“Tô de saco cheio de ficar esperando”, disse o maior dos três homens que aguardavam, no quarto do hotel, a chegada de um velho cliente. O menor deles, magro e de olhos pequenos, olhava pela janela em silêncio. O terceiro, sentado na cama, calculava mentalmente os juros da quantia devida e a ser recebida. Riu dos seus pensamentos. A negociação seria difícil, mas tudo se resolveria. “Posso acender as luzes?”, perguntou impaciente o grandalhão. “Não”, comandou o lacônico contador. Levantou-se lentamente da cama com um cigarro apagado entre os dedos e com olhar que mais escurecia o quarto.
A noite estava úmida. Era a primavera de Amsterdã. A água da chuva, empoçada na estranhamente limpa sarjeta, refletia uma trêmula e pálida lua - “A lua na sarjeta”, disse Chet Baker, e começou a solfejar com voz arrastada os versos da velha canção: “it`s only a paper moon / Sailing over a cardboard sea”... Tossiu e lembrou-se da última dose que o aguardava na gaveta do seu quarto de hotel. “Para embalar meu sono... Sonhar, talvez”. Atravessou a rua de olhos fechados tentando lembrar o último sonho sonhado. Riu com seus lábios secos: “meus sonhos adormeceram”.
Chet não estranhou a porta aberta e a surpresa com a visita foi breve. Já a recebera antes, em diversos momentos. O assunto era o de sempre: o dinheiro da mercadoria cuja última dose seria adiada. A conversa do quarteto foi rápida. O argumento cool do trompetista não comoveu os comerciantes europeus, que o lançaram pela janela. Chet, no chão, ainda viu a lua mais uma vez e disse “It`s only a paper”...
A noite estava úmida. Era a primavera de Amsterdã. A água da chuva, empoçada na estranhamente limpa sarjeta, refletia uma trêmula e pálida lua - “A lua na sarjeta”, disse Chet Baker, e começou a solfejar com voz arrastada os versos da velha canção: “it`s only a paper moon / Sailing over a cardboard sea”... Tossiu e lembrou-se da última dose que o aguardava na gaveta do seu quarto de hotel. “Para embalar meu sono... Sonhar, talvez”. Atravessou a rua de olhos fechados tentando lembrar o último sonho sonhado. Riu com seus lábios secos: “meus sonhos adormeceram”.
Chet não estranhou a porta aberta e a surpresa com a visita foi breve. Já a recebera antes, em diversos momentos. O assunto era o de sempre: o dinheiro da mercadoria cuja última dose seria adiada. A conversa do quarteto foi rápida. O argumento cool do trompetista não comoveu os comerciantes europeus, que o lançaram pela janela. Chet, no chão, ainda viu a lua mais uma vez e disse “It`s only a paper”...
13 comentários:
É mais uma.
E, para muitos, a verdadeira: ele teria sido punido pelos traficas.
O texto é lírico, como um solo do velho.
Vale.
Salsa,
Providencie umas musiquinhas pra gente. Uma trilha sonora para a leitura.
Talvez um pouco demais. Lírico. Enxugarei a melosidade na terceira versão.
Acabei de tomar conhecimento da morte do produtor Teo Macero no dia 22 de fevereiro.De longa associação com Miles Davis, período compreendido entre 58-82.Com o devido intervalo(74-80),em que Miles dedicou-se aos excessos físicos, sexuais e financeiros.Descanse em paz.Edú
rest in peace, Macero. Grande produtor.
...E ele foi lançado ao precipício. Mas conseguiu ser feliz no asfalto... Está começando a inspirar um Curta, Salsa. Proponho um brainstorm para o título. Minha contribuição: "As 7 mortes de Chet" - faltam mais 5, portanto.
Amigos, vim por outro motivo. Outra contribuição. Por favor, ouçam isso:
http://www.zshare.net/download/81248072fa1eb1/
Mas, mais por favor ainda, é uma faixa só, opinem.
Legal, Salsa, gostei! L´rica sim, com a lua(tremula e pálida) refletida na sarjeta...
Legal, Salsa,gostei. Lírica sim, com a (trêmula e pálida)lua refletida na sarjeta...
Resenha curta e perfeita, como um solo de Bird. Parabéns Mr. Salsa.
Eu ia pedir "mais um", mas adorei a idéia d alguém ali q sugeriu mais cinco.
E a d quem disse p/ vc propor uma trilha.
Falar nisso, eu ñ achei o som da Square King na net. Ñ tive mt tempo p/ fuçar mt, mas se souber d algum lugar, fala p/ mim!
Am... Então, tah. Vida longa à "série".
Bj!
Valeu a visita, Gabriela. Amanhã (sexta) eu publicarei a terceira e última morte de Chet. Não dá para o cara morrer tanto quanto sugeriu o Sérgio. Aliás, faça uma visita ao blog sergio sônico. Tem muita coisa interessante por lá (é possível fazer downloads). O link está aí ao lado.
Valeu a propaganda, Salsa. Mas ninguém dirá nada sobre a versão do David Grisman para Milestones? Se vocês caírem no link, aqui em cima no meu comentário, verão que tem uns 20 e tantos acessos, só que desses, os tantos (poucos) são de outros navegantes os 20, certamente, são meus mesmo, que apesar de ter o álbum, não consigo passar pela postagem lá no Sergio Sônico sem clicar pra ouvi-lo de novo. É uma música vi-ci-ante! Tudo bem. Este sou eu, sou suspeito, alguém que já tenha ouvido pode até não achar aquela coisa toda. Mas confiram, pelo menos pr'eu saber e ficar todo prosa que meu vício é do bem!
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