quarta-feira, 1 de julho de 2009

Para ouvir juntinhos

Há algum tempo, eu postei um disco do pianista franco-americano Jack Terrasson, que eu achei uma josta. Os amigos visitantes disseram-me que o rapaz tinha outros trabalhos muito bons e eu prometi procurar para ouvir (não gosto de generalizar a opinião sobre um trabalho específico). Procurei e, no meio do caminho, encontrei um disco - Close to you - de uma cantora sueca - Rigmor Gustafsson - que se fez acompanhar pelo trio do tal pianista.

O fato de ser dedicado a Dionne Warwick me deixou com um pé atrás. Quase desisti de vez quando vi o repertório escolhido: das catorze canções, nove são de Burt Bacharach, um compositor que eu costumo situar no plano da caretice (por mim poderia se casar com Dionne e produzir um monte de malinhas). Bobagem minha que se desmontou ao ouvir o disco. Logo na primeira faixa - Close to you - o receio de ser algo muito meloso caiu por terra. Os temas são excelentes e o tratamento dado pelo trio de Terrasson é mais do que louvável. A rapaziada que completa o trio, Sean Smith (Double Bass) e Eric Harland (bateria e percussão) mostrou como se faz um som sutil (aplausos para eles). A participação especial fica por conta do trombonista Nils Landgren, que não desonrou os velhos mestres do instrumento.

A sueca está trabalhando desde 1992 (cantora e professora de canto). Em 93 foi para Nova Iorque e, a partir daí, Rigmor construiu uma boa reputação participando de sessões com Fred Hersch, Ted Rosenthal, Randy Brecker, Bob Mintzer, Seanmus Blake, Reggie Workman, Mark Turner e com o baixista Avish Cohen. Esses nomes formam aquele tipo de cartão de apresentação que poucos trazem em suas carteiras. A menina tem uma voz sem "estrias", redondinha redondinha, envolvente, bem situada e com extensão e registro interessantes. Ela não faz, pelo menos nesse disco, o gênero jazzista que "quebra tudo", mas consegue trabalhar com sutil firmeza algumas passagens difíceis para o cantor mediano. É um daqueles discos que vocês poderão deixar rolar durante um jantar que ninguém vai reclamar - nem os jazzistas, nem os chegados num som mais pop (o fato de ser recheado por novos standards facilita a digestão). Mando aí ***1/2 estrelas pra menina e pro trio do pianista.
Confiram ali no podcast do Jazz Contemporâneo.
Link: Here

19 comentários:

Érico Cordeiro disse...

Mr. Salsa, o Bacharach tem coisas bem interessantes e quando recebem um tratamento mais jazzy ficam melhores ainda - tanto que muitas feras do jazz gravaram suas composições como Stanley Turrentine, Grant Green, Sonny Rollins, Bill Evans e Roland Kirk. Alfie, Walk On By e I'll Never Fall In love Again são muito bacanas!!!
Crei que esse disco explore bem essa sonoridade jazzística do compositor - já tinha lido algo sobre ele na página do Emerson Lopes e agora fiquei mais curioso.
Abraços!

Salsa disse...

Eu achei bastante interessante. O trio de Terrasson deu "um trato" nos temas e deixou a coisa agradável para se ouvir. Vale a conferida.

Celijon Ramos disse...

Caro Salsa,
Fiquei orgulhoso em saber João Pedro Borges apresentou-se por aí.
Em relação a sua indagação ao Érico, tenho a diozer:
É verdade Salsa, respondendo a pergunta que fizeste ao Érico. Há uma grande disposição no maranhense para a música, sendo que o público sempre prefere bares com shows de músicos. Não querendo puxar brasa para minha sardinha, escrevi um artigo no meu blog sobre um bar mítico aqui de São Luís, o Bar do Léo, que ameaçam fechá-lo. Se desejar, poderá acompanhá-lo. João Pedro Borges - o Sinhô, é um dos maiores violonistas de nosso país. Temos a felicidade de acompanhá-lo nas apresentações do Clube do Choro do Maranhão. E, às vezes, de bem pertinho mesmo. Outro dia meu amigo Ricarte, que dirige o clube do choro, convidou-me para um sarau em sua casa. Para minha felicidade, ao chegar, a fera a tocar naquela noite era João Pedro Borges, acompanhado do também maravilhoso Luiz Júnior que espero que um dia o conheça. Ficamos até de madrugada com o dedilhar do mestre e muita conversa sobre música, ainda bem que não faltou boa companhia e um bom vinho. Tudo foi perfeito.
Um grande abraço!

Salsa disse...

Vocês são afortunados por poderem desfrutar de tais mestres. O que eu ouvi aqui em Vitória foi excelente. Irei agora visitar seu blog (visita devida há muito).

Sergio disse...

Salsa, respondi sua pergunta lá no mesmo bat-local onde deixou. Como o Érico tornou-se um campeão de audiência em comentários vc pode não ter visto o meu perdido entre aqueles milhares. Aí vai:

Salsa, não pode haver dois Warren Wolf tocando o mesmo quase exótico instrumento. Então se o de Ouro Preto q vc viu tocava vibrafone é ele mesmo. Um excelente músico, 2º o allmusic - a fonte dos preguiçosos - Warren tem um álbum solo e só: "Incredible Jazz Vibes" de, se não me engano, 2005. Se o viu em Ouro Preto, deve ter reparado q o cara tem a mesma idéia sua, descobrir novos standards. Há uma versão tão delicada, mas em puro jazz, quanto a original de "Overjoyed" (Steve Wonder) q está um arraso. Este álbum baixei no soulseek. O cara ainda é bem raro. Mas olha como é bom freqüentar os festivais. Vc, Salsa, literalmente, viu primeiro. Postarei os dois discos. O do Christian McBride e do Warren. Serão a próxima atração do sônico."

Agora quem ficou curiodo fui eu depois q conheci o álbum solo do Warren: o show q vc viu foi solo dele ou ele como sideman de alguém?

Em tempo: poxa como tem disco novo aqui tbm... Ainda nem ouvi o Stan Levey... Esse silviço tá ficando puxado pra mim. Acho q tá na hora de pedir aumento e cobrar todas as horas extras a q tenho direito. O q seria injusto com a Rede-patroa é exigir esse lance de insalubridade. Não colaria.

Salsa disse...

Sérgio,
É o cara mesmo. Ele foi um dos sidemen do Christian McBride. Postei um comentário na época: http://jazzigo.blogspot.com/2008/09/christian-mcbride-o-gran-finale-do-tudo.html

Gustavo Cunha disse...

grande Salsa

assino embaixo do que disse no colega Erico, temas fora do enredo do jazz que com roupagem jazz soam bem demais

e Nils Landgren é uma referência no trombone atual, o cara é figura fácil no cenário europeu
eu o assisti tocando com a NDR no Teatro Municipal aqui no RJ ano passado
ele passeia fácil pelo jazz e pelo funky jazz que muitos odeiam e eu gosto muito, mas é de uma musicalidade impressionante

e mais, o cara é o Chet Baker do trombone, a mesma voz arrastada e pouco expressiva mas muitissimo bem colocada, procure e ouça "The Moon Is a Harsh Mistress" para ter uma idéia

abs,

Sergio disse...

Fui lá e li, Salsa. E ouvindo mais um petardo de mr. C.McBride: Live At Tonic. Só não sei se os puristas aprovariam. É uma outra fase mais antiga e muito muderna de CMcB. Com Jason Moran, Charlie Hunter e Eric Krasno (Soulive)em duas furiosas guitarras, nas carrapetas um certo DJ Logic. Então a coisa toda, quando não é muito dançante, é uma quebradeira muito boa de se ouvir. E ao vivo! Tudo a ver.
Valeu.

Salsa disse...

Grande Guzz,
Prazer recebê-lo em meu quintal. Eu acho que os novos standards também permitem que o jazz "respire", se renove. Às vezes cansa ficar ouvindo sempre o mesmo velho song book. Vou conferir o trabalho sugerido. Depois, se der, postarei por aqui.
Sérgio,
Eu preciso ouvir esse novo trabalho de McBride. Quando tocou em Ouro Preto, ele comentou sobre as gravações (que já estavam sendo finalizadas).
Abraços

Gustavo Cunha disse...

falando em McBride, não deixem de ouvir mais do seu lado B -

Philadelphia Experiment, com Uri Caine e Pat Martino e McBride desfilando de elétrico;

BWB, com a presença dos dos nomes da chamada música smooth Kirk Whalum, Norman Brown (excelente guitarrista) e a participação da cantora Dee Dee Bridgewater

abs,

edú disse...

Bacharach durante certo período não inibiu certos comentários absurdos no meio fonográfico americano q ele , de certa maneira, inspirou a Bossa Nova.Seus temas são espécies de “chiclete” ( grudam, são assobiáveis e de estrutura melódica fácil - no lado positivo).Seu grande tema é A House is not a Home.Depois de um tempo , com medo ,talvez, de ser desmascarado - atribuiu sua influencia da musica brasileira , particularmente pelo Baião - estranhamente.Estilo q conheceu quando era o pianista de Marlene Dietrich - em sua primeira vinda ao Brasil – para apresentações no Golden Room do Copacabana Palace no final dos anos cinquenta.Bacharach, um sujeito muito “garboso” quando jovem, fazia expediente extra, por exigência de Marlene, nos camarins da atriz e diletante cantora após o descerrar das cortinas.

Salsa disse...

Ê, Edú véi de guerra, apimentando a cena.

Sergio disse...

Salsa, o último do McBride já tá postado lá no sônico há dias. Va e veja.

"Um sujeito muito garboso" foi ó-ti-mo! Eu si amarro nos chicletinhos produzidos por Bacharach! Pra mim não perdem o sabor nunca. Dai q cairei matando agora esse Close to you q pela carinha dele (e dela) foi feito sob encomenda to me.

Borboletas de Jade disse...

Prezados amigos do jazzigo:
Com muita honra e satisfação que visito novamente este espaço e eloquentetimente mais ainda depois de ver o nome do Borboletas na lista de visistas recomentado pelo blog. Belo trabalho e magnifica seleção de repertorio musicais. Um forte abraço e fiquem na paz.

Salsa disse...

Valeu, Papillon,
Eu agradeço a sua visita.
Abraços,

John Lester disse...

Só ouvindo...

Grande abraço, JL.

pituco disse...

a moça é bonita e canta bem...só que não se depila...rs

abraçsonoros
namaste

Salsa disse...

ô, maldade. É apenas sombra... ou não? Dizem que esse povo do norte não se depila para suportar o frio.

edú disse...

Supra sumo do detalhismo.