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As minhas reticências em relação ao jovem pianista Eldar, enfim, não se concretizaram, pelo menos não em sua totalidade. Achei que Eldar ainda está procurando o caminho para alcançar aquela nota que ninguém nunca encontrou - a blue note. O que vi e ouvi, no entanto, permitem-me vislumbrar um futuro promissor. O menino, de rígida formação erudita, mostrou uma excelente técnica com ambas as mãos. Agradaram-me a precisão e a agilidade no desenvolver de
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seu fraseado (mão direita), e a pegada marcada por elementos percussivos do
stride piano (mão esquerda), características que mostraram a perceptível influência que habita em seus dedos: Art Tatum e Oscar Peterson (com pitadas de Jelly Roll Norton). A razão da preferência por esses nomes é revelada indiretamente em sua opinião sobre o músico que grande parte dos jovens pianistas se apegam, a saber, Bill Evans. Para Eldar, Bill é excessivamente lírico. Pois é, o menino é chegado na volúpia dos pianistas clássicos do jazz.
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Outra coisa que chamou a minha atenção é o fato de o jovem, em meio a volúpia, às vezes ceder espaço ao silêncio - aquele silêncio que fermenta alguns belos e breves lampejos que sedimentam o que virá a seguir. Eu diria que Eldar está dando forma à sua alma. Torço apenas para que, nesse trajeto, ele não se perca e se precipite no ventre da besta do tecnicismo chulo, do hermetismo transcendental ou do comercialismo barato.
O segundo show da noite, da sueca Lisa Ekdahl, diante das críticas negativas que
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ouvi e li referentes às apresentações anteriores, fizeram com que eu me posicionasse estrategicamente próximo à porta. Qualquer coisa, eu fugiria. O ponto a favor da cantora, foi a fórmula adotada para o show. Proposta similar aos trabalhos da bela Julie London, ladeada, se não me engano, por Ellis e Brown. A sua (de Lisa) voz curta não resvalou em demasia para o desafinar galopante (deve ter aprendido até chegar em Vitória). O grupo parecia saber de suas restrições e não ousava nada além do trivial. O show, com aura instrospectiva e com arranjos minimalistas (creio que mais por deficiência da banda), agradou a platéia que lotava o teatro. A meu ver, o show não justificava a sua presença num palco de festival. No máximo poderia estar num pequeno bar.
Aguardemos o próximo, torcendo por um pouco mais de jazz na programação. Ou, pelo menos, com nomes que nos façam sair e retornar felizes para casa.