O povo aplaudiu e pediu bis à cantora magrelinha e suruca chamada Stacey Kent. Afinada, simpática, bem articulada e visivelmente emocionada, ela iniciou sua apresentação com So many stars. O fato de ter cantado, na seqüência, temas de Vinícius e Jobim tornou mais fácil o contato com o público (graças ao bom deus ela não inventou de cantar em português - optou pelo francês e o inglês).
A banda esteve bem comportada - demais, para o meu gosto. Tudo bem arranjadinho, tudo no lugarzinho, tudo arrumado para a cantora passear. Jim Tomlinsom, o marido saxofonista e arranjador, não parece ser o tipo de músico que gosta de se arriscar. Um show honesto, mas com pouco jazz (os arranjos tinham conotação jazzística, mas ficava apenas nisso: num certo acento que o povaréu reconhece como jazz - lembra aqueles discos do Rod Stewart). Para Pedro Trêpa, meu amigo lusitano, a apresentação inaugurou a categoria "jazz mala". Maldade dele. Eu prefiro incluí-la naquele tipo de som que a gente pode deixar rolar num jantarzinho com a namorada - para não assustar.
O que eu aguardava não me decepcionou. Carla Bley e seus Lost Chords (a maga sabe como ninguém encontrar tais acordes). Minha bruxa predileta mandou a tal peça em seis movimentos que emocionou o irmão da Déa. Aí, sim, eu vi e ouvi os músicos se arriscarem no terreno movediço que o jazz nos revela. Carla compôs temas que abrem as portas para a inventividade dos seus parceiros de palco. E eles não negaram fogo.
O lirismo das composições da Carla foi muito bem interpretado pela banda, iniciando com um belo solo do maridão Steve Swallow que, palheta na mão, valorizou a envolvente melodia com seu baixo elétrico. O saxofonista Andy Sheppard e o trompetista Michael Rodriguez passearam pelas fronteiras da música como se estivessem em seus jardins mais conhecidos. O baterista Billy Drummond manteve um interessante contraponto ao lirismo de Carla com sua pegada nervosa e frenética - o seu modo de tocar ressaltou ainda mais a leveza melódica dos temas interpretados. Uma avalanche sonora.
5 comentários:
Impressionante a composição de Carla Bley. A banana (fruta homenageada no título da peça) nunca mais será a mesma para mim. A versão da Paloma também foi muito divertida. Pena que ela não atendeu o pedido de bis.
Quanto a Stacey eu concordo com seu amigo Pedro. O som da banda foi bem chatinho. Ele sacou bem ao dizer que era música para retaurante.
E não é que Carla e seus asseclas, depois do almoço no Pirão, foram curtir na casa de Luís Paixão? Nosso patriarca jazzófilo doou alguns discos de bossa para a munha bruxinha.
E difícil imaginar algum ambiente do jazz ou de boa música ,de forma geral , seja em eventos, concertos, canjas ou festivais – em q Salsa não esteja presente.Se existem cidadãos do mundo,Salsa é “cidadão-jazz”.Edú.
Pô, Edú, pudera eu estar em todos. Fica na vontade. Valeu as gentis palavras.
Prezado Luiz, tinha escrito, num trecho, "a caminho da onisciência".Revi e achei exagerado, vale o escrito, agora."Keep Walking", como afirma o rotulo negro daquele liquido precioso q adormece 12 anos e q infortunadamente abandonei convivência seis anos passados.Edú
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