quinta-feira, 12 de março de 2009

Steve Swallow

Quem teve a oportunidade de ver e ouvir o baixista Steve Swallow sabe que ele é um daqueles músicos de alma inquieta, daqueles que sabem que a música traz em si um incontível movimento. Swallow é daquele tipo de músico que se arrisca em regiões limítrofes do oceano musical, regiões perigosas em que o risco de naufrágio é iminente. Região da qual costuma surgir alguns monstrengos, algumas criações cujas estruturas podem assustar àqueles que se deparam com elas. Mas é daí também que surgem algumas inusitadas formas que nos tomam de assalto com suas incomuns belezas.


Damaged in Transit é um disco curioso, gravado em 2001, que soa com uma boa dose de lirismo e tradição jazzística (fez-me lembrar, em alguns momentos, as peças apresentadas por Carla Bley no último TIM Festival). São nove faixas nominadas Item 1, D.I.T, Item 2, D.I.T. e assim por diante, nas quais são exploradas diversas nuances rítmicas mas sem excessos experimentalistas. Ao ouvir o disco, enquanto observava a capa, fui levado a pensar nos (des)caminhos da vida urbana, nas suas idiossincrasias, nos desencontros, no fascínio e na melancolia que circulam em suas ruas ou se encerram nos seus apartamentos. Não consegui desligar. Fui capturado pela sonoridade do trio e pelos devaneios por ela suscitados.


A formação é aquela já aqui elogiada em outros momentos: baixo, bateria e sax. O tenor fica ao encargo de Chris Potter, um dos grandes nomes do saxofone contemporâneo, e a bateria - uma máquina rítmica, senhores! - é devidamente pilotada por Adam Nussbaum.


Deixarei um ítem no podcast do Jazz Contemporâneo.


O link costumava ser esse: Avax

16 comentários:

figbatera disse...

Muito bom, Salsa!
Esse batera é mesmo de "arrasar"...

Salsa disse...

Também achei, Olney. Sem contar a elegãncia do som de Swallow: Eu tive o prazer de assistir dois shows: com Scofield e com Carla Bley. A sua performance é sempre primorosa. Potter, por sua vez, é um mago do saxofone. Gostei do disco (aliás, fui eu quem arranjou a cópia pro Vinyl).

Sergio disse...

Salsa, enquanto vc ficou/ou ainda está as voltas com o transtorno de perder sua lista de álbuns mp3, q não sei como arquiva - sem querer contar vontagem, mas me solidarizando... se um acidente desses acontece comigo, amigo, nem sei o q faço. Detalhe: moro no 10º andar. Daqui pra ser mais feliz no asfalto, c sabe, é um pulo.

Enfim: toc, toc, toc na madeira. Todas as vzs q vejo sugestões de artistas noutros blogs e o nome lembra-me q posso ter alguma coisa, corro no meu arquivo no word pra confirmar se sim ou não. A minha lista, Salsa, no word, está com 2527 páginas - no DVD de arquivo mp3, número 477... E eu disse DVD de arquivo, mesmo, não CD. Então imagine se eu perco a minha "listinha".

Na conferência sobre Steve Swalow, vi q além do disco aqui postado, tenho um com Carla Bley e um outro grifado desse jeito no arquivo do word:
"STEVE SWALLOW (DECONSTRUCTED) 1996 !!!!!!!!!!!!!!!"

Vou reconferir sua sujestão. Foi muito bom ter vindo aqui pq, é tanto disco, pacero, q já não me lembrava mais nem q instrumento o Swalow tocava.
Abraço!

Ah!, adorei a versão Black Dog do TGB. Gostei do álbum quase todo, mas o quase fica por conta de alguns experimentalismos meio muito estudo e pouca música. De qualquer modo foi uma exelente dica no cômputo geral.

ReAl disse...

Cara, você já tem música para ouvir durante o resto de sua vida. O Salsa tem, no máximo, uns dois mil discos de jazz. Eu tenho mil e poucos (entre lps e cds) e já não consigo tempo para ouvi-los.

Sergio disse...

Pois é, rapá. É muito mais disco do que eu posso ouvir... Mas a coleção é pra ser doada e muito bem aproveitada...

Veja agora, Vinyl, agora tou ouvindo um Bill Hardman (Saying Something) 1961, raridade lá do fundo do baú Mesmo! E q trumpetista estiloso, camarada. Como assim, esse cara completamente esquecido só ter umas 3 ou 4 fotos/páginas en passant na internet? No allmusic, nem overview o cara mereceu... Tá na hora de chamar a enciclopédia viva do Jazz: "Edu!"

Anônimo disse...

Lição q aprendi na vida:quanto menos discos vc acumula , melhor seu apreço a música.Depois q passei dos 10 mil cds e com mais de mil peças lacradas a espera da audição - sem nenhuma cópia ou download ilegal - percebi a dimensão da compulsividade.Nos últimos dois anos comprei apenas um cd - mês passado e um dvd em janeiro recebendo uma deliciosa sensação de bem estar.Quanto a ser enciclopédia é um enorme exagero q recebo como uma demonstração de gentileza.Apenas registrei alguns conhecimentos nesses anos de peregrinação perseguindo o jazz ao vivo e conhecendo as boas e nem tão boas lojas de discos deste globo terrestre.

Anônimo disse...

Prezado Sérgio ,

Bill Hardman era um trompetista versátil q sabia ser ricamente lírico quando precisava,como apresentar incandescente energia num inesperado improviso.Morreu de forma precoce – aos 57 anos em Paris onde residia em 1990.Membro da terceira geração de trompetistas originados da criação do bebop (final dos anos 40) incorporou influências de Dizzy Gillespie, Miles Davis,Fats Navarro e Clifford Brown.Hardman , natural de Cleveland desde de adolescente já era um músico profissional trabalhando com Tadd Dameron e a banda de R&B liderada por Tiny Bradshaw durante o inicio dos anos 50.Adepto de experiências inovadoras na música tomou parte junto com o saxofonista Jackie Mc Lean do grupo Groundbreaking Bands.Foi membro, da mesma forma, dos grupos de Charles Mingus nos anos 50 e 60.Outra associação longa de Hardman foi com o baterista Art Blakey, o pianista Horace Silver e o saxofonista Lou Donaldson.Nos anos 70 formou grupo de hard-bop com o saxofonista Junior Cook.Fundando - na companhia de Bill Lee ( pai do cineasta Spike Lee) e o baterista Billy Higgins - o Brass Company , grande formação dedicada a arranjos elaborados de grupo.Em 1988, Hardman se muda com a esposa para Paris vindo , lamentavelmente, a falecer, dois anos depois vitima de uma hemorragia cerebral.

Sergio disse...

É, Edu, vc está certo, pq tem experiência. Nessa nova fase, downloads grátis (ou ilegais e isso é uma velha e sempre ótima discussão) devo ter juntado bem mais de 10.000 discos. Garanto que escutei 80% deles, mas uma maioria, sem a atenção devida. Por isso, vc tá certo: quanto menos discos, sabendo comprá-los, melhor será a compreensão da obra e, consequentemente, a satisfação. Mas falo sério quando digo q a coleção será disponibilizada. Só para pensares a respeito: imagine o q um poderoso HD de um tera, com as (a venda) atuais dimensões de uma caixinha de música, das antigas, pode fazer! Agora pense em 50, 80 HDs de um terá. Em comunidades pobres de nossas cidades... Qual o custo disso? Mínimo, não? E a acessibilidade? É um projeto antigo meu, que venho maquinando há um tempo. Por isso quero e baixo tudo que é importante. Principalmente no gênero jazz. Já que de rock e pop, creio saber e conhecer quase tudo q vale à pena. E a MPB, bem a MPB, é assunto mais delicado.

Por isso q, só falando por mim, agradeço penhoradamente tê-lo como o amigo enciclopééédico! Afinal, uma discoteca colossal, com todos os artistas e obras importantes dos mesmos é muito bom, mas, melhor será, se além dos álbuns, houver informação na nossa língua para dar conteúdo ao todo.

Daí que... Valeu mesmo essa aula sobre o Hardman. Pelo pouco que ouvi desse cara, vc há de concordar que tem espaço garantido em qualquer discoteca q se pretende ser completa, cheia de conteúdo.

Em tempo: quanto ao “enciclopééédico!”, nunca disfarcei o fanfarrão q sou, né?

Salsa disse...

Prezado Sérgio,
Hardman gravou muito como sideman. fiz uma rápida pesquisa nos meus discos e achei vários (Mal waldron, McLean, Donaldson, Blakey - todos citados por Edú). postarei algum, em breve.

Anônimo disse...

Prezado Sérgio,
meu conhecimento enciclopédico ruiu de forma pública quando cometi a tremenda gafe de prolongar por três meses a vida de Miles Davis em 1991 na resenha escrita para o Jazzseen.Devido a um informado visitante,q não quis se identificar, consegui perceber “a mancada”.

Anônimo disse...

Sou absolutamente a favor de acervos públicos.Uma das maiores coleções de jazz e bossa nova, senão a mais selecionada delas, de propriedade do radialista e divulgador de jazz ,Carlos Conde, por ocasião de seu óbito , foi “fatiada” entre diversos compradores nos mais de 25 mil títulos em cds e 50 mil lps.Faltou interesse público numa ação efetiva das entidades culturais governamentais para a compra do acervo e sua disponibilização para pesquisa.

Sergio disse...

É, Edu, mas vc sabe q para armazenar uma coleção dessa monta é preciso espaço físico. Sem contar que o acesso teria que ser limitado, ao local onde o acervo estaria lotado - literalmente lotado! -, para não danificar as peças, as consultas teriam que ser locais, restritas aquele espaço. Já uma coleção digitalizada a consulta seria de uma praticidade absoluta. Por isso corro atrás, não só dos discos, como das capas e resenhas e tudo o mais.

Enfim, se vc um dia quiser dar uma olhada nos meus aqrquvos no word, é só pedir que zipo e te passo. Consultar o arquivo requer apenas memória. Por exemplo, pensas num artista, com om uso da ferramenta, "localizar" vc encontra tudo q se dispõe sobre aquele nome. Ainda não foi possível organizá-los por artistas, justo pq sempre aparecem novidades, daí a necessidade desse tal HD monstro (muito menor q uma caixa de sapatos) onde caiba tudo pra se organizar, 'todos' os Coltrane, 'todos' os Thelonious e assim por diante...

Mas a idéia é bacana...mas as gravadoras vão chiar...mas os governos e iniciativa privada, naturalmente, não aceitariam patrocinar... Então a coisa tem que partir de iniciativa de pessoa física. Por isso ainda não dei o start no projeto. E enquanto nada acontece, vou agregando conteudo a coleção, unindo o útil ao agradável. É por aí.

Anônimo disse...

Sérgio,
aqui em São Paulo nós temos o Centro Cultural q fica ao lado da estação Vergueiro do Metrô.Foi iniciativa daquele ex- prefeito , ex-governador, agora deputado federal q costuma dizer q criou o oceano atlântico e seus afluentes.Foi inspirado no Centro Georges Pompidou em Paris , mas infelizmente é um reles primo de terceiro mundo.Lá existe uma discoteca pública onde só é permitido a pesquisa sem produção de cópias.No Centro Cultural existe espaço físico sobrando para abrigar um grande acervo de gravações mas suas obras persistem inacabadas ainda hoje num espaço de mais de vinte anos.Já cheguei a sondar a possibilidade de sugerir às autoridades competentes a compra de um acervo.Mas desisti , para não haver qualquer nodoa de conflito de interesse.Vou precisar da tua ajuda pra breve sim.Pretendo “comprar” um down load legalizado e não sei como coloco isso em cd após a efetivação do negócio.A propósito,aos interessados, na biblioteca do Centro Cultural todas as edições da revista Playboy - desde a numero um até a do mês corrente - estão franqueadas para consulta pública.

Sergio disse...

Disponha, Edu.

Salsa disse...

Isso, sim, é importante: as popozudas da playboy. Patrimônio e orgulho nacional. Bem que eu só lia as entrevistas e a parte cultural.

Anônimo disse...

Fui assinante por seis anos e sou amigo de um ex-editor executivo q me contou dezenas de histórias dos bastidores da redação, mas , sinceramente, quando desempacotava a revista ia na hora visualizar as formas da peladona do mês.