quarta-feira, 29 de junho de 2011

Rio das Ostras: A noite em que a platéia calou


Quando a noite caiu sobre o sábado não trouxe nada que augurasse tragédias para o palco da Costazul. Ela chegou clara e fresca. Quando os problemas começaram a surgir, pensei que a nau naufragaria. Foi então que entrou em cena o Javier,técnico de som que acompanha o pianista cubano
Roberto Fonseca.

Sim, essas linhas iniciais são para agradecê-lo pelo excelente trabalho: graves, médios e agudos, tudo em seu devido lugar. Algo que até então não acontecera com tamanha eficácia. Explicou-me Javier que, em determinados momentos, tem-de que produzir alguma mágica. E ele conseguiu.

Enfim, era uma noite de magos. E o mago que dominou a cena e a platéia foi o pianista Roberto Fonseca. Ainda durante a passagem de som, constatou que havia algumas teclas do Steinway que estavam agarrando (cf. foto). O show atrasou em função do problema, que não foi resolvido. Tudo estava nas mãos e dedos do jovem cubano, que não titubeou: o som começou com um clima que rapidamente dominou o público.

A magia que emanava do piano e de toda banda (não se ouvia aquela porradeira que costumamos equivocadamente associar aos ritmos latinos), a leveza das performances dos músicos, o perfeito equilíbrio, a dinâmica impressionante que os músicos
conseguiam impor nas músicas interpretadas são elementos raros de se ouvir.

O momento mais envolvente está no vídeo (perdi algumas notas no início): a bela balada que fez a platéia calar-se. Momento de um impressionante lirismo que embalaria a alma mais dura. Para mim, já seria suficiente para uma noite.

terça-feira, 28 de junho de 2011

Casacos amarelos


A noite de sexta ainda trouxe dois shows: Yellowjacket e Nuno Mindelis (este, deixei de lado pois já assistira à tarde). Permiti-me assistir a apresentação do primeiro. Queria ouvir de perto o sopro de Bob Mintzer, um dos grandes nomes do saxofone contemporâneo.

O grupo fundado pelo tecladista Russell Ferrante e pelo baixista Jimmy Haslip é uma referência quando se fala na fusão de jazz com as diversas linguagens do universo pop. O grupo, não há como dizer o contrário, é competente dentro de sua proposta. No entanto, apesar de Haslip afirmar (no release) que eles sempre buscam o novo, a sonoridade e a estrutura dos temas ainda parecem estar firmemente ancoradas duas ou três décadas atrás. Essa constatação seguiu-se de uma boa dose de enfado, que fui curar com doses de outras bebidas mais compatíveis com meu paladar.


A bossa da Jane

Jane Monheit sucedeu José James no palco principal. A distância entre as performances dos dois astros foi, ao meu ver e ouvir, grande. Ainda contaminado pela força do primeiro show, julguei a apresentação da serpeante renascentista Jane Monheit um tanto quanto frágil.

Minha opinião, no entanto, foi um pouco modificada ao assistir os vídeos que gravei. O fato é que as propostas são bastante diferentes. Jane mergulhou no great american song book e também, para a alegria do público, sapecou uma série de bossas, e por aí ficou. Ela fez interpretações comedidas mas honestas (embora eu dispensasse as bossas - essas sim, frágeis). Jane é uma cantora que sabe usar os seus recursos naturais, mas, pode ser impressão minha, pareceu-me que ela acha possuir mais do que realmente tem. Acho que o som vai bem num coquetel ou num jantar íntimo. Pano de fundo, pois.


segunda-feira, 27 de junho de 2011

José James


À noite, na sexta-feira, titubeei em ir assistir o show de abertura, pois fui convidado por uns músicos para uma jam. Como o som estava demorando e o pessoal estava com muito "profissionalismo" para meu gosto, eu resolvi me mandar pro palco principal e apreciar os shows programados. Enfim, este era o lugar apropriado para profissionais.

São esses acontecimentos que me fazem acreditar em deus. Por pouco, muito pouco, eu teria deixado de assistir o show espetacular protagonizado por José James e banda. O jovem magrelo e com visual de rapper, nascido em Minneapolis, mostrou-se um gigante quando segurou o microfone e começou a entoar os temas que escolheu para a sua performance. Ouvi embevecido as interpretações de, entre outras, Save your love for me, Equinox e Moaning (esta, que finalizou o show, está no vídeo postado).

José James é, sem sombra de dúvida, um cantor de jazz. Dos bons. E nada ortodoxo - os seus arranjos conjugam com elegância elementos da tradição com a sonoridade contemporânea. Sua performance foi uma das que conseguiram deixar a platéia ligada do começo ao fim.

A praia de Tommy Castro - Rio das Ostras 2011

A tarde de sexta-feira estava azul. Céu aberto e com sol agradável do inverno. O dia começou a esquentar com a chegada do californiano Tommy Castro ao palco da Lagoa de Iriry. O clima estava apropriado para o guitarrista mostrar um pouco do blues da costa oeste.

Tommy, 56 anos, traz no seu currículo o prêmio de melhor bluesman de 2008 (Blues Music Award for Entertainer Of The Year) e uma consolidada carreira. O seu som tem algo de funky/soul com uma boa dose de r&b. Os arranjos lembram, em alguns momentos, o balanço de James Brown. Muito colabora para isso a presença do naipe de sax e trompete. Ficará fácil para vocês perceberem ao assistirem o vídeo postado a baixo (Nasty habits).

O início do show, para não perder o costume, deixou o som dos sopros fora da cena. Felizmente, o "técnico" acertou logo depois. Apesar dos tropeços da sonorização o resultado final foi de muito balanço, culminando com uma jam explosiva em cima do tema Sex machine, do bom e querido Brown.

Bryan Lee at Rio das Ostras



O pessoal que curte a seara do blues deve estar rindo à-toa. A produção do festival de Rio das Ostras caprichou bastante nesse quesito (possíveis dedinhos do Big Joe Manfra e de Jefferson Gonçalves). Entre os que participaram da bela festa, agradou-me bastante o show de Bryan Lee (aka Braille Blues Daddy), o
representante de Louisiana .

Cego desde os oito anos, restou a mr. Lee organizar seu universo com sons. Sons de guitarra, de escalas blues e de muitas estórias contadas entre as pungentes interpretações realizadas por sua banda. Banda excelente, por sinal. O baterista John Perkins não tirava o sorriso do rosto
enquanto batia com força os seus tambores, segurando a pulsação com o auxílio do baixista Slim Louis. Destaque para o jovem guitarrista Brent Johnson, que, além de belos solos, propiciou diálogos sensacionais com o band leader.

Curtam um pouco no vídeo produzido por esse escriba:




domingo, 26 de junho de 2011

Rio das Ostras 2011 - 5


Azimuth

A dose de saudosismo, pelo menos para este que lhes escreve, foi ouvir e ver o mais que memorável trio brasileiro: Azimuth. Lembrei-me da boa estranheza causada pela audição, em meados dos anos setenta, do lp responsável pelo primeiro grande sucesso do grupo: Linha do horizonte (tocado no final do show). Eu, na
época, fã ardoroso do rock'n'roll, me deixei levar pela sutileza e também pelo peso que havia (e ainda há) na mandada do trio.

A apresentação em Rio das Ostras mostrou que José Roberto Bertrami, Ivan "Mamão" Conti e Alex Malheiros mantêm a verve musical que estava presente no início de suas carreiras. O toque smooth, a leveza dos arranjos (não se ouve aquelas convenções ultra complicadas de alguns contemporâneos) e a precisão nas interpretações são componentes que tornam o som do trio
altamente acessível para todos os ouvidos. E lá estava uma platéia atenta e participativa, mais que mera testemunha, cantarolando os temas mais conhecidos do nosso Azimuth.

PS - Leo Gandelman participou do lance.

Rio das ostras 2011 - 4

Saskia Laroo

O segundo show da noite de quinta-feira foi o da trompetista Saskia Laroo. Querem-na versão feminina de Miles Davis e, considerando a sua apresentação (cf o vídeo), ela bem que tem uns tiques milesianos.

A trompetista cinquentona, mas cheia de energia, se diz chegada num amplo leque de estilos: do jazz à world music. Gosta de experimentar, a maluquinha - coisa dos nascidos em Amsterdã. Para isso, ela conta com a ajuda do pianista/tecladista Warren Byrd, que também parece gostar de uma viagem.

A faceta experimental da holandesa foi apresentada nos palcos de Rio das Ostras ao reunir rappers, percusionistas e pedais para turbinar seu instrumento. O resultado desagradou os puristas (que preferem-na atacando os standards do songbook americano), mas agradou a meninada, que foi ao delírio.

sábado, 25 de junho de 2011

Rio das ostras 2011 - 3

Quinta à noite - Palco principal
Ricardo Silveira

Cheguei cedo ao palco principal para ver a passagem de som e curtir o vai e vem da produção. O bom de ser credenciado como membro ativo da imprensa é poder ir ao backstage ver os preparativos dos músicos. A rapaziada procurando camarins, encontrando amigos de outros festivais e, melhor, eu, com meu inglês "debukizondetêibou", entabulando longas conversas com os astros de plantão.

Quem chegou junto comigo foi o grande guitarrista Ricardo Silveira, que veio acompanhado com um time de primeira, incluindo o excelente naipe formado por Jessé Sadoc e Marcelo Martins, o baixista Rômulo Gomes e o grande astral e baterista André Tandeta (que também tem suas cicatrizes de tombos de moto - a coisa foi mais tensa pro lado dele do que para o meu).

O guitarrista falou-me um pouco sobre seu novo disco, Até amanhã, e sobre seu percurso desde Bom de tocar, o primeiro sucesso, lançado há 26 anos. O disco traz antigas canções com arranjos muito bons (eu tenho o cd) e novos temas em que se percebe aquilo que o guitarrista afirmou no nosso papo: seu vocabulário musical cresceu bastante com o passar do tempo, permitindo-lhe usar elementos especiais em cada tema executado.

A indubitável habilidade de Ricardo Silveira como instrumentista é corroborada pelos inúmero convites patra tocar com os grandes nomes do cenário internacional (Grusin, Toots, Metheny, Ernie watts e mais um monte de gente), reforçando o seu nome como uma referência para os apreciadores da guitarra. Modesto, perguntou-me se o seu som teria a ver com a cena da noite (ele abriria os shows). Respondi-lhe que os outros é que deveriam se preocupar em manter o nível. Palavras que se confirmaram com a excelente performance da banda.

O senão fica por conta dos técnicos de som que, mais uma vez, pisaram na bola (já havia acontecido no show de Mindelis). O naipe só passou a ser ouvido na metade do primeiro tema - o solo de Sadoc passou batido e o de Martins só foi possível ouvir quando estava no final. Lamentável. Segundo Martins, isso sempre acontece. Deve existir um complô contra os sopros.



sexta-feira, 24 de junho de 2011

Rio das Ostras 2011 - 2

Nuno Mindelis


Após o desencanto causado pelo mau encontro com o olímpico Hermes, resolvi afogar a fúria com algumas doses de puro malte e cerveja e curtir o som das duas da tarde: o bluesman Nuno Mindelis.

Para mim, a Lagoa de Iriry é o melhor local para assistir os shows. A proximidade entre músicos e platéia propicia um astral sensacional. Dá para perceber a satisfação chapada na cara dos músicos, que até esquecem as dificuldades que vez e outra pipocam com a sonorização.

Mindelis tocou clássicos do estilo e composições de sua lavra. Nota-se com facilidade que é um blueseiro com linguagem mais moderna. As suas composições e performances sempre têm passagens mais
dissonantes e estrutura harmônica que fogem um pouco à tradição. Mas o que importa mesmo é que a galera curtiu, pediu bis e foi prontamente atendida.

Rio das ostras 2011 - 1

PAGUEI E NÃO LEVEI

Como de hábito, alguma coisa tinha que dar errado. Isso faz parte da minha estória (assim mesmo, com e). Cheguei ao hotel e constatei a presença do (in)esperado, que já penso tratá-lo com mais intimidade - FDP, por exemplo.

Pois bem, a minha reserva não estava reservada. Conferido estratos (depositei em cash), nada havia que lembrasse a suada quantia depositada. Pior, não trouxe o recibo. Hermes, o deus dos ladrões, deu um jeito de ficar com meus 325 contos.

É provável que eu tenha depositado na conta de algum seguidor do citado deus olímpico, que já deve ter detonado até o último centavo. Prevalece o ditado do sul dos EUA: Don't worry about the thing, 'cause anything gonna be allright.



quarta-feira, 22 de junho de 2011

Going to jazz & blues festival


Amanhã, às 6:00 a.m., partirei para Rio das Ostras para mais uma jornada lúdico-etílico-musical. A programação do festival deste ano, seguindo a tendência dos anteriores, privilegia os sons mais contemporâneos.

A principal atração, Medeski, Martin & Wood mais o saxofonista Bill Evans, é promessa da alta octanagem que deverá permear todo o evento. Outra figurinha carimbada é o grupo Yellowjackets, também conhecido por sua levada fusion.

Nicholas Payton pode ser o que mais se aproximará do mainstream jazzístico (obviamente, isso dependerá do seu humor). Jane Monheit, a bela musa responsável pelo lirismo da parada, nem precisava cantar: a sua
presença já satisfaria esse solitário coração. A curiosidade fica por conta da trompetista Saskia Laroo que, dizem, bate um bolão.

O lado blues está repleto de opções: Mendelis, Tommy Castro, José James, Bryan Lee e mais uma porrada de gente. Momento em que o velho jack sairá do alforje.

O kit sobrevivência, já organizado, inclui quatro garrafas de vinho, meia garrafa de uísque, meia garrafa de conhaque, dois coronas, dois envelopes de dipirona e uma caixa de omeprazol.

domingo, 19 de junho de 2011

FECHADO PARA REFORMAS


O quintal manter-se-á sem postagens durante um tempo.
Razão singela: passará por necessárias reformas. A repaginada será geral.

terça-feira, 7 de junho de 2011

Jazz, Whisky & Something Else


Prezados navegantes,
No próximo dia 17, às 20:00h, estarei no Ponto de Encontro (anexo etílico-cultural da ADUFES) para uma noitada de jazz com meus amigos Caco Dineli (baixo acústico), Bruno Venturin (teclados) e João Augusto (bateria).
Aguardo-vos.