sábado, 26 de abril de 2008

New way to die

A quarta-feira, dia em que dedico oito/nove horas à tarefa de ouvir música, momento prazeroso, foi bastante tensa na semana passada. A minha sempre tranqüila viagem para São mateus, onde ministro singelas aulas, fugiu à normalidade. Estava no ônibus, semi-adormecido, ouvindo o disco Heard it all before, de Jamie Cullum, jovem pianista e cantor inglês de sugestivo sobrenome latino, quando um baque interrompeu minha audição de sua interpretação de night and day. Pensei em um pneu, mas não foi. Atropelamos cavalo e cavaleiro. O primeiro finou-se ali mesmo, o segundo sobreviveu - muito machucado. Seria suficiente para um bom período. Mas não parou por aí.

À tarde, o retorno ao lar. Dessa vez embalado pelo guitarrista Martin Taylor, Solo (2002), senhor de uma técnica mais que convincente - daqueles que dispensam acompanhamento. Ouvia uma versão excelente de In a mellow tone quando, pela janela, vi um caminhão com a lateral esquerda bastante danificada, motorista ainda dentro. Pouco a frente, fumegante, uma dantesca escultura de metal contorcido. Alguém deveria estar lá dentro. Agora, metal, ossos e sangue se unem. Transformers. Entre ohs e repentinas conversões pensei sobre nossos caminhos. A tecnologia só nos fornece novos modos de morrer. Apesar de todos os esforços para domesticá-la, a morte se mantém patética. Mais, até.

Voltei-me para a música, dormi e não sonhei.



20 comentários:

cd disse...

Caramba, Salsa, faltou Toni Tornado cantando Br 3.

Anônimo disse...

Salsa ,
Segundo as sua palavras "A tecnologia só nos fornece novos modos ... Apesar de todos os esforços para domesticá-la... " Gostei da música ....mais como faço para baixar ? Abraços Edinho

Sergio disse...

Não fosse a tragédia rodoviária, tlvz vc opinasse mais sobre a música de Jamie Cullum, ou não? Foi justo a tragédia que te fez marcar o momento coincidente com a música que ouvia, daí a tê-lo citado?

Gosto muito da forma como Jamie trabalha os clássicos ou transforma, por exemplo, a música de Jimi Hendrix em standard. Embora a prática não seja inédita, eu sei, foi Jamie Cullum quem atraiu um público menos habituado e mais diversificado a essa modelo de jazz, concorda, Salsa?

Acho, tbm, que a partir do super sucesso alcançado pelo pianista galã, começou-se a torcer o nariz para ele. Será que é aquela frase do Tom Jobim se confirmando? Referindo-se aos brasileiros, em particular, de que as pessoas não gostam de quem faz grande sucesso? Ou o tipo “rostinho bonito” atrapalharia o reconhecimento do artista?

Mas, não vim por isso. Já que estava aqui e jamais vi, em blogs especializados em jazz, um apreciador do gênero citando Jamie Cullum, aproveitei a deixa.

Gostaria saber de vcs mesmo é o nome que se dá para aquela ferramentinha, no formato da borracha de desentupidor de pia, para dar um efeito de pedal uaua nos instrumentos de sopro.

Aproveitando o ensejo os convido a experimentar, no meu blog, a banda Bonerama. É, no mínimo curiosa a maneira como interpretam clássicos do rock e jazz à maneira New Orleans-metais-em-brasa eletrificados com, olha só, pedais uaua de verdade acoplados aos trombones. Passem por lá.
Abraços, gente.

Salsa disse...

Prezado Sérgio,
Eu estava realmente ouvindo os temas citados. Ainda não conheço os trabalhos de Cullum, mas, antecipo, achei legal o que eu ouvi. Adoro quando a moçada se arrisca na seara jazzística. Ao fim e ao cabo, o jazz é quem ganha com isso. Se dependesse de alguns xiitas auto-intitulados jazzófilos que circulam por aí, o jazz já estaria sepultado há muito tempo.
Dei uma passada no seu blog e já estou providenciando a audição.
Edinho,
Dessa vez eu não sei realmente como fazer. talvez, se você for ao site hospedeiro ishare.rediff.com e digitar o nome da música... sei lá.

Sergio disse...

Valeu, Salsa. Há muito sei q não se pretende, tenta, ou se diz membro do grupo contra-evolucionista dos jazzófilos - uma espécie de TFP musical. Mas vc há de convir que Jamie Cullum é assunto make evitado entre o pessoal que curte o gênero.

Bem, esqueceu-se do mais importante das minhas dúvidas: o nome da ferramenta que se simula o efeito uaua nos instrumentos de sopro...

Quanto ao Bonerama - e esse é um recado a todos q a quiserem conhecer - pus lá, nos moldes do Jazzigo, uma pala. A versão "brass orchestra" deles para a música Ocean do Led Zeppelin. Daí q não precisa baixar o álbum inteiro para se ter idéia do som dos caras.

Salsa disse...

Surdina, esse é o nome: surdina.

cd disse...

Salsa,
Não digo em relação ao Cullum, que desconheço (pelo que parece, ao menos tem um quê jazzístico acentuado), mas tem algumas coisas que se dizem jazz que me causam arrepios. É um tipo de assassinato e expropriação do nome - como naquele filme.

Sergio disse...

Cd, Cullum não está no nível rasteiro de oportunistas que descobriram o filão jazzy para explorar o mau gosto dos incautos, assim como (um exemplo só): Return To Forever e Weather Report, não deve ser colocado no mesmo saco de bugigangas como Spiro Giras e Kenny Gs... Este é o problema. Os puristas podem não gostar. Um direito que lhes assiste. Mas talvez (eu disse talvez) o fato de vc não ter tido curiosidade de ouvir Jamie Cullum, possa ter relação ao que puristas radicais tenham dito ou escrito antes a respeito dele.

Aliás foi por isso que levantei a lebre Jamie Cullum: apenas pra dizer que pesos e medidas devem ser respeitadas.

Anônimo disse...

Se não fosse o desastre, a gente teria que aturar mr.Salsa falando sobre um tal Jamie Cullum. Para com isso! O Jazzigo ia tão bem....

Sergio disse...

... E nesse ponto de vista podemos considerar um homem e seu cavalo pobre cavalo, os restauradores da paz do Predador! Só que ainda há um detalhe surgido nesta postagem que não encerra a discussão (uma discussão aliás que nem aconteceu...)

Enfim... Salsa, onde diabos vc arrumou esse disco raríssimo do Jamie Cullum? Não existe no Allmusic, não existe no Amazon (e é ruim, hein, de não existir um álbum no Amazon...), quase não existia nada na internet... E se não fosse uma pesquisa avançada que iniciei, eu diria que esse "Heard it all before" fora feito de encomenda pra você, amigo. Mas a tal pesquisa matou o mistério:

"Pianista, cantor e compositor, Jamie Cullum começou cedo a sua carreira discográfica, que revela um cruzamento entre a pop e o jazz, à semelhança do que fazem artistas como Harry Connick Jr. e Norah Jones. Aos 19 anos, grava o seu primeiro registo, 'Heard it All Before', numa edição de autor limitada a um número reduzido de exemplares."

Como, Salsa?!, conseguistes essa peça de colecionador?

Se preferir pode me mandar a resposta (juntamente com o álbum) por emeio. Que é pra não incomodar pureza d'alma dos justos...

Chef Buonaboca disse...

Colegas blogueiros,
Retorno após uma estadia no inferno (não segui minhas recomendações e comi em boteco obscuro). O blog céu da boca está de volta com as indicações confiáveis (ou quase) sobre botecos de Vitória.
Chef Buonaboca

Salsa disse...

Prezado Sérgio,
Ganhei esse disco do meu irmão. Ele trouxe da Europa, há um bom tempo. Depois eu arranjo uma cópia.
Manda o e-mail.
Buonaboca,
Soube da sua bad trip "gastronômica". Bom saber que você sobreviveu. Depois eu passarei lá.

Sergio disse...

Valeu, Salsa! A gente brinca e depois fica sem jeito com resposta tão gentil.

Pelo menos dei-lhe uma informação importante. Um dia esse álbum pode valer uma pequena fortuna e talvez vc nem soubesse que tinha um disco tão raro.

Salsa disse...

Ô, Sérgio, tava de sacanagem. Eu não tenho o original, mas sim uma cópia mp3. De qualquer modo, está valendo a oferta.

Anônimo disse...

Se vocês ficarem escutando estas porcarias de Jamie Cullum, vão acabar passando mal igual ao Chef Buonaboca.

Guzz disse...

Martin Taylor é um gigante na guitarra, estilo próprio, toca como os dedos assim como Joe Pass no final da carreira.
Este disco solo saiu em DVD e realmente é brilhante. E guitarra solo exige absurdos do músico senão fica chato, monótono e Martin Taylor sabe fazer bonito, muito chord melody, muito walking bass.

E que viagem foi essa ai hein ?!

Abs,

Salsa disse...

Foi daquelas que deixam a gente em dúvida sobre as viagens. Por exemplo, eu vou ao festival do Rio das ostras... Ir de carro é uma opção que tem me incomodado.

Guzz disse...

Beleza Salsa
Eu devo ir este ano também.
Nos falamos até lá !

Sergio disse...

Salsa, valeu a oferta lá do no SÔNICO. Na verdade tinha escrito outro dos meus longos comentários, hoje de manhã, por conta da visita q fiz ao charutojazz hoje, e encontrei uma postagem com mais de 30 comentários, sobre o seu (ex)álbum raro - já que é mp3. Mas quando dei enter a conexão caiu e me deu preguiça de reescrever.

O engraçado sobre o que escrevi e não enviei, era sobre o preço desse álbum do Cullum. Pensei algo como: pobre é uma merda! Eu achando que o álbum poderia valer (no futuro) uns 500tão (de real!)... e o disco nos dias de hoje, já foi arrematado por + 600 libras!... Pobre é uma pobreza...

Meu emeio é produzideia@yahoo.com.br

Mas vc tbm pode deixar o link nos comentários do Sônico, na boa.
E, desde já, obrigadão!

Francis J. disse...

Ainda bem, Mister Salsa, que a superstição à francesa "Jamais deux sans trois" não deu em você!

Obrigado pelos comentários no meu blog. Valeu.