sábado, 28 de junho de 2008

Chico Hamilton - The original Ellington suite

Não posso deixar de indicar a indicação feita por Sérgio Sônico. Baixei (direto do sítio do nosso herói do dia) e ouvi a The original Ellington suite, defendido pelo grupo liderado por Chico Hamilton - gravado no final dos anos cinqüenta.
Meninos, o que ouvi? Arranjos sutis, músicos fenomenais e um resultado final seis estrelas com louvor. Chico Hamilton posiciona-se como todo bom baterista que ocupa o lugar de band leader: deixa o povo tocar, sem impor a porradaria peculiar aos bateristas atuais. Condução exemplar desse mestre. Quando vocês ouvirem o disco, observem os naipes de cordas e de sopros - parece uma orquestra completa, mas quem está lá são apenas três músicos: Nate Gershman (violoncelo) e Hal Gaylor (contrabaixo), e Eric Dolphy (sax alto, flauta, clarinete). O grupo se completa com boa guitarra de John Pisano, cuja participação é de solene elegância.


Fica difícil destacar uma faixa em especial - é daqueles discos para se ouvir todo, sem saltos (em cada faixa é reservado aos músicos espaço suficiente para que eles mostrem suas capacidades de criar sobre o tema), mas Eric Dolphy com seu sopro normalmente ríspido, faz um solo magistral em A sentimental mood, com todo sentimento que o tema merece.


Sem mais delongas, cliquem aqui para vocês se deleitarem com essa obra de arte. O disco está completo.

sexta-feira, 27 de junho de 2008

Just for you

Desde quando eu inaugurei minha página no myspace, tenho feito algumas incursões naquela região cyber que me permitiram encontrar um monte de músicos interessantes. Alguns amadores e curiosos, outros ainda anônimos (correndo atrás das luzes da ribalta), ao lado daqueles com a carreira já consolidada.

Em vários momentos senti-me impelido a escrever alguma coisa sobre aqueles que me agradaram. Faço isso agora. Um dos meus "cyber-amigos" é o cantor Miachel Camacho (clique sobre o nome para ouvi-lo), de quem eu já havia ouvido uma ou duas palavras à respeito mas ainda não conhecia o seu trabalho. Pois bem, estou apreciando algumas canções que estão disponíveis no seu espaço (trata-se de uma amostra do cd Just for you, que estou ouvindo pela quarta vez) e o resultado é bastante agradável.

Michael mantém sua voz em uma freqüência cool (que nos remete imediatamente ao modo interpretativo de Chet Baker), que disfarça a sua extensão vocal, usada sempre comedidamente, o que me agrada. Não se ouve afetação nas faixas disponíveis: Here's to the blues, Norwegian wood, Hey you, Skylark, How can we be sure e Spanish Harlem.

A banda que o acompanha é competente e dá sutentação mais que suficiente para Camacho descansar sua voz. Os componentes me são desconhecidos:Tim Regusis (piano), François Moutin (baixo), Randy Napoleon (guitarra), Darryl Pellegrini e Marcello Pelliteri (bateria), Norman Hedman (percussão) e Dan Block (tenor & Soprano).

PS - Considerando o número de visitas femininas à página de Camacho, creio que, quando o prezado navegante resolver beber aquele vinho à luz de velas, essa trilha sonora agradará à sua acompanhante...

quarta-feira, 25 de junho de 2008

Para se sentir amado por Deus

A gente chega em casa e encontra o quê? Amigos discutindo sobre álcool... Não se preocupem, os bares já estão oferecendo motoristas para clientes, como brinde. Opções outras surgirão. Vocês, canívoros, podem ficar tranqüilos.

O jazz, por sua vez, ficou relegado ao limbo durante a minha curta ausência. Chego para acabar com essa lei seca sonora. Trago-vos a verdade, meninos. O som de verdade: Warne Marsh, tenorista que dispensa apresentações e que muitas alegrias proporcionou e proporciona aos adictos da boa música. Mas a alegria fica maior quando a gente descobre um disco que faz sentirmo-nos amados por Deus.

Agradeço ao Salsa por ter repassado uma cópia do cd Apogee, que ele ganhou do seu colega Tião Lírio. Ainda extasiado, só posso ficar grato pelo encontro do underrated tenorista Pete Christlieb com o velho Marsh. Encontro proporcionado pelos cabeças do Steely Dan, a saber, Becker e Fagen, ambos admiradores confessos do trabalho de Marsh, que em meados dos anos setenta andava meio de lado na cena musical. Pois bem, os meninos juntaram Warne com Christlieb e produziram esse discaço.

Pete, apesar de 20 anos mais jovem que Warne, traz em seu sopro toda a boa influência dos grandes saxofonistas dos anos quarenta e cinqüenta: força, suíngue e uma intensa criatividade. A união dessas duas almas nos presenteia com uma explosão sonora incomum para o período em que foi gravado.

A faixa Magna-tism, de Christlieb, abre os serviços como uma tsunami sonora, uma enorme e perfeita onda para os ouvintes se deixarem levar. Seja em uníssono, seja abrindo vozes, seja nos solos, o som é impecável. Marsh, por sua vez, não poderia deixar de lado aquele que abriu as portas para novas perspectivas em seus improvisos: Tristano. A justa lembrança vem com tema 317 east 32nd street, que permite a Lou Levy mostrar sua habilidade como pianista (apesar do som estar com uma eqüalização que puxa excessivamente para o agudo). Mas o show mesmo é dos saxofonistas. Warne exercita sua linguagem outside com a elegância de sempre, percorrendo os limites da música com a segurança de mestre que é.

Christlieb, para mim, imerso na minha ignorância musical, foi a boa notícia da semana. Já o encontro dos dois é mais que boa notícia, é uma dádiva. O disco, originalmente com seis faixas (as citadas mais Rapunzel, Tenors of the time, Donna Lee e I'm old fashioned), na sua versão cd ainda traz três faixas bônus: Lunarcy, Love me e How about you. Razão a mais para a imediata aquisição do disco, que está disponível nas lojas por preço acessível ao bolso, como diz Salsa, desvalido. Para matar a sede dos visitantes deixarei a faixa Love me

terça-feira, 24 de junho de 2008

The days of wine and roses

Vou meter a colher (ou seria copo/taça?) na conversa do Salsa. O trânsito mata pacaramba, todos sabem. Com bêbados irresponsáveis, mais ainda. Algumas dúvidas, no entanto, pairam em minha cabeça. Começo pelo fator etílico: Tenho muitos colegas que bebem como gambás mas parecem não sofrerem os efeitos da bebida, outros bebem uma dose e já começam a babar na gravata. Essa variação de reações ao álcool me deixam apreensivo quanto ao padrão adotado para sapecar aquela multa de primeiro mundo no cidadão sob suspeita de ter ingerido o maldito.

Lembro-me também de alguns colegas que faleceram em função de acidentes automobilísticos. Não haviam bêbados envolvidos. Em um caso, foi um jovem fugindo de uma infração cometida, que furou o sinal vermelho e pimba, matou um e aleijou outro. Outro caso foi um caminhão que invadiu a pista contrária em uma curva perigosa - e lá se foram meu amigo e a mãe.

Os casos citados forçam-me a pensar em coisas básicas: para que servem aqueles testes psicológicos que somos obrigados a fazer para obtermos a habilitação para dirigir automóveis? Salsa, creio que foi você quem me disse que o padrão estabelecido para aprovação não é tão claro e, mais ainda, se os testes fossem seguidos à risca talvez não houvesse nem a metade dos carros circulando, poluindo e matando nossos amigos e familiares. Acho que as fábricas de automóveis teriam de reduzir a produção.

O pior mesmo é a quantidade de habilitações compradas. Quantos malucos que não conseguem diferenciar a esquerda da direita estão pilotando possantes nesse exato momento? E os buracos nas pistas, arremessando carros sobre pedestres? E a corrupção deslavada? E o transporte coletivo, como bem destacou Sérgio, que só existe para levar para o trabalho (mesmo assim, apinhado de gente)? Putz, e a culpa é toda da birita...

Não posso deixar de concordar com Salsa quanto à overdose de moralismo puritanista que contamina os critérios para a tal política de tolerância zero. Uma pergunta que não que calar é: por que não seguimos o exemplo super interessante da Irlanda, nação exportadora de bebuns, que está fazendo uma série de reformas no trânsito urbano (confira a foto do estacionamento) para facilitar a vida da população? Não, esse é um sonho distante. Temos que nos acomodar com a "terceiromundice".

Enquanto a poeira não baixa, ligue o carro e deixa rolar The days of wine and roses. Pelo jeito, vinho, agora, só na trilha sonora.

sábado, 21 de junho de 2008

A nova face do fascismo

Como os colegas blogueiros estão, pelo que parece, de férias, sou forçado a escrever mais um pouco. Inicio com minha indignação com o fascismo galopante que está tomando conta desse país. Já não posso fumar, agora terei que parar de beber? Não tarda e tentarão me impedir de comer a sagrada feijoada... Antes que aconteça, reajamos!

De acordo com a "lei" de trânsito fabricada em função da histeria coletiva que domina essas plagas, sou obrigado a ficar em casa. Deixei, ontem, de ir assistir os colegas tocarem porque eu teria que gastar em torno de setenta merréis só de taxi (havia uma blitz no trajeto). Acrescente o vinho (o mais barato possível), o petisco mais o couvert e a conta não sairia por menos de duzentos. Poderiam mandar fechar as fábricas de bebidas e pronto.

Todo mundo já está careca de saber que o Brasil varonil é marcado por não cumprir as leis que existem - se o fizesse não seria necessário ficar inventando essas bobagens que só servem para aporrinhar a paciência do cidadão e encher os bolsos dos corruptos de plantão. Ou vocês acham que, diante de uma multa quase mil reais, a cambada não vai estorquir o otário que for parado nas blitzes?

Como disse meu irmão, lei desse tipo é atestado de incompetência do Estado. Se levada ao pé-da-letra faltaria lugar na cadeia (se houvesse), e, de quebra, fecharia os bares e as fábricas de automóveis. Proponho, ao molde argentino, um panelaço, ou melhor, um copaço, com muita birita.

Enquanto você não cai nas mãos dos nazistas, ouça Mose Allison interpretando Don't get around much anymore.



quarta-feira, 11 de junho de 2008

Martin Taylor e David Grisman


Há algum tempo, Salsa apresentou-nos, em cenário pouco auspicioso (acidentes na BR 101), um guitarrista, Martin Taylor, que chamou a minha atenção. Procurei aqui, ali e acolá até encontrar o disco I'm beginnin' to see the light, no qual Martin divide a cena com o bandolinista David Grisman. Conhecia esse último do trabalho realizado ao lado do folclórico Jerry Garcia, fundador do Grateful Dead.


A união de Martin com Grisman resultou em um disco aprazível, em que Grisman, a meu ver, foi privilegiado. Isso acontece em função de o bandolim ser um instrumento regularmente usado para tecer a linha melódica. Além desse fator, devemos acrescentar a linguagem de Grisman, fortemente ligada à tradição cigana regada com bluegrass é tempero mais que suficiente para envolver o ouvinte.


A guitarra de Martin, no entanto, não é algo que se apaga. O seu som equilibrado e sua consciência harmônica são características peculiares aos grandes músicos. Aqueles músicos que sabem ser discretos quando necessário e que sabem se adaptar às características dos seus parceiros, abrindo-lhes portas para suas viagens sonoras. O ouvido atento percebe que Martin é um músico que brilha mesmo quando se posta à sombra.

Se você não tem, pode comprar. A relação custo benefício é vantajosa para o ouvinte.



segunda-feira, 9 de junho de 2008

James "Blood" Ulmer & Vernon Reid

O backstage estava vazio. Fui para a frente do palco ver se tinha alguém conhecido. No palco, James Ulmer e Vernon Reid passavam o som. Um jovem se aproximou e se apresentou como editor-chefe-faz-tudo-aspone do sítio Jazzman!. Estava acompanhado por outro jovem, jornalista da Guitar Player, e uma moçoila já me ajudara com o bom e velho "debuk izond têibou" durante as entrevistas.

Os jovens estavam apreensivos quanto a Ulmer. Diziam-no paranóico ou algo assim. Fiquei grilado, mas o que eu constatei foi apenas o laconismo do velho guitarrista. As suas respostas monossilábicas reduziram a coletiva a parcos minutos. Por outro lado, Vernon Reid mostrou-se o prolixo de plantão. Falou pra caramba - pena que eu quase nada entendi. O que me interessava mesmo era o palco. Ali, meus amigos, o que eu esperava (um pouco preocupado, é certo) não foi demonstrado na passagem de som: as tais viagens sonoras free de Ulmer (como quando tocava com Ornette Coleman), ou alguma coisa à moda da Music Revelation Ensemble (que já contou com figurinhas tipo David Murray, Arthur Blythe e e Hamiet Bluiett).

O que rolou mesmo foi algo menos experimental: o tal do blues, com uma roupagem interessante, com pitadas funky. O grupo tocou escaleta e Hammond (Leon Gruenbaum), violino turbinado (Charlie Burnham), harmônica (David Barnes) e também contou com Aubrey Dale (bateria) e Mark Peterson (baixo). Mas a pedreira mesmo ficou por conta das guitarras. A dupla James "Blood" Ulmer/Vernon Reid proporcionou bons momentos para a galera blueseira que lotava o espaço da Lagoa Azul. As distintas gerações (e distintos percursos)não ocasionaram nenhum atrito, pelo contrário, mostrararam-se bastante próximas. A linguagem usada, enfim, era a mesma: a boa música.

sexta-feira, 6 de junho de 2008

Bonerama balança Rio das Ostras


A Tartaruga é uma ponta de pedra que invade o mar, como um pier. O mar azul em torno e o privilegiado pôr-do-sol foram fatores decisivos para que ali fossem realizados os shows vespertinos do festival. Foi ali, embriagado pela beleza do local (juro que só pela beleza), que eu assisti o show do grupo Bonerama.


A platéia, apinhada como tartarugas no período de reprodução, esperava o show do grupo de New Orleans. Ninguém demonstrava nenhuma insatisfação com o desconforto - o clima de festa supera quaisquer incômodos. O grupo sobe ao palco e inicia os trabalhos. E vem como um rolo compressor: puro balanço, muito rock'n'roll, que surpreende aqueles que esperavam o som mais tradicional, dixie, característico das brass bands.


A formação da banda, com quatro trombones (Mark Mullins, Craig Klein, Steve Suter e Greg Hicks), um souzafone (Matt Perrine), guitarra (Bert Cotton) e bateria (Eric Bolivar), anuncia a mescla entre a tradição e o contemporâneo, que logo se revela com os temas trabalhados e com os arranjos. O grupo usa e abusa dos ícones do rock'n'roll: Hendrix, Zeppelin e Black Sabbath têm suas músicas relidas pelos metais dos branquelos de New Orleans. Os jovens e nem tão jovens assim foram arrebatados pela pegada dançante que dominou completamente o show.


Um dos líderes do grupo, o trombonista Mark Mullins (foto by Cezar fernandes) não se furtou a plugar o seu instrumento, produzindo aquele som turbinado das guitarras (que o slide natural do trombone facilita). As vozes dos trombones, muito bem arranjadas, não dispensaram os clássicos recursos polifõnicos das bandas dixies nos momentos dos improvisos. Foi uma tempestade de som.


O clima foi o mesmo no sábado, quando o grupo encerrou a noite. A multidão, mais que satisfeita, agradeceu com efusivos aplausos. A boa impressão foi recíproca. O grupo deixou um post no myspace:

"On Friday we they bring us to this stage that is one of the most exotic places we have ever played. Its on a rock that jets out into the Atlantic Ocean. (Hope fully some pics will appear soon) Its a free festival so lots of people showed up and really loved what we did.
The next night was on this big stage that they said 10,000 people come out to. They had us closing the show! We were honored and excited to be at this time slot. We didn't go on till after 12:30am (the other bands probably didn't want to start that late, but we are used to it. Maybe that's why we played last. LOL) and started our show hitting it hard, but what happened as the show went on was cool. Toward the end of the set the crowd was totally there and moving and grooving hard. We played our last song and left the stage only to be brought back on with the crowd chanting Bone-a- Rama over and over. We came out and played War Pigs and they went freaking crazy. There are some serious metal heads down there. After we finished we walked off only to be called out for a second encore! A first. We had a request from our really cool festival music producer, Herbie, to do The Ocean so we knocked it off and sailed through it with the crowd head banging away."

quarta-feira, 4 de junho de 2008

John Scofield Trio & Scohorns

Scofield chegou com sua trupe no horário marcado para a passagem do som. O semblante expressava alguma apreensão - a proximidade do show, talvez. Afinal, seria também o lançamento do seu novo disco This meet that. Evitei perguntar qualquer coisa e fiquei observando à distância e especulando o que se passava na cabeça do guitarrista.

Steve Swalow, aparentando mais idade do que tem, sentou-se e respirou fundo. Bill Stewart, o baterista, perguntou-me, apressado, sobre a localização do banheiro. O naipe de sopros conversava sobre trivialidades enquanto aguardavam James Ulmer e Vernon Reid finalizarem a equalização do som.

Aguardei ansioso o show do grupo. A passagem de som antecipou alguma coisa, mas treino é treino, jogo é jogo. Queria ver como a equipe se saía em campo, digo, no palco. Minha atenção estava dirigida especialmente para o naipe formado por Phil Grenadier (trompete e flugelhorn - direita, na foto), Eddie Salkin (saxofone tenor, flauta e flauta alta - esquerda, na foto) e Frank Vacin (saxofone barítono e clarinete baixo). Observei especialmente o clarone (clarinete baixo), instrumento de um grave envolvente e profundo. Os solos de Vacin não me decepcionaram. Som de primeira. Confesso ter esperado que o naipe, como os outros sopros que estiveram no palco em outros shows, usassem e abusassem dos pedais, mas isso não aconteceu. Isso é coisa para Scofield, que não negou fogo.

O grupo mostrou arranjos arrojados, usando dissonâncias à rodo, mas com alto grau de coesão. Swallow (foto) mostrou porque é considerado um mestre do seu instrumento. De posse do baixo elétrico, ele apresentou um vigor que contrastava com a sua imagem frágil. Stewart e Swallow formavam um paredão de som pronto para sustentar qualquer peso.

O momento lírico ficou por conta da interpretação pungente e emocionante de Behind closed doors (de Charlie Richie). Scofield fez a guitarra lacrimejar - as notas saíam como soluços sentidos. Percebia-se na expressão do guitarrista que aquela canção era mais que uma simples canção para ele. A platéia, milhares de pessoas, em silêncio, partilhou a emoção de Scofield.

Merece destaque o esforço que os músicos têm feito para incluírem novos temas em seus repertórios. Scofield trouxe, além da balada citada acima, as super badaladas, verdadeiros standards pop, A house of rising sun (imortalizada pelos Animals) e Satisfaction, que não precisa de apresentações. Os arranjos ficaram interessantes e fizeram a platéia balançar.

PS - O disco merece uma conferida. Scofield não abandona sua característica sonora, mas a estrutura está mais leve que os discos anteriores. Já adquiri o meu.

segunda-feira, 2 de junho de 2008

John Mayall & The Bluesbreakers

Era o começo da noite de sexta-feira. Um senhor grisalho, trajando camisa com motivos tropicais, parou próximo ao portão principal do Palco da Lagoa Azul e, com gestos pacientes, começou a montar uma pequena mesa. Sobre ela, um cartaz anunciava o lançamento dos discos devidamente expostos. Postou-se sereno ao lado e aguardou os possíveis clientes. Aproximei-me e cumprimentei-o. Era John Mayall "mangueando" seu último trabalho.

Ali estava eu, ao lado de um dos caras que me apresentaram o blues. É isso mesmo: conheci o blues via Inglaterra - via Mayall, Led Zeppelin e Jimi Hendrix (que não era inglês, mas só se tornou conhecido após sua estadia em Londres). Mayall, hoje, para mim, é mais mito do que músico. O seu grande mérito é, assim como Miles, saber se cercar de músicos competentes. Creio que todos os guitarristas que emergiram nos anos sessenta e setenta na Inglaterra passaram pelo grupo do velho roqueiro.

No show em Rio das Ostras conheci mais um bom músico selecionado por Mayall: o guitarrista e cantor Buddy Whittington, um texano com todo o sotaque possível e com uma pegada nervosa (ao modo do Texas), que é membro dos Bluesbreakers desde 93. Em nosso papo no backstage, ele ficou um pouco irritado quando eu, insensível que sou, perguntei se o blues havia se mudado definitivamente para a Europa, assim como o jazz. O blues é e sempre será dos EUA, disse-me. Mayall sabe disso e, por isso mesmo, atualmente está cercado por músicos norte-americanos.

A banda, aliás, está com uma formação bastante duradoura. O também competente baterista Joe Yuele (foto) está no grupo há mais de vinte anos. O membro mais recente do time é o baixista e ex-engenheiro mecânico Hank Van Sickle, que está com Mayall desde 2000. O fato é que a plateía, reunindo várias gerações, foi até lá para assistir o velho ídolo. E não se decepcionaram.

Foto de Mayall tocando: by Cezar Fernandes

domingo, 1 de junho de 2008

The Godfathers of Groove


No início da noite de sexta-feira, no backstage do palco de Lagoa Azul, a porta de um camarim abriu-se e de lá saiu um senhor negro, aparentando pouco mais de sessenta anos, fazendo pose de velho malandro novaiorquino. Ele ostentava um sorriso dourado e brincalhão que rapidamente conquistou a todos que por ali passava.

Tratava-se de um dos Godfathers of Groove, que se apresentaria um pouco mais tarde. Mais especificamente: tratava-se de Bernard "Pretty" Purdie, lendário baterista, dono de um suíngue que pude comprovar ao assistir o show bem próximo a ele, no palco. Logo depois, surgiram o guitarrista Grant Green jr. e Reuben Wilson (piloto do Hammond), imediatamente alvos das brincadeiras de Purdie. A dupla não se furtou ao clima festivo e, juntos, anteciparam o que aconteceria no palco: pura alegria.

O grupo veio com mais um membro: o saxofonista Leo Gandelman, com quem já haviam trabalhado há alguns anos, mas que, apesar de sua reconhecida competência (disseram-me que ele tem tocado um barítono pra ninguém botar defeito), soou-me um pouco díspar, um pouco estranho naquele ninho. Ao fim e ao cabo, eu não diria que ele comprometeu o espetáculo (o público respondeu positivamente - implicância ou inveja minha, pois). Enfim, com esse trio é possível sustentar qualquer aposta.

O repertório, recheado por temas com aquele clima motown, mexeu com todos que estavam ao alcance de seu espectro sonoro. Balanço e tanto. O nome The Godfathers of Groove é perfeitamente aplicável ao grupo. Se Lester, do Jazzseen, lá estivesse, apreciaria a aura acid-jazz que emanou da performance dos "chefões" e provavelmente os reverenciaria, como fez o guitarrista Russell Malone .