The chase, sim, foi uma sessão e tanto. Foi naquela noite que eu conheci Wardell Gray. Ele e Dexter deixaram seus saxes incandescentes. Desde então eu assisti todas as apresentações que estavam ao meu alcance. De tanto me ver na platéia, ele me convidou para uns goles e acabamos amigos. Foi ele que me convenceu a encarar Las Vegas – faria um show com Benny Carter, ontem, 24 de maio de 1955.
Só ele para me fazer vir a esse templo do mau gosto. Detesto a mania provinciana de imitar nomes e locais famosos. O cassino onde Wardell tocou é um desses casos: chama-se Moulin Rouge. Espero que afunde junto com essa cidade escrota. Ele me disse que só aceitou o convite porque lhe disseram que os negros poderiam circular em outros ambientes que não o palco e o quarto onde dormiríamos.
Depois do show resolvemos dar uma circulada pela cidade. Já passava das duas horas. A madrugada, com aquele frio peculiar dos desertos, convidava para algumas doses de uísque e o que mais rolasse. Nossa pretensão esbarrou em dois tiras que, com as mãos pousadas em suas armas, mandou-nos retornar ao hotel, caso não quiséssemos passar a noite na cadeia ou coisa pior. Gray, que andava lendo Sartre e estava cheio de idéias existencialistas, não gostou da ameaça dos tiras e deu um jeito de dar o seu giro. Questão de honra. Eu amarelei e fiquei no cassino, gastando o pouco que me restava de grana.
(...)
A areia do deserto açoitava meus olhos como se não quisesse que eu visse o meu amigo pela última vez. Disseram que foram traficantes que quebraram o seu pescoço e o jogaram ali para ser devorado por formigas. Mais um músico de jazz viciado. Não o Wardell que eu conheci. Lembrei-me dos tiras, lembrei-me daquela catedral racista em que estávamos, lembrei-me da minha covardia. Talvez, se eu estivesse junto, não o matassem... Talvez eu estivesse morto também.
Só ele para me fazer vir a esse templo do mau gosto. Detesto a mania provinciana de imitar nomes e locais famosos. O cassino onde Wardell tocou é um desses casos: chama-se Moulin Rouge. Espero que afunde junto com essa cidade escrota. Ele me disse que só aceitou o convite porque lhe disseram que os negros poderiam circular em outros ambientes que não o palco e o quarto onde dormiríamos.
Depois do show resolvemos dar uma circulada pela cidade. Já passava das duas horas. A madrugada, com aquele frio peculiar dos desertos, convidava para algumas doses de uísque e o que mais rolasse. Nossa pretensão esbarrou em dois tiras que, com as mãos pousadas em suas armas, mandou-nos retornar ao hotel, caso não quiséssemos passar a noite na cadeia ou coisa pior. Gray, que andava lendo Sartre e estava cheio de idéias existencialistas, não gostou da ameaça dos tiras e deu um jeito de dar o seu giro. Questão de honra. Eu amarelei e fiquei no cassino, gastando o pouco que me restava de grana.
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A areia do deserto açoitava meus olhos como se não quisesse que eu visse o meu amigo pela última vez. Disseram que foram traficantes que quebraram o seu pescoço e o jogaram ali para ser devorado por formigas. Mais um músico de jazz viciado. Não o Wardell que eu conheci. Lembrei-me dos tiras, lembrei-me daquela catedral racista em que estávamos, lembrei-me da minha covardia. Talvez, se eu estivesse junto, não o matassem... Talvez eu estivesse morto também.
8 comentários:
Obrigado, Mister Salsa, pelo link!
Bacana, Salsa. Perdoe a ignorância do macaco: Wardell Gray, nunca ouvi falar. Aliás, fazia tempo que não me apresentavam um nome novo... Já estou em prospecção.
Prezado Salsa
Vc escreve bem pra caralho!
Um abraço, do Márcio.
Francis, Sérgio e Márcio,
As portas do jazzigo estão sempre abertas, esperando por vocês. E isso não é nenhuma maldição.
Tanx, Salsa. A boa notícia (pra mim) é que Wardell Gray há em profusão no soulseek. Deu até pra escolher... Baixados "WG Memorial vol." "Wardell Gray Quintet (Live At The Haig 1952)" e um que foi o 1º... Pelo qual fiquei muito curioso sobre, quando li sua pqna resenha para WG (Jazssen)e a música The Hunter.
Só vim descobrir o nome do álbum (que tinha baixado mas nem sabia qual era) graças aos comentários do sr. Reinaldo dos Santos: o álbum é "Wardell Gray (Jazz West Coast Live Vol.2)". Este foi o único do WG que ouvi até agora. E senti exatamente o tal clima jam de buteco e os caras arrepiando encima do palco.
A acrescentar baixistas e bateristas que sr, reinaldo não cita no comentário do jazssen: Leroy Gray e/ou Red Callender (bass) e Ken Kennedy e/ou Roy Porter (drums). O "e/ou" é porque enquanto o allmusic coloca os 4 músicos, um outro site escreve ao lado "provavelmente" Leroy Gray (b) e Ken Kennedy (d).
Também sou pesquisador, rapá! Tás pensando o Q?
Um abraço e boa Páscoa a todos.
sergio
Ops, o certo é 'The Hunt', não The Hunter.
Porque você me dá o prazer de ouvir essas maravilhas de músicas e me priva de BAIXAR as mesma ?
Será pela minha "ignorancia" de não saber como baixar da radiola da Badongo ou apenas para me punir pelo pecado cometido de não ter ouvido antes esses acordes nos meus maltrados ouvidos ?
Abraços ,Edinho
Tem uma seta ao lado do nome da música.
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