sábado, 25 de julho de 2009

Mr. Rhythm

Creio que todos acertariam se eu fizesse um daqueles testes para descobrirem o nome do guitarrista do disco que agora ouço. Eu teria que repartir o prêmio com toda a comunidade de apreciadores do jazz, com certeza. Trata-se daquele guitarrista que, até onde sei, nunca foi chegado em improvisações, mantendo-se ali na marcação rítmica. Quem mais poderia ser chamado de Mr. Rhythm a não ser Freddie Green?

Green iniciou sua carreira tocando banjo e, em seguida, pegou a guitarra para nunca mais largar. Foi em 37 que ele foi alçado ao cargo de guitarrista de Count Basie, indicado pelo produtor John Hammond, que o ouvira tocar em um boteco novaiorquino. Ao ouvi-lo, Basie não titubeou e contratou-o imediatamente. Daí em diante, tornou-se uma das figuras de proa da sessão rítmica dessa que é uma das mais conhecidas orquestras do jazz. O cara é um metrônomo. Disseram-me que Basie, em suas apresentações, sempre exigia que a orquestra mantivesse o som num nível em que fosse possível ouvir a marcação feita por Green com sua indefectível guitarra.

Aqui, em Mr. Rhythm, o nosso guitarrista não foge à regra. Mantém-se na marcação, sem arriscar nenhuma nota no campo da improvisação. Parece que Green se diverte sendo o "chão" por onde as outras crianças brincam com seus instrumentos. É Green quem sustenta a farra. E quando digo "sustenta", incluam aí as suas oito composições sobre as quais seus amigos passeiam. Sem queixas, Green vai atacando: tchan-tchan-tchan-tchan-tchan..., enquanto Joe Newman (tp), Henry Coker (tb), Al Cohn (tenor e clarinete) e Nat Pierce (p) fazem seus floreios, tecem suas líricas frases. Ao lado de Freddie Green também estão seus amigos de cozinha Milt Hinton (baixo) e a dupla Jo Jones e Osie Johnson (que se revezam na bateria) - grupo de mestres dessa área.

Ouçam duas (ambas de Green) ali no podcast Quintal do Jazz.

Link: Here!

15 comentários:

jazzlover disse...

Obrigado Salsa por esta raridade,ñ fosse suficiente o Freddie Greene ainda tem uma turma da pesada tocando junto !!

Salsa disse...

Creio que ele tem outros (ou pelo menos mais um disco) como band leader. Green é o tipo de músico que podemos chamar de generoso, aquele que se dedica a algo onde o outro se sobressai. Fica o reconhecimento dos seus parceiros, que não se furtaram a participar dessas sessões.

Érico Cordeiro disse...

Mr. Salsa,
Ótima escolha. E o Harry Edison conta que quando o Green se danava a solar, a sessão rítmica da orquestra se desintegrava. Daí porque ele (Sweets) e outros músicos, como Lester Young e Herschell Evans (que se autointitulavam "Os Vigilantes"), sabotavam o Green para que ele não solasse. Cortavam os fios do amplificador, escondiam os cabos, etc.
Chegaram ao cúmulo de retirar toda a parte interna do amplificador, deixando apenas a caixa vazia. Depois dessa, o Fredie mandou todo mundo pro inferno e disse que nunca mais solaria - para a alegria da galera da orquestra!!!
Abração e uma ótima escolha - as faixas postadas são ótimas (que pianinho gostoso o do Pierce, não?

Salsa disse...

Ah, boa estória, Érico. Fiquei imaginando o clima da cena - a moçada devia se divertir bastante.

figbatera disse...

Boas amostras da generosa humildade de um grande músico.

ps.: amigos, estou me deliciando aqui no Rio...

Salsa disse...

Graaaande Fig,
Sempre no bem-bom da zona sul. Não esqueci Katá.

edú disse...

Freddie Green foi o grande amor de Billie Holiday.Não esquecer ,porém ,q o apelido de Billie era Willian entre seus "chapinhas".Pretendo, quando der, conhecer esse trabalho.

Celijon Ramos disse...

Salsa, você como esta postagem sobre Freddie Green nos relembra que é importante ouvirmos e apreciarmos a música como um todo e cada da instrumentista tem grande relevância para o resultado obtido.

João Luiz disse...

Este é um dos poucos discos de Freddie Green como lider. Acredito que tenha só mais um outro, chamado "Natural Rhythm", de 1955, não tenho certeza. Mas, também não precisava. Green existiu para ser sideman, músico base de sustentação rítmica, função brilhantemente executada pelo citado guitarrista ao longo de sua carreira. Querias mais?

Salsa disse...

Prezado Celijon,
Tens razão em sua observação. Uma das coisas que eu gosto de fazer ao ouvir um disco é, a cada audição, privilegiar um instrumento e perceber as nuances em sua interpretação. Os detalhes são surpreendentes.
Edú,
Pode ir sem medo porque é interessante. Não sabia que Green também preparava a cama para Billie.
João,
Não esqueci o disco. Eu levo na terça.

edú disse...

Prezado Salsa, foi daqueles amores não devidamente consumados (para exercicio de sua interpretação psiquiátrica).Billie gastava os tostões q lhe sobravam depois dos saques do acompanhante explorador da vez nos aditivos(líquidos e sólidos) e no pagamento das companhias femininas de vida nada fácil.E segundo as biografias, era completamente passiva na intimidade com as garotas.Gostava apenas de receber...

Salsa disse...

ah, meu caro, love is all, já dizia a canção popular.
Tem também aquela: love is a many splendored thing.
E o povo aumenta e inventa: o amor é lindo!!!

Érico Cordeiro disse...

NOTA TRISTE - Vi no blog do Pescador e confirmei no Estadão:
O band-leader, compositor e arranjador George Russell morreu na segunda-feira, 27 de julho, devido a complicações decorrentes do Mal de Alzheimer.
RIP!

Salsa disse...

É, o time tem reduzido assustadoramente. Amén!

jazzlover disse...

Olha so, guardei o link do Freddie Green e agora me dei conta que foi tirado de circulação pelo rapidshare, alias esta havendo um certo terrorismo nos blogs.Era so o que faltava.De qualquer forma Mr. Salsa aguardarei outra oportunidade para desfrutar deste Rythm.