domingo, 27 de junho de 2010

Blues in trinity

Os meus amigos blogueiros Lester e Érico já falaram de montão sobre esse grande músico inglês que invadiu os EUA para mostrar que sabe muito de jazz: Dizzy Reece. Eu, como sempre, não me darei ao trabalho de fazer aquilo que os colegas já fazem com maestria: dissecar a vida e o estilo do camarada. Ater-me-ei a apresentar-lhes um bom disco do trompetista que, como destaca o encarte, não tem medo de soprar as chamas. Incendiário Reece.

O ano, 1958. O disco, Blues in trinity. O trio de frente reúne Reece, Byrd (trompetes) e Tubby Hayes (tenor). A cozinha fica ao encargo de Terry Shannon (piano), Lloyd Thompson (baixo) e Art Taylor (bateria).

Senhores, ouvi esse disco dezenas de vezes durante esse mês de julho. E ouço de novo, agora, enquanto digito essas poucas palavras. Hard bop de primeira, com sucessivos e magistrais solos de todos os componentes do grupo. Puxarei um pouco a brasa pro lado do excelente tenorista Tubby Hayes, que fez-me estacionar o carro para ouvir melhor as suas belíssimas construções. Isso, no entanto, é apenas a observação de um saxofonista - o fato é que o trio é daqueles que a gente não fica reticente para sapecar uma profusão de adjetivos.

Ouçam e atestem. Deixarei o disco inteiro rodando.

O link: Avax


segunda-feira, 21 de junho de 2010

A piano heroe

Jazz, enfim.

Hoje estou ouvindo um pianista que faleceu com apenas 29 anos, um ano antes do meu nascimento. Vida breve, obra eterna.

O jovenzinho Carl Perkins, de Indianápolis, foi fazer sua carreira na ensolarada Califórnia. A sua história é marcada pela superação - acometido, na infância, pela implacável pólio, ficou com seqüelas em seu braço esquerdo. Isso o obrigou a desenvolver uma técnica particular para atacar os baixos. O fato é que seu som conquistou um espaço e tanto no cenário jazzístico.

O disco Introducing Carl Perkins, é o único gravado pelo pianista no formato trio. Acompanham-no Leroy Vinnegar (baixo) e Lawrence Marable (bateria). O resultado é de primeira e vocês poderão conferir na radiola (o disco inteiro).

Link: Avax


domingo, 20 de junho de 2010

Últimas impressões sobre Rio das Ostras Fest

Esperava, na sexta, que a minha viagem a Rio das Ostras fosse plenamente compensada. Enfim, a noite seria abrilhantada por novas e velhas estrelas do mainstream jazzístico. Até a chuva se recolheu, dando lugar à constelação que se anunciava no horizonte do palco principal: o trio formado por Mulgrew Miller, Ron Carter e Russell Mallone; logo depois viria o quarteto de Joey Calderazzo. Para este que vos tecla, a noite já estaria completa.

Cheguei quando anunciavam a entrada do trio de Ron Carter. Nesse momento, percebi que algo não ia bem com a produção. O principal elemento para um bom show estava comprometido: o som. Algo que nas versões anteriores do festival sempre foi impecável. O som do piano de Miller estava sofrível, o baixo de Carter inexistia, da guitarra de Malone mal se ouvia as notas mais agudas.

Desesperei. Fui para a frente do palco e, mesmo lá, apesar de ficar mais audível, persistia uma sonoridade sofrível (parecia que algumas caixas estavam "estourando", com aquele irritante sonzinho rachado. Minha garrafa de bom vinho ficou, repentinamente, avinagrado. Esperei que melhorasse para o segundo show.

Sentei-me com o amigo Olney Figueiredo e aguardei. Entrou Calderazzo e, à distância, o som manteve-se no limbo. Fui novamente para a frente do palco e o som pareceu-me menos rachado. Calderazzo, por sua vez, estava imbuído da tarefa de mostrar o bom e velho swing - e o fez com presteza. O seu quarteto fez o que se espera de um bom jazzista: tocou muito, como muito balanço. Apesar do esforço contrário dos técnicos do som, o bom pianista conseguiu realizar um excelente show.

A seqüência de shows nos trouxe o trumpetista Michael "Patches" Stewart que, no ano passado, cá esteve acompanhando Jason Moran na homenagem a Miles Davis. A banda é a que costuma acompanhar Marcus Miller e o som um pouco mais pesado do que o do tecladista, mas com a mesma mescla soul/funk/jazz também conhecida como smooth ou música de elevador. Inegável o balanço, que agradou a juventude presente (e, em alguns momentos, até esse velho blogueiro). Musicalmente, nenhuma novidade - previsível. O destaque foi o sub utilizado líder, que, com certeza, se tocasse uma música mais desafiante, mostraria o que realmente é capaz de fazer com seu trompete.

Na noite seguinte, continuou a parte eletrificada do festival. A banda do baixista Victor Bailey foi praticamente a mesma que tocou com Patches. E, como na noite anterior, só era possível ouvir detalhes da música quando estávamos no gargarejo. À distância, prevalecia uma boa dose de estridência. Poupei-me de mais desgosto e recolhi-me para a boa noite de sono e para a viagem de volta.

Agora, fica a expectativa para o Tudo é jazz, em setembro.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Quinta-feira cinza no Rio das ostras Jazz & Blues Festival

A tarde chuvosa da quinta-feira não afastou o público do palco da Lagoa de Iriry, aconchegante recanto onde o bluesman brasileiro André Christovam fazia sua apresentação. O público dizia ao que veio: queria festa.

À noite, no palco principal, a chuva retardou o início dos shows. Tudo parecia estar no lugar, mas a dispensável apresentação do grupo mineiro Plataforma C, que interpretou alguns standards de modo completamente burocrático, conseguiu me irritar. Qual o critério dos organizadores ao escalar esse grupo? Fiquei com a pulga atrás da orelha. Será que o nível do festival está descambando?

Para alívio meu e de muitos outros, o show do veterano Raul de Souza foi de primeira linha. A banda que o acompanhou mostrou competência e vigor, ressaltando o balanço peculiar à velha raposa da música instrumental brasileira, que se mostrou em plena forma ao pilotar seus instrumentos. Destaque-se a performance do baixista, dono de uma excelente e precisa pegada. Musicalmente falando, esse foi, para mim, o show da noite.

A segunda apresentação (a primeira foi desclassificada) foi do trio do guitarrista blueseiro Michael Landau. Os apreciadores do gênero, eu incluso, curtiram bastante a performance do power trio, que brindou a galera com temas antológicos como Up from the sky (Hendrix).

O terceiro show foi do baiano Armandinho que, pilotando o bandolin e a guitarra baiana, fez umas presepadas interessantes, abusando do cromatismo e da duração de sua apresentação, que previa a participação de Stanley Jordan. Quando o guitarrista entrou em cena já eram duas da madrugada, acompanhado por Mamão (bateria) e Dudu (baixo). Não me empolgou (o cansaço já atingia meus velhos ossos). Para não dizer que não gostei completamente, a interpretação de Eleanor Rigby proporcionada pelos dois guitarristas até que ficou bacana.

Quase três da madrugada, exaurido pela longa viagem e jornada musical, não consegui assistir o show da Rio Jazz Orchestra nem ouvir a bela Taryn cantar. Fui dormir e sonhar com a performance do trio formado por Mulgrew Miller, Carter e Mallone e com o quarteto de Joey Calderazzo, atrações do dia seguinte.

domingo, 6 de junho de 2010

Rio das ostras 2010, uma odisséia.

Nossos ancestrais tinham um contato mais próximo com a natureza. Costumavam "conversar" com ela. Se não tanto, com certeza tentavam decifrar os augúrios que os fenômenos naturais anunciavam.

Eu, encoberto pela tecnologia e pelo racionalismo galopante (o galopante, no caso, cai bem), não atentei para o prenúncio que representava a fumegante cabeça do frade*. Menos ainda quando o arco-íris cruzou a estrada (inúmeros carros passaram por baixo e, quero não crer, pareceu-me que se transformaram em fusquinhas rosas!). Alguma coisa iria acontecer, mas, cego, preferi ver apenas o trivial que o frio discurso científico nos ensina.

Aguardem o próximo e emocionante capítulo de Rio das Ostras Jazz & Blues Festival - 2010, uma odisséia.
*Para visitantes de outras plagas: há, no sul do Espírito Santo, uma bela formação rochosa chamada O frade e a freira, facilmente visualizada por quem trafega pela Br 101. Contam algumas estórias envolvendo um certo romance proibido que, por ora, ficarei devendo aos amigos.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

De malas prontas

Exatamente às seis da manhã, eu partirei rumo a Rio das Ostras para mais uma jornada ludo-musical. Na bagagem, seis garrafas de bons vinhos, uma de jack, um tenor, um giga de jazz no mp3, e disposição para encarar a parada.

Antes de partir deixo-lhes um disco que, por vários motivos, me impressionou bastante. Em primeiro lugar, a concepção dos temas e os arranjos. Apesar de ter sido gravado em 1961, a linguagem ritmica e harmônica, em alguns momentos, soou-me bastante contemporâneo. Aliás, no quesito ritmo, a rapaziada caprichou. Nenhum tema é parecido com outro. Os temas são bastante ousados e, logo, um prato cheio para os devaneios do grupo. Enfim, é um disco nada monótono.

Antes que me esqueça, trata-se de Dave Brubeck Quartet: Near-myth, com o clarinetista Bill Smith (autor de todos os temas que, como sugere o título disco, faz referência a diversas figuras mitológicas). Essa é a terceira e última das gravações em que Bill substitui Desmond. Completam o time Joe Morello e Eugene Wright. Não titubeio em sapecar cinco estrelas para esse disco. Fica difícil escolher apenas três faixas para vocês curtirem (por outro lado, qualquer uma serve - como eu disse, o disco é todo bom).

Curtam The unihorn, Bach an'all e By Jupiter

O link: Avax