domingo, 26 de dezembro de 2010

Uma jam genial


Ainda no clima natalino, eis mais um bom presente: a gravação realizada em 1957, intitulada Interplay for 2 Trumpets & 2 Tenors. Reunem-se para a labuta John Coltrane (tenor saxophone), Bobby Jaspar (tenor saxophone), Idrees Sulieman (trumpet), Webster Young (trumpet), Kenny Burrell (guitar), Mal Waldron e Red Garland (piano), Paul Chambers (bass) e Art Taylor (drums).

Não sei se deveria aparecer alguém como líder, pois o trabalho está mais para uma bela jam com grandes músicos mostrando, sem pudor, suas peculiaridades como instrumentistas. Essas gravações são um prato cheio para os apreciadores do jazz atentarem para os estilos dos músicos envolvidos. Ouvir o sopro mais vivaz de Coltrane em contraste com o som mais introspectivo do belga Jaspar, assim como o brilho gillespiano de Sulieman ao lado do milesiano Young é uma aula e tanto. E ainda há a excelente sessão rítmica, que acrescenta mais boas doses de boas interpretações, motivo para maior deleite.

Ouçamos a faixa título. A ordem dos solos: Sulieman, Coltrane, Young e Jaspar (depois entram Burrell, Waldron e Chambers).

Link: Avax

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Jazz by Ry Cooder


A primeira vez que ouvi o guitarrista Ry Cooder foi nos anos setenta, em um lp chamado Jamming with Edward, no qual tem uma versão do belo blues It hurts me too. Fiquei impressionado com a sonoridade metálica do slide que explora nas cordas de seu violão ou guitarra. Um som que, no universo jazzístico, pode ser aproximado do som de Frisell.

Cooder tem-se mostrado mais que um simples músico. Seu trabalho nos revela um profissional apaixonado profundamente pela música. Ele tem buscado, em incessantes pesquisas, conhecer as diversas linguagens musicais populares e, mais, mostrar as influências que se amalgamam e originam as diversas vertentes da música pop.

Meio por acaso, encontrei na rede um disco chamado Jazz, no qual Ry Cooder faz um apanhado das várias expressões que confluem no mainstream jazzístico. O tratamento dado por Cooder tenta manter o clima das primeiras gravações, das versões cantadas nos féretros em New Orleans, tudo muito bem arranjado. Não esperem encontrar jams com improvisos longos. O trabalho é mais um apanhado sobre a história do jazz. Processo - a história - que, como disse acima, parece interessar bastante ao guitarrista. É um trabalho curioso que merece ser ouvido e poderia ser um presente interessante para os aficionados do gênero.

O link: Aqui

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Um pouco de Pepper para a ceia de natal

Véspera da véspera do natal. Aproveito a hora do almoço para presentear meus amigos navegantes com um ítem de colecionador. Trata-se dos dois primeiros discos gravados por Art Pepper como band leader, reunidos no cd de título The Discovery sessions. O atrativo fica por conta das sessões originais aqui reunidas que, dizem, não estão no similar já aqui postado - Surf ride.

Pepper, vocês sabem, iniciou sua carreira ainda bastante jovem (com dezesseis já tocava nas noites de LA); antes, aos nove, já fazia umas graças para os amigos beberrões do seu pai (ainda tocava clarinete - o sax alto só veio aos doze). Sua habilidade como saxofonista rapidamente chamou a atenção dos grandes que circulavam pelos bares californianos. Figurinhas como o baixista Mandragon e o tenorista Dexter Gordon arranjaram-lhe uma série de trabalhos que consolidaram o seu nome na praça.

O encarte do cd que reúne esses dois trabalhos destaca que jovem, no entanto, queria poder soltar suas asas (os arranjos dos grupos que participara eram rígidos e não permitiam maiores devaneios sonoros). Veio, então, a oportunidade de, em 1952, gravar um 10' de 78rpm para o selo Discovery. O quarteto é basicamente o mesmo que trabalhou Surf Club: Joe Mandragon (baixo), Hampton Hawes (piano) e Larry Bunker (bateria). As faixas gravadas foram Brown gold (baseado na harmonia de I got a rythm), a balada These foolish things, a conhecida Surf ride e Holliday flight (ambas com levada blues).

Em 1953, Pepper voltou à cena para gravar mais algumas faixas, desta feita ladeado por outros grandes músicos: Russ Freeman (piano), Bob Whitlock (baixo) e Bobby White (bateria). As faixas gravadas foram Chilli Pepper, Suzy the poodle, Everything happens to me e Tickle toe.
Após uma pausa de um ano (período em que foi preso por porte de drogas e teve que fazer uma desintoxicação básica), retornou ao estúdio para gravar, agora com um elemento mais - o tenorista Jack Montrose - que implicou em substancial alteração na sonoridade, mas sem perder a criatividade e a leveza. Completam o time Claude Williamson (piano), Mont Budwig (baixo) e, revezando na bateria, Paul Ballerina e Larry Bunker. Foram gravados 11 temas (no cd tem vários alternates takes), entre eles Straight life, que deu nome à sua auto biografia.

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quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Brubeck plays Porter


Gostaria de, um dia, tocar apenas temas de Cole Porter. Gosto bastante do modo como ele estruturava seus temas e, mais ainda, do modo como escrevia. Seus versos escapam, em muito, à maioria dos compositores.

Alguns dos grandes jazzistas dedicaram pelo menos um disco exclusivamente à obra de Porter. Um dos que se dedicaram a essa boa tarefa foi Dave Brubeck, no disco plays Porter (Anything goes!), gravado em 1965. A peculiar elegância do quarteto (Brubeck, Desmond, Morello e Wright) casa bem com o texto musical de Porter.

Deixarei dois teminhas para vocês curtirem.

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terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Abrindo a janela para renovar o ar


Retorno. Afastei-me mais do que pretendia, mas, encerrada a temporada de provas, cá estou, ileso. Traduzido o último hieróglifo, esparramo-me no sofá e pego o primeiro disco ao alcance da mão. Um guitarrista.

Ouço Windows, o primeiro disco (1973) que Jack Wilkins gravou como líder. Nascido no Brooklyn, em 44, Wilkins não foi levado pela onda rock'n'roll que invadiu os anos sessenta, quando desenvolvia sua técnica. Mas também não fechou seus ouvidos para o que estava acontecendo com o jazz do período. O resultado é que o guitarrista preserva um punch do melhor mainstream (mesclado aos novos ares) quando interpreta os temas contemporâneos (Corea, Hubbard, Coltrane, Hancock, entre outros) que recheiam o citado disco.

Wilkins está ladeado por Bill Goodwin (bateria) e Mike Moore (baixo acústico e elétrico).

Ouçam Naima e Red Clay na radiola.

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sábado, 27 de novembro de 2010

Sessões lendárias


Mil novecentos e cinqüenta e nove testemunhou o encontro de dois ícones do jazz: Bill Evans e Chet Baker. Foram dois discos - The lyrical trumpet of Chet Baker e plays the best of Lerner and Loewe, agora reunidos em um cd intitulado The complete legendary sessions.

Evans e Baker são representantes do melhor lirismo do universo jazzístico. Ouvi-los em uma mesma sessão é, pois, uma experiência embevecedora. Aproveitem, meus caros. Escolham uma boa companhia + duas garrafas de vinho + um bom prato + uma boa sobremesa e, presto!, terás uma inesquecível noite.

Antes que me esqueça, na cozinha estão os excelentes mestres Herbie Mann, Pepper Adams, Connie Kay, Burrell, Chambers, Joe Jones, Sims, Jarvis, Earl May. Tempero garantido.

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domingo, 21 de novembro de 2010

Oliver Nelson


Fim de tarde do domingo. Encerrei mais uns desenhos das belas velhinhas que conheci em Colatina e, satisfeito com o resultado, sentei-me para ouvir um pouco de música e degustar uma dose de Gentleman Jack.

Peguei na discoteca a minha mais recente aquisição: Taking care of business, um lp de Oliver Nelson gravado em 22 de março de 1960. Não se trata de um dos trabalhos experimentais do genial saxofonista. Encontra-se aqui um disco até bastante ortodoxo.

Fã confesso de Coltrane, Oliver inicia o disco com Trane whistle, uma homenagem ao seu herói. A agradável pegada bluesy do tema se irradia pelos seguintes - Doxy, Lou's good dues e In time (esta com incontestável influência coltraniana) - o que, para mim, é um excelente cartão de visita. Agradou-me bastante a interpretação da balada All the way, a qual Oliver inicia à capella, mostrando sua expertise como intérprete.

O trabalho conta com a participação de Lem Winchester (vibrafone), Johnny "Hammond" Smith (órgão), George Tucker (baixo) e Roy Haynes (bateria), que mantêm um clima mais que elegante em todas as faixas. Indico sem titubeios.

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segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Mais um de Farmer


O que acontecia em 1963, além da maquinação da ditadura ou da mudança do meu velho para Montanha, município surgido da bipartição de Mucurici, no norte do Espírito Santo? Uma boa coisa eu sei que aconteceu: Art Farmer gravou mais um disco. Dessa vez, acompanhado pelo guitarrista Jim Hall, com quem produziu uma boa leva de discos.

O disco em pauta foi gravado ao vivo no Half-Note, nome curioso para um buteco. O resultado é palatável e merece uma ou duas doses de bourbon de boa procedência. Destaque-se que, aqui, Farmer está pilotando exclusivamente o fluegelhorn. O timbre do fluegel, ao meu ouvir, casa perfeitamente com som da guitarra de Hall, fato que torna o disco um pouco mais apetecível. A harmonização se consolida com a participação de Steve Swallow ao baixo e de Walter Perkins à bateria (que me soou um pouco monótono).

O disco reúne cinco temas bem conduzidos pela equipe de músicos. É divertido ouvir Hall citando alguns temas da era do swing em seu solo em Stompin' at the Savoy. Um meu amigo disse-me que sentiu falta de um piano, pois só o baixo de Swallow, no tema citado, não resolveu a parada (principalmente no solo de Hall). Nesse sentido, acho que Farmer leva vantagem, pois conta com uma cozinha mais completa.

As baladas What's new e I'm gettin' sentimental over you são, para mim, os melhores momentos do disco. Uma curiosidade: ao ouvir com fone de ouvido ressalta-se conversas sem fim durante as interpretações. Coisa de primeiro mundo, obviamente.

Link: Avax

Ouçam aqui na radiola.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Standards no Spirito Jazz


Prezados,
Convido-os para uma noitada de, espero, boa música. Acontecerá na próxima sexta-feira, 12/11, às 22:00, no Spirito Jazz. Fica na Rua Madeira de Freitas, Praia do Canto (próximo ao Yazigi).

Estarei com meus amigos Túlio Pizzol (piano), Fausto Lessa (baixo) e Diego Frasson (bateria). O repertório inclui You'd be so nice to come home to, Swingin' shephard blues, Why can't we be friends, I'm gettin' sentimental over you, Prelude to a kiss e muitas outras.

domingo, 7 de novembro de 2010

Porque hoje é domingo


Domingo cinza. Passeio de bike ameaçado. Ligo a radiola e, porque hoje é domingo, vou ouvir um pouco mais do grupo liderado por Curtis Counce. Pego o Landslide, safra 1956. Gravação primorosa, com performances memoráveis de todos os participantes - Harold Land, Jack Sheldon, Carl Perkins, Counce e Frank Butler.

Creio que essa foi a primeira gravação do grupo (corrijam-me, se necessário) e, de imediato, chamou-me a atenção a coesão do grupo. É impressionante como esses caras conseguem fazer um trabalho como este, sem arestas, em praticamente um dia (uma faixa foi gravada uma semana depois, 15/10/56). Obviamente, já tocavam juntos, mas, mesmo assim, é tarefa para gigantes.

Curtis Counce, com a precisão do seu toque, torna-se a viga mestra que sustenta a bela arquitetura desse disco. Ele é um mestre que tem plena consciência de sua função na estruturação dos temas. Land e Sheldon apresentam tal empatia e sicronia nas interpretações dos temas que parecem tocar juntos desde que nasceram. Perkins é um desses caras que nos fazem lamentar a precoce partida (confiram Sarah ali na radiola). Destaco a performance do baterista Frank Butler, que no disco postado anteriormente, ao meu ouvir, ficou devendo (aqui, a sua energia irradia no contato das baquetas com tambores e pratos).

Sem mais delongas, curtam um pouco ali na radiola.

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domingo, 31 de outubro de 2010

Começando o domingão - The Curtis Counce Group


Nada como acordar com uma boa dose de jazz. Exagero meu, mas, com certeza, é uma das boas coisas da vida: acordar com algo que a gente gosta. Programei o despertador para tocar Carl's blues às 9:00h, e, com a pontualidade das máquinas, lá estava o grupo liderado pelo baixista Curtis Counce (preciso como poucos, e não tão conhecido) inundando o pequeno quarto com uma boa dose de encorpada sonoridade.

O grupo de Counce inicou os trabalhos em 1956 e era formado por Carl Perkins (piano), Harold Land (tenor), Frank Butler (bateria) e Jack Sheldon (trompete - que, no disco encarregado de me despertar, toca em apenas uma faixa - outras duas ficam por conta de Gerald Wilson).

Nota triste: o disco em questão, Carl's blues, gravado entre 57 e 58, acabou se tornando um epitáfio para o pianista Carl Perkins, que faleceu em 58, aos 30 anos. Carl's blues, segundo o band líder, foi a última música composta pelo jovem e finado instrumentista. Não há como negar a sua expertise. O cara é bom mesmo. Vocês testemunharão ao ouvirem o disco.

O que temos aqui, senhoras e senhores, são quarenta minutos de excelente música. Da primeira à última faixa, as interpretações são de inquestionável qualidade (o senão fica para a faixa solo de Butler, que achei monótona). Obviamente, puxarei a brasa para Harold Land, um dos meus heróis prediletos. O modo intenso com que liga as notas de suas belas frases, ou como as ataca, são exemplares para aqueles que almejam conseguir expressar sentimentos com seus instrumentos.

Sem mais delongas, curtam I can't get started, Love walked in e Carl's blues ali na radiola.

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terça-feira, 26 de outubro de 2010

Esse guitarrista é o Tal


Entre os jazzistas existe um grande número de autodidatas. O que agora ouço é mais um. Começou a dedilhar as cordas quando tinha oito anos, atraído pelos instrumentos do pai. O encarte do disco afirma que ele nunca teve nenhuma lição de música - foi logo brincar com as cordas. Mais tarde, já um jovem de 19/20 anos, apaixonou-se pelo som de Charlie Christian e não parou enquanto não conseguiu tirar os seus solos nota por nota. A sua formação, enfim, foi essa: ouvir e tocar.

O jovem de estranho nome - Talmage Halt Farlow, rapidamente abreviado para Tal Farlow - tornou-se um dos mais renomados guitarristas do universo jazzístico. Sua agilidade e criatividade tornaram-se públicas principalmente por seus trabalhos com Red Norvo, com quem trabalhou por longo tempo. Em 55, dando uma escapadela de dois dias do trio de Norvo, nosso herói gravou A recital by Tal Farlow acompanhado por um trio de sopros composto por Bob Enevoldsen (trombone de válvula), Bill Perkins (tenor) e Bob Gordon (barítono). Segurando o ritmo ficaram Monty Budwig (baixo) e Lawrence Marable (bateria). Papa fina, como diria o Acir. Vocês podem conferir ali na radiola.
O link: Avax

domingo, 24 de outubro de 2010

Sideman


O que dizer de um camarada que, convidado por Norman Granz (com carta branca) para gravar um disco, esquece, por um ano, o compromisso? E só se lembrou porque Granz deu-lhe uma dura...

Esse relato quem faz é o próprio protagonista da história, no encarte do cd. O disco: Plectrist, gravado em 1956. O músico: Billy Bauer, guitarrista nascido em 1915, que tocou com Herman e, posteriormente, com o grande Lennie Tristano.

Plectrist foi o único disco de Bauer como líder. Não à-toa ele intitulou sua autobiografia como Sideman. E que sideman! - Os trabalhos com Tristano são mais que provas de sua competência. Esses trabalhos, no entanto, ficaram como uma sombra sobre Bauer. Todos esperavam que ele fizesse algo na mesma praia, mas, diz Bauer, fiquei com Tristano pouco tempo (...) e não estudei com ele, como fizeram Konitz e Marsh e muitos outros que trabalharam com ele".

Por essas e outras, meus amigos, vocês não encontrarão aqui um disco experimental. Antes, esse disco é bastante tradicional, recheado de standards (a versão de You'd be so nice to come home to está excelente) com um clima envolvente e com performances dignas do primeiro time jazzístico. Completam a banda Andrew Ackers (piano), Milt Hinton (baixo) e Osie Johnson (bateria).

Ouçam ali na radiola.

Link: Avax

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

...and the first prize goes to...


Está rodando na radiola um disco que bem merece o título First prize! Recordo-me do artista, que há muito não ouvia, por suas performances com outro instrumento - a clarineta. Aqui, ele pilota, além da clarineta, o tenor. Com maestria, diga-se de antemão.

O músico em questão, Eddie Daniels, propiciou-me uma grata surpresa com esse bom disco gravado nos idos anos sessenta (66, para ser exato). O modo como encara o tenor não é nada meloso. Suas construções no improviso de A felicidade (Jobim/Vinícius), primeira faixa do disco, são de um vigor que lembra o bom e velho Rollins. A terceira faixa, em up tempo, Daniels faz uma interpretação vulcânica de Fallin' in love with love, merecedora de aplausos e segunda e imediata audição. Outro teminha bom de ouvir é Time marchs on, que lembra as composições de Desmond/Brubeck, interpretado com clarineta (na intro, em dois canais, Daniels dialoga consigo mesmo). O disco está repleto de bons momentos que merecem a atenção dos nobres visitantes.

Acompanham-no na agradável tarefa Sir Roland Hanna (piano), Richard Davis (baixo) e Mel Lewis (bateria). Ouçam ali na radiola.

Link: Avax

domingo, 17 de outubro de 2010

O atemporal Don EllisTrio


Alguns ventos que sopram nos deixam mais do que a simples impressão que algo diferente está acontecendo. É uma constatação: está diferente, diremos, ante a presença da brisa renovadora. E isso é patente em algumas performances de jazzistas do início dos anos sessenta.Um disco que traz isso de modo indefectível é Out of nowhere, gravado em 1961 pelo trio liderado pelo grande trompetista Don Ellis.
Ao lado de Ellis estão o jovem baixista Steve Swallow, em sua primeira gravação, e o pianista Paul Bley. Esses dois últimos, odiados pelo Predador e amados por muitos outros, não podemos deixar de reconhecer, trouxeram um modo peculiar de tocar para a cena jazzística. Ou, de outro modo, pelo menos reforçaram a tendência crescente de se explorar silêncios e inversões harmônicas, se arriscando em acordes dissonantes que nos deixam com aquela sensação de estranheza. Lembro-me de um jovem amigo meu, iniciante no piano clássico, que costumava dizer "esses caras estão tocando tudo errado".
Curiosamente, o trio escolhe justamente tradicionais standards para usarem seus artifícios musicais. Logo na faixa de abertura, Sweet and lovely, o piano de Bley passeia por regiões íngrimes enquanto o trompete de Ellis parece flutuar sobre um precipício. O disco prossegue recheado por momentos mais que interessantes como, por exemplo, o duo Bley-Swallow interpretando uma elétrica All the things you are. A dupla inicia o tema como se estivessem montando um quebra-cabeça com fragmentos da linha melódica (com pausas para pensar "onde coloco essa peça?") para, em seguida, partirem para um excelente improviso em up tempo.
O disco Out of nowhere é um daqueles que se mantêm à frente do seu tempo. Mais que atual, é um disco que ainda abre portas e janelas para aqueles que querem se arriscar em novas aventuras musicais.
Curtam aí três momentitos do disco (atentem para a versão solo de Just one of those things defendida por Ellis).
Link: Avax


sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Paul Gonsalves e Cleópatra

Na semana passada, zapeando a rede, encontrei um disco agradável de ouvir. Trata-se de um daqueles trabalhos dedicados a filmes. No caso, Cleópatra, a egípcia destruidora de corações, amizades e lares (interpretada, no filme, pela não menos poderosa Liz Taylor).

O líder do grupo é Paul Gonsalves, mais conhecido por suas performances na banda de Ellington. Dono de um sopro warm e aveludado, Gonsalves nos brinda com performances que fazem jus a sua fama de bom improvisador.

O disco Cleopatra - fellin' jazzy traz alguns temas do filme (o swingado Caesar & Cleopatra Theme e o abolerado Antony & Cleopatra theme, compostos por Alex North), outros do próprio Paul (Cleo's blues) e de amigos que o acompanharam na tarefa: o ícone da guitarra Kenny Burrell (Bluz for Liz e Cleo's Asp) e o tocador de sininhos (pelo menos nesse disco) Manny Albam (Cleopatra's lament). Tem ainda uma sensacional interpretação de Action in Alexandria, de Ellington.

A banda se completa com a participação do organista Dick Hyman (suportável ao meu ouvir, em duas faixas), do mestre Hank Jones, de George Duvivier (baixo) e do excelente baterista Roy Haynes.

Ouçam uma amostra ali na radiola.

Link: Soul & Jazz (clique em more no final da página)


domingo, 10 de outubro de 2010

Mais um petardo de Cannonball

Entre os diversos discos de Cannonball Adderley que eu possuo existe um pelo qual tenho especial apreço: Takes charge, gravado em 1959, quando ainda estava trabalhando para a Riverside, mas que foi editado pela Capitol.

Nesse disco, encontra-se um Cannonball com uma sonoridade mais aveludada, com fraseado lírico mas sem perder a verve de bopper. Não tem como não se comover ouvindo a bela balada I guess I'll hang my tears out to dry, nem como não balançar ao som de Barefoot sunday blues. Esse é um daqueles discos que a gente ouve de cabo a rabo sem reclamar. Mandei, agora a pouco, as sete faixas e mais as duas alternates sem tirar o ouvido da radiola.

Ao seu lado, mantendo o clima desse belo disco, estão Wynton Kelly (piano), Paul Chambers e Percy Heath (revezam-se na administração do baixo), Jimmy Cobb e Albert "Tootie" Heat (dividindo a bateria).

Curtam as três primeiras faixas ali na radiola.

Link: Avax


quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Clark Terry na estrada


E pensar que, na minha adolescência, eu detestava instrumentos de sopro. Se o disco, qualquer que fosse, tivesse um naipezinho discreto ia direto pro limbo. Ainda mais quando o sopro era o tal do trumpete. Mas o mundo gira e as coisas mudam de lugar.
Ca estou, nesse momento, ouvindo um disco de um escancarado trumpetista: Clark Terry. O que chamou a minha atenção à primeira vista foi o curioso título do disco - Serenade to a bus seat. Fiquei imaginando o que levou o músico a essa pouco prosaica cena - pensei em turnês por pequenas cidades do interior dos EUA. E é disso mesmo que se trata: um tributo ao tempo viajando com Ellington.
Mas, além do bom nome, o disco está recheado com boas interpretações de temas caros aos jazzistas (Donna Lee, Stardust) e outros menos conhecidos (Digits, Cruising, boomerang). Obviamente, destacarei a presença do grande tenorista Johnny Griffin (que troca umas figurinhas bacanas com Terry em Boardwalk e em todo o disco). Querem mais? pois tem mais: o genial Wynton Kelly que, com sempre, impõe um clima arrebatador com seu piano; Chambers, esse não precisa de adjetivos para designá-lo (poderíamos nos referir assim a alguém que toca bem: "Esse camarada é chambers no baixo" ou "esse camarada toca pra chambers"); e, para finalizar, outro monstro do jazz: o mago Philly Joe Jones e suas baquetas e vassouras.
Confiram ali na radiola.
Link: Avax

domingo, 3 de outubro de 2010

Farmer & Gryce

Para acabar com a modorra de um domingão chatérrimo, pelo menos para mim, ouvir um pouco do bom e velho jazz é uma ótima opção. Aqui, ao meu lado, na radiola, está tocando o grande Art Farmer.

Já estaria de bom tamanho se fosse só o Farmer, mas ao seu lado está o excepcional altoísta Gigi Gryce. O disco é o segundo que reúne a dupla, gravado em novembro de 1955. Originalmente intitulado Evening in Casablanca, título da segunda música do disco, passou a ser chamado Art Farmer Quintet featuring Gigi Gryce em seu relançamento no formato cd (creio que também foi chamado Satellite, a quarta faixa do disco).

Os sopros de Farmer e Gryce são um presente e tanto para os pareciadores do estilo. O diálogo entabulado logo no primeiro tema - Forecast - já pagaria o disco. Mas tem mais - a delicada interpretação de Evening in Casablanca é daquelas que no faz devanear. O bom é que o disco inteiro é de excelente qualidade. Não dá para parar de ouvir.

O time se completa com o piano pontual e equilibrado de Duke Jordan, o baixo honesto de Addison Farmer e a sempre louvada bateria de Philly Joe Jones. Ouçam um pouco ali na radiola.

Link: Avax

sábado, 2 de outubro de 2010

Spirito Jazz

Eu, como bom roqueiro, não podia deixar de tocar Deep Purple. O peso da idade, porém, impõe outra dicção.