Meu querido Vinyl, esse post é um desagravo à imagem de um músico que eu muito admiro: o finado Michael Brecker. Você e Olmiro (um visitante) disseram que ele não possuia feeling jazzístico. Eu não diria que toda sua obra me agrada, mas daí a dizer que ele não tem feeling é um pouco demais. O que acontece é que sua linguagem é uma linguagem mais contemporânea, e afeta a sensibilidade dos puristas (não tome com agressão, por favor). O fato é que já não se faz mais jazz como antigamente. E isso não é ruim, nem bom. É apenas a vida girando a roda. Brecker, como muitos outros, herdou o legado de Coltrane e dos seus antecessores. É inegável que seu sopro traz bastante influência de Saint John. Influência amalgamada no seu percurso de estudo e experimentação, propiciando-lhe uma dicção própria. A sua técnica pode, por vezes, assustar o ouvinte: ele parece nunca errar. Mas não se trata de matemática fria e insensível. Prova disso está, por exemplo, em Infinity, disco do McCoy Tyner Trio (Avery Sharp - baixo, Aaron Scott - bateria + Brecker). O companheiro de Coltrane se deu muito bem com Brecker e vice-versa. Digo de passagem que McCoy não é dos meus pianistas prediletos, mas aqui, creio que pela presença de Brecker, ele se mostrou de corpo e alma. Curta comigo I mean you.
9 comentários:
Assisti, há alguns anos e em VHS, um show de Natal em que o Brecker e o McCoy Tyner se aprsentavam juntos. Depois o Tyner deu o lugar ao M. Petrucciani.
David Sanborn fez ponta, Ron Carter tb.
Enfim, sempre impliquei com o Brecker, mas sou obrigado a concordar que "feeling jazzístico" ele tem - pelo menos nessa apresentação ele mostrou isso.
Abraço a todos do Jazzigo.
E ótimo Carnaval.
Eu ainda guardo minhas reservas quanto a Brecker. O problema é que parece que a alma está a serviço da técnica, e não o contrário, como deve ser (vide Coltrane, Lester, Hawkins e todos outros da velha e alguns da jovem guarda). Você poderá constatar isso, se comparar o fraseado de alguns dos citados com o fraseado dos saxofonistas contemporâneos. Brecker tem uma domínio técnico magistral que aprisiona a sua alma. Já o McCoy tem discos bem interessantes que merecerão posts no futuro.
Mc Coy Tynner é um sr.pianista.
Michael Brecker era ,antes de tudo, competente no que fazia.
É o disco citado é muito bom.
Pra finalizar, a última parceria de Mc Coy Tynner é com o Joe Lovano.Edú
Eu entrando aqui pensando em ler algo sobre jazz e encontro Michael Brecker...
Bem, poderia ser pior, poderia ser sobre David Sanborn.
Que os deuses me protejam!!!
Pô, Lester, pra quem fica ouvindo bugalu não sei das quantas, você se mostra bastante exigente e sensível. Vá entender...
Me desculpe, CD. Era o nome queria lembrar: David Saborn. Ouvi o álbum inteiro e, em meu comentário, pegaria esta parte do seu texto:
"Digo de passagem que McCoy não é dos meus pianistas prediletos, mas aqui, creio que pela presença de Brecker, ele se mostrou de corpo e alma."
Para dizer, que se há um astro neste álbum o nome dele é justo o de Tyner. O Lester só me ajudou com as impressões finais sobre Brecker.
Mas, por favor, continuem dando-me aulas. Meu negócio é aprender pra tirar minhas próprias conclusões. Dessa vez coincidindo em GNG com JL. Será que estou começando a entender de Jazz?
Vá lá que seja, Sérgio. O que importa, ao meu ouvir, é o ouvir. Eu costumava perguntar aos meus alunos de literatura: o que você não gostou de tal poeta? Na música, do mesmo modo, é importante, trago isso comigo, identificar o que, em determinada interpretação, não me agrada. Muitas vezes a gente ouve "fulano me incomoda, não gosto" etc e tal, mas não fica explícito o que está incomodando. Lembro-me de uma aluna do curso de letras que,depois de um tempo, conseguiu identificar que estava totalmente envolvida pelo parnasianismo. Identificado o paradigma que guiava sua sensibilidade, ela pode expressar suas impressões de modo menos impressionista. E, melhor, pode perceber que as coisas não são estanques. Daí conseguiu olhar com outros olhos para os poetas que sucederam o dito período. O "não gosto" puro e simples não nos permite avançar em nossas perceções, em nossos conceitos. Uma questão importante para qualquer tipo de música: o que se alterou? Como? E, de modo mais íntimo, por que essa alteração me incomoda? Isso é papo pra mais de metro.
Ora, ora, o colega também trabalha com literatura? Vinhas não me falou dessa sua faceta.Quanto ao Brecker, concordo em número, gênero e grau com o comentário de Vinhas.
O que me incomoda é o timbre do sax. E, é exato como disse, enquanto ouvia o álbum, pensava em tantos saxofonistas com esse timbre comum. Cheguei a pensar em consultar o allmusic pra lembrar o nome Saborn para comentar aqui o incômodo do timbre e compará-lo ao Brecker ou mesmo ao Leo Gandelman. Mas é gosto. Continua sendo gosto.
Gostaria de convidá-los a conhecer um guitarrista raro e muito excelente de nome Danny Gatton. Há lá no Sergio Sônico dois álbuns. Um, postado em novembro do ano passado e outro desde ontem. Não sei qual o melhor. John Lester já deu o seu aval ao músico. Aliás o motivo pelo qual fui atrás de mais álbuns do mesmo Gatton, foi justo a soma do aval + a história maluca desse gênio da guitarra, que só acabei conhecendo, anos depois de ter o disco, numa postagem no Jazzseen. Dêem um pulo lá. Acho que esse cara não vai dar divergência de gosto.
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