domingo, 17 de outubro de 2010

O atemporal Don EllisTrio


Alguns ventos que sopram nos deixam mais do que a simples impressão que algo diferente está acontecendo. É uma constatação: está diferente, diremos, ante a presença da brisa renovadora. E isso é patente em algumas performances de jazzistas do início dos anos sessenta.Um disco que traz isso de modo indefectível é Out of nowhere, gravado em 1961 pelo trio liderado pelo grande trompetista Don Ellis.
Ao lado de Ellis estão o jovem baixista Steve Swallow, em sua primeira gravação, e o pianista Paul Bley. Esses dois últimos, odiados pelo Predador e amados por muitos outros, não podemos deixar de reconhecer, trouxeram um modo peculiar de tocar para a cena jazzística. Ou, de outro modo, pelo menos reforçaram a tendência crescente de se explorar silêncios e inversões harmônicas, se arriscando em acordes dissonantes que nos deixam com aquela sensação de estranheza. Lembro-me de um jovem amigo meu, iniciante no piano clássico, que costumava dizer "esses caras estão tocando tudo errado".
Curiosamente, o trio escolhe justamente tradicionais standards para usarem seus artifícios musicais. Logo na faixa de abertura, Sweet and lovely, o piano de Bley passeia por regiões íngrimes enquanto o trompete de Ellis parece flutuar sobre um precipício. O disco prossegue recheado por momentos mais que interessantes como, por exemplo, o duo Bley-Swallow interpretando uma elétrica All the things you are. A dupla inicia o tema como se estivessem montando um quebra-cabeça com fragmentos da linha melódica (com pausas para pensar "onde coloco essa peça?") para, em seguida, partirem para um excelente improviso em up tempo.
O disco Out of nowhere é um daqueles que se mantêm à frente do seu tempo. Mais que atual, é um disco que ainda abre portas e janelas para aqueles que querem se arriscar em novas aventuras musicais.
Curtam aí três momentitos do disco (atentem para a versão solo de Just one of those things defendida por Ellis).
Link: Avax


4 comentários:

pituco disse...

salsa san,

curto don ellis e a escolha pra postagem tá bacanuda pacas...

essa conversa musical é que faz a diferença...creio que o jazz permita outros dialetos, porém dentro do idioma, não é isso?...contrapontos constrôem uma linda harmônia...ou não

abraçsonoros

Salsa disse...

Tá certo, Pituco. Gostei da imagem.
E Ellis parece que conhece bem o idioma e seus dialetos.

figbatera disse...

Legal! Mas senti que está faltando alguma coisa...rs

Félix disse...

Thanks for this album! I heard it some years ago and was a bit confused, now I find it incredible.

Also thanks for your blog, there's a lot of stuff I'm digging here!