Em 2006, quando eu ainda era um dos bem remunerados redatores do Jazzseen, publiquei um post sobre o pianista Herbie Nichols. Na época, fiquei atraído pela sonoridade que ele extraía do seu piano. Soava-me monkiano. E não era para menos, já que Monk era um amigo próximo.
Uma das coisas que observei e mantenho foi o seu modo de jogar com a harmonia: "percebe-se com facilidade que o rapaz tem um arcabouço de informação musical que escapa à média dos músicos. Seu patamar musical permite-lhe brincar com os limites do bom senso harmônico e estabelecer fórmulas nas quais a tensão torna-se um campo surpreendentemente produtivo".
Na contracapa do lp que agora ouço, The prophetic, de 1955, o crítico Leonard Feather destaca o modo como Herbie vai brincando com terças menores (em The third world), explorando as sextas e as sétimas nos acordes (C6 Eb7 / Bb6 Db7 / Ab B6 e por aí vai). Antes que me perguntem: não saco muito dessa matemática, mas o resultado da operação é uma sonoridade pra lá de interessante. Pelo menos para mim, pois meus comparsas do clube das terças acharam-no algo monótono.
Um dado que não posso desprezar: a cozinha que completa o trio. O esporrento Art Blakey mostrou-me sua face comedida (sem evitar a criatividade - observem como ele brinca fazendo variações, usando com precisão as peças do seu instrumento). Aqui não tem porrada - só notas bem postas sustentando o passeio de Herbie. E Al McKibbon, o baixista? Meus amigos, seu modo de tocar é irrepreensível. As harmonias dos temas de Nichols são um prato cheio para o velho Al mostrar sua maestria, destilando um acompanhamento preciso - daqueles que deixam qualquer músico feliz - Al é um porto seguro.
Deixarei duas ali no podcast Quintal do Jazz.
O link: Avax
PS: Esse disco está incluído na caixa The complete Blue Note recordings.
9 comentários:
Grande pedida, Mr. Salsa,
Tenho a caixa The Complete Blue Note Recordings - espetacular.
Há um pouco de Monk, um pouco de Powell, um pouco de Tatum, mas o que há mesmo é muito de Nichols (personalíssimo e claramente à frente do seu tempo, daí não ser tão conhecido).
E o outro trio que toca no disco, que congrega todas as suas gravações para a Blue Note, é formado pelos não menos competentes Teddy Kotick e Max Roach.
Valeu.
Abração!!!
Aí, Salsa, o Tandeta não vai gostar dos adjetivos que vc usou aqui...
Eu gostei muito do trio.
Prezado Érico,
Foi um caso de amor a primeira audição. O cara toca muito.
Fig,
Eu até elogiei o esporrento do Art... não tem razão para não gostar. Se não gostar, o que fazer? Indico um bom chá ou um ansiolítico leve.
Al McKibon, amigo Luiz, é dos melhores. Tenho um disco em que ele duela com Monk que é da pesada. E por falar e "pesada", por que o preconceito contra as "porradas" nos couros?
Concordo que haja pianistas que merecem bateristas mais comedidos, mas qual o problema em ser um tanto mais estusiasmado?
Abraço
Às vezes o baterista acha que é o pianista e quer solar o tempo inteiro. Aí é o diabo.
Em breve, pensando nisso, postarei um disco curioso.
Prezados amigos, é preciso deixar claro que não foi o Jazzseen que demitiu Mr. Salsa, não. Foi Mr. Salsa quem nos abandonou, sem explicações, largando centenas de documentos, anotações, pedaços de bolo, meias usadas, clips, boquilhas encarquilhadas e um trompete sobre sua mesa na redação do Jazzseen. Não apareceu nem para receber o décimo terceiro e férias proporcionais. Uma coisa.
E Nichols, se fosse baterista, seria bastante vigoroso. Não troco meio Monk ou meio Powell por dois Nichols.
Grande abraço, JL.
Caramba,
por isso que estou no vermelho. Ê, cabeça!
salsa san,
a nossa bossa nova explora também muito essas tensões harmônicas, inversões de baixo e coisa e tal...o vice-mestre joão gilberto faz tudo isso no violão e voz...
o piano é antes de tudo um instrumento percussivo...e mr.herbie nichols e master monk utizam essa possibilidade com harmonias e improvisos geniais...além de grandes compositores...
parabéns pela postagem
abraçsons
Prefiro o cha,ansiolitico leve eu ja tenho minha receita,é 100% natural .
Abraço
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