O relógio de parede marcava duas horas de uma madrugada qualquer do ano de 1947. A névoa produzida pela fumaça dos cigarros dava consistência aos cheiros dos restos de cerveja, uísque e perfumes das mulheres que ainda estavam no bar Doom’s day. Foi nesse momento que um riso rouco e espalhafatoso invadiu o salão. Earl Hines virou-se lentamente e viu Louis Armstrong com os braços abertos: “Manda um abraço, Fatha”, disse Satchmo ao seu velho companheiro de Hot Five. “Novos tempos, Earl”, prosseguiu, num dos raros momentos em que não sorriu plenamente. “As orquestras se foram com a guerra. Os jovens estão em outro mundo, com outro som. Já ouviu o bebop? É demais, Earl, mas não é para mim. A minha festa, a nossa festa, é outra”.
Earl levantou-se e foi até ao piano, iniciando um dos velhos temas do antigo grupo que reinou nos anos vinte. Satch enxuga os lábios e o suor da testa com um lenço branco. Calmamente empunha seu trompete e dissipa a névoa com o seu som brilhante. A madrugada gargalhou com Louie e Earl, que prometiam mais, muito mais.
Listen Weather bird and Don't jive me
10 comentários:
Cade a tal prometida?
Aproveito para convidá-los para visitar o jazzigo. Postamos um contículo sobre Louis Armstrong e iniciamos comentários sobre a discoteca do jazzófilo Reinaldo Santos Neves.
Propaganda enganosa, vou ao procon ou ao Ecad? Um abraço Salsax
Uai, não entendi. O contículo é esse post, adiscoteca do Reinaldo está logo a baixo (Al Cohn).
OI Salsa, o texto ,como sempre, muito bom, mas não sei como ouvir as músicas! Coloca por um meio mais fácil...E este comentário acima? Aqui já não é o Jazzigo? Não entendi!
Responderei pelo Salsa:
As radiolas estão marotas. Raramente o upload do arquivo pode ser rodado no esnips ou no badongo. Está um saco. No entanto, pode ser feito o download:
É só clicar sobre o nome, depois escreva as letrinhas e pronto.
Voilà
Mt gostoso,este! Eu pude imaginar tudinho mt bem.
Vc faz a diferença neste blog, Salsa!!! Ficam o Vinil e o Cd fazem -mt bem- a parte mais técnica e vc imprime justamente o "espírito da coisa", sabe assim? Eh como vi.
Abraços
À fumaça... ah, a fumaça(!)... Aqui ainda há a fumaça! Vejam as garatujas fogosas que ela proporciona ao sair do charuto de..., possivelmente são notas revisitadas que estão para serem consolidadas ao piano. Quem diria, hein Earl, que teríamos saudosismo por uma boa tragada... junto a um bom trago!
Então tá!
Obrigado por fumar. Essa é a campanha do jazzseen. Se a coisa continuar do jeito que está, em breve vão prender os tabagistas.
Tenho uma foto gigantesca do Hines em minha sala, devidamente emoldurada (a foto, claro). Feita por Gottlieb.
Uma fumaceira só.
Salsa, citei vc e suas histórias macabras na postagem sobre Chet.
Confira lá.
Anônimo sou eu.
Grijó
Postar um comentário