Assim, a queima-roupa, sem mais delongas, antes do esperado, eis que pinta mais um contículo, que, como o do Salsa, contraria algumas leis físicas: Como coube tanto em tão poucas linhas? A nota certa, digo, a palavra certa no lugar certo? Arte de grandes músicos, arte de grandes escritores. Desta vez, a mão que embala o texto é do literato e editor-chefe do blog ipsis litteris, Grijó (jazzófilo de primeira, escritor não menos). Sentimo-nos honrado com sua presença em letras. Não deixem de ouvir a trilha sonora: Ask me now (uma versão com Monk e outra com David Murray, que, de acordo com Salsa, é um saxofonista apreciado pelo nosso escritor).
"Monk no Céu"
Nem sei por que estamos todos aqui, nesse estranho labirinto em que música parece não existir, de fato, a não ser que esse silêncio, como diziam alguns, há tanto e há muito, possa ser chamado de música. Não é, claro. As sensações, aqui, misturam-se, essa é a verdade: degusta-se o que deveria ser visto; vê-se o que anteriormente era prazer tátil; ouve-se o que é edível e as trocas se perpetuam e parecem não confundir quem por aqui vive. Alguém me disse – ouvi tais palavras com as mãos – que sempre foi assim, e assim será mantido. Não, digo com minha própria voz, e aproximei-me do piano que jazzia triste, e que, como qualquer outro, tinha teclas para serem tocadas com os dedos, e dedos para tocarem almas. Não houve resistência. Sentei-me, vislumbrei o teclado como se fosse ele as vértebras de um animal antigo, esquecido. Pisei os pedais delicadamente – mal sabem eles o que eu podia (e ainda posso) fazer com os pés. E com as mãos? Ask me Now, penso, enquanto todos dizem sim. E assim fui, e assim fomos, pelo resto dos tempos, até que todos cheguem.
10 comentários:
Eu é que agradeço a oportunidade, Vinyl.
A honra é minha.
E Murray - Salsa tem razão - é dos meus preferidos.
Abraço.
Você tem o disco do Murray com Takase?
Passando lá no Jazzseen, vi o convite para ler os "contículos", como foram chamados , de Mr. Salsa e Mr.Grijó. Valeu a viagem: texto curtos, boas idéias , muito bem desenvolvidas! Parabéns!
Gostei do lirismo. Um bom improviso, Grijó. O nível do blog subiu umas três estrelas depois dos contos.
Como sempre, venho para soprar e bater. A excelente resenha-conto de Mr. Grijó é apetitosa, como se poderia esperar. Salgou apenas no pianista narrador utilizando pedais, coisa que Monk nunca utilizou. Ele ficava batendo com os pés no chão e, volta e meia, levantada e ficava dando voltas em torno de si mesmo. Procurando, provavelmente, a blue note...
No céu é diferente, Lester.
JL, caríssimo.
Em literatura tudo é possível. Até tocar com os dedos curvos.
E não é resenha.
Abraço
Doideira...Monk está no céu? Deve estar quebrando tudo...ótimo contículo.
Muito bem, pessoal; parabéns! os colaboradores/comentaristas estão valorizando este blog - que já era ótimo - e agora conta com o grande conhecimento lítero-musical desses outros blogueiros amantes do jazz.
Estou aprendendo muito com todos os "mestres".
O saxofonista Frank Morgan juntou-se a Monk no céu.Ele faleceu no dia 14 de dezembro,tinha 73 anos.Descanse em paz.Edú
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