sexta-feira, 28 de março de 2008

Vai um Herbie aí?

Hoje, eu deixarei o morticínio de lado. Não matarei ninguém neste post, embora alguém possa ficar "mortim" de vontade de ouvir os discos sobre os quais alinhavarei algumas poucas palavras. Os cds são de Herbie Mann, figurinha com a qual eu estabeleci contato auditivo lá pelos lados do final dos anos setenta/início dos oitenta. O lp que eu comprei, naquele momento, tinha um quê na sua elaboração que me soou estranho. Enfim, eu não curti muito o som. Depois disso, só nas páginas dos Reals books, onde encontrei alguns temas de sua autoria, como, por exemplo, Memphis underground. O fato é que o cara tem uma discografia quilométrica como líder (só em 1957 gravou uns dezesseis discos). Se acrescentarmos os discos nos quais ele foi apenas sideman a quilometragem aumenta ainda mais (eu possuo vários desses).

Recentemente, visitando a discoteca do Reinaldo, deparei-me com dois discos interessantes: Just wailin' e Great ideas of western Mann. Neste, gravado em 1957, Herbie inaugura, no cenário jazzístico, o clarinete baixo. À primeira audição, lembra um elefante enamorado (se compararmos com Dolphy, que três anos depois também utilizou tal instrumento, e soava como um elefante no cio). Por favor, não entendam a imagem como algo pejorativo, pois um elefante, ao contrário do que dizem, não incomoda ninguém. O som grave e aveludado é surpreendente e consegue cativar - depois de algumas audições. Não foi amor à primeira vista, mas, com o tempo, passei a achar que as frases rouquenhas de Herbie criam um contraste interessante com o trompete de Jack Sheldon, propiciando um clima especial para o piano gotejante de Rowles (gotas refrescantes, enfim). O grupo se completa com o baixista Buddy Clark e com o baterista Mel Lewis, que dispensa apresentações. Creio que vocês se divertirão com The theme, composição de Miles.

Just wailin', de 1958, me cativou com mais facilidade. Ali, Herbie está no seu território: a flauta. O clima bluesy que domina as faixas foram muito bem trabalhadas pelo nosso herói. O som grave ficou por conta do tenor de Charlie Rouse, de memoráveis gravações com Monk, e que também é daqueles que sabem tirar proveito do bom e velho blues (para mim, Rouse é o sideman por excelência - parece que o peso da liderança compromete suas performances). A presença de Burrell com sua guitarra confere um grau a mais no clima das sessões, que ainda contou com a participação do pianista Mal Waldron, do baixista George Joyner (?) e do baterista Art Taylor. Se compararmos com o disco anterior esse pode ser considerado mais "tradicional", mas o blues mexe comigo e afeta meu julgamento. Eu gosto de blues e ponto. Mas, deixando a paixão de lado, acho até que o Great ideas é mais arrojado, mais ousado, mais consistente, mas isso não implica a derrisão do Just wailin': em Blue echo, confiram, o pau come solto. Se vocês ficarem em dúvida, levem os dois para casa.

18 comentários:

REFLEXOS di LUNA disse...

Passei por aqui. Qual é o problema? Não se consegue matar o jazz de raiz?

Anônimo disse...

Valeu mr.Salsa. Dois ótimos discos de Herbie Mann. Realmente Just Wailin' é menos ousado e mais bluesy do que Western Mann, o do clarinete baixo "do elefante no cio". Gostaria ainda de fazer duas observações:
1) A faixa 7 do disco Great Ideas of Western Mann deveria ser "A Sad Thing", mas, devido a um erro crasso da gravadora, foi incluida na referida faixa 7 "Blues for Tomorrow", uma gravação de Coleman Hawkins que não tem nada a ver com o disco de H.Mann;
2) O baixista George Joyner, do disco Just Wailin', interrogado por mr.Salsa, não é nada mais nada menos do que Jamil Nasser.

Anônimo disse...

Acho que equivoquei-me. O clarinete baixo do Herbie Mann no disco Western Mann, como diz mr.Salsa: "parece, a primeira audição, um elefante enamorado". Ou é elefante no cio? Sei lá, quem entende de elefantes é mr.Salsa.

Anônimo disse...

Desculpe a minha ignorancia :Como faço para baixar essas maravilhas ?
Penhorado desde já agradeço ,Edinho

Anônimo disse...

Respondendo ao Edinho, esses cds que têm sido resenhados no Jazzigo foram adquiridos via internet através do site e-music, à razão de 15 dólares por 65 faixas. Quaisquer 65 faixas, não importa o tempo delas nem se provêm de 65 álbuns diferentes. Reinaldo Santos Neves.

Salsa disse...

Andei revisitando Herbie após essa audição. Acho que ele merece destaque. Seus discos, mesmos aqueles mais "smooth", são agradáveis. Acabei de ouvir Memphis underground: meus jovens amigos músicos curtirão.

ReAl disse...

Eu tenho Memphis Underground, ainda em vinil.

Sergio disse...

Salsa, eu conheço Herbie Mann desde o inciciozinho dos 70. Talvez não tenham sido as melhores escolhas q fiz dos seus discos, pq nunca fui fãzão. Outra coisa é que só sabia que o cara tocava flauta. Fiquei curiosaço com essa clarineta baixo de sonoridade paquidérmica.

Obrigado pelo convite de vir conhecer esses álbuns aqui indicados, aproveitei para ver a discografia de HM no allmusic e fiquei chocado! Muita coisa!

E os álbun aqui citados já estão na busca... Agora, é o seguinte, como já te disse desde lá do jazzseen: nesses tempos em que, praticamente tudo se pode ter digrátis, explorando a Grande Rede, não dá mais para escutar, sem ter certeza que se poderá ter, vai que se gosta (e muito!). Minha enfermidade é grave, amigo. Apreciar e não ter pra mim tornou-se mortal!

Anônimo disse...

Acho que Herbie Mann, com participação bissexta ao clarinete baixo, ofuscou o grande Eric Dolphy.

Olmiro Müller

ReAl disse...

Qualé, Sérgio? Desencana, se não encontrar a gente tenta te ajudar.

Sergio disse...

Vinyl, a declaração do Müller, já tinha quebrado minha resistência. Ouvi o som do "elefantinho" e é bom! Muito bom. Tá ven'aí? E agora? Cumé qu'eu fico? Eu fico shade!...

Baixei "America Brasil" do HM e o Herbie Mann & The Bill Evans Trio (Nirvana). Os dois ainda na espera para serem ouvidos.

Mas agora, já que abriram perigoso precedente, sugiro a vcs, que conhecem mais, que descobrissem mais discos nos quais músicos de jazz utilizam esse bass clarinet. O som do bicho é bem bacana.

Nas minhas googladas, o David Murray, me pareceu ser um dos que o utilizam. Mas Murray não é aquele cara muito free e bastante complexo - pra não dizer, chato? Porém, o Salsa deve lembrar do ótimo álbum Blue Monk, que descobri aqui, com Aki Takase. Nele Murray inventa, tirando um som percusivo, que ninguém (nem o Edu que tentou apurar) soube dizer que técnica era aquela - mas era sax.
Enfim, valeu a dica.

A propósito, vcs devem conhecer... Claro que conhecem!, a cantora Helen Humes, né? Essa foi minha última grande descoberta. Não acham que ela merece uma postagem? Se precisarem de material pra deixar a pala, descobri o "Songs Like To Sing" o mais bem cotado no allmusic.

Salsa disse...

Eu fiquei na dúvida se o som do Murray não seria o clarone (clarinete baixo). O som percursivo pode ser conseguido com auxílio de pedais (tecnologia) associado com técnicas para tirar os harmônicos graves (notas não previstas na configuração do saxofone). Especulo.

Anônimo disse...

Helen Humes é tudo de bom - o disco excelente.Digna, certamente, de um caprichado post.Enfim sua dúvida foi sanada, prezado Sérgio, por opinião embasada.Edú

Sergio disse...

Bom, já me dispus a liberar. E no caso do Jazzigo, nem precisa ser o álbum, duas músicas já chegam. Isso, claro se vcs não tiverem por aí a discografia completa da Helen Humes. É tudo de bom, MESMO, Edu. Fiquei boquiaberto com a voz da mulher e o bom gosto dos arranjos. No álbum tbm, só fera, tipo Teddy Edwards, Art Pepper e outros q vi no allmusic mas agora não me ocorre nomes. No Jazzseen - onde sempre que procuro informação em português e geralmente encontro algo - só encontrei, dessa vez uma citação de nome, em meio a um monte de outros, daí a achar que Helen Humes mais que merece uma boa postagem. Quem se habilitar é só dizer e pedir o que precisar desse álbum que tenho.

Salsa, tbm pensei que o sax poderia ser, na verdade, o tal clarone... Depois que conheci o som, claro. Boa conclusão. Talvez aquele mistério da técnica do Murray esteja mesmo desvendado.

Guzz disse...

confesso que nunca tive grande simpatia pela flauta, salvo aplicações pontuais executadas pelos músicos que tinham como instrumento principal o sax

mas um disco que me surpreendeu muito foi o do Herbie Mann & Sam Most Quintet com a presença do guitarrista Joe Puma

poucos se aventuram exclusivamente na flauta no jazz e, apesar de conhecer pouco do trabalho do herbie, é inegável seu domínio na linguagem

Salsa disse...

Seja bem-vindo, Guzz.
Eu também pactuo com sua opinião sobre a flauta, mas até que eu tenho me divertido ouvindo Herbie. Há pouco, eu ouvi Peaces pieces, gravado em noventa e pouco, exclusivamente com temas de Bill Evans. Ficou agradável. Verei se algum amigo tem esse disco que você indicou.

Gabriela Galvão disse...

Qd minha conexão me eprmitir eu ouço as músicas, aff

Mas vim aqui por saudades, msm


Abraço, Salsa!!!!

Anônimo disse...

Tinha diversos senões com alguns instrumentos como orgão,piano elétrico e sax soprano.Excluí meu preconceito dos dois primeiros e o sax soprano ainda reside certa implicância em inábeis mãos.Mas flauta no jazz é Hubert Laws no Olimpo.O resto é competente figuração.Edú