Só depois que eu comecei a escrever em blogs foi que passei a dedicar algum tempo às notas, às fichas técnicas, aos detalhes que vêm escritos e descritos nas capas dos lps e cds. Preocupava-me mais em ouvir o som do que em ler. Achava eu que ali só poderia ter "rasgação de seda", "babação de ovo" em relação aos membros da banda. Se isso é um fato, também é fato que ali encontrarmos interessantes estórias e explicações curiosas sobre alguns detalhes das gravações, da história do jazz ou sobre alguns dos seus jargões.
Na contracapa do lp The Steamer, de Stan Getz, gravado em 56, por exemplo, é explicado que Steamer é o nick-name de Getz, e que teria sido criado por Oscar Peterson durante uma turnê européia da Jazz at philarmonic (em 55, creio). Oscar teria dito: "My, the Stanley Steamer is certainly cooking tonight" e, desde então, a rapaziada passou a tratá-lo desse modo. Não se trata, pois, da sonoridade do Stan, que está mais para cool do que para em ebulição e soltando vapor. O jogo está em relacionar "steamer" (vapor) com a expressão "cooking", jargão dos músicos de jazz que, ao contrário do que se poderia pensar (para nós, cozinhar é enrolar) designa aquele que está "mandando bem" naquela sessão.
Pois bem, Stan "Steamer" Getz reuniu-se com Lou Levy (piano), Leroy Vinnegar (baixo) e Stan Levey (bateria) para gravar esse excelente disco. Vale a pena dedicar um tempo para ouvir o piano de Levy (o seu solo em How about you? está sensacional), que, apesar de não ser um dos mais citados, é um músico que não deixa nada a desejar em comparação com os medalhões do jazz piano. Vinnegar e Levey já mereceram posts aqui e na vizinhança e já mostraram do que são capaz. Getz, por sua vez, nunca recebeu qualquer espaço aqui no meu sítio. Corrijo isso agora.
Em The steamer, o nosso herói está em plena forma e, com sopro firme e suave que lhe é peculiar, destila seu vasto repertório de frases; mais ainda, mostra-nos a sua grande habilidade em criar frases - sempre com um lirismo encantador. O som de Getz é daqueles que fazem a gente desejar tocar um instrumento. Se vocês não têm esse disco, aconselho que comprem-no logo. Vale mais do que cada centavo investido.
Ouçam alguma coisa ali no podcast Quintal do Jazz.
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