Estou feliz. Esse sentimento, que para mim já estava se tornando uma vaga lembrança, resolveu bater à minha porta. Descobri um sabor diferente na alegria, e uma nova textura também. Daí um deslocamento no olhar que me levou a coisas que há muito procurava e não encontrava. Um disco de Mose Allison, por exemplo, veio-me como um brinde. Estava bem perto e eu não conseguia achar. O disco é I don't worry about a thing, gravado em 1962.
Antes, em 2006, eu postei um comentário lá no meu berço, o bom e velho jazzseen, sobre um outro disco do Mose, nosso underrated heroe, mas não era esse que agora possuo. É desse disco a música (um blues) que me seduziu pela sua estranha mandada e pela letra divertida: Your mind is on vacation. Aliás, voz de Mose Allison é o que se poderia chamar de antivoz para um cantor: mínima extensão que soa bastante outside. Mas, em compensação, tem uma dose de qualquer coisa sei lá o quê que atraiu imediatamente minha atenção. Alie-se a isso o fato de ele ser um pianista muito bom. Nesse disco, Mose privilegia esse lado. O seu modo de tocar tem assinatura: frases precisas, notas firmes, com uma forte dose de swing e blues. Tem aquela mandada que nos faz balançar o corpo. Tarefa que se torna mais fácil com o auxílio dos bons músicos Addison Farmer (baixo) e Osie Johnson (bateria).
No encarte, Mose, que foi sideman de Getz, Cohn, Sims e muitos outros, afirma ter encontrado nessas sessões justamente aquilo que buscava musicalmente. Um tipo de música forte e envolvente por ele chamada dionisíaca - referindo-se ao deus grego que, de acordo com Nietzsche, seria a raiz da tragédia. O tema-título retrataria esse aspecto - trata-se de um ditado dos fazendeiros do sul dos Estados Unidos: "I don't worry about a thing, because nothing's got to be all right". Frase e tanto, não? Um tipo de alegre pessimismo. Dionisíaco, pois. Eu sapeco cinco estrelas sem titubeios.
Ouçam ali no podcast Quintal do Jazz
Link: here!
15 comentários:
Caro Salsa,
Bom sabê-lo alegre.
E esse blues é uma paulada mesmo. O Allison entende do riscado e é um grande pianista - Let Me See que o diga, com um ótimo trabalho do Addison Farmer (em breve posto algo sobre o irmão dele, o grande Art).
Abração!
Li errado e vim, q foi bom ver q "every little thing 'will' gonna be all right".
Foi melhor q a encomenda te saber (peguei a expressão do Érico ali em cima) feliz e tb ler a frase corretamente.
Sabe q o alívio foi maior.
Abração.
A frase é, numa tradução livre, "Não me preocupo porque nada pode dar certo". Mundo de errância, Gabi. Assim sendo, tudo é certo porque nossa sina é o erro. Não esquente, pois.
Érico,
sou fã do Mose desde a primeira audição numa coletânea da Atlantic. Havia deixado no jazzseen uma versão de Don't get around much anymore, de Ellington(não sei se ainda é possível ouvir), na qual Allison usa essa pegada bluesy de modo bem legal.
Dá-lhe, Salsa, o "trem" é bão mesmo...
ps.:Ainda não sei se vou a O.Preto; a propósito, já saiu a programação?
Mestre Salsa, preciso falar com você. Me escreva, ok? (ericorenatoserra@gmail.com).
Abração!!!
Ok, Érico. Já enviei o email.
Fig,
Não sei se a programação já saiu, mas eu vou de qualquer jeito. rs
Mose Allison pode ser visto fazendo uma participação especial no filme Cartada Final.Ultimo trabalho no cinema de Marlon Brando em vida com Robert de Niro e Edward Norton no casting.Todos sabemos q De Niro foi o jovem Don Corleone no Chefão 2 mas jamais havia filmado com Brando antes.No filme, mediano, sob meu ponto de vista, ele é um sofisticado ladrão aposentado q retorna ao ambiente criminal e dono de um clube de jazz.Encaixe da presença de Allison na tela grande.Tenho o referido disco mencionado na forma de cd em uma edição 2 em 1 da Collectabels.Moose continua sendo meu favorito cantor fanho de jazz.No mesmo quesito,Miltinho - por nossas bandas.
Mandou bem, Edú. É bom lembrar de Miltinho. A minha infância foi povoada por sua voz e suíngue.
Bom saber que vc tb gosta do Mose Allinson, tenho varios trabalhos dele, gosto muito...principalmente da forma dscontraida, natural que ele canta .Muito obrigado por este post, este trabalho ja tinha visto mas ainda não tinha.Forte abraço !
Pelo jeito, Mose tem um grande séquito de admiradores. Beleza!
Nada mal para um fanho, como disse Mestre Edù. Gostaria de experimentá-lo somente ao piano.
Grande abraço, JL.
1:45' e Lester ainda está de pé. Prezado, ouça Let me see ali no podcast. Tem também os trabalhos dele com os citados astros.
Miltinho é o mestre da bossa.Sou fã,sua interpretação do trecho da letra de sua autoria(a canção Meu nome é ninguém) - "Foi assim... a lampada apagou. A vista estremeceu e um beijo então se deu ..." aumentou a densidade demográfica de vários povoados brasileiros numa feliz época(meados dos anos cinquenta).Quando todos se achavam mais felizes.
Ah, eu e meus irmãos devemos ter vindo nessa leva....rs
Postar um comentário