domingo, 8 de fevereiro de 2009

Jazz contemporâneo?

Jazz contemporâneo, né? Então, tá.

Lembro-me, como se fosse hoje, que um dos momentos mais arrebatadores proporcionado por um jazzista, por mim presenciado, foi o show de Joshua Redman (trio: baixo, sax, bateria), em Ouro Preto, em 2007. O cd, por isso mesmo, acabou perdendo a sua força. Parece que, para mim, o brilho da apresentação ao vivo ofuscou o disco (que, reconheço, ainda se mantém como um excelente disco).

Mas, dia desses, encontrei outro cd, de outro saxofonista, que, ao meu ouvido, soou com toda a força de uma boa apresentação ao vivo, mesmo sendo um disco de estúdio (destaque-se: eu não assisti o show). Refiro-me a James Carter. O disco é JC on the set, gravado em 1993, tendo como sidemen Craig Taborn (Piano), Jaribu Shahid (Bass) e Tani Tabbal (Drums) - músicos que, vocês ouvirão, impõem respeito.

Nesse disco, James Carter está simplesmente selvagem, voluptuoso, e mostra-se dono de uma inventividade que deus legou a alguns dos seus poucos escolhidos representantes aqui na Terra. O que mais dizer do seu modo de soprar? Sim, Carter sabe como poucos explorar os harmônicos (graves, médios e agudos) de um saxofone (alto, tenor ou barítono), o que se torna sua marca registrada. Também percebe-se nele uma profunda admiração pela velha geração. Vocês podem confirmar isso ouvindo o modo como ele interpreta as baladas (Hawkins se insinua em vários momentos em seu modo de tocar).

É um disco em que a tradição se amalgama com a dicção contemporânea de modo espetacular(reparem na introdução de Caravan, em que Carter detona o barítono), sem se tornar aquela coisa franksteiniana e sem graça que vez e outra nos é apresentada por alguns músicos da mesma geração de Carter. Talvez os amigos, depois de ouvi-lo, questionem se esse é realmente um disco de Jazz contemporâneo. Para mim, é. Não se tocava desse modo nos anos quarenta, cinqüenta nem nos sessenta. Com certeza.
Dêem uma conferida ali no podcast do Jazz Contemporâneo.

O link: HERE!

7 comentários:

figbatera disse...

Eu também estava lá; essa apresentação do Joshua em Ouro Preto foi mesmo espetacular!
E foi após o esse show que nós nos conhecemos pessoalmente, né, Salsa? Antes, já trocávamos "figurinhas" através do Jazzseen.
Quanto ao som no podcast, achei muito bom tb!

Abração!

Salsa disse...

Grande fig,
Vamos ver se a gente se encontra por aí. Acabou que eu não fui ao Rio curtir o som do povaréu.
Lester me apresentou outro disco do Carter, também muito bom: Jurassic Classics.
O fato é que tem uma leva de bons saxofonistas circulando na praça. Tentarei mostrar mais alguns.

Anônimo disse...

James Carter é o mais privilegiado executante da família dos saxofones desde Rashan Roland Kirk.Esteve em São Paulo se apresentando em forma de “organ trio” (guitarra, órgão, saxofone).Nascido no contemplado berço musical de Detroit, tem como ídolos Dave Murray e Johnny Griffin.Esse disco é excelente , assim como Chasin The Gypsy e Conversin with the Elders (lançado criminosamente no pais na forma de mirrada divulgação e tiragem limitada ).Carter é um velocista de 100 m , apresenta uma explosão ,velocidade e virtuosidade absurda.No entanto, “em provas mais longas”, sinto que lhe falta certa consistência.Como demonstra o duelo entre ele e Joshua no dvd q Clint Eastwood é homenageado no Carnegie Hall.

Anônimo disse...

esqueci de assinar, sorry.

Salsa disse...

Prezado Edú,
Eu tenho esse dvd. É, realmente, briga de cachorro grande.

Don Oleari disse...

Mr Salsa:

Fora rótulos, contemporâneo ou não, ele é "dusbão"? Você, com seu profundo conhecimento da matéria, diz que sim. Ouve-se e confirma-se. Taí, um cara dos anos noventa sorvendo,como diz você, num dos deuses do passado - o marvelous Coleman Hawkins.
O cara é rascante e quase me tira o fôlego.
E do Joshua, vocês já mostraram alguma coisa?
Seu monki de carteirinha, Oleari.

Salsa disse...

Tem muita gente boa por aí, Oleari. A gente é que não consegue acompanhar a proliferação.