quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Herbie Nichols

Em 2006, quando eu ainda era um dos bem remunerados redatores do Jazzseen, publiquei um post sobre o pianista Herbie Nichols. Na época, fiquei atraído pela sonoridade que ele extraía do seu piano. Soava-me monkiano. E não era para menos, já que Monk era um amigo próximo.

Uma das coisas que observei e mantenho foi o seu modo de jogar com a harmonia: "percebe-se com facilidade que o rapaz tem um arcabouço de informação musical que escapa à média dos músicos. Seu patamar musical permite-lhe brincar com os limites do bom senso harmônico e estabelecer fórmulas nas quais a tensão torna-se um campo surpreendentemente produtivo".

Na contracapa do lp que agora ouço, The prophetic, de 1955, o crítico Leonard Feather destaca o modo como Herbie vai brincando com terças menores (em The third world), explorando as sextas e as sétimas nos acordes (C6 Eb7 / Bb6 Db7 / Ab B6 e por aí vai). Antes que me perguntem: não saco muito dessa matemática, mas o resultado da operação é uma sonoridade pra lá de interessante. Pelo menos para mim, pois meus comparsas do clube das terças acharam-no algo monótono.

Um dado que não posso desprezar: a cozinha que completa o trio. O esporrento Art Blakey mostrou-me sua face comedida (sem evitar a criatividade - observem como ele brinca fazendo variações, usando com precisão as peças do seu instrumento). Aqui não tem porrada - só notas bem postas sustentando o passeio de Herbie. E Al McKibbon, o baixista? Meus amigos, seu modo de tocar é irrepreensível. As harmonias dos temas de Nichols são um prato cheio para o velho Al mostrar sua maestria, destilando um acompanhamento preciso - daqueles que deixam qualquer músico feliz - Al é um porto seguro.

Deixarei duas ali no podcast Quintal do Jazz.

O link: Avax

PS: Esse disco está incluído na caixa The complete Blue Note recordings.

9 comentários:

Érico Cordeiro disse...

Grande pedida, Mr. Salsa,
Tenho a caixa The Complete Blue Note Recordings - espetacular.
Há um pouco de Monk, um pouco de Powell, um pouco de Tatum, mas o que há mesmo é muito de Nichols (personalíssimo e claramente à frente do seu tempo, daí não ser tão conhecido).
E o outro trio que toca no disco, que congrega todas as suas gravações para a Blue Note, é formado pelos não menos competentes Teddy Kotick e Max Roach.
Valeu.
Abração!!!

figbatera disse...

Aí, Salsa, o Tandeta não vai gostar dos adjetivos que vc usou aqui...

Eu gostei muito do trio.

Salsa disse...

Prezado Érico,
Foi um caso de amor a primeira audição. O cara toca muito.
Fig,
Eu até elogiei o esporrento do Art... não tem razão para não gostar. Se não gostar, o que fazer? Indico um bom chá ou um ansiolítico leve.

Grijó disse...

Al McKibon, amigo Luiz, é dos melhores. Tenho um disco em que ele duela com Monk que é da pesada. E por falar e "pesada", por que o preconceito contra as "porradas" nos couros?

Concordo que haja pianistas que merecem bateristas mais comedidos, mas qual o problema em ser um tanto mais estusiasmado?

Abraço

Salsa disse...

Às vezes o baterista acha que é o pianista e quer solar o tempo inteiro. Aí é o diabo.
Em breve, pensando nisso, postarei um disco curioso.

John Lester disse...

Prezados amigos, é preciso deixar claro que não foi o Jazzseen que demitiu Mr. Salsa, não. Foi Mr. Salsa quem nos abandonou, sem explicações, largando centenas de documentos, anotações, pedaços de bolo, meias usadas, clips, boquilhas encarquilhadas e um trompete sobre sua mesa na redação do Jazzseen. Não apareceu nem para receber o décimo terceiro e férias proporcionais. Uma coisa.

E Nichols, se fosse baterista, seria bastante vigoroso. Não troco meio Monk ou meio Powell por dois Nichols.

Grande abraço, JL.

Salsa disse...

Caramba,
por isso que estou no vermelho. Ê, cabeça!

pituco disse...

salsa san,

a nossa bossa nova explora também muito essas tensões harmônicas, inversões de baixo e coisa e tal...o vice-mestre joão gilberto faz tudo isso no violão e voz...

o piano é antes de tudo um instrumento percussivo...e mr.herbie nichols e master monk utizam essa possibilidade com harmonias e improvisos geniais...além de grandes compositores...

parabéns pela postagem
abraçsons

Andre Tandeta disse...

Prefiro o cha,ansiolitico leve eu ja tenho minha receita,é 100% natural .
Abraço