Já há algum tempo, eu tenho corrido atrás de um disco do Hank Crawford que me chegou aos ouvidos em um boteco de Vitória, situado na rua da Lama, chamado Cochicho da Penha. É nesse boteco que, às terças, acontece boas sessões de jazz (no mesmo dia, eu toco no Balacobaco, outro bar de Vitória). Pois bem, o Geraldo, dono do bar, não tinha os dados precisos sobre o disco, a não ser o nome de Hank.
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O que me atraiu mesmo foi o solo de barítono em uma das faixas. Achei o saxofonista um rolo compressor, voluptuoso, demolidor (pensei que fosse o prório
Hank, já que ele encarava esse instrumento na banda de
Ray Charles). Durante minhas buscas, encontrei uns três ou quatro discos de
Hank Crawford, todos ruins. Chatinhos, mesmo - páreo duro para música de elevador.
Mas, num certo dia ensolarado, eis que surge o super Sérgio Sônico (esse, sim, é o cara) e me oferece um link onde eu poderia encontrar o disco More Soul, gravado em 1960. Ao ouvi-lo sorri de orelha a orelha: era o dito cujo. Segundo o Allmusic, esse foi o primeiro disco de Crawford como band leader, após sair da banda do Ray Charles (que contribui com alguns arranjos). Ao contrário dos outros que eu ouvi, esse disco é jazz de muito boa qualidade, interpretado por um time underrated de músicos (alguns deles também tocaram com Ray). O septeto incluía David "Fathead" Newman (t), Leroy "Hog" Cooper (barítono - esse é o cara que me impressionou com seu solo), John Hunt e Philip Guilbeau (metais), Edgar Willis (baixo) e Milt Turner (bateria).
More soul é um nome apropriado para esse disco, pois o time está com tudo à flor da pele. Os fundamentos do jazz estão transbordantes: swing, blues e, de quebra, boas pinceladas de soul. O resultado é envolvente e até redime Hank dos pecados cometidos em discos posteriores. Amém, senhores.
Deixarei duas faixas no podcast Quintal do Jazz.
O link do Sérgio está
aqui