quarta-feira, 11 de novembro de 2009

What is this thing called love?

Basta dar uma pequena olhada nas letras do cancioneiro mundial para constatar que a temática predominante é o tal do amor. Fraternal, paternal, maternal, erótico (em suas mais diversas perversões, zoológico inclusive - vide a famosa Mula Preta), tá tudo lá, nos mais variados ritmos e estilos, numa infindável enciclopédia amorosa musical.


Um capítulo muito interessante dessa enciclopédia foi escrito por um dos compositores mais interpretados pelos jazzistas: Cole Porter. O camarada tem uma dicção peculiar, que o distingue dos outros grandes nomes. A união de boas doses de cinismo e ironia com um indefectível eixo lírico bastante sofisticado permitem uma face sempre vivaz à emoção que perpassa suas letras. O amor, para ele, é sempre visceral e avassalador, dominando rapidamente aqueles que estão ao seu alcance, ou seja, todos. Mas Porter não é aquele tipo lamurioso. Pelo contrário, da união de seus versos com a sua música o resultado tem sempre algo solar, luminoso, pra cima, alegre (que aqui não significa necessariamente música em up tempo).


Amar de todas as maneiras possíveis parece ser a premissa de Porter. "Qualquer maneira de amor vale amar", poderia ter-nos dito. Mas ele diz isso de outro modo - como nos diz/convida na divertida Let's do it, let's fall in love (da qual Chico Buarque fez uma boa versão), vamos amar pois ninguém escapa disso. Todos amam: chineses, pingüins, canários, até os argentinos. Creio que essa pode ser uma resposta para a pergunta "What is this thing called love? This funny thing called love?"


Entreguem suas armas, companheiros. A tentativa de fuga não resultará em nada, como destaca Porter em I've got you under my skin. O desejo é irresistível, impossível de ser combatido. Mesmo sabendo que o lance é uma roubada, mesmo sabendo que a coisa não vai dar certo, mesmo com a vozinha repetindo no ouvido "Don't you know you fool, you never can win/Use your mentality, wake up to reality", acabamos cedendo e nos entregando aos braços da musa, pois ela é a realidade que importa.

Ouçam ali no podcast Quintal do Jazz


5 comentários:

Érico Cordeiro disse...

Grande Salsa,
Lennon e McCartney estavam certíssimos: all we need is love, não acha?
E Porter foi a mais perfeita tradução musical dessa verdade. Dele sou suspeito prá falar - talvez seja o meu compositor favorito (se bem que as duplas George & Ira Gershwin e Rodgers & Hart também me encantam profundamente).
Adoro So In Love - magistral, arrebatadora!!!!!
Valeu!

John Lester disse...

Prezados amigos, creio o apagão despertou o lado body and soul de Mestre Salsa. Que não me venha um temporão!

Ah, por pouco esqueço de dizer o que penso sobre o tema: o amor quase sempre é bastante chato e previsível. Bom mesmo é, desculpem o termo, a sacanagem.

Grande abraço, JL.

figbatera disse...

Muito bem, Salsa, apoiado, nota 10!
VIVA O AMOR!
Entreguemo-nos, pois...

figbatera disse...

ps.:mas o Lester tbm tem razão (em parte).

Salsa disse...

Prezados amigos,
Porter, vide Love for sale e também Let's do it e I've got you..., defende o amor como irremediavelmente uma coisa carnal.