Jazz contemporâneo, né? Então, tá.
Lembro-me, como se fosse hoje, que um dos momentos mais arrebatadores proporcionado por um jazzista, por mim presenciado, foi o show de Joshua Redman (trio: baixo, sax, bateria), em Ouro Preto, em 2007. O cd, por isso mesmo, acabou perdendo a sua força. Parece que, para mim, o brilho da apresentação ao vivo ofuscou o disco (que, reconheço, ainda se mantém como um excelente disco).

Mas, dia desses, encontrei outro cd, de outro saxofonista, que, ao meu ouvido, soou com toda a força de uma boa apresentação ao vivo, mesmo sendo um disco de estúdio (destaque-se: eu não assisti o show). Refiro-me a
James Carter. O disco é
JC on the set, gravado em
1993, tendo como sidemen
Craig Taborn (Piano),
Jaribu Shahid (Bass) e
Tani Tabbal (Drums) - músicos que, vocês ouvirão, impõem respeito.
Nesse disco, James Carter está simplesmente selvagem, voluptuoso, e mostra-se dono de uma inventividade que deus legou a alguns dos seus poucos escolhidos representantes aqui na Terra. O que mais dizer do seu modo de soprar? Sim, Carter sabe como poucos explorar os harmônicos (graves, médios e agudos) de um saxofone (alto, tenor ou barítono), o que se torna sua marca registrada. Também percebe-se nele uma profunda admiração pela velha geração. Vocês podem confirmar isso ouvindo o modo como ele interpreta as baladas (Hawkins se insinua em vários momentos em seu modo de tocar).
É um disco em que a tradição se amalgama com a dicção contemporânea de modo espetacular(reparem na introdução de Caravan, em que Carter detona o barítono), sem se tornar aquela coisa franksteiniana e sem graça que vez e outra nos é apresentada por alguns músicos da mesma geração de Carter. Talvez os amigos, depois de ouvi-lo, questionem se esse é realmente um disco de Jazz contemporâneo. Para mim, é. Não se tocava desse modo nos anos quarenta, cinqüenta nem nos sessenta. Com certeza.
Dêem uma conferida ali no podcast do Jazz Contemporâneo.