quinta-feira, 30 de julho de 2009

Guitar & basses

A duocentésima qüinqüagésima oitava postagem será dedicada a um guitarrista. Um guitarrista ousado que, como poucos, soube explorar as possibilidades sonoras do seu instrumento. O nome do cara: Jim Hall.

A minha pretensão é justamente mostrar a face criativa de Jim. O disco que escolhi privilegia bastante o lado experimental desse grande instrumentista: Jim Hall & Basses. Os baixistas, no caso, são David Holland, Scott Colley, Charlie Haden, George Mraz e Christian McBride - querem mais? Aliás, creio que esse disco é um prato cheio para os baixistas: eles dão um show e tanto (em alguns momentos me fizeram esquecer que o disco é de Hall)


Aqui encontramos Hall jogando com seus parceiros de modo bastante curioso. Vocês poderão observar como ele brinca com a harmonia em todas as faixas. No encarte, Hall diz que, para ele, o baixo é uma extensão da guitarra. Assim sendo, ele busca fazer dos seus acordes uma ampliação da harmonia do baixo. A brincadeira visa, enfim, a ampliação dos limites da música.

O fato é que Hall aqui se mostra mais atual do que muitos jovens músicos. Enfim, essa sempre foi sua peculiaridade (lembrem-se dos seus trabalhos com Giuffre). Encontram-se no disco cenas bastante experimentais - Abstract 1, 2, 3 e 4 (com Haden, Colley e Mraz), cenas curiosas como Hall usando violão de doze cordas (End the beguine - com Holland) e releituras bastante atuais de clássicos como All the things you are (com Mraz) e Besame mucho (com Colley). Destaco também a faixa Don't explain (com Haden). Mas McBride é grande: as faixas em que ele participa são as que mais me agradaram (Bent blue e Dog walk) - talvez por soarem mais mainstream.

Deixarei duas ali no podcast do Jazz Contemporâneo

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terça-feira, 28 de julho de 2009

Very hot!!!

Há muito, muito tempo eu não fazia isso: tocar em casa. Estava me preparando para logo mais à noite estrear o Novo Trio (primo do Rivo Trio, do pianista Túlio). Mingus, Mann, Monk, Ellington, Carmichael, Gershwin e mais um monte de gente boa passou pela palheta do antenor, meu sax. Depois da pausa para o chá, liguei a vitrola para ouvir uma daquelas coisas que raramente eu ouço: orquestra.

Mas, meus amigos, às vezes sou obrigado a me dobrar. Tem alguns que são muito bons. Into the hot, por exemplo, é um disco sensacional da orquestra de Gil Evans, gravado em 1961. Os arranjos sofisticadíssimos em todas as faixas (sem dispensar o balanço) me obrigam a sapecar a cotação: *****.

O trabalho é uma homenagem a Cecil Taylor (que participa das suas três faixas) e John Carisi, compositores dos temas interpretados. Talvez os amigos fiquem preocupados esperando ouvir loucuras histriônicas da dupla, mas não é nada disso. Gil Evans consegue impor um clima mais que agradável às interpretações. Destaco a guitarra de Barry Galbraith e, obviamente, os sopros: John Glasel, Joe Wilder, Doc Severinsen e Clark Terry (que se revezam nos trumpetes); Phil Woods, Gene Quill mais Archie Shepp (saxes); Harvey Phillips (tuba).

Pode desembolsar um trocado para comprar. Dêem uma conferida ali no podcast Quintal do Jazz

Link (enquanto não proíbem): here!

sábado, 25 de julho de 2009

Mr. Rhythm

Creio que todos acertariam se eu fizesse um daqueles testes para descobrirem o nome do guitarrista do disco que agora ouço. Eu teria que repartir o prêmio com toda a comunidade de apreciadores do jazz, com certeza. Trata-se daquele guitarrista que, até onde sei, nunca foi chegado em improvisações, mantendo-se ali na marcação rítmica. Quem mais poderia ser chamado de Mr. Rhythm a não ser Freddie Green?

Green iniciou sua carreira tocando banjo e, em seguida, pegou a guitarra para nunca mais largar. Foi em 37 que ele foi alçado ao cargo de guitarrista de Count Basie, indicado pelo produtor John Hammond, que o ouvira tocar em um boteco novaiorquino. Ao ouvi-lo, Basie não titubeou e contratou-o imediatamente. Daí em diante, tornou-se uma das figuras de proa da sessão rítmica dessa que é uma das mais conhecidas orquestras do jazz. O cara é um metrônomo. Disseram-me que Basie, em suas apresentações, sempre exigia que a orquestra mantivesse o som num nível em que fosse possível ouvir a marcação feita por Green com sua indefectível guitarra.

Aqui, em Mr. Rhythm, o nosso guitarrista não foge à regra. Mantém-se na marcação, sem arriscar nenhuma nota no campo da improvisação. Parece que Green se diverte sendo o "chão" por onde as outras crianças brincam com seus instrumentos. É Green quem sustenta a farra. E quando digo "sustenta", incluam aí as suas oito composições sobre as quais seus amigos passeiam. Sem queixas, Green vai atacando: tchan-tchan-tchan-tchan-tchan..., enquanto Joe Newman (tp), Henry Coker (tb), Al Cohn (tenor e clarinete) e Nat Pierce (p) fazem seus floreios, tecem suas líricas frases. Ao lado de Freddie Green também estão seus amigos de cozinha Milt Hinton (baixo) e a dupla Jo Jones e Osie Johnson (que se revezam na bateria) - grupo de mestres dessa área.

Ouçam duas (ambas de Green) ali no podcast Quintal do Jazz.

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quarta-feira, 22 de julho de 2009

Vozes

Uma das reclamações que meus amigos músicos fazem ao trabalharem com cantores e cantoras é a restrição do espaço harmônico para as possíveis viagens na hora dos improvisos. Todos cantores têm uma extensão vocal x que deve ser respeitada. Dependendo do cantor, limitar-se-á a um simples tom. Aí, meus amigos, fica-se a noite inteira chafurdando num La ou outro tom qualquer. Além disso, às vezes, a música fica melhor em um tom x mas, sempre em função do cantor ou cantora, tem que ser tocado em y, comprometendo a sonoridade. Graças ao bom deus, na cena do jazz isso não ocorre sempre. Existem exceções. Inúmeras, até.


Confesso que a minha discoteca carece de mais espaço para as vozes. São poucos os nomes que nela se estabeleceram. Mas tenho alguma coisa. Agora, por exemplo, estou a ouvir um grupo vocal que fez bastante sucesso: Lambert, Hendricks e Ross. Possuo uma coletânea: Twisted - the best of..., que tem excelentes momentos - sempre assessorados por grandes representantes do jazz (Sims, Nat Pierce, Basie, Burrell, Green, Harry Edison e por aí a fora). Anota aí: a extensão vocal dos componentes do trio é para poucos. Acrescente-se bons arranjos para as vozes e a grande habilidade que têm para brincar com suas cordas vocais. Cordas que são bastante exigidas quando eles reproduzem os solos dos grandes jazzistas (acho um grandissíssimo barato esse lance de fazer letras sobre os solos).

Confiram ali no pdcast Quintal do Jazz.

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domingo, 19 de julho de 2009

I don't worry about a thing, 'cos nothing's gonna be all right

Estou feliz. Esse sentimento, que para mim já estava se tornando uma vaga lembrança, resolveu bater à minha porta. Descobri um sabor diferente na alegria, e uma nova textura também. Daí um deslocamento no olhar que me levou a coisas que há muito procurava e não encontrava. Um disco de Mose Allison, por exemplo, veio-me como um brinde. Estava bem perto e eu não conseguia achar. O disco é I don't worry about a thing, gravado em 1962.

Antes, em 2006, eu postei um comentário lá no meu berço, o bom e velho jazzseen, sobre um outro disco do Mose, nosso underrated heroe, mas não era esse que agora possuo. É desse disco a música (um blues) que me seduziu pela sua estranha mandada e pela letra divertida: Your mind is on vacation. Aliás, voz de Mose Allison é o que se poderia chamar de antivoz para um cantor: mínima extensão que soa bastante outside. Mas, em compensação, tem uma dose de qualquer coisa sei lá o quê que atraiu imediatamente minha atenção. Alie-se a isso o fato de ele ser um pianista muito bom. Nesse disco, Mose privilegia esse lado. O seu modo de tocar tem assinatura: frases precisas, notas firmes, com uma forte dose de swing e blues. Tem aquela mandada que nos faz balançar o corpo. Tarefa que se torna mais fácil com o auxílio dos bons músicos Addison Farmer (baixo) e Osie Johnson (bateria).

No encarte, Mose, que foi sideman de Getz, Cohn, Sims e muitos outros, afirma ter encontrado nessas sessões justamente aquilo que buscava musicalmente. Um tipo de música forte e envolvente por ele chamada dionisíaca - referindo-se ao deus grego que, de acordo com Nietzsche, seria a raiz da tragédia. O tema-título retrataria esse aspecto - trata-se de um ditado dos fazendeiros do sul dos Estados Unidos: "I don't worry about a thing, because nothing's got to be all right". Frase e tanto, não? Um tipo de alegre pessimismo. Dionisíaco, pois. Eu sapeco cinco estrelas sem titubeios.

Ouçam ali no podcast Quintal do Jazz

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sexta-feira, 17 de julho de 2009

e la nave va

Hoje é um dia especial. Talvez até, quem sabe, um dia, eu escreva algo sobre isso. Não falo apenas em função da comemoração dos cinquenta anos da morte de Billie Holiday, embora a sua vida bem sirva de exemplo para o assunto em pauta. Refiro-me à vida como mudanças, transformações, aridez e fartura. Vida cujo movimento nem sempre percebemos, mas, de vez em quando, assim ela se nos mostra: em plenitude, inegável e com estranha alegria. Ah, Vida, Vida, sempre nos reservando surpresas e nos impondo dilemas. Alguns dilemas tão doces como escolher entre o bom e o bom. Às vezes, a Vida parece gostar de fazer isso com os reles mortais. Parece se divertir com nossa gana de tudo ter. "E aí, Salsa, o que vai ser, o bom ou o bom?" - O bom, o bom, oras!
Alguns caras se permitem fazer o que gostam. Na música, por exemplo, há aqueles que trafegam em diversas de suas tendências. Conheço alguns que vão do sertanejo ao jazz - questão de sobrevivência? Não creio. É caso de paixão pela música. Recentemente, tive contato com um disco de Bruce Hornsby, um disco de jazz contemporâneo, e, ao procurar notícias sobre o cara, descobri que ele é um desses que sai por aí tocando de tudo:bluegrass, folk, rock, blues, soul, funky, clássico e, como já dito, jazz. Ah, antes que me esqueça, ele tocou com Greatful Dead entre 90 e 92.

Ao ver o seu currículo, pensei: se fosse o cardápio de um restaurante eu suspeitaria. A regra comum é: muita diversidade, pouca qualidade. O seu trajeto é daquele tipo intricado, cheio de trilhas que revelam uma personalidade que não titubeia diante dos dilemas: vamos lá! adiante! experimentemos! E o rapaz, pelo jeito, sabe segurar as ondas. Até ganhou alguns Grammys, em 1987, 89 e 93, todos relacionados ao universo pop. Suas incursões na seara jazzística somam dois ou três discos, não estou certo. No cd que agora ouço, Camp meeting, ele está acompanhado por McBride (baixo) e Jack DeJohnette (bateria). O trio interpreta temas de alguns dos mais representativos nomes do jazz: Ornette Coleman, Coltrane, Jarret, Miles, Monk e Powell. E o faz com eficiência. Vale a conferida.

Deixarei duas faixas ali no pocast do Jazz Contemporâneo

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quarta-feira, 15 de julho de 2009

Viva o rei!

Meus caros,

Confesso que Egoísmo quase me convence a não postar esse breve comentário. Sabe quando acontece de a gente encontrar uma coisa bela e desejar ardentemente tê-la só para si? Diante da experiência que vivenciei ao ouvir o que agora ouço, quase perdoei aqueles colecionadores que escondem belezas sem fim em seus porões. Não, não se trata de nenhuma raridade à qual o reles mortal não tem acesso. Foi até simples encontrar nas loja virtuais (já encomendei a minha) e em hospedarias como a 4shared e a rapidshare (mas aí sempre com qualidade sonora aquém do original).

Vamos ao ponto, chega de circunlóquios. Ouço, meus amigos, uma daquelas primorosas caixas da Mosaic, desta feita dedicada ao protótipo da elegância Nat King Cole - um rei gentleman, que soube cativar seus súditos com seus belos discursos musicais. Nessa caixa está tudo gravado por Nat para o selo Capitol, resultando em dezoito cds abarrotados do que há de melhor do great american song book. Encontra-se ali, para o deleite do ouvinte, desde o período em que Nat atuava apenas com seu trio (drumless) completado pelo guitarrista Oscar Moore e pelo baixista Red Challender até o período em que o trio se permitia acompanhar por orquestras ou se transformava em combos.

Sei que muitos dos amigos acham que o fato de alguns jazzistas se arriscarem na seara do canto seja apenas uma dispensável concessão ao grande público (lembro-me de ter ouvido Russ Freeman afirmar que foi contra a incursão de Chet Baker nas cantorias), servindo apenas para domesticar a performance dos músicos, tendo estes de restringirem-se a um pequeno espaço harmônico e ritmico para facilitar a vida do cantador. Pode ser, pode ser, mas que eu acho bacana, ah, eu acho, sim. O lance é o seguinte: vai ser difícil arranjar uma Bastilha para cortar a cabeça do nosso rei Nat Cole.

Difícil também é tentar selecionar músicas desse universo para postar no podcast. Saquei duas de momentos diversos: um blues fácil de ouvir e Route 66.
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domingo, 12 de julho de 2009

Count Basie?

Quando comecei a ouvir o disco The Basie Bunch - Cool too exclamei: esse é o Basie que eu curto! Basie com grupos pequenos e muito, muito swing. Maravilha pura! Mas eu estava enganado. Não se tratava de Count Basie mas sim de seus sidemen.


O disco é uma coletânea de gravações produzidas por John Hammond para a Vanguard. As sessões foram realizadas no período de 54 a 58 e lideradas por figuras como Jo Jones, Buck Clayton e Joe Newman. O principal fator que me fez dançar no teste promovido por Vinyl (sim, ele ainda está vivo - mas com muita preguiça) foi que os pianistas Johnny Acea, Nat Pierce, Bobby Henderson, Hank Jones e Ray Bryant, como destaca Jack Sohmer na página JazzTimes, tentam mimetizar a pegada de Count Basie. Fato que me deixou durante um bom tempo pensando que se tratasse do nosso herói.


A coletânea reúne 12 faixas de primeira linha. Daquelas que tornam difícil escolher qual é a melhor. Para vocês terem uma idéia do que se trata, sintam só os times que participam do disco: duas faixas estão aos cuidados do grupo de Joe Newman - com Frank Wess, Frank Foster e Matthew Gee; outras três com Jo Jones (em dois grupos distintos - duas com Lucky Thompson, Emmett Barry, Benny Green, Nat Pierce, Freddie Green e Walter Page, uma com Ray e Tommy Briant); Joe Williams e seus comparsas Berry, Vic Dickenson e Marlowe Morris cuidam de mais três (essas faixas foram retiradas de A Night At Count Basie's); As outras quatro saíram do disco Buckin' the blues, do grupo liderado por Buck Clayton: Vic Dickenson, Jo Jones e Earl Warren.


Gostei bastante da coletânea. A rapaziada consegue manter o espírito musical de Basie presente em todas a sessões. Indico sem restrições. O melhor: eu vi esse disco na Amazon (semi-novo/novo) por U$ 0,99.


Enquanto vocês não compram, ouçam ali no podcast quintal do Jazz.


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quinta-feira, 9 de julho de 2009

Bill Evans: Gus Wildi recordings

Gus Wildi, até onde eu sei, foi o fundador do selo Bethlehem. Um selo por onde circulou grandes nomes do jazz. Sob a tutela de Wildi foram gerados alguns momentos curiosos da história desse estilo, que têm sido editados e publicados para a alegria dos colecionadores.

Recentemente, eu descobri que um dos discos aqui comentados - Jimmy Knepper - foi resultado de sessões promovidas por Gus Wildi, que também foram publicadas como parte do legado de Bill Evans, intitulado Complete Gus Wildi Recordings (1957/1959), mas eu prefiro ainda achar que Bill está aqui mais como sideman do que como líder. O disco está mais para Mingus e Knepper.

Além das faixas publicadas no disco de Knepper (onde encontrei a sonoridade de Gene Quill, e que eu ainda acho as melhores dessas sessões), há várias outras em que se percebe um clima totalmente despojado dos músicos. Momentos como Nouroog e New York Sketchbook, em que são narradas passagens sobre o jazz, são uma divertida viagem. Outras passagens, como em determinado momento de Slippers, o clima é de total experimentação. E não se poderia esperar outra coisa quando estão reunidos Bill, Mingus, Chambers, Cobb, além do citado Knepper.

Outra curiosidade é a participação de Frank Minion, cantor underrated, que manda ver de um modo, digamos, "outside", em versões de So what, All blues e 'Round midnite (essas faixas foram gravadas pouco tempo depois do lançamento de Kind of blue, em 59).

Deixarei duas ali no podcast Quintal do Jazz

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segunda-feira, 6 de julho de 2009

Parker's mood

O disco que agora ouço - Parker's mood - foi-me apresentado por Lester, em um post sobre um dos festivais de jazz do ano passado. Lá no jazzseen, no entanto, só rolou uma faixa para abrir o apetite da moçada que iria assistir o show de Christian McBride. Acho que o disco, um belo trabalho, merece mais espaço - aqui e em qualquer lugar (na sua discoteca, inclusive).

Trata-se de uma bela homenagem a Charlie Parker feita em 1995 pelo trio formado por Hargrove, Mcbride e Stephen Scott. Esse disco está entre aqueles que eu costumo ouvir mais de uma vez (apesar de durar em torno de uma hora). O tratamento dado aos dezesseis temas interpretados agradou-me incondicionalmente. O fato de o trio optar por andamento mais lento do que nas gravações originais (na maioria das faixas) auferiu um clima intimista agradabilíssimo, que se amplia com a ausência da bateria - mesmo quando em up tempo (já imagino Olney dizendo que uma vassourinha cairia bem).

A velha dupla Parker/Dizzy, que sempre dobrava os temas, aqui são substituídos por Hargrove e ora McBride, ora Jones (em Dexterity, os três tocam em uníssono). Hargrove está em excelente forma em todas as faixas, destilando fraseados para mestre nenhum botar defeito. Vale destacar a performance de McBride e Hargrove em Steeplechase: o diálogo dos dois é de deixar o queixo caído (McBride usa o arco para tocar seu baixo). Aliás, esse é um traço marcante no disco: o diálogo entre os músicos é primoroso. Mas também tem momentos solos para os meninos mostrarem suas destrezas e sensibilidades com os instrumentos - McBride interpreta Red cross, Hargrove ataca de Dewey square e Scott vai de April in Paris.

Sem mais delongas, curtam o som ali no podcast Quintal do Jazz

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sexta-feira, 3 de julho de 2009

Phil & Quill

Às vezes, insidiosa e envenenadora Tristeza bate à minha porta. Ela tenta imitar um sorriso ao me ver. Entra como se dela a casa fosse. Esparrama-se na sala e reclama do meu uísque, dos frios parcos na geladeira, do filme na tv (ponto em que concordamos), da paisagem que desapareceu atrás do arranha-céu, da sexta-feira sem noite. Tenta me provocar, a maledicente.

Abro a garrafa e me sirvo de uma dose do desprezado Famous Grouse. Vou à discoteca e busco um disco (sei que Tristeza odeia jazz - pelo menos essa que me persegue - ainda mais quando é o tal do bebop). Escolho um que reúne dois grandes altoístas: Phil Woods e Gene Quill, seguidores da trilha parkeriana. Quill é menos badalado mas, para mim, seu sopro é merecedor de muitos aplausos. Em post anterior, em que ele atua ao lado do trombonista Knepper, eu já havia ressaltado a boa impressão por ele causada. No disco que agora ouço - Phil talks with Quill - gravado em 11 de setembro de 1957, os dois saxofonistas estão acompanhados por Bob Corwin (piano), Sonny Dallas (bass) e Nick Stabulas (drums) e promovem uma sessão especialíssima. O diálogo por eles entabulado é de altíssimo nível, o qual, como esperado, é insuportável para a indesejada visita, que sai reclamando do meu mau gosto musical.

Melhor assim. Só, com a minha música.

Ouçam ali no podcast Quintal do Jazz

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quarta-feira, 1 de julho de 2009

Para ouvir juntinhos

Há algum tempo, eu postei um disco do pianista franco-americano Jack Terrasson, que eu achei uma josta. Os amigos visitantes disseram-me que o rapaz tinha outros trabalhos muito bons e eu prometi procurar para ouvir (não gosto de generalizar a opinião sobre um trabalho específico). Procurei e, no meio do caminho, encontrei um disco - Close to you - de uma cantora sueca - Rigmor Gustafsson - que se fez acompanhar pelo trio do tal pianista.

O fato de ser dedicado a Dionne Warwick me deixou com um pé atrás. Quase desisti de vez quando vi o repertório escolhido: das catorze canções, nove são de Burt Bacharach, um compositor que eu costumo situar no plano da caretice (por mim poderia se casar com Dionne e produzir um monte de malinhas). Bobagem minha que se desmontou ao ouvir o disco. Logo na primeira faixa - Close to you - o receio de ser algo muito meloso caiu por terra. Os temas são excelentes e o tratamento dado pelo trio de Terrasson é mais do que louvável. A rapaziada que completa o trio, Sean Smith (Double Bass) e Eric Harland (bateria e percussão) mostrou como se faz um som sutil (aplausos para eles). A participação especial fica por conta do trombonista Nils Landgren, que não desonrou os velhos mestres do instrumento.

A sueca está trabalhando desde 1992 (cantora e professora de canto). Em 93 foi para Nova Iorque e, a partir daí, Rigmor construiu uma boa reputação participando de sessões com Fred Hersch, Ted Rosenthal, Randy Brecker, Bob Mintzer, Seanmus Blake, Reggie Workman, Mark Turner e com o baixista Avish Cohen. Esses nomes formam aquele tipo de cartão de apresentação que poucos trazem em suas carteiras. A menina tem uma voz sem "estrias", redondinha redondinha, envolvente, bem situada e com extensão e registro interessantes. Ela não faz, pelo menos nesse disco, o gênero jazzista que "quebra tudo", mas consegue trabalhar com sutil firmeza algumas passagens difíceis para o cantor mediano. É um daqueles discos que vocês poderão deixar rolar durante um jantar que ninguém vai reclamar - nem os jazzistas, nem os chegados num som mais pop (o fato de ser recheado por novos standards facilita a digestão). Mando aí ***1/2 estrelas pra menina e pro trio do pianista.
Confiram ali no podcast do Jazz Contemporâneo.
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