domingo, 30 de dezembro de 2007

Anita - a última do ano

As mulheres são fantásticas. Todas elas. Todas possuem uma magia que lhes é peculiar, e, quando querem usá-la, caímos como folhas no outono. Não se trata apenas de sexo. Nem de domínio sádico. Não, senhor. É de encantamento, feitiçaria mesmo. Sereias. Seres maravilhosos como Anita O'Day, que não me canso de ouvir. A sua voz é oceânica. Água tépida em que é fácil naufragar. Sim, senhor, é com ela que eu adentrarei o ano novo. O primeiro disco, já engatilhado, é Anita sings the most, no qual se faz acompanhar pelo quarteto do mais recente habitante do jazzigo: Oscar Peterson. O time traz Herb Ellis (Guitarra), Ray Brown (Baixo) e, revezando na bateria, Milt Holland e John Poole. A gravação é de 31 de janeiro de 1957 e está recheada com deliciosos standards. Às 23:00h, abrirei a última garrafa de vinho espanhol, abaixarei as luzes e ficarei nu com a minha música. E que venha o ano novo.

sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

Chambers again

Estou de volta, Vinyl,

E, de cara, vou pegar uma carona no post do mpbjazz sobre as esculturas etruscas do Salsa. A trilha sonora, de Paul Chambers, é do disco 1st bassist. Esse disco, gravado em 1960, foi o último em que ele aparece como band leader (gravou apenas oito nessa condição). Quem ouviu a faixa Bass region (lá no mpbjazz) deve ter percebido a sonoridade vigorosa e envolvente que dali emana. O melhor de tudo é que o clima percorre todo o disco. As cinco composições de Lateef (a sexta faixa é de Adderley) receberam um tratamento primoroso e privilegiam a performance de Chambers. O baixo, não poderia ser de outra forma, se faz ouvir sem pudores. O toque preciso e forte de Chambers propicia uma singular aura aveludada em todos os temas. Envoltos nessa aura estão Yusef Lateef, que impõe um bom contraste com a flauta e com o sax tenor; o trompetista Tommy Turrentine (irmão mais velho e menos conhecido do Stanley), por sua vez, mostra-se senhor de um sopro que merece ser melhor explorado pelo navegante (só gravou um disco como band leader - já estou correndo atrás); Curtis Fuller não precisa de apresentações e, no disco, mantém sua verve de bom instrumentista; Winton Kelly não fica atrás - esse é estelar; o baterista, Lex Humphries, de toque leve, conduz muito bem seu instrumento. Deixarei a camerística Blessed (de Lateef, mas que, acredito, agradaria ao velho Mingus) e o excelente Who's blues (de Adderley).

quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

Oscar Peterson

Esforçamo-nos em dar sentido à vida. Cerveja gelada, vinhos, temperos, tudo devidamente ponderado, tudo na justa medida para, por alguns instantes, sentirmo-nos senhores da natureza. A música alicerça nosso esforço. Apoderamo-nos do canto das musas quando criamos instrumentos. Instrumentos que trazem em si, como a própria natureza, o desafio de dominá-los. Vai encarar? Parecem dizer. Encaramos. Alguns encararam, e, com eles, com os instrumentos, compuseram a trilha sonora para a nossa louca aventura nesse mundinho azul.
O piano, herdeiro da harpa de Orfeu, reina entre os modernos instrumentos. Reinado que é dividido entre alguns heróis que conseguiram estabelecer um tipo de profunda simbiose com suas teclas. Oscar Peterson é um deles. A sua respiração, a musculatura de seu coração, os tendões de suas mãos, seu corpo e sua alma parecem estar definitivamente unidas às cordas do piano. Ouvir piano, ouvir jazz, hoje, amanhã e depois do amanhã, sempre trará à lembrança a volúpia e alegria que marcam suas interpretações. Ouçamos Oscar Peterson, pois.


segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

Fats plays

Conseguimos com o Salsa uma cópia do disco que contém a famigerada sessão com Fats, Bird e Bud. Em The street beat, Fats faz um longo solo que desafia os conceitos médicos. Os céticos continuam achando que o tema foi gravado em outra época.

domingo, 23 de dezembro de 2007

Fats' last session

Vinyl, meu velho, eu também tenho um conhecido que tem o hábito de escrever. Trata-se de Gésus Nonato, brasiliense, mas nascido em algum recanto à margem do São Francisco (e marginalizado se mantém). É daquele tipo de escritor para quem escrever é a própria vida. Vive d'isso. Solteiro, 51 anos, mas com corpinho de 62, pode ser encontrado vendendo um ou outro poema no entorno brasiliense. O pouco que ganha, ele investe no rango e em discos. Escreveu um continho sobre a última sessão de Fats Navarro no Birdland (para a maioria dos entendidos essa sessão não existiu). Infelizmente eu não tenho o disco Bird & Fats Live at Birdland (é uma daquelas gravações feitas da platéia por fãs - a qualidade é sofrível), para usar a faixa The street beat como trilha sonora. Deixarei, então, a faixa The heaven's doors are wide open, do cd Complete Blue Note Sessions (Fats e Tadd).
A última jam
A primavera de 1950 se despedia e o verão se anunciava na brisa, que insistia através da janela semi-aberta trazendo sons de carros e buzinas – a batida das ruas. O trompete descansava no pequeno sofá do quarto de hotel. No banheiro, apoiado na pia, cabeça baixa, Fats fitava a água descer pelo ralo levando fios escuros do sangue que expelira com a tosse tuberculina. Os olhos baços liam naqueles traços o seu próximo destino. Arre! A saudade seria apenas da sua amada música. Ela lhe dera tudo, era tudo que tinha. O que mais poderia fazer, nessa terra, um filho da mistura de tudo que ela detestava – latino, negro e chinês? Ela foi a passagem sem volta da infernal Miami para a iluminada New York. Mais tosses. O fôlego escapa em pequenas gotas de sangue. O ar dói no peito ferido. Ah, minha musa, música linda, o que há de ser? Só mais uma sessão. Só. Ao lado do trompete, a seringa, já preparada (o que restou da última dose de heroína), se oferece às cansadas veias. Minha musa, só mais uma vez. O corpo, já a metade do que foi, se levanta. O palco do Birdland... No palco, Bud e Bird me aguardam. E a musa, minha música, comigo, como se fosse a última vez, só mais uma vez.

sábado, 22 de dezembro de 2007

Feliz Natal!!!

Eis um bom pretexto para comemorar, beber umas & outras e, óbvio, ouvir jazz.














PS - Lá no jazzman tem um monte de discos com temas natalinos (interpretados por jazzistas) para animar a seia, digo, ceia.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Monk no céu

Assim, a queima-roupa, sem mais delongas, antes do esperado, eis que pinta mais um contículo, que, como o do Salsa, contraria algumas leis físicas: Como coube tanto em tão poucas linhas? A nota certa, digo, a palavra certa no lugar certo? Arte de grandes músicos, arte de grandes escritores. Desta vez, a mão que embala o texto é do literato e editor-chefe do blog ipsis litteris, Grijó (jazzófilo de primeira, escritor não menos). Sentimo-nos honrado com sua presença em letras. Não deixem de ouvir a trilha sonora: Ask me now (uma versão com Monk e outra com David Murray, que, de acordo com Salsa, é um saxofonista apreciado pelo nosso escritor).

"Monk no Céu"

Nem sei por que estamos todos aqui, nesse estranho labirinto em que música parece não existir, de fato, a não ser que esse silêncio, como diziam alguns, há tanto e há muito, possa ser chamado de música. Não é, claro. As sensações, aqui, misturam-se, essa é a verdade: degusta-se o que deveria ser visto; vê-se o que anteriormente era prazer tátil; ouve-se o que é edível e as trocas se perpetuam e parecem não confundir quem por aqui vive. Alguém me disse – ouvi tais palavras com as mãos – que sempre foi assim, e assim será mantido. Não, digo com minha própria voz, e aproximei-me do piano que jazzia triste, e que, como qualquer outro, tinha teclas para serem tocadas com os dedos, e dedos para tocarem almas. Não houve resistência. Sentei-me, vislumbrei o teclado como se fosse ele as vértebras de um animal antigo, esquecido. Pisei os pedais delicadamente – mal sabem eles o que eu podia (e ainda posso) fazer com os pés. E com as mãos? Ask me Now, penso, enquanto todos dizem sim. E assim fui, e assim fomos, pelo resto dos tempos, até que todos cheguem.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Newborn

Prezado CD,
Passei no nosso vizinho mpbjazz e li um texto do Salsa sobre o pianista Romano Mussolini, no qual constava um convite ao professor Grijó para escrever um conto tendo o camarada como personagem. Achei a idéia boa e fiz a mesma proposta ao Salsa. Não é que ele topou? Com algumas ressalvas, mas topou. Em primeiro lugar, disse-me ele, o óbvio: serão viagens sobre os temas - ficções pautadas em detalhes da vida dos personagens músicos. Segundo, não terá compromisso com periodicidade - quando rolar, rolou. Terceiro, os textos serão breves.

No dia seguinte ao convite, para minha surpresa, ele me enviou o seguinte contículo:

"Eu beberia uma ou duas doses se a minha mão abrisse. Mas meus dedos recusam seguir minhas ordens. Temem e tremem. Parecem obedecer algum outro comando. Alguma voz que eu não ouço, mas que atinge meus nervos, torcendo-os à dor. Eu beberia toda aquela garrafa (...) Nunca ficou claro se aquele piano riu para mim ou de mim. Por que me feriu? Eu vi seu sorriso se transformar em máscara ferina... Foi ele que mordeu meus dedos... Foi ele? Sim, foi ele... Eu vi seus dentes. Vi, sim. Pontiagudos. Irregulares. Cobertos de lodo. Senti seu hálito infernal e a dor em minha mão. Seus dentes. Suas teclas se abriram e eu caí. Foi escura a queda. E a canção, em mim, revolta, açoitando minha alma. Lembro-me: amarrado à cama num cubículo na ala B do Camarillo State Mental Hospital, corpo sedado, sonhei renascer... Newborn. Newborn, Phineas Newborn, digo para o sujeito ao meu lado, que a pouca luz do bar não me permitiu os traços. Mr. Shadow, pensei. Tenho seus discos, alguns. Te ouvi com Mingus. Com Haynes também. Gosto daquele que você foi acompanhado por Paul Chambers e Sam Jones no baixo, e Louis Hayes e Philly Joe Jones na bateria. Um mundo de piano! É um disco completo. Cheryl, a primeira faixa, é fenomenal. Lush life e Daahoud não ficam atrás... Minhas mãos voltam a doer. Uma canção não tocada... pode ser, pode ser"

sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

Idle moments - Green & Co

Meu caro amigo Dias, vulgo CD,
Sei que você tem um histórico amoroso com guitarras. Afinal, quando eu o conheci, na rodoviária de Brasília, você estava tocando violão. Trago, então, o disco Idle moments, de Grant Green (que, creio, já deve fazer parte do seu acervo). Para mim, esse é um dos melhores discos gravados por Green, se não o melhor. Foi gravado em 1963, com a elegante companhia de Joe Henderson (sax tenor), Duke Pearson (piano), Al Harewood (bateria), Bob Cranshaw (baixo) e Bobby Hutcherson (vibrafone).
O clima alterna momentos completamente relax (Idle moments e Django) com momentos do mais puro hard bop (Jean de Fleur e Nomad). A guitarra de Green, sempre pontual, aveludada, deixa as notas certas no momento certo. O piano de Pearson está exemplar. Todos estão em perfeita sintonia (até o sax de Henderson, costumeiramente ríspido, está com textura macia na faixa-título). Deixarei as faixas Idle moments e Nomad.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

Mulligan e Hamilton

Em primeiro lugar, peço desculpas pela longa ausência. Como já lhe disse, caro Vinyl, o fim de ano está pesado. O bom é que, em uma das inúmeras viagens, achei um disco cuja classificação não pode ser menor do que "elegante". Achei numa lojinha de usados, em Goiânia, no meio de um monte de discos breganejos, o cd Gerry Mulligan Meets Scott Hamilton - Soft Lights & Sweet Music. Vinhas, meu chapa, não pude deixar de postar mais esse disco com a presença do tenorista Hamilton. A união do maior barítono de todos os tempos (é só minha opinião de amador) com esse tenorista que traz na alma a alma do suingue e do cool não poderia resultar em outra coisa: eu descansei quando ouvi. O encontro faz jus aos anteriores, realizados a partir dos anos 50 e protagonizados por Mulligan e seus comparsas do jazz Desmond, Webster, Hodges e Getz. O disco foi gravado em 86 e relançado em 2006, com a cozinha equipada com os instrumentistas Jay Leonhart (Bass), Mike Renzi (Piano) e Grady Tate (Drums). Deleite-se com a faixa-título e com Ghosts (um tipo de fantasma que eu gostaria que me assombrasse pro resto da vida).

domingo, 2 de dezembro de 2007

Jimmy Heath is hot

Logo no início de sua carreira, Jimmy Heath era comparado com Parker. Pois é, ele também tocava sax alto, só depois ele passou a tocar tenor. Fruto da comparação? Vá lá saber... De qualquer modo, ganhamos um bom tenorista. Durante os anos cinqüenta ele desapareceu da cena jazzística. Segundo o Allmusic, devido a problemas particulares. O que importa é que em 59 ele voltou com todo o gás e lançou seu primeiro disco como band leader: The thumper. Ao seu lado estavam Nat Adderley, Curtis Fuller, Wynton Kelly, Paul Chambers e seu irmão Albert "Tootie" Heath (ele tem outro irmão é Percy). Família musical, essa. Enquanto eu ouvia esse disco, lembrei-me de outro, mais recente (um dos últimos): You've changed, gravado em quarteto (em 1994). Além dele, o grupo é formado pelo bom guitarrista Tony Perrone, Ben Browm e Tootie Heath. É sempre curioso observar se o tempo afeta a performance dos músicos. Assim sendo, deixarei faixas dos dois discos para a apreciação dos visitantes: Who needs it? e Don't You know I care (do LP The thumper) e You've changed e Basic Birks.

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Curtis Amy & Dupree Bolton - Katanga!

Lá no começo do blog apresentamos um disco do Harold Land, do qual participava o trompetista Dupree Bolton. Pois bem, encontrei outro disco - Katanga! - em que ele divide a cena (em seis das nove faixas) com o saxofonista (tenor e soprano) Curtis Amy. Aliás, o disco original só continha seis faixas, no cd é que incluiram mais três faixas de outro disco (Way down) com músicos diferentes (confiram na contracapa), o qual eu não possuo. Não se assuste com a capa, não se trata de nenhuma experimentação em busca das origens percussivas africanas. Esse cd está recheado com jazz de primeira qualidade. Prestem atenção no sopro selvagem de Curtis Amy, especialmente quando toca tenor. O soprano soa como uma bem dosada mescla de lirismo e algumas ousadias à Coltrane. Dupree, por sua vez, segue aquela linha expressiva e brilhante que a gente encontra (como bem afirma o encarregado das notas, Mr. John W. Hardy) em Dizzy, Clifford Brown e Navarro. É um sopro que compõe muito bem com a pegada de Amy. Se a coisa parasse por aí já estaria bom, mas ainda tem mais: o guitarrista Ray Crawford me soou simpaticíssimo, com suas frases precisas (com aquela firmeza de quem já encontrou aquelas notas que muitos virtuosos tentam capturar com enxurradas de frios arpejos). O resto da banda é composto pelo pianista Jack Wilson (dono de um gentil manuseio das teclas), pelo baixista Victor Gaskin e pelo baterista Doug Sides. Eu não vacilo em dar cinco estrelas para esse belo trabalho, gravado durante a primeira semana de março de 1963. De brinde ficam as faixas Lonely woman e A shade of Brown.

domingo, 25 de novembro de 2007

Shank e Levy

Lou Levy (falecido em 2001) é um pianista pouco conhecido, mas competente como poucos. Levy tem uma discografia pequena como líder, se comparada com outros nomes do jazz, mas tem belos trabalhos como sideman (um visitante disse gostar de seu trabalho com Ella). Eu tenho um cd dele com Bud Shank em homenagem ao bom e velho "olhos azuis". Pois é, os dois interpretam temas que um dia se fizeram ouvir (e ainda são ouvidos, obviamente) na voz de Frank Sinatra. O pianista não é nada convencido - é patente a sua preocupação em ajustar a harmonia para o fraseado de Shank. Unem-se, aqui, o lirismo e força - Levy e Shank. Ouçam Night and day e Yesterdays.

sábado, 24 de novembro de 2007

Wayne Shorter


Em 1959, adentrou os estúdios para sua primeira gravação como band leader, o jovem saxofonista Wayne Shorter. Acompanhavam-no em seu debut Chambers, Lee Morgan, Wynton Kelly & Jimmy Cobb. Introducing Wayne Shorter é um disco autoral (das seis faixas, a única que não leva a sua assinatura é o tema Mack, the knife). A interessantíssima faixa inicial, Blues a la carte, emprestaria o título para o segundo disco (cotado com 4,5 estrelas pelo allmusic). A mandada hard bop domina esse disco, que, a meu ouvir, é mais do que agradável (o Allmusic deu apenas 3 estrelas). O percurso anterior de Shorter remonta a experiências com Horace Silver, Maynard Ferguson e Art Blackey (56 - 59). Posteriormente, a partir dos anos sessenta, a sua associação com Miles rendeu-lhe meteórica ascensão no meio jazzístico (temas como E.S.P e Footprints são incansavelmente interpretados por todos os jazzistas), para explodir nos anos setenta, quando, unido a Zawinul e Vitous, fundou o marcante Weather Report. Os seus discos iniciais, no entanto, ainda guardam um modo mais clássico de tocar. As suas composições, vocês perceberão nas faixas disponibilizadas, têm estrutura simples e cumprem bem a função de trampolim para improvisações dos músicos (são boas de tocar e não exigem muitos contorcionismos aos músicos que participam da festa). Ouçam Blues a la carte, Harry's last stand e, de quebra, a deliciosa Mack the knife.

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Chambers sextet



Já que o papo é baixista eu não poderia deixar de falar de Paul Chambers. Esse é daqueles que deixaram profunda marca no belo edifício jazzístico - no alicerce, para ser mais coerente com a função do baixo. Aqui, ele está com o sexteto estelar: Coltrane, Byrd, Burrell, H. Silver e Jo Jones. É brincadeira? Quando eu ouvi pela primeira vez, fiquei meio apreensivo em função da introdução da primeira faixa, Omicron, que tem uma pegada percussiva meio tensa, mas o susto foi logo substituído pelo prazer de ouvir o time dividir os compassos em solos envolventes (fato que, para a alegria da galera, persiste em todas as faixas). Para os tietes de Trane, o sexteto executa dois de seus temas (pouco conhecidos): Nita e Just for the love. Deixarei a faixa-título Whims of Chambers, We six e Just for the love. Bom apetite!
PS - Trane não participa de todas as faixas.

PS2 -Do lado direito está a linha de baixo - para os baixistas de plantão.

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Buster Williams's bass

O meu primeiro contato com o som do baixista Buster Williams foi através dos discos dos Crusaders. O fraseado fusion (smooth) era recheado de convenções que chamaram a minha atenção: groove balançante, com pitadas pop mas com uma técnica rebuscada. Depois, lá estava ele ao lado de Hancock, experimentando novas sonoridades. Posteriormente, observei que ele já tinha um costado que remontava ao início dos anos sessenta, ao lado de Ammons, Sttit, Nancy wilson e até com Miles. Seja elétrico, seja acústico, o baixo de Buster é, se me permitem o trocadilho, transbordante (burst). A sua discografia, como band leader só iniciou em 1975, depois de quinze anos de labuta como sideman. O disco que eu trago é o Griot libertè, de 2004, gravado com a companhia de George Colligan (p), Stefon Harris (marimba e vibrafone), Lenny White (b). Buster Williams se encarrega do baixo e do piccolo bass (aquele com som mais agudo). Das oito faixas, seis são de sua autoria; as outras duas são Ev'ry time we say goodbye (Porter) e Concierto de Aranjuez (Rodrigo). As composições de Buster são intensas e parecem destacar as sombras dos nossos sentidos. Não pense em sombrio, mas em profundo. Essa foi a minha impressão ao ouvi-lo, e você poderá conferir aqui (e não se assuste com os títulos das músicas): The triumphant dance of butterfly, The wind of an immortal soul e Ev'ry time we say goodbye.


sábado, 17 de novembro de 2007

Stan Levey Quintet

Observei que naquela excepcional caixa de Zoot Sims tem umas gravações com Stan Levey. Para quem não sabe, Levey é um baterista de mão cheia. Daqueles que sabem que lugar de bateria é na cozinha. É ali que ela amarra tudo o que é feito pelos outros músicos da banda. É na cozinha que se prepara o molho, que deverá ser servido com moderação, na certa medida para não estragar o prato. Quando é chamado à sala, Levey não nega fogo e faz seu showzinho particular. O melhor de tudo é que eu tenho um disco do quinteto de Levey, que conta com um time para ganhar campeonato: Richie Kamuka (ts), Conte Candoli (t), Lou Levy (p) e Monty Budwig (b). Cada um deles só por ter participado desse disco merece uma estátua em praça pública (o melhor é que eles fizeram mais, mas isso é assunto para depois). Gravado na Califórnia, em 1957, esse é um disco para fazer os jazzófilos babarem. Deixarei a metade do disco: Stan still, Lover come back to me e Ole man rebop.

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Scott Hamilton e Bucky Pizzarelli

Meu caro CD, como eu comentei no seu post, tem outro disco de Bucky Pizzarelli que eu considero melhor: Scott Hamilton & Bucky Pizzarelli - The red door (1998). A parte interessante é que é um disco dedicado a Zoot Sims. A homenagem, mais que justa, resultou num trabalho soberbo, que me soou melhor que o que você postou (sei que existe outra gravação de Sims e Pizzarelli, de 73, a qual eu não conheço [seria a mesma?] e, caso você tenha, aceito uma cópia). No disco que eu deixo no blog, você poderá conferir a pegada rítmica de Pizzarelli (auxiliada pela sétima corda, que permite uma sólida linha de baixo): é puro veneno - suíngue de primeira. Os seus solos são construídos, mantendo o seu estilo, em consistentes chords melodies. Hamilton, por sua vez, sabe aproveitar a highway harmônica construída por Bucky, e destila notas com timbre suave e envolvente, propiciando-nos um passeio tranqüilo e relaxante. E, Guzz, esse é um disco que poderia ser levado para uma ilha deserta. Ouça The red door, Two funky people e Morning fun.

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Zoot & Bucky


Também estou me deleitando com Zoot Sims. Não a caixa apresentada e prometida (mas ainda não cumprida) por Vinyl. Trata-se de outro disco - Send in the clowns (gravação de 1993). Esse foi gravado na companhia do guitarrista de sete cordas Bucky Pizzarelli, pai do canastrinha de mesmo sobrenome (mas de talento ainda a ser provado). Achei delicioso o modo como o velho Bucky toca sua guitarra. O fato é que a sua sonoridade se ajusta perfeitamente ao sopro de Sims. Ouça e comprove: Honeysuckle Rose e Come rain or come shine.

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Zoot

Zoot Sims tocou no disco de Pepper (comentado nesse blog), mas fez muito mais do que isso. Sua obra, seu sopro, seu fraseado, é referência entre jazzistas. Um petisco ultra interessante para se conhecer o trabalho de Sims é a caixa The Complete 1944-54 Small Group Sessions. Nela, meu caro Carlos "CD" Dias, você encontra de tudo um pouco: Sims toca com o sexteto do pianista Joe Bushkin (1944); acompanha Harry Belafonte (num quinteto sensacional: Sims, Al Haig, Jimmy Raney, Potter e Haynes - 1949); ouvirá também a dobradinha Sims e Toots Thielemans brincando com All the things you are (1950), e mais um monte de grandes músicos em diversas formações (para economizar os dedos e o teclado do computador, deixarei o encarte para você conferir). A coletânea reúne seus trabalhos gravados na Europa e também aqueles produzidos nos EUA, totalizando 67 indispensáveis faixas. Deixarei uma faixa de cada cd (escolhidas aleatoriamente) para que você aprecie e dê sua opinião. A primeira é It don't mean a thing, com King david and his little jazz (ouça o duelo de scats entre Roy Eldridge e Anita Love), a segunda é It had to be you (com Harry Biss, Clyde Lombardi e Art Blakey), a terceira é The red door (com Kai Winding, Al Cohn, Wallington, Heath e Blakey), a quarta e última é West coasting (com Stan Levey sextet: Sims, Condoli, Giuffre, Williamson, Bennett e Levey). Se gostar, deixarei na sua caixa postal.

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

Herbie

Ô, bô', sa' on' qu'eu fui? Em Belzon'. Fui até lá para comer um bom pão de queijo (dizem que a invenção é goiana) e beber cachaça. Tenho viajado muito nesses dias. É o final de ano - o natal - se aproximando. Aí, já viu: é aquela correria para atender a clientela. E, para entrar no clima natalino, eu me dei a caixa Herbie Hancock-Complete Blue Note Sixties Sessions. Como ele também tocou em disco aqui comentado, mantenho-me no critério estabelecido e deixo umas poucas linhas sobre esse grande nome do jazz da geração dos anos sessenta. Nessa caixa estão os discos Takin' off, My point of view, Inventions & dimensions, Empyrean isles, Maiden Voyage, Speak like a child e The prisioner. Uma seleção que mostra a solidificação do trabalho de Herbie, numa linguagem que se tornou facilmente identificável para os ouvintes de jazz. Confesso que o que atraiu minha atenção inicial para obra de Hancock foi a vertente funky de algumas de suas composições (Cantaloupe island e Watermelon man, principalmente). O seu trabalho como band-leader foi marcado por algumas ousadias e por um certo requinte nas suas composições e arranjos, que escapam à tradição. É, sem dúvida, um músico que influenciou toda uma geração com a sua perspectiva musical. Ao seu lado, nesse percurso, estão músicos como os trompetistas Byrd, Hubbard, Thad jones e Johnny Coles; os tenoristas Dexter Gordon, Mobley e Henderson; os baixistas Butch Warren, Chuck Israels, Paul Chambers, Ron Carter e Buster Williams; os bateristas Billy Higgins, Tony Williams, Willie Bobo, Mickey Roker e Albert "tootie" Heath. Esse tipo de caixa, como todos sabem, sempre traz um bocado de alternate takes e algumas curiosidades. No caso, é uma ou outra faixa de um projeto R&B, que foi abortado. Deixarei as faixas Don't Even Go There (a tal r&b), Watermelon man e a belíssima Dolphin dance.
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domingo, 4 de novembro de 2007

Pepper Adams



Vamos lá, Cd. No disco Royal Flush, de Byrd, sensacional por sinal, aqui comentado anteriormente, o barítono fica por conta do não menos sensacional Pepper Adams. Ele, sem dúvida nenhuma, está no panteão dos grandes baritonista (ao lado de Harry Carney, Serge Chaloff e Gerry Mulligan). Para mim, o que o difere dos demais é que os outros não gravaram o disco "Plays Charles Mingus". Ponto a favor de Pepper. Nesse disco, ele gravou algumas faixas com quinteto, acompanhado por Danny Richmond, Paul Chambers, Thad Jones e Hank Jones, e outras com octeto, acrescentando Charles McPherson (as), Zoot Sims (ts), Bennie Powell (tb) e Bob Cranshaw (b, substituindo Chambers). Ouça Better git on your soul, Incarnation e Haitian fight song e me diga o que você achou.

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

Junior Cook


Encerradas as festividades do Tim, sempre bem abordadas pelo parceiro Vinyl, retomarei a proposta de seguirmos as trilhas deixadas pelos jazzistas que participam dos discos anteriormente comentados. Ao arrumar o baú de discos, encontrei "Junior's cookin'", que Junior Cook gravou, como era de se esperar, ladeado por Blue Mitchell. Além dos astros principais, hardbopeiros fundadores, o quinteto conta com Roy Brooks (drums), Dolo Coker e Ronnie Mathews (piano) e Gene Taylor (bass). O resultado é mais do que agradável e merece a atenção dos colegas. Ouça os temas Myzer, Easy living e Sweet cakes e depois me diga o que você achou.

terça-feira, 30 de outubro de 2007

Tim: Eldar e Lisa

As minhas reticências em relação ao jovem pianista Eldar, enfim, não se concretizaram, pelo menos não em sua totalidade. Achei que Eldar ainda está procurando o caminho para alcançar aquela nota que ninguém nunca encontrou - a blue note. O que vi e ouvi, no entanto, permitem-me vislumbrar um futuro promissor. O menino, de rígida formação erudita, mostrou uma excelente técnica com ambas as mãos. Agradaram-me a precisão e a agilidade no desenvolver de seu fraseado (mão direita), e a pegada marcada por elementos percussivos do stride piano (mão esquerda), características que mostraram a perceptível influência que habita em seus dedos: Art Tatum e Oscar Peterson (com pitadas de Jelly Roll Norton). A razão da preferência por esses nomes é revelada indiretamente em sua opinião sobre o músico que grande parte dos jovens pianistas se apegam, a saber, Bill Evans. Para Eldar, Bill é excessivamente lírico. Pois é, o menino é chegado na volúpia dos pianistas clássicos do jazz. Outra coisa que chamou a minha atenção é o fato de o jovem, em meio a volúpia, às vezes ceder espaço ao silêncio - aquele silêncio que fermenta alguns belos e breves lampejos que sedimentam o que virá a seguir. Eu diria que Eldar está dando forma à sua alma. Torço apenas para que, nesse trajeto, ele não se perca e se precipite no ventre da besta do tecnicismo chulo, do hermetismo transcendental ou do comercialismo barato.
O segundo show da noite, da sueca Lisa Ekdahl, diante das críticas negativas que ouvi e li referentes às apresentações anteriores, fizeram com que eu me posicionasse estrategicamente próximo à porta. Qualquer coisa, eu fugiria. O ponto a favor da cantora, foi a fórmula adotada para o show. Proposta similar aos trabalhos da bela Julie London, ladeada, se não me engano, por Ellis e Brown. A sua (de Lisa) voz curta não resvalou em demasia para o desafinar galopante (deve ter aprendido até chegar em Vitória). O grupo parecia saber de suas restrições e não ousava nada além do trivial. O show, com aura instrospectiva e com arranjos minimalistas (creio que mais por deficiência da banda), agradou a platéia que lotava o teatro. A meu ver, o show não justificava a sua presença num palco de festival. No máximo poderia estar num pequeno bar.
Aguardemos o próximo, torcendo por um pouco mais de jazz na programação. Ou, pelo menos, com nomes que nos façam sair e retornar felizes para casa.

domingo, 28 de outubro de 2007

Joe Lovano Nonet: sensacional!

CD, o que eu ouvi e vi ontem à noite, no teatro da Ufes, lavou a minha alma. Refiro-me ao show do noneto de Joe Lovano. Foi realmente espetacular. Quando ele anunciou a homenagem ao cool jazz, citando o antológico disco "nascimento do cool", senti que o negócio seria de primeira. Arrepiei-me com o tema de abertura, On a misty night, de Tadd Dameron, que prometia o que realmenete sucedeu: um showzaço. Os arranjos privilegiaram as performances dos componentes do noneto. Não houve personalismos - todos deitaram e rolaram. As trocas de compasso, o naipe sutil, os temas escolhidos, tomaram de assalto uma embasbacada e educada platéia. Baixo, bateria e piano demonstraram uma coesão inefável. Encontrei o Salsa, que teve a mesma impressão (tiete do Monk, ele elegeu o tema Ask me now como o momento sublime do show). Quem foi, ouviu jazz da melhor qualidade. Uma justa homenagem ao que de melhor se fez no território do jazz. Irrepreensível. Vou correndo atrás dos discos. Se eles captarem 30% do que eu ouvi, já está valendo.


PS: Quanto ao Paulo Moura, não dá para comentar. Além de não ter conseguido ouvi-lo, eu não entendo de forró.

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Um Cedar, por favor

O pianista do disco "The cup bearers", de Blue Mitchell, é uma figura que, apesar de ter tocado com uma manada de jazzistas de primeira linha, mantém-se pouco conhecido e, obviamente, pouco comentado: Cedar walton. E não venha me dizer que ele não convence como pianista, pois isso é um contrasenso diante do que eu disse antes - ele tocou com deus e com o mundo (além de ser um competente compositor). Blakey, que sempre contou com bons pianistas, não chamaria um mané para tocar com ele. O pior é que eu tenho apenas um disco do Cedar como band leader - Manhattan afternoon -, no qual interpreta oito standards, acompanhado por David Williams (baixo) e Billy Higgins (bateria). O cd foi gravado em 1992, período marcado pelo crescente retorno às bases do jazz. O disco do trio de Cedar Walton mantém a verve do hard bop e, para mim, soou agradável. Confira as faixas The newest blues e The theme.

terça-feira, 23 de outubro de 2007

A terra de Harold

Como acertado, eu trago um disco de alguém que tocou com uma das estrelas dos posts anteriores (aliás ele não estava como mero sideman, ele dividia a cena com Blue Mitchell): Harold Land. A sonoridade do seu tenor não é aquela que costumamos ouvir dos instrumentistas da costa oeste. Seu fraseado é mais ríspido e joga notas com bastante agilidade. Alguns críticos identificam aí alguma influência de Coltrane. O disco "The fox", de 1959, me atraiu inicialmente por causa de um tema com estrutura pouco usual para a época, composto pelo pianista Elmo Hope (que participa do disco), chamado "Mirror-mind rose". Mas o disco é todo bom. Merece todas as estrelas possíveis. A banda é completada por Dupree Bolton (Trompete), Herbie Lewis (Baixo), Frank Butler (Bateria). Eu consegui esse disco num sebo na asa sul, aqui em Brasília. Harold nos deixou em 2001. Postarei duas amostras: The fox e Mirror-mind Rose.

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

O conde

E por falar em harmonia, lembra-se de um disco de Count Basie que você me deu há alguns anos atrás? Pois é, na época eu torci o nariz e disse que parecia música de cinema decadente do interior, hoje é um dos que eu mais ouço (apesar de ainda guardar algumas reticências quanto ao seu modo de tocar órgão). Foi através desse disco que eu conheci o som de Frank Wess e Frank Foster, além dos feras Freddie Green (o guitarrista harmonizador - nunca sola), Thad Jones (t), Ed Jones (b), Eric Dixon (fl, ts) e Sonny Payne (d). Ainda bem que você insistiu para que eu ficasse com o disco. A elegância de Basie, para mim, põe no chinelo o seu contemporâneo Duke Ellington. É um som que refresca qualquer ambiente. Como você já conhece o disco, deixarei duas faixas para os estrangeiros que porventura passarem por aqui: Secrets e What'cha talking?

sábado, 20 de outubro de 2007

O Royal Flush de Byrd

Meu caro CD, as palavras são traiçoeiras. O melhor mesmo é ouvir música. Fiz uma visita a um blog de jazz (você viu) e deixei uma mensagem que causou mal-estar, e, ainda por cima, respingou em você - me desculpe, se aquilo te incomodou. Mas, la nave va, a vida segue. Desisti de visitar outras praças, mas não desisti do blog. O Jazzigo é o nosso meio de comunicação para falarmos do que gostamos: jazz. Quando tive a idéia de criá-lo foi com a intenção de trocarmos nossas informações e até uns discos. Como já combinamos, caso você não tenha um dos discos comentados, eu deixarei um arquivo naquele endereço para que você possa baixá-lo. E ponto.
E por falar nisso, para afastar o baixo astral, estou ouvindo o disco "Royal flush", de Donald Byrd. É o tipo de disco que faz a gente esquecer qualquer confusão (digo mais: faz com que a gente não entenda porque a confusão existe). O barítono de Pepper Adams, mais o piano de Hancock (totalmente acústico), o baixo cool de Warren (usa o arco também), um comedido Higgins na bateria e Byrd (num momento lírico e melódico soberbo) formam um conjunto de harmonia ímpar. O disco tem seis faixas, das quais eu separei Requiem e I'm a fool to want you. Se você gostar, deixe o recado.

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Mitchell e Land

Quando eu vi foto da primeira postagem feita por Vinyl, lembrei-me de quando nos conhecemos aqui em Brasília. Eu estava tocando violão na rodoviária, tentando descolar um troco. Vinyl foi o único que parou para ouvir, antes que o guarda me mandasse procurar serviço. Aquele momento e no seguinte, quando ele me pagou um almoço, nasceu uma amizade que, apesar da distância, se mantém acesa. Tanto que ele me convidou para colaborar com seu blog (nosso, agora). Lembro-me que foi ele que me apelidou de CD (meu nome é Carlos Dias).
Vou aproveitar que tem uns filmes aí do lado, e apresentarei mais um disco do Blue Mitchell. Desta feita, ao lado de Harold Land, excepcional saxofonista da costa oeste americana, com quem formou um quinteto, já no final de sua vida. Isso depois de ter experimentado vivências musicais diversas, ao acompanhar Ray Charles e o maluco blueseiro inglês John Mayal (será que essa trip teve a ver com o câncer?). O fato é que esse magistral músico não se apertava - chamou, ele tava dentro. Esse disco, Mapenzi, só pelo fato de unir esses dois monstros do jazz já é motivo para sua aquisição. Vocês terão a oportunidade de ouvir Mapenzi, Blue silver e Everything's changed.


Um abraço e até a próxima.


quarta-feira, 17 de outubro de 2007

O trompete de Mitchell

O meu primeiro post musicado não seguirá nenhum critério hierárquico. Não pretendo ficar estabelecendo listas de melhores e piores, ou do mais ou do menos importante para o jazz, pois, para mim, todos estão no céu, todos estão ao lado de Deus. Quero apenas partilhar a música desses santos. Começarei com um trompetista (que, dizem por aí, é um instrumento usado classicamente para derrubar muralhas).
Creio que Richard Allen (Blue) Mitchell (*1930 +1979), ao saber que o câncer estava devorando suas vísceras, encontrou na música o bálsamo para a dor que o dominava. Não sei se foi assim que aconteceu, apenas especulo. Sei apenas que, apartir de 1958, como band leader, a sua produção é extensa. Quando faleceu, em 1979, Blue Mitchell já havia gravado pelo menos uns trinta discos. Desses, eu só possuo uns poucos. Entre eles, o lp The cup bearers, gravado em 1962, para a Riverside. Vocês poderão conferir a sonoridade intensa desse jovem músico, que, confiram na capa, está acompanhado por Junior Cook (cujas intervenções com o tenor estão ótimas), Cedar Walton, Gene Taylor e Roy Brooks. Ouçam com atenção Turquoise, Dingbat blues e Cup bearers

terça-feira, 16 de outubro de 2007

O templo abre as portas

Sim. O jazz morreu. Ele ainda não sabe, mas é um fato consumado. Espírito indômito, ele insiste. Zumbi, caminha pelas noites à cata de algum lugar para despejar suas notas. Alma perdida, baixa, atraído, em algum médium que, incauto, solfeja alguma canção do seu repertório ou usa escalas e harmonias pouco convencionais em suas interpretações. Momento epifânico logo exorcizado por pedidos: aquela canção do Roberto, aqueloutra da Ivete, mais uma de...
Sim. Eu chorei quando o vi alquebrado, mas ainda com um leve brilho no olhar. E, movido pela emoção, construi esse templo para que ele possa se expressar. Aqui ouviremos, embriagados (mas em silêncio), suas belas pregações, seja através de suas antigas gravações, seja através dos jovens médiuns que ainda dão passagem à sua voz.
O templo estará com suas portas abertas 24 horas por dia.