quarta-feira, 4 de junho de 2008

John Scofield Trio & Scohorns

Scofield chegou com sua trupe no horário marcado para a passagem do som. O semblante expressava alguma apreensão - a proximidade do show, talvez. Afinal, seria também o lançamento do seu novo disco This meet that. Evitei perguntar qualquer coisa e fiquei observando à distância e especulando o que se passava na cabeça do guitarrista.

Steve Swalow, aparentando mais idade do que tem, sentou-se e respirou fundo. Bill Stewart, o baterista, perguntou-me, apressado, sobre a localização do banheiro. O naipe de sopros conversava sobre trivialidades enquanto aguardavam James Ulmer e Vernon Reid finalizarem a equalização do som.

Aguardei ansioso o show do grupo. A passagem de som antecipou alguma coisa, mas treino é treino, jogo é jogo. Queria ver como a equipe se saía em campo, digo, no palco. Minha atenção estava dirigida especialmente para o naipe formado por Phil Grenadier (trompete e flugelhorn - direita, na foto), Eddie Salkin (saxofone tenor, flauta e flauta alta - esquerda, na foto) e Frank Vacin (saxofone barítono e clarinete baixo). Observei especialmente o clarone (clarinete baixo), instrumento de um grave envolvente e profundo. Os solos de Vacin não me decepcionaram. Som de primeira. Confesso ter esperado que o naipe, como os outros sopros que estiveram no palco em outros shows, usassem e abusassem dos pedais, mas isso não aconteceu. Isso é coisa para Scofield, que não negou fogo.

O grupo mostrou arranjos arrojados, usando dissonâncias à rodo, mas com alto grau de coesão. Swallow (foto) mostrou porque é considerado um mestre do seu instrumento. De posse do baixo elétrico, ele apresentou um vigor que contrastava com a sua imagem frágil. Stewart e Swallow formavam um paredão de som pronto para sustentar qualquer peso.

O momento lírico ficou por conta da interpretação pungente e emocionante de Behind closed doors (de Charlie Richie). Scofield fez a guitarra lacrimejar - as notas saíam como soluços sentidos. Percebia-se na expressão do guitarrista que aquela canção era mais que uma simples canção para ele. A platéia, milhares de pessoas, em silêncio, partilhou a emoção de Scofield.

Merece destaque o esforço que os músicos têm feito para incluírem novos temas em seus repertórios. Scofield trouxe, além da balada citada acima, as super badaladas, verdadeiros standards pop, A house of rising sun (imortalizada pelos Animals) e Satisfaction, que não precisa de apresentações. Os arranjos ficaram interessantes e fizeram a platéia balançar.

PS - O disco merece uma conferida. Scofield não abandona sua característica sonora, mas a estrutura está mais leve que os discos anteriores. Já adquiri o meu.

6 comentários:

Anônimo disse...

Salsa

Parabéns pela resenha. Está irretocável. Scofield passou por P. Alegre e agradou.
Houve apenas um equívoco de nomenclatura: o clarinete baixo também é conhecido como clarone. Bassoon é a denominação que os americanos dão ao fagote.
Saudações jazzísticas.

Olmiro Müller

Salsa disse...

Valeu, Olmiro.
Pensei que fosse clarone - bassoon - clarinete baixo. Corrigirei.
Apareça mais.

Guzz disse...

falou e disse véio salsa
o show do Scofield foi ponto forte do festival e essa balada realmente foi de arrepiar, uma aula de introspecção sob uma guitarra com puro drive

scofield ainda é referência para muitos guitarristas

abs,

Anônimo disse...

Sinto em ver com a aparência tão debilitada Steve Swallow, mas parece não interferir em sua musicalidade segundo a resenha.Junto com Stanley Clarke e Marcus Miller representam a tríade mais nobre do baixo elétrico no jazz.Swallow é o mais sofisticado deles no plugado e Clarke o mais versátil.Miller não tem instrumento que não domine com grande segurança.Aproveito pra corrigir a informação que prestei aqui neste blog ao luminar do CJUB, Gustavo, quando esse indagou se Carla não era ainda casada com o pianista Paul Bley.Informei que vivia com Swallow há mais de duas décadas e mantinha o sobrenome do primeiro marido de quem o casal é muito amigo.Corrijo,Carla foi casada por dois anos com Paul Bley e depois seu segundo marido foi o trompetista e compositor Michael Mantler.Swallow foi o terceiro da lista.Encerro meu momento “Contigo”.Edú.

Salsa disse...

Guzz,
Quase postei a sua foto com Scofield. Você recebeu?

Guzz disse...

salve grande salsa
recebi, valeu !
mas acabei nem colocando no CJUB

Abs,,