domingo, 28 de setembro de 2008

Off Tudo é jazz - jamming

Submerso em música ou voando com ela. Não importa a imagem, o fato é que eu estava embriagado com a música regada com Jack, vinhos e cervejas - e queria mais. Estava comigo o meu companheiro predileto de viagem: o velho Altemar Buscher (1927) que, do alto dos seus oitenta e um anos, me esconde um sem número de estórias musicais - estórias que jamais saberei mas que posso imaginar. O melhor é que em algumas delas eu estava ao lado, eu tomei parte e todo da trama, como é o caso de Ouro Preto/2008.

Altemar é fácil de carregar, mesmo embriagado (eu), pois é leve - requisito indispensável para encarar as ladeiras de Ouro Preto. Dirigimo-nos ao Spagetti, restaurante de honesta pasta (resume-se a um estreito corredor, o porão de uma velha casa, como não poderia deixar de ser), onde conhecemos dois bons guitarristas de Montes Claros, Jobert e Warley (foto), com quem marcamos uma jam.


Aí, meus amigos, a coisa decolou: o pau comeu solto e foi nota pra tudo que é lado. Eu e Altemar Buscher, o meu velho sax (foto -sendo soprado por mim), tiramos o pé do lodo. Parecia que toda transbordante música que jorrava em Ouro Preto inundou o pequeno porão. Músicos chegavam e se juntavam ao grupo tornando a coisa ainda melhor. A parte ruim foi que o restaurante fechou em torno dazumazora da segunda-feira. A parte boa é que tinha outro boteco pra gente ir.
O nome, não sei. O local, não tenho idéia ( a não ser que era numa ladeira). Sei que lá chegamos. Porta fechada - susto - que se abriu após uma breve batida à porta. Estava tudo lá: bateria, teclado, baixo, guitarra e eu e Altemar velho de guerra. Inibição já havia ido dormir há muito tempo. E continuamos a jam. Volúpia sonora, falta de juízo, todos guiados pelas musas, até que Sol veio avisar que, há seis horas de estrada dali, me esperava o luto de um dia de trabalho enforcado.



terça-feira, 23 de setembro de 2008

André Previn after hours

Vou aproveitar que Salsa deu uma saidinha para descansar da maratona ouropretense e falarei de um cara que já passou por aqui: André Previn. Ele é um músico de primeira, que trafega com desenvoltura no plano popular e no erudito, além de ser um excelente arranjador. Eu gosto especialmente da força e da veemência com que ele encara as teclas do seu piano.
O disco que eu agora apresento é o After hours, em que se faz acompanhar por seus parceiros Ray Brown (baixo) e Joe Pass (guitarra). Esse disco foi gravado em 89, após um mergulho do nosso pianista nas águas eruditas. Quando eu o ouvi pela primeira vez julguei ser um daqueles bons discos dos anos cinqüenta em que Previn destilava sua força juvenil com toda alegria. O cd está recheado com bons standards nos quais nossos heróis injetam boa dose de swing e sentimento.

Deixarei There will never be another you e Honeysuckle Rose no podcast Quintal do Jazz para vocês avaliarem.

sábado, 20 de setembro de 2008

Off Tudo é Jazz - A galinha histérica do Bené

Em uma das postagens eu falei que fui ao restaurante Bené da Flauta para gastar um pouco do que não tinha e encontrar alguns amigos. Gastei mal ao pedir uma galinha com quiabo e polenta (para mim, ir a Minas significa comer comida mineira e beber bebidas mineiras - chopps e cachaças). Sofri, senhores. Arroz seco, polenta meia-bomba e galinha histérica - parece quente mas, na hora h, é fria. Deveria ter pedido a tal salada de bacalhau recomendada por Dan Mendonça (médico, lutiê de guitarras e baixos e artista plástico vitoriano). Pelo menos o chopp estava bom.

Não encontrei os procurados amigos mas conheci outros. Lá estavam Ray Moore, que se apresentara em Vitória na semana anterior, e seus amigos de New Orleans - Creole Zydeco Farmers - que fariam show mais tarde em um dos palcos da cidade (o som do grupo é uma mistura de r&b com com ritmos da região de Norlíns). Disse-me Ray que estava apenas ciceroneando os amigos. Bebemos um bocado de chopp e impedi que pedissem a tal galinha mineira histérica.


Feita a boa ação do dia, passei a curtir o som do grupo Mandu Sarará, de São Paulo, que fazia as honras da casa (pelo menos, para compensar a histérica, o som era liberado). A rapaziada paulista é muito boa e toca um som instrumental bem brasileiro, passeando com desenvoltura por uma miríade de ritmos. As composições do grupo são consistentes e merecem uma conferida (já gravaram dois cds). O nome dos camaradas: Sidney Ferraz (teclados), Valtinho Pinheiro (sax alto), Guto Brinholi (baixo) Rodrigo Bragança (guitarra) e Mário Gaiotto (bateria). Clique sobre o nome do grupo para conhecerem o som.

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Christian McBride - o gran finale do Tudo é Jazz 2008



Bom, meus amigos, o último show da última noite no centro de convenções eu contava como gol certo - e não deu outra. Christian McBride promoveu um show e tanto. O simpático baixista cativou a platéia de imediato com sua música e com seu bom humor. Ouviu-se jazz da melhor qualidade com seu novo grupo (com o qual lançará novo disco), que inclui o excelente pianista Eric Reed, dono de ímpares fraseado, swing e sensibilidade ao harmonizar os temas. Outro componente fantástico da banda é o saxofonista Steve Wilson, apegado ao mainstream, que me mostrou como é que se faz para tocar um alto e um soprano com competência. O baterista Carl Allen não decepcionou e fez seu serviço com destreza.
Um destaque especial para o jovem vibrafonista que McBride trouxe para acompanhá-lo: Warren Wolf, com forte semelhança física com Mike Tyson e com toque tão preciso quanto os cruzados do boxeur, demonstrou que tem talento para seguir adiante nessa boa estrada.


O momento especial do show foi a interpretação de Tenderly, iniciado por McBride com um solo usando o arco. O seu velho baixo soou como gutural lamento que ecoou intenso no espaço silencioso do centro de convenções. O show de McBride manteve-se inteiramente imerso no mainstream jazzístico, proporcionando o que, para mim, foi o melhor que aconteceu no Tudo é Jazz de 2008. Fechamento com chave de ouro garantindo uma goleada a favor da boa música.

Omar Sosa: nem tudo é jazz 2008



A polêmica ficou por conta do terceiro show da noite. Os jazzistas de plantão subiram nas tamancas por conta do som do pianista performático cubano Omar Sosa. Razão eles tinham, afinal nem tudo pode ser classificado como jazz, jazz, jazz de marré de si. Um deles chegou a me dizer que o grande mérito do cubano foi desafinar o piano (exagero, obviamente) e atrasar o próximo show. Outra queixa ouvida: se ele ainda tocasse uns rítmos caribenhos talvez desse para engolir, mas o som era outro (o fato é que tinha algo desses ritmos, mas torcidos, retorcidos e atravessados por outros discursos musicais - sem nenhum tipo de eugenia musical).



A massa ignara dos preceitos jazzísticos, no entanto, se deixou levar pelo balanço e pelas presepadas de Omar (foto) e seus comparsas africanos, que enveredaram por um amálgama de sons étnicos. Eu, que já estava turbinado por 375 ml de Jack Daniels, fui com a turba morro a baixo. A miscelânea sonora trazia elementos hip-hop conduzidos por batuques afros e por um piano que, sim, senhores, trazia elementos a la Jarret. O modo pontual como Sosa atacava o piano, suas frases curtas mas com uma boa dose de lirismo, e também a força percussiva em aguns momentos, soaram interessantes para esse volúvel jazzista. O placar, para alguns, estava 2x1 para a boa música - Sosa teria sido um gol contra. Para mim, o placar ficou 2,6x0,4 (por concordar que não se tratava de jazz, mas que foi divertido, foi).

Nicholas Payton at Tudo é Jazz

No sábado, à tarde, fui almoçar no Bené da Flauta (o primeiro mineiro que "tropeça" ao fazer comida mineira - depois eu falarei disso) e encontrei Nicholas Payton e sua turma. Falei, entre risos, que esperava ouvir seu trompete brilhar à noite (eu, de fato, temia que Payton fizesse um show voltado para as experimentações contemporâneas). Já no centro de convenções, após o bom show de Karrin, deparei-me com uma parafernália percussiva que me deixou preocupado - pensei que Payton iria fazer uma viagem étnica qualquer. Enganei-me.

Nicholas Payton mostrou-se como o trompetista de primeira linha que ele realmente é. O som encorpado de seu trompete (lembra o flueghel), sem surdina, tomou conta do ambiente impondo uma boa sessão de jazz (sem desprezar elementos da contemporaneidade - mas sem excessos). O jovem baixista Vincent Archer (esse festival foi povoado por uma profusão de jovens bons instrumentistas - sinal que a coisa está longe de acabar) e o pianista Kevin Hays (foto) deram uma boa demonstração de como apoiar o tabalho do líder. O percussionista deu uma coloração diferente ao set mas não foi nada que comprometesse a performance. Aliás, Daniel Sadownick, assim como o baterista Marcus Gilmore, se saiu muito bem, evitando pancadarias desnecessárias.

O momento surpreendente do show foi a boa homenagem a Chet Baker, na qual Payton solta a voz (boa, por sinal) com aquele clima cool que o finado ídolo destilava em suas interpretações. O ápice fica por conta da bela interpretação de The days of wine and roses, em que o grupo mostrou um enquadramento especial do tema. Alterações rítmicas, um bom uso das pausas e ousadias harmônicas compuseram um groove ultra envolvente que arrancou aplausos veementes da platéia. O placar, até esse momento, estava em dois a zero a favor da boa música.

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Karrin Allyson - Saturday night at Ouro Preto

Da programação do centro de convenções, no sábado, eu aguardava as apresentações de Nicholas Payton e de Christian McBride. De Karrin Allyson e do cubano Omar Sosa, os outros dois shows, eu não esperava grande coisa. O fato foi que a coisa saiu bem melhor do que a encomenda.
O show de abertura foi com a cantora e pianista Karrin Allyson, pra quem eu torcia o nariz em função da sua obstinada mania de cantar em português. Bobagem minha, afinal eu também massacro o "debuq izond têibou" nos botecos de Vitória. Eu disse "torcia" porque parei de torcer. O show da menina foi muito bom. O seu senso rítmico e sua voz bem posta casaram-se muito bem com o trio que a acompanhou: Todd Strait (bateria), Ed Howard (baixo acústico) e o excelente violonista Rod Fleeman. Karrin mostrou domínio de cena e da música (construiu scats muito bons e pilotou o piano com eficiência) mantendo um clima cool agradabilíssimo. O repertório bem equilibrado entre bossas e standards foi interpretado com muita sensibilidade e swing, por ela e pelo grupo.
O show me surprendeu - reforçando a idéia de que "ao vivo é melhor". O mais agradável, pelo menos para mim, foi a performance de Rod Fleeman (sem desmerecer o conjunto da obra). Ele é daqueles músicos que, em suas interpretações, transpiram música. O seu fraseado é preciso, buscando com agilidades as notas necessárias para a construção de solos - sem excessos de dissonâncias, sem incursões outsides. A cada solo construído por Rod a platéia retribuía com aplausos calorosos.
Eu, obviamente, fui agradecer pessoalmente o bom início de noite.

domingo, 14 de setembro de 2008

A careca do Jason Lindner

O peso das pálpebras já me ameçava com um nocaute quando a big band de Jason Lindner foi anunciada (com apenas onze integrantes). Temi quando Eric McPherson iniciou um longo solo de bateria. Há quem goste, eu ficaria feliz com oito compassos, doze no máximo. Passados cinco ou seis minutos de pancadaria, eis que Jason Lindner e seus asseclas, enfim, assumem a ribalta.

O líder da big band chamou mais a atenção em função da sua calva estilizada do que como pianista. Os arranjos dos naipes, no entanto, estavam bons. O arranjador explorou bem as possibilidades ritmicas e harmônicas e permitiu aos músicos divagarem à vontade com seus instrumentos.

O time dos sopros reunia os trompetistas Duane Eubanks e Avishai (de novo), os trombonistas Joe Fiedler e Rafi Malkiel, Jay Collins e Anat Cohen (tenor), Miguel Zenon (alto) e Chris Karlic (barítono). Destaco as performances do baritonista e do tenorista/vocalista Jay Collins. Maior fica o destaque se considerarmos a excelente performance do naipe. O baixo ficou sob a tutela do incansável e sorridente Omer Avital (impressionante a disposição do camarada).
Encerrada as sessões da sexta, evitei os convites dos amigos para prosseguir na esbórnia ouropreteana e recolhi-me aos aposentos. Enfim, no sábado teria mais.

The Cohen's sextet

Eu aguardei o terceiro show da sexta-feira com alguma expectativa. Queria ver e ouvir Anat Cohen (cujo disco Noir, aqui comentado, me cativou) e seus dois irmãos: Avishai (trompete) e Yval (soprano). O clima não poderia ter sido melhor. O som do sexteto me soou o mais novaiorquino de todos: bons naipes, com muito swing e envolvente balanço. Anat estava elétrica e não conseguia parar de dançar - parecia uma ninfa/musa tocando o seu clarinete. A sua alegria irradiava e contagiava os presentes. Avishai, que se apresentara no primeiro show da noite, não demonstrou cansaço e manteve o seu trompete solar brilhando. O jovem Yval mostrou que desenvolveu bastante sua técnica e construiu bons improvisos com seu soprano, um instrumento mais que arisco e de difícil domínio.

O sexteto se completou com Omer Avital (esse, com certeza, a figura da noite: o seu mais que generoso modo de tocar, mantendo a pegada firme, sempre com um sorriso estampado no rosto - como a dizer "adoro esse trabalho", parecia sustentar toda a construção sonora que se erguia). Aaron Goldberg, ao piano, mostrou, como na edição do Tudo é jazz do ano passado, que é um dos melhores de sua geração. Um destaque para o baterista Eric Harlar: ele é um músico arrojado. Seus solos, para mim, foram os mais consistentes entre os que presenciei.
Para esse que vos tecla (como diz o bom amigo Acyr Vidal), a noite já estava mais que ganha. O que viesse a mais seria incalculável lucro.

Kurt Rosenwinkel at Ouro Preto

O segundo show da sexta-feira ficou aos cuidados de Kurt Rosenwinkel. A impressão inicial sobre o som do guitarrista (ao ouvir seus discos) foi de algo frio, sem maiores novidades. É a tal estória: ao vivo é melhor. A abertura de seu show foi com uma guitarra clean, soando como deve soar uma semi-acústica, mantendo um clima mais introspectivo. "Viu, Salsa, eu conheço esse troço" - imaginei ele dizendo para esse cético ouvinte. Em determinado momento, ele usou o pedal de volume para incrementar a sua boa interpretação de Reflections (Monk) que cativou o público aficionado. A partir desse momento o clima se elevou e a sonzeira tomou conta do ambiente.

Acompanhado pelo excelente baixista Eric Revis e pelo jovem baterista Albed Calvaire (foto), o guitarrista (outro membro da confraria TelAviv/New York) destilou bons momentos de jazz e conseguiu manter o bom nível proporcionado pelo Third World. Rosenwinkel mostrou sua habilidade técnica e harmônica ao construir acordes de aparente simplicidade, mas que traziam disfarçadas aquelas notas maldosas que nos fazem sorrir.

sábado, 13 de setembro de 2008

Ouro Preto: A noite da confraria Tel-Aviv New York

Às dezenove horas o palco foi ocupado pelo grupo The Third World Love: Avishai Cohen (trompete), Yonata Avishai (piano - foto, ao meu lado), Omer Avital (baixo) e Daniel Freedman (bateria). A noite não poderia ter começado de modo mais agradável. O som do grupo emana uma energia envolvente da qual é difícil escapar. As composições interpretadas trazem o perfeito amálgama de elementos musicais do oriente médio com o bom e velho jazz - aquele jazz que nos faz balançar na cadeira. Os temas partem de uma célula rítmica, algo minimalista, que vai tomando conta paulatinamente do ambiente e do público (como no Bolero, de Ravel) . Um ritual de possessão, pode-se dizer. O The Third World Love recitou uma verdadeira Ode à vida e à alegria que contagiou todos que estavam presentes.

Permito-me uma imagem mais lírica: No início era o silêncio. A música do Thir World surge como a própria vida, unicelular, e se multiplica ocupando suavemente o espaço silencioso. Cada nota é um sorriso para a imensidão. Sim, a vida sorri com a música.

Piano mineiro

Cheguei em Ouro Preto após encarar seis horas de estrada e jazz.


Após breve descanso e uma garrafa de vinho "meia-bomba", dirigi-me ao centro de convenções onde acontecem os shows pagos. Primeiro a chegar. A primeira visão foi o stand de vendas de pianos da Yamaha e da grife mineira Michael (pois é, Minas está fabricando pianos) aos cuidados da simpática Isabela Goulart.


Pensei nos colegas pianistas que não vieram a Ouro Preto (os instrumentos estavam à disposição dos músicos) e no som que a gente poderia ter feito naquele momento. Ainda bem que lá estava Luiz Carlos, o pianista de plantão, que facilitou um duo voz/piano ao sapecar um Summertime bem temperado.


quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Peranzetta e Senise

Assisti, ontem, o Projeto Seis e Meia, que acontece nas segundas quartas-feiras de cada mês no Teatro Carlos Gomes, em Vitória - destaque-se: os shows são gratuitos!. A proposta do projeto envolve apresentações de músicos locais e convidados de renome nacional. As atrações convidadas foram Gilson Peranzetta e Mauro Senise.

A abertura ficou por conta do jovem compositor e violonista Edvan Freitas, que apresentou duas de suas composições para um público participativo. Em seguida, subiu ao palco o trio formado por Afonso Abreu (baixo), Pedro "Neneco" Alcântara (piano) e Marco Antônio Grijó (bateria). O trio mostrou-se seguro e equilibrado ao apresentar temas do cd Lapataya, recentemente lançado, e outros compostos por amigos vitorianos. A proposta do diálogo entre os músicos locais e os convidados se concretizou com a boa performance do tema Lapataya (Neneco), com a participação de Peranzetta ao acordeon e Senise ao sax.

A partir de então o show ficou por conta da excelente dupla convidada, que estruturou a apresentação baseada no cd Êxtase, mais recente produção desses grandes músicos, parceiros há mais de vinte anos. A longa convivência poderia explicar a coesão musical que os dois conseguem impor em suas interpretações, mas sabemos que só isso não é suficiente. Trata-se, além da amizade que os unem, da grande perícia e sensibilidade musical que cada um deles cultiva com muito trabalho. Os frutos do esforço conjunto se materializam nas performances ao vivo e no cd lançado.

Peranzetta, todos sabem, é um pianista mais que dedicado e trafega com desenvoltura por diversos estilos. Mauro Senise, por sua vez, não fica atrás: estudioso, incorpora a música como poucos e torna seus instrumentos (saxes alto e soprano e flautas) extensões do seu corpo e de sua sensibilidade musical. O disco por eles apresentado ao público traz o equilibrado amálgama das suas influências. Pitadas de erudição articuladas ao choro, ao jazz, ao samba permitiram ao público sentir como corpo e alma se unem. Agradecidos, aplaudimos e esperamos mais.
Vocês podem ouvir Celebrando Jobim e Miss Catete no podcast do Jazz Contemporâneo.

domingo, 7 de setembro de 2008

Mais Cannonball não é demais

Ao revisar minha discoteca, constatei que possuo mais de vinte discos de Cannonball Adderley. Fica óbvia minha admiração por esse grande saxofonista. Ele é um bopper acima de tudo - mesmo quando trafega, nos anos sessenta, pelo som mais funkeado. O som arisco que emerge do casamento entre seu sopro e seu dedilhado me agrada sobremaneira.

Recolhi da estante um disco que há muito não ouvia: Adderley and the poll-winners, gravado em 1960. Destaque-se que esse disco é marcado pelo raro encontro entre Adderley e o grande guitarrista Wes Montgomery, que, como sempre, imprime um balanço especial ao conjunto final da obra. O resto da trupe não é um resto qualquer: Ray Brown pilota o baixo, Victor Feldman se entrega ao piano e ao vibrafone e Louis Hayes mantém a fleuma com sua educada e suingada bateria.

Deixarei no podcast Quintal do Jazz os sensacionais temas The chant e Never will I marry para vocês curtirem um pouco desse gênio.

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Signals from Africa

Sabe esse dedo-duro dos visitantes do blog logo ali ao lado direito da tela? Pois bem, reparei que recebemos a visita de uma africano. Encuquei: teria sido o Carlão, aka CD, que resolveu dar as caras anonimamente? Seria um pedido de socorro ou seria apenas um sinal de que ele ainda não foi devorado pelos leões? Teria sido seqüestrado por contrabandistas de pedras preciosas?

Resolvi pesquisar mais um pouco (tem a opção de visualizar o mapa e a foto de satélite). E lá está uma foto de uma grande indústria (ou algo do gênero), ao lado da antiga estrada principal de Pretoria, agora chamada R101 (tem um parque industrial justamente naquele ponto). Pelo jeito, o local não parece um um centro de torturas. Será que nosso comparsa ainda tem de manter o tal silêncio sobre seu trabalho? Diga aí, nobre visitante, em Pretória tem diamantes? Durante minhas pesquisas encontrei essa aí acima. E outras, mais pálidas, enchendo acara em algum boteco "pretoriano". Será que CD foi lá conferir?

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

O segundo dia no armazém

Continuemos nossa saga no Porto:

O segundo dia do Armazém do Jazz foi aberto pelo representante do Jazzigo/Jazz Back'yard, o seu, o meu, o nosso Salsa acompanhado por Bruno Venturim (piano), Fausto Pizzol (baixo acústico) e Diego Frasson (bateria). O nome do grupo, obviamente, só poderia ser Quintal do Jazz. Os meninos iniciaram atacando Blue seven (Rollins) - percebi que Salsa, nos primeiros compassos do improviso, repetiu o fraseado de Rollins em sua antológica gravação. O tema seguinte foi de Assis Valente - Camisa listrada - marcada por uma forte roupagem hardbop, que me surpreendeu. A versão lírica de No rancho fundo (Ary Barroso) só não foi melhor porque a palheta do sax alto resolveu soltar uns guinchos ("chamar o guincho", como disse o Salsa). O grupo conseguiu manter o clima jazzy do início ao fim, momento maior, quando subiram ao palco dois convidados para uma jam: o tenorista Colibri e o trompetista Marco Firmino. O grupo atacou uma boa sessão com It don't mean a thing, com direito a uma troca de compassos bem articulada. Foi um bom início para a noite.

O segundo grupo a subir no palco foi o liderado pelo cobra criada Joãozinho Augusto, baterista de boa escola que sabe conduzir o rítmo sem bombardear a música com excessivas pancadas. O grupo seguiu uma linha mais comedida, mais centrada na boa forma dos arranjos, resultando em um som agradável mas, para mim, seria necessário um pouco mais de espontaneidade e agressividade aos músicos. Os solos de Marcos Firmino (foto) foram consistentes, assim como os do jovem Bruno Venturim (que tocou no Quintal). Kako Dinellis segurou as ondas com seu baixo elétrico, mantendo a consistência do grupo. A surpresa foi Roberto Ramiro (ou Robertinho do Acordeon), um carioca radicado em Vitória há doze anos, que mostrou versatilidade com seu intrumento. O público gostou e aplaudiu com veemência.

O fechamento da noite ficou ao encargo do jovem Marcel Powell, violonista e herdeiro de Baden Powell. Ele mostrou o que prometeu: virtuosismo. Abriu o show com uma versão de Manhã de carnaval povoada por exercícios de escalas e assim proseguiu nos temas seguintes, tanto nas versões solo como nas versões trio, quando entraram em cena o baixista André Neiva e o baterista/percussionista Sandro Araújo. Os diálogos travados entre eles até que foram interessantes, mas, como disseram alguns colegas: não era jazz. Isso até que não me incomoda - gosto de música, gosto de ver e ouvir bons músicos, mas eu não queria ver velocidade. Só isso não me satisfaz. O cara é bom. Com certeza. Melhor ficará quando encontrar as notas que estava procurando.

terça-feira, 2 de setembro de 2008

A primeira noite do Armazém

Estive, ontem, no Porto, para ouvir as apresentações programadas para a primeira noite do Festival de jazz. Fiquei feliz em ver o Maestro/Saxofonista Antônio Paulo conduzindo os jovens e promissores alunos da faculdade de música. O repertório, bem selecionado, incluía temas como Stolen moments, Scrapple from the apple, Spain e uma versão bem moderna de Na baixa do sapateiro (o maestro uniu elementos jazz-funk de modo bastante satisfatório).


O quarteto liderado por Turi Collura, como esperado, tocou jazz de primeira e se permitiu algumas boas brincadeiras com temas de desenho animado (Popeye - uma homenagem ao baterista Edu Szajnbrum, que estava muito bem na condução do seu instrumento) e seriado de tv (Batman). Daniel Dias, ao trompete mostrou porque é o melhor instrumentista do ES: sopro vigoroso, com feeling e swing. O seu filhote Felipe Dias mostrou segurança com o baixo elétrico: o fruto não caiu longe da árvore. A participação especial ficou por conta da cantora Neusa Scorel, que interpretou dois balançados blues (os nomes me escapam agora).

O último show da noite foi um presente para quem ficou até o fim. Ouvir Jota Moraes ao piano, Mauro Senise com seu sopro fantástico, Pascoal Meirelles passeando com a bateria, o baixista André Neiva e sua precisa marcação, mais o dançante percusionista Mingo Araújo é uma experiência que merece ser repetida (aliás, na semana que vem, Senise estará ao lado de Peranzeta, no Carlos Gomes). O virtuosismo técnico desses grandes nomes da música instrumental brasileira é algo que toma de assalto o nosso espírito. Deixarei no podcast do jazz contemporâneo duas faixas do cd Água de chuva para vocês conferirem.

Alguém que lá foi poderia, surpreso, me perguntar: Como você conseguiu ouvir o som que os músicos apresentaram? A resposta seria "com algum esforço". Se comparado com os shows da Bossa Nova, que aconteceram no mesmo local, ontem estava bem melhor. A Equipe Sombra, mesmo com os restritos equipamentos disponíveis, conseguiu reduzir um pouco o nefasto efeito colateral de um ambiente com o pé-direito muito alto e sem tratamento acústico adeqüado. A excessiva reverberação amplia qualquer bate-papo no bar (o fundo do espaço) tornando-o uma avalanche sonora muito desagradável. Eu fui para a fila do gargarejo para conseguir ouvir melhor, mas, mesmo assim, nos momentos mais sutis, quando os músicos se arriscavam num pianissimo a gente não conseguia ouvir nada (a conversa do público atropelava tudo).

O fato é que uma boa idéia, uma boa iniciativa pode naufragar em função da ausência de coisas básicas, especialmente quando se trata de artes cênicas e música: uma boa acústica, um bom equipamento de som, uma boa equipe técnica para segurar as ondas e um público que colabora com o espetáculo. Estamos perdendo de três a um (os técnicos de som e palco parecem conhecer o ofício), mas ainda há tempo para virarmos o jogo.