Durante um bom período da minha infância, o único equipamento que reproduzia música em minha casa era um pequeno rádio valvulado. O dial era um grande botão de madrepérola esverdeado, que em determinado dia tornou-se o beque central do meu time de futebol de botão.
Pois bem, foi naquele rádio que eu ouvi e tomei conhecimento da existência de Ray Charles. A sua voz, sua música soou-me arrebatadora. Ray é o típico showman. Mais que isso, Ray é daquele tipo de músico que transborda música. É alguém que, sempre que possível, merece ser ouvido. Eu, confesso, não tenho feito isso, mas tenho tocado alguns dos seus temas nas noitadas vitorianas com o meu amigo lusitano Sérgio Gomes.
Dia desses, em busca de uma versão de Hallelujah I love her so, eu encontrei um disco para colecionador nenhum botar defeito. Trata-se, de fato, de dois em um. São dois discos gravados em sessões únicas em 1957 e em 1958: Soul meeting e Soul brothers. Em ambos, Ray divide a cena com Milt Jackson. Sim, senhores, são dois discos de jazz. Interessantes, até. Além de Ray e Bags, participam as feras Skeeter Best e Kenny Burrell (guitarra); Billy Mitchell (tenor saxophone); Oscar Pettiford e Percy Heath (bass); Connie Kay e Art Taylor (drums).
Percebe-se que as gravações têm um clima descontraído e sem maiores demonstrações de virtuosismo. Parece um encontro de amigos que resolvem guardar uma recordação (na falta da máquina fotográfica, grava-se um disco). A linguagem adotada nos discos é o bom e velho blues, território dominado por Bags, Ray e por toda a trupe envolvida. São gravações que, como disse acima, merecem uma audição.
Os ouvintes poderão apreciar Ray tocando seu sax alto em algumas faixas e, eis uma novidade para mim, Milt Jackson encarando uma guitarra (em Bag's guitar blues ele arrisca algumas notas - vale como curiosidade).
Deixarei duas ali no podcast Quintal do Jazz.
O link: here!
6 comentários:
Clássico absoluto, Mr. Salsa!
Dois excelentes discos, com uma atmosfera de blues maravilhosa.
Imperdível!
Forte abraço.
Eu não conhecia esses discos. É curioso ver/ouvir como Ray Charles trafegava com tranquilidade em diversos fronts da música.
Da melhor qualidade, Luiz.
E olhe que implico com o Milt. Aliás, implico com vibrafonistas em geral.
Fica aqui uma dica para quem curte o jazz dp cegão: o cedê-coletânea duplo "Ray Charles Blues + Jazz", da Atlantic. Nele, além de outras gemas, encontram-se duas faixas dele com Milt, "X-Ray Blues" e "Love on My Mind".
As faixas com David Newman são as melhores da reunião, além, claro, da melhor gravação de "I Surrender, Dear" que conheço.
Valeu, Salsa.
Grijó
disco obrigatório !!
eu não conhecia este disco até o Bene-X ter me apresentado
eu fiquei impressionado com a forma que o Ray Charles se colocou ao piano, bem jazz
esse rodou no prato aqui por um bom tempo
abs,
Caro Grijó,
Satisfação encontrá-lo aqui em uma das nossas casas virtuais. Vibrafone não é dos meus instrumentos favoritos também, mas Milt Jackson, Gary Burton (aquele for Hamp, Red, Bags e Cal é espetacular) e, sobretudo, Bobby Hutcherson são maravilhosos.
Esse último, então, tem coisas extraordinárias (sugiro o Dialogue, o Happenings, o Oblique e o The Kiker - todos de altíssimo nível).
Quanto ao Ray Charles, o apelido de gênio, nesse caso, não foi à toa. O cara era poderoso e tem alguns ótimos discos de jazz (o The Great Ray Charles é soberbo).
Forte abraço a todos!
Quer dizer que o botão foi promovido a beque? Sensacional.
Mas viva a diversidade de opiniões! Já eu não posso saber da existência de um novo vibrafonista q quero ouvir. Amo a sonoridade do intrumento! E esse disco me encheu de curiosidade. Claro que Milt Jackson é figurinha fácil, mas com Ray Charles... Tô dentro.
Salsa, e o Dafnis Prieto, hein? Um som diferente de tudo q já tinha ouvido e vc, nada? Achas q te deixarei em paz enquanto não tiver a sua opinião abalizada? Ah, não vou não.
Abraço!
Abraços.
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