Hoje, eu deixarei o morticínio de lado. Não matarei ninguém neste post, embora alguém possa ficar "mortim" de vontade de ouvir os discos sobre os quais alinhavarei algumas poucas palavras. Os cds são de Herbie Mann, figurinha com a qual eu estabeleci contato auditivo lá pelos lados do final dos anos setenta/início dos oitenta. O lp que eu comprei, naquele momento, tinha um quê na sua elaboração que me soou estranho. Enfim, eu não curti muito o som. Depois disso, só nas páginas dos Reals books, onde encontrei alguns temas de sua autoria, como, por exemplo, Memphis underground. O fato é que o cara tem uma discografia quilométrica como líder (só em 1957 gravou uns dezesseis discos). Se acrescentarmos os discos nos quais ele foi apenas sideman a quilometragem aumenta ainda mais (eu possuo vários desses).
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Recentemente, visitando a discoteca do Reinaldo, deparei-me com dois discos interessantes: Just wailin' e Great ideas of western Mann. Neste, gravado em 1957, Herbie inaugura, no cenário jazzístico, o clarinete baixo. À primeira audição, lembra um elefante enamorado (se compararmos com Dolphy, que três anos depois também utilizou tal instrumento, e soava como um elefante no cio). Por favor, não entendam a imagem como algo pejorativo, pois um elefante, ao contrário do que dizem, não incomoda ninguém. O som grave e aveludado é surpreendente e consegue cativar - depois de algumas audições. Não foi amor à primeira vista, mas, com o tempo, passei a achar que as frases rouquenhas de Herbie criam um contraste interessante com o trompete de Jack Sheldon, propiciando um clima especial para o piano gotejante de Rowles (gotas refrescantes, enfim). O grupo se completa com o baixista Buddy Clark e com o baterista Mel Lewis, que dispensa apresentações. Creio que vocês se divertirão com The theme, composição de Miles.
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Just wailin', de 1958, me cativou com mais facilidade. Ali, Herbie está no seu território: a flauta. O clima bluesy que domina as faixas foram muito bem trabalhadas pelo nosso herói. O som grave ficou por conta do tenor de Charlie Rouse, de memoráveis gravações com Monk, e que também é daqueles que sabem tirar proveito do bom e velho blues (para mim, Rouse é o sideman por excelência - parece que o peso da liderança compromete suas performances). A presença de Burrell com sua guitarra confere um grau a mais no clima das sessões, que ainda contou com a participação do pianista Mal Waldron, do baixista George Joyner (?) e do baterista Art Taylor. Se compararmos com o disco anterior esse pode ser considerado mais "tradicional", mas o blues mexe comigo e afeta meu julgamento. Eu gosto de blues e ponto. Mas, deixando a paixão de lado, acho até que o Great ideas é mais arrojado, mais ousado, mais consistente, mas isso não implica a derrisão do Just wailin': em Blue echo, confiram, o pau come solto. Se vocês ficarem em dúvida, levem os dois para casa.