quarta-feira, 29 de abril de 2009

Phineas Newborn Jr

Depois de ouvir a nova geração de pianistas foi-me necessário recorrer ao velho baú para uma boa dose de swing. Não, não é que eu não goste dos novos (retornarei a eles em breve), mas, sim, que eu prefiro os velhos.

Há algum tempo eu postei algo sobre Phineas Newborn Jr.. Eis aí um pianista que me impressionou desde a primeira audição. Vocês podem conferir, ali ao lado, um vídeo em que ele dobra um tema up tempo usando as mãos esquerda e direita com uma fluência vertiginosa. É briga para cachorro grande.

Estou, nesse exato momento, ouvindo mais uma vez o disco The great jazz piano, gravado em dois dias dos anos 61-62 do século passado. Bem assessorado por Sam Jones e Leroy Vinnegar, que se revezam no baixo, e Louis Hayes e Milt Turner, na bateria, Newborn, como de praxe, destila elegância do seu piano. São dez faixas que saciarão as almas sedentas do bom e velho balanço jazzy.

Curtam duas faixas ali no podcast Quintal do Jazz.

O link: Here

domingo, 26 de abril de 2009

Fred Hersch Pocket Orchestra

Esse post é dedicado ao mais recente habitante da blogosfera, mr. Érico Cordeiro, cujo espaço promete bons momentos para os apreciadores da música e adjacências.


Pois bem, sugeriu-nos Érico que falássemos um pouco sobre os novos pianistas de jazz. Tentaremos, eu e Vinyl (espero, pois este anda meio sumido), apresentar alguns da nova geração. Começarei por um não tão novo assim, mas cuja linguagem é bastante atual: Fred Hersch, que é daquele tipo de músico que não consegue sossegar em um cantinho e fazer um som básico. É seu hábito sair por aí experimentando sonoridades e grupos com formações pouco usuais - isso sem desprezar a tradição jazzística.


O seu mais recente trabalho (e põe recente nisso - é do final de abril deste ano - às vezes eu acho que a rapaziada exagera ao disponibilizar gravações tão rapidamente na web) foi gravado ao vivo no Jazz Standard com um quarteto (Pocket Orchestra) cuja peculiaridade é a eliminação do baixo. A responsabilidade para manter o "chão" harmônico/rítmico fica, então, ao encargo da sua mão esquerda e da maestria do baterista Richie Barshay. Outro nome que exala competência é Ralph Alessi, trompetista de sopro firme mas suave, com um brilho que não fere nossa percepção.


Apesar de achar excessivo o espaço cedido à cantora australiana Jo Lawry (dispensaria algumas das passagens em que ela aparece como solista), admito que são interessantes os vocalises em uníssono com piano/trompete (reforçando a harmonia) ou nos lúdicos scats dialogando com trompete (Down home e Lee's dream, p.e.). Também me agradou a sua interpretação em Canzona, tema que lembra o lirismo das bachianas de Villa-Lobos.


Inegável é a versatilidade de Fred Hersch. Ouçam com atenção o modo como ele toca seu instrumento e vocês verão que ele é um dos grandes nomes do piano contemporâneo. O resultado agradará àqueles que não fecham a porta aos que se arriscam em busca de novos horizontes para o bom jazz.


Curtam ali no podcast do Jazz Contemporâneo.


Quanto ao link: procurem na web.


quinta-feira, 23 de abril de 2009

Brad Mehldau


Alguns colegas torcem o nariz quando, ao comentarmos sobre novos talentos do jazz, eu cito Brad Mehldau. Alguns se queixam de seu estilo cerebral, muito europeu e, completam, sem swing. Mas, putzgrila, ele não é tão ruim assim. Eu também prefiro a velharada, mas ele tem seu valor. Brad é um desses caras que ainda insistem em insuflar vida nas veias do jazz - e isso já é um grande mérito. E o faz com competência. Do jeito que gosta.

Sim, sua linguagem é bastante contemporânea, mas, ora bolas, tudo que se faz é, de certo modo, legado pelos grandes nomes do passado. E não se trata apenas do legado de pianistas, mas de todos os grandes jazzistas. Quando ouvimos Brad é possível perceber isso.

Liguem aí o toca-disco e ouçam Introducing, o cd inicial do jovem pianista. Lá vocês encontrarão temas de Hammerstein, Rodgers & Hart, Ellington, Porter, Coltrane e alguns temas do próprio Mehldau, mostrando que também sabe compor. Aliás, suas composições trazem títulos um pouco pesados: Angst, Young Werther (aquele de Goethe, que levou uma cambada ao suicídio) e Say Goodbye (já estou vendo os colegas fazendo piadas), mas são temas muito bem estruturados. Para garantir um bom resultado, Brad se cercou com o que há de melhor na atualidade: Larry Grenadier (Double Bass, nas faixas 1-5), Jorge Rossy (Drums, nas faixas 1-5 ), Christian McBride (Double Bass, nas faixas 6-9) e Brian Blade (Drums, nas faixas 6-9).

Vocês poderão conferir no podcast do jazz contemporâneo.

O link: here!

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Phil Woods

Como o Vinyl desapareceu, continuarei a carregar o piano do blog. Espero que ele não tenho ido à África procurar o Carlão Dias.

Bem, vamos ao que interessa: o bom e velho jazz. Percebi que ainda não havíamos postado nada de um dos grandes nomes do sax alto, um dos herdeiros da verve parkeriana: Phil Woods. Corrijo agora essa falha.

Deparei-me com a coletânea Phil Woods early quintets, com boas gravações de 1954 e 1959. São oito faixas que agradarão a todos aqueles que têm o jazz como horizonte. Sim, senhores, Woods e seus companheiros nos legaram momentos muito felizes com as sessôes registradas nesse disco. Nas quatro primeiras faixas o time é formado John Wilson (T), Jimmy Raney (G), Bill Crow (B) e Joe Morello - sim, é ele mesmo, aquele do antológico solo de bateria em Take five. Nas quatro faixas restantes (gravadas em 59), o trompetista é Howard McGhee, o piano fica com Dick Hyman, Teddy Kotick se encarrega do baixo e Roy Haynes da bateria.

Deixarei duas faixas (uma de cada grupo) no podcast Quintal do Jazz.

O link: Here!

sábado, 18 de abril de 2009

Karin Krog

Como eu falei do Arild Andersen não posso deixar de falar outro norueguês - norueguêsa, aliás - de muito boa estirpe musical. Trata-se da cantora Karin Krog. Eu a conheci enquanto procurava informação sobre o citado baixista. Estava lá, na rede, com seu sonoro nome, olhando para mim. Ao seu lado, protetores, Red Mitchell e Warne Marsh, dois marcos do jazz. Com essa companhia, pensei, deve ser alguma coisa boa.

Karin, segundo minha breve pesquisa, não é de amarelar. Ela se arrisca em diversas frentes - do pop ao avant-garde e free jazz. Pelo jeito, ela curte trabalhar com baixistas. A lista desses intrumentistas com quem já trabalhou inclui nomes como Niels-Henning Ørsted Pedersen, Arild Andersen e Steve Swallow. O seu currículo inclui parcerias com Shepp, Dexter Gordon e Kenny Drew. Em I remember you..., ela interpreta - bem - standards contemporâneos e do great american song book.

Não me decepcionei ao ouvi-la. Sua voz é quente e acolhedora, apropriada para aquecer as longas noites do inverno do seu país e, ambivalente, refrescar nossas quentes noites tropicais. Tecnicamente falando, a menina encarou uma formação que exige atenção: baixo, sax e voz não é o modo mais simples para se arriscar no canto. O clima cool do disco poderia resvalar para um clima mais pesadão, mais arrastado. O vazio ocasionado pela ausência de bateria e/ou piano tem que ser aproveitado na estrutura dos arranjos. O desafio, então, é para todos. O baixo tem que ser preciso para dar sustentação, e o sax, por sua vez, e aí é a praia de Warne, tem de manter-se sutil, sem arroubos, para não contrastar excessivamente com a voz da menina. E o silêncio, assim, pode se tornar um belo pano de fundo para o trabalho. Eu acho que o trio consegue isso.

Ouçam duas faixas ali no podcast Quintal do Jazz.

Link here!

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Intensive care

Na última reunião do club das terças, João Luís, um dos patronos, incumbiu-me de procurar alguns discos de Paul Smith, pianista da velha guarda. Eu só possuo alguns poucos, mas com ele como sideman (o com Anita O'Day - com temas de Porter - é muito bom). João queria This one cooks! e At home, os quais infelizmente não possuo.


Mexe aqui, remexe acolá, encontrei um de 1978, que saiu por dois selos. Em um, o primeiro nome do trio (sugerindo o band leader) é o do baterista Louie Bellson, completado por Ray Brown e por Paul Smith; noutro, prevalece o nome do pianista. O disco é o Intensive care, com uma capa bastante sugestiva: um lp num leito hospitalar recebendo os devidos e intensivos cuidados. Leva-nos a perguntar como tem andado a saúde do jazz.


A reunião desses três nomes históricos para gravar um disco, cuja proposta é bastante tradicional, mostra-nos a preocupação com os caminhos trilhados pelo jazz. Smith, com linguagem que lembra uma mescla de Tatum com Peterson, manda os dedos com firmeza, percutindo seu instrumento em levadas stride, às vezes harpejando em ondas (mas sem excessos melacuecas), noutras bebopeando ferozmente, parece nos dizer: vamos injetar vida nesse som! Bellson, por sua vez, mostra-se a precisão ritmica de sempre - um baterista para ser imitado - e faz o coração do convalescente bater com mais alegria. Brown, com o seu baixo, faz o som pulsar aveludadamente, impondo alguma ternura à construção sonora. O resultado é terapêutico e consegue manter-nos ligados. Vale a conferida.


Deixarei alguma coisa ali no podcast Quintal do Jazz.


O link, trabalhoso, está aqui!

domingo, 12 de abril de 2009

Vocês conhecem Arild Andersen?

Só vim a reparar no trabalho do baixista norueguês Arild Andersen por ele ter participado das gravações do último cd do pianista capixaba e meu amigo Fabiano Araújo. Abro parênteses: o cd foi gravado em Portugal, sob a produção do lusitano amigo Pedro Treppa, com as participações, além de Arild, do baterista Alex Frazão e do saxofonista lusitano Zé Nogueira (excelente) e outro saxofonista cujo nome me escapa. O disco de Fabiano é todo com temas do Calendário do som, de Hermeto Pascoal. Estamos aguardando a chegada do novo filhote.



Retornemos a Arild. Ele tem uma longa história (mais de trinta anos) com a gravadora ECM - o que explica eu não conhecê-lo -, com parcerias com a vasta gama de músicos daquele selo, entre eles Garbarek, Frisell, Mouzon e até Naná Vasconcelos. Seus trabalhos são preponderantemente ligados ao jazz contemporâneo - desde o fusion dos anos setenta ao som mais cerebral desse início de século. Eu tive acesso a alguns desses trabalhos e resolvi apresentar-lhes dois momentos diferentes.



No primeiro, bastante roqueiro, intitulado Molde Concert, o baixista está acompanhado por Bill Frisell (g), John Taylor (sax) e Alphonse Mouzon (d). Creio que agradará àqueles que são chegados na vertente fusion.



No segundo, Live at Belleville, mais recente (gravado no final de 2007), Arild está acompanhado por Paolo Vinaccia (bateria) e Tommy Smith (sax). Esse disco foi bastante festejado pela crítica européia e deve ter sido um dos fatores que inflenciaram em sua escolha como o melhor baixista de jazz europeu do ano de 2008. Aqui o som é mais cerebral e traz uma versão flutuante de Prelude to a kiss (eu sempre acho muito difícil tocar com andamento tão lento - o grupo tem que estar super conectado senão a coisa degringola geral). É um disco muito bem cuidado e, com certeza, agradará aos apreciadores do gênero.



Deixarei uma faixa de cada disco no podcast do Jazz contemporâneo.



Os links: here & there

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Hank Crawford - More Soul

Já há algum tempo, eu tenho corrido atrás de um disco do Hank Crawford que me chegou aos ouvidos em um boteco de Vitória, situado na rua da Lama, chamado Cochicho da Penha. É nesse boteco que, às terças, acontece boas sessões de jazz (no mesmo dia, eu toco no Balacobaco, outro bar de Vitória). Pois bem, o Geraldo, dono do bar, não tinha os dados precisos sobre o disco, a não ser o nome de Hank.

O que me atraiu mesmo foi o solo de barítono em uma das faixas. Achei o saxofonista um rolo compressor, voluptuoso, demolidor (pensei que fosse o prório Hank, já que ele encarava esse instrumento na banda de Ray Charles). Durante minhas buscas, encontrei uns três ou quatro discos de Hank Crawford, todos ruins. Chatinhos, mesmo - páreo duro para música de elevador.

Mas, num certo dia ensolarado, eis que surge o super Sérgio Sônico (esse, sim, é o cara) e me oferece um link onde eu poderia encontrar o disco More Soul, gravado em 1960. Ao ouvi-lo sorri de orelha a orelha: era o dito cujo. Segundo o Allmusic, esse foi o primeiro disco de Crawford como band leader, após sair da banda do Ray Charles (que contribui com alguns arranjos). Ao contrário dos outros que eu ouvi, esse disco é jazz de muito boa qualidade, interpretado por um time underrated de músicos (alguns deles também tocaram com Ray). O septeto incluía David "Fathead" Newman (t), Leroy "Hog" Cooper (barítono - esse é o cara que me impressionou com seu solo), John Hunt e Philip Guilbeau (metais), Edgar Willis (baixo) e Milt Turner (bateria).

More soul é um nome apropriado para esse disco, pois o time está com tudo à flor da pele. Os fundamentos do jazz estão transbordantes: swing, blues e, de quebra, boas pinceladas de soul. O resultado é envolvente e até redime Hank dos pecados cometidos em discos posteriores. Amém, senhores.

Deixarei duas faixas no podcast Quintal do Jazz.

O link do Sérgio está aqui

terça-feira, 7 de abril de 2009

Ruby Braff

Ruby Braff é um cara rodado, com longa história no livro do jazz. Esse bostoniano (êpa!) tem um modo de tocar bastante tradicional: tem os pés fincados em terreno cultivado por Armstrong. O som exalado de seus instrumentos (corneta e trompete - embora seus trabalhos valorizem mais o som encorpado do primeiro) mantém-se com a aura do suíngue.

Estou ouvindo dois cds: Ruby Braff And His New England Songhounds v.1 e 2. Ambos contam com as participações de Scott Hamilton (tenor), Howard Alden (guitarra), Dave McKenna (piano), Frank Tate (baixo) e Alan Dawson (bateria). O clima é agradabilíssimo. Os músicos, todos de primeira linha, conseguem sustentar o pique (slow ou up) com uma gentileza que é para poucos. A comissão de frente, formada por Braff, Hamilton e Alden, parece que foi formada no berço, tamanho o entrosamento. McKenna não faz feio ao piano, do mesmo modo que Tate e Dawson, com seus respectivos intrumentos. Quem, como eu, curtir um som mais tradicional, vai gostar.

Deixarei duas faixas no podcast Quintal do Jazz.

Os links: aqui e aqui

sábado, 4 de abril de 2009

What now?


É assim que a coisa funciona: a gente dá uma saidinha e quando retorna a casa está toda reformada. Ficou bacana, Salsa, mas ainda bem que não sou eu quem paga a conta. O máximo que eu posso fazer é trazer mais uma pequena contribuição para que o blog mantenha o pique de produtividade.
Manterei o tema "baterista". Só que, aqui, ele foi eliminado. E, diabos, não fez falta. O disco é What now?, do flugelhornista Kenny Wheeler. O disco foi gravado nos dois primeiros dias de junho de 2004, em Nova Iorque. Achei o trabalho danado de bom. Os membros do grupo já se conhecem de outros trabalhos, fato que explica o bom entrosamento (embora digam por aí que grandes músicos não precisam disso). Agradou-me as frases entrecruzadas pelo flugelhornista e pelo tenorista Chris Potter, o singular double bass de Dave Holland mais o piano pontual de John Taylor, que produzem um efeito mais que satisfatório. A ausência da bateria pareceu-me estender um pouco mais a sonoridade dos instrumentos, propiciando maior profundidade (como se fosse um filme 3D).
Vocês poderão curtir o som ali no podcast do Jazz Contemporâneo.
O link: here!

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Taylor's wailers

"Baterista é uma raça complicada: bom com eles, bem melhor sem eles". Essa frase foi proferida por um pianista paulista, cujo nome não me recordo, só para implicar com o baterista do grupo. Ele continuou: "eu sempre toco com o revólver ao lado do copo de uísque, se o batera começar a espancar os pratos eu mando bala". Rimos. Marcão, o batera, bem humorado como poucos, é fã de Arthur Taylor, e, lembrand0-me disso, dedico esse post ao velho camarada que há muito não vejo nem ouço.


Hoje, logo que acordei, às 6:20', liguei o som e ouvi o cd Taylor's wailers, gravado em 1957, com aquela moçada já conhecida de todos: Charlie Rouse (tenor), Donald Byrd (trompete), Jackie McLean (alto), Ray Briant (piano) e Wendell Marshall (baixo) - a participação especial fica por conta da presença de Coltrane, Garland e Chambers no tema C.T.A.


Art Taylor (1929, NY) é um dos mais respeitados bateristas da história do jazz. Começou sua carreira com Howard McGhee, creio que em 49. Pouco depois já estava acompanhando Coleman Hawkins e, na sequência, não mais deixou de ser companhia para os grandes jazzistas ( de Franco, Powell, Gigi Grice, Garland, Miles e os cambau). No disco que agora ouço, Art mostra um pouco da sua aprimorada técnica com a desenvoltura que lhe é característica. Ricumendo semvacilar.


Ouçam Batland no podcast Quintal do Jazz.


O link: here