Hoje é um dia especial. Talvez até, quem sabe, um dia, eu escreva algo sobre isso. Não falo apenas em função da comemoração dos cinquenta anos da morte de Billie Holiday, embora a sua vida bem sirva de exemplo para o assunto em pauta. Refiro-me à vida como mudanças, transformações, aridez e fartura. Vida cujo movimento nem sempre percebemos, mas, de vez em quando, assim ela se nos mostra: em plenitude, inegável e com estranha alegria. Ah, Vida, Vida, sempre nos reservando surpresas e nos impondo dilemas. Alguns dilemas tão doces como escolher entre o bom e o bom. Às vezes, a Vida parece gostar de fazer isso com os reles mortais. Parece se divertir com nossa gana de tudo ter. "E aí, Salsa, o que vai ser, o bom ou o bom?" - O bom, o bom, oras!
Alguns caras se permitem fazer o que gostam. Na música, por exemplo, há aqueles que trafegam em diversas de suas tendências. Conheço alguns que vão do sertanejo ao jazz - questão de sobrevivência? Não creio. É caso de paixão pela música. Recentemente, tive contato com um disco de Bruce Hornsby, um disco de jazz contemporâneo, e, ao procurar notícias sobre o cara, descobri que ele é um desses que sai por aí tocando de tudo:bluegrass, folk, rock, blues, soul, funky, clássico e, como já dito, jazz. Ah, antes que me esqueça, ele tocou com Greatful Dead entre 90 e 92.
Ao ver o seu currículo, pensei: se fosse o cardápio de um restaurante eu suspeitaria. A regra comum é: muita diversidade, pouca qualidade. O seu trajeto é daquele tipo intricado, cheio de trilhas que revelam uma personalidade que não titubeia diante dos dilemas: vamos lá! adiante! experimentemos! E o rapaz, pelo jeito, sabe segurar as ondas. Até ganhou alguns Grammys, em 1987, 89 e 93, todos relacionados ao universo pop. Suas incursões na seara jazzística somam dois ou três discos, não estou certo. No cd que agora ouço, Camp meeting, ele está acompanhado por McBride (baixo) e Jack DeJohnette (bateria). O trio interpreta temas de alguns dos mais representativos nomes do jazz: Ornette Coleman, Coltrane, Jarret, Miles, Monk e Powell. E o faz com eficiência. Vale a conferida.
Deixarei duas faixas ali no pocast do Jazz Contemporâneo
Link: here!
19 comentários:
Mr. Salsa,
Tenho um disco do Bruce Hornsby, mas é pop. De jazz, embora soubesse que ele tem intimidade com o estilo não conheço nada. Mas esse disco promete - com uma sessão rítmica dessas fica fácil, né?
Abração!!!
De fato, eu fiquei surpreso. Hornsby tem uma linguagem peculiar, talvez em função dessa tansitividade toda. Não o conhecia, pois ando afastado do universo pop (o meu blog de rock'n'roll circula pelos anos sesenta e setenta)
Grande Salsa,que bom que vc anda se questionando eu as vezes embarco nessa tb,faz parte da vida.Agora este Bruce Hornsby eu nunca ouvi falar,ouvi no podcast e não gostei alias não sou chegado ao pop, prefiro o hard bop, blues ou swing.Musica é momento e como o dia a dia anda pesado tenho procurado coisa mais leve hoje por exemplo passei parte do dia colocando no meu Ipod alguns discos da Ella cantando blues e Cole Porter e vou viajar para a serra.Retiro espiritual...
Boa pedida, jazz, boa pedida.
Aproveite seus momentos de serráquio.
Ipod é pop!(rs,rs,rs).
Salsa, gosto dessa inquietação da busca por novidades... Fico às vezes me questionando a postura de alguns, que pelos blog passam, comentando contra as novidades da praça e fecham seus ouvidos em qualquer década perdida do tempo, como se a música coubesse dentro de uma cápsula e ali ficasse congelada. Para mim, é uma postura que contradiz o moto do jazz - a evolução na forma e no estilo. Há sempre um grande músico a propor algo de novo ou uma releitura.
Obrigado por sua visita ao soblônicas e aos seus comentários tenho a dizer:
Bom, Salsa...
Será um prazer recebê-lo aqui em São Luís. Espero que não tarde muito. Estou produzindo o projeto Jazz Da Gema... Espero formar público para ouvir e compartilhar nosso jazz. Bem, é oportuno sabermos quanto custária trazê-lo para se apresentar aqui. Nos envie uma planilha de custos e detalhes técnicos para a realização do show. Será um prazer tentar viabilizar o projeto (celijonramos@hotmail.com).
Não tenho visitado seu blog nos últimos dias. Estamos cuidando da saúde de meu pessoal. Agora, tudo já está bem melhor.
Um grande abraço.
Gostei do petisco e creio recomendável ir ao prato principal.
Não sei se você percebeu, mas há na faixa uma referência a Giant Steps na introdução, tema depois retomado e desfigurado de forma interessante.
Obrigado pela indicação, JL.
Obs: estou me referindo à primeira faixa, Questions & Answers
Prezado Lester,
Giant steps faz parte do set list do disco. Lembrete: quinta que vem visitarei sua nova casa. Pode reservar o vinho.
Celijon,
Fico grato por sua disposição. Deixei um comentário sobre o assunto lá no seu blog.
PS - Questions and answers é um tema de Coleman, que, segundo a nota (se meu inglês não trapaceou na tradução), ainda não havia sido gravado por ninguém.
Question and Answer é titulo e faixa do único disco “complete” jazz de Pat Metheny.Também com Dave Holland e Roy Haynes e na formação de trio eles não desperdiçariam tempo fazendo polca.Ouvi esse disco do Bruce Hornsby ,quando lançado, nesses dispositivos “samples” das Fnacs em q se coloca um cd e ouve-se nos fones uma amostra de 40 segundos a um minuto por faixa.A impressão q fiquei: não acrescenta absolutamente nada(sem ser, contudo, ruim) para quem curte Ahmad Jamal, Keith Jarret e Martial Solal (trinca dos gigantes do piano jazz em atividade).
Não dá pra comparar, Edú.
Achei curioso o aspecto da incursão de Hornsby em praia estranha à sua. Ressalto, no entanto, que, se ele não acrescenta, ele também não macula a cena jazzística. É um disco viável.
Ps - Você lembrou bem sobre a faixa. Creio que eu ouvi essa faixa também em um compacto simples do Ornette.
Lamentamos informar que este blog está fichado nos nossos blogs: New Ynhok Times & Falha universal. Nossos pesâmes!!!
Ai, jisus, danou-se. Os meus amigos vão morrer de inveja.
Valeu, moçada.
Bruce Hornsby mr.Salsa???? Conheço-o tocando pop, rock, inclusive fez um sucesso danado lá pelos anos 80/90 com a música "That's the way it is". Agora tocando Jazz? Sei não, vou ouvir com atenção e depois, se valer a pena, te digo.
O disco não é ruim, de modo algum.Mas típico daqueles q adormecem empoeirados nas estantes por anos à fio pela ausência da vontade para novas audições.Já dizia o refrão da canção do Hornsby "somethings will never change" de That´s the way it is.
Mr. Salsa
Eu que acho que a música é uma questão de sobrevivência. Quantos excelentes músicos optam pela via economicistas? Não chegam a ser quase nada… mas ganham imenso com isso.
Quando olho, por exemplo, para Hiromi, vejo ali mais uma pianista clássica que teve a sua oportunidade no jazz. E vende que se farta…
E na guitarra? Aí são “milhões” a tentar a sua sorte noutras áreas.
Mas os melhores, ou aqueles que sobrevivem apenas numa área musical, vão ser as lendas de amanhã. Dos restantes não reza a história.
Um grande abraço do lado de cá.
É isso, Miguel,
Raros aqueles que trafegam apenas em uma via. São muitos os grandes músicos que não conseguem encontrar aquela blue note que a todos seduz.
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