quarta-feira, 20 de maio de 2009

Alex Sipiagin

Busca aqui, procura acolá, e, de repente, estou caminhando pelas estepes geladas da Rússia. Levado fui pela lembrança do meu finado tio russo, Alexander. Lá, um xará do meu tio chamou a minha atenção: Alex Sipiagin. Russos tocam jazz? Sei lá, isso é coisa para o nosso bem informado vizinho John Lester, que não petisca, arrisca. E, às vezes, descobre coisas interessantes. Imito-o, pois. Arrisco-me.


E não me arrependo. O trompetista e fluegelhornista Alex Sipiagin é um músico que honra seus instrumentos. Frases bem construídas, sopro firme e coeso estão entre suas características mais perceptíveis. Os temas defendidos em Out of circle (2008) revelam uma sonoridade que me fez repensar a prevenção diante do jazz europeu. Talvez a coisa não seja tão chata assim. O frio não fez seu habitat nos bons e nada ortodoxos arranjos do disco de Sipiagin. Há ali uma promessa de bons momentos.


Destaque para as vozes bem articuladas dos sopros - Donny McCaslin (flauta, soprano e tenor - muito bom, diga-se de passagem); Robin Eubanks (trombone) e Sipiagin - propiciam momentos mais que agradáveis. O restante da banda soma Monday Michiru (vocalista e esposa do trompetista - um caso de nepotismo que, se não atrapalha, também não acrescenta grande coisa: não precisa de nenhuma CPI para esclarecer o fato); Adam Rogers (guitarra); Gil Goldstein (acordeon); Henry Hey (teclados); Scott Colley (baixo); Antonio Sanchez (bateria); Daniel Sadownick (percussão).
Ouçam ali no podcast do Jazz Contemporâneo.

8 comentários:

Érico Cordeiro disse...

Mr. Salsa,
Bem interessante a sonoridade do camarada Spiagin. Seu fraseado lembra um pouco o Woody Shaw, embora as músicas, sobretudo a primeira, tenham um "quezinho" de fusion que não me agrada tanto.
De qualquer forma, ele merece ser ouvido com atenção. Tomara que eu consiga encontrar outras coisas do rapaz.
Abração.

Salsa disse...

Prezado Cordeiro,
O jazz contemporâneo tem dialogado bastante com outras expressões musicais. Em alguns momentos as tentativas de fusão soam aos meus ouvidos como um atentado do talibã, mas nem sempre é assim. Alguns músicos conseguem equilibrar bem as diversas linguagens, evitando o hermetismo (o som mais cerebral). Sipiagin está, ao meu ouvir, mais próximo do equilíbrio. Sua performance anuncia a possibilidade de boas articulações futuras.
Ah, após sua observação, reparei na semelhança com Shaw.
Uma boa comparação.

Érico Cordeiro disse...

É isso aí, Mr. Salsa.
Comungo da sua opinião sobre boa parte do chamado fusion, mas o russo manda muito bem e promete. Não gostei muito da primeira música, por conta dessa levada meio fusionista - mas o sopro do cara é bem maneiro, fluente mesmo.
Talvez ele tenha até tocado (ou o pai dele, sabe-se lá) com o Mel Lewis e o Thad Jones naquela louca excursão às estepes russas (uma história bem bacana, contada pelo Max Gordon no "Ao vivo no Village Vanguard".
Abração.

Anônimo disse...

Voltarei...
Parabéns.

Salsa disse...

Valeu, Miguel.
Abraços d'aquém mar

John Lester disse...

Singular e saudável proposta, Mr. Salsa. Aguardamos tantas outras novidades, ansiosos.

Grande abraço, JL.

figbatera disse...

O Salsa tem feito ótimas revelações aqui.

Salsa disse...

Olney e Lester honram essa humilde casa com seus comentários.
Aguardo-vos,