de Tristano, nos anos cinqüenta.
João Luiz Mazzi, um dos patronos do Clube das Terças (reunião de amigos vitorianos apreciadores do jazz), fez chegar às minhas mãos e ouvidos um disco curioso do longevo Lee Konitz. Para quem não conhece, Konitz é um dos altoístas que mais gravaram (adorava fazer um duo). São quase sessenta anos pilotando seu sax alto. Calcule aí a discografia do camarada: dois discos em média por ano (sendo que dos anos oitenta para cá ele costuma gravar três ou quatro, às vezes mais) - é disco para encher estante. Eu, especificamente, gosto do período em que ele estava ao lado de Tristano, nos anos cinqüenta.Pois bem, ouvi e ainda ouço Motion, gravado em dois mil e três, com uma formação para poucos: trio. Konitz está ladeado por Sonny Dallas, baixista de pulso firme garantindo um "chão" consistente (também tocou com Tristano e Mary Lou Williams) e pelo ícone da bateria moderna Elvin Jones. Quando digo que o trio sopro, baixo e bateria é uma formação para poucos deve-se ao nível de exigência que recai sobre os ombros da bateria e do baixo e também sobre o sax, instrumento melódico que não conta com os recursos harmônicos do piano ou da guitarra. Aí, já viu, né? O saxofonista tem que se desdobrar e destilar toda sua habilidade em construir frases sem se repetir excessivamente.
Motion é recheado com cinco standards (I remember you, All of me, Foolin' myself, You'd be so nice to come home to e I'll remember april). Apesar de baladeiro confesso, algo me incomodou enquanto ouvia o disco. Não, não se trata de um disco ruim, longe disso. Estaria mentindo se dissesse que não é um disco interessante - dou quatro estrelas. Achei apenas que Konitz, com seu timbre cool, foi obrigado a fazer mais esforço do que um Rollins ou um Redman, cujos tenores são mais agressivos (e que gravaram discos com a mesma formação), para conseguir dar consistência ao trabalho. E ele faz isso, mas não é Rollins nem Redman.
Depois de algumas audições eu consegui perceber outra coisa que me incomodou (e não incomoda mais): justamente o "chão" consistente de Sonny Dallas. Talvez em função da bateria ousada de Jones, o baixista se viu obrigado a manter-se excessivamente no chão, sem se arriscar em qualquer tipo de vôo mais alto - é um baixista clássico, de primeira, responsável, um Atlas. Achei que Sonny foi para o sacrifício, deixando o vôo para Konitz e para Jones. Ato heróico, mas que, para mim, faz o resultado final perder uma estrela. Como disse acima: leva quatro estrelas.
Deixarei All of me e Foolin' myself no podcast Quintal do jazz para o deleite dos amigos.
 
 
6 comentários:
Ouvido contaminado por Rollins e Redman...
É, mr. Salsa, esse disco do Konitz é muito interessante. Ultimamente ele tem tocado com essa formação. Será que ele virá ao Brasil em 2009, no festival de ouro preto?
Sempre tive certa “cautela” em relação a Konitz, mesmo reconhecendo seu compromisso em aventurar-se por territórios musicais desafiadores.Prefiro seu trabalho na companhia de Gerry Mulligan e Wayne Marsh.Assisti uma apresentação sua , num dos primeiros Chivas Festival,com o Zimbo Trio.Não foi nada boa.Depois, um dos integrantes do Zimbo disse-me q o sujeito era por demais arrogante e esnobou os membros do trio no ensaio e mesmo na ocasião da assinatura dos lps q levaram para autógrafos.Konitz esteve em São Paulo no ano passado.Pelo q soube a apresentação,desta vez, foi muito boa.A forma espartana de trio (saxofone ,baixo acústico,bateria) deve sua sobrevivência a Joe Henderson (na companhia de Ron Carter ou Charlie Haden no contrabaixo e Al Foster na bateria) nos anos 70 e meados dos 80.Depois, Branford Marsalis a retomou com sucesso em 1989 garantindo sua perenidade nos anos 90 com o disco Trio Jeepy com o lendário Milt Hinton e Jeff Tain Watts na bateria .Com a mesma formula, Joe Lovano lançou o excelente Trio Fascination - Edition One com Dave Holland ao contrabaixo e Elvin Jones na bateria em 1998.Edú.
Bom adendo, Edú. Warn Marsh é genial. Curti também o trabalho de Lovano.
Abraços,
Gostei bastante da resenha Salsa.Principalmente, por ser a opinião de um saxofonista em pleno exercício do oficio.Corrigindo, o Wayne é na verdade Warne Marsh.Edú.
Caro Salsa,
não encontrei seu end. de e-mail, portanto, passo-lhe por aqui mesmo o end. do tal hotel que lhe falei:
hotel san marco -
rua visc.pirajá,524
fone (21)2259-1932.
Faça bom proveito, depois conte tudo aqui no blog.
Abração
olney
Bem, antes de tudo é preciso informar aos proprietários deste blog que o álbum em epígrafe foi furtado de minha estante pelo senhor João Luiz Mazzi e distribuído ilegalmente a Mr. Salsa.
Quanto ao resto, bem, o disco é duca. Excelente resenha para um excelente álbum.
JL.
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