quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Brecker

Último post do ano.

Resolvi ficar em casa no tal reveillon, só. Deixei um vinho refrescando enquanto preparo uma pequena refeição a base de bacalhau. Deixei o dito cujo no forno e vim cuidar do bloguito. Estava com uma coisa engatilhada para esse momento mas, hoje à tarde, enquanto pintava mais uma tela, eu ouvi uma seleção de discos (que normalmente não ouço) e resolvi mudar a programação.

Senhoras e senhores, apresento-lhes Jazz Time - 4, uma seleção de gravações lideradas por Michael Brecker para a revista de mesmo nome, em 1993. Gostei do que ouvi. Clima meio rock'n'roll, bom para momentos festivos. Partilho, pois, com os amigos navegantes.

O som é modernoso, mas com uma mandada excelente. Também, não é para menos considerando o time que o acompanha: Eddie Gomez e George Mraz (baixo), Mike Nock e Don Grolnick (piano), Mike Manieri (vibrafone em 3 faixas), Peter Erskine, Al Foster e Steve Gadd (bateria).

O balanço levado pela rapaziada é de primeira. Confira ali no podcast do Jazz Contemporâneo.

Link: Avax

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Benny Green - These are soulful days

Apresento-lhes um jovem pianista (pelo menos mais jovem do que eu): o novaiorquino Benny Green. O seu curriculum traz momentos respeitáveis - tocou com Art Blakey, Freddie Hubbard, Betty Carter, Bobby Watson, Diana Krall, Ray Brown e os cambau a quatro. Como líder, já gravou nove cds.

Eu estou ouvindo These Are Soulful Days (de 1999). Segundo consta, esse disco é parte de uma série em homenagem aos 60 anos da Blue Note. Benny foi encarregado de interpretar uma seleção de temas de sua preferência (todos gravados nesse selo).

Imbuído da tarefa, reuniu-se com os excelentes Christian McBride (baixo) e Russell Malone (guitarra), na clássica e agradável formação drumless e mandaram ver em oito temas, totalizando quarenta e cinco minutos (pouco mais que os antigos lps - o que muito me agrada) de muito boa música.

Deixarei duas faixas no podcast de Jazz Contemporâneo.
Link: Avax

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Monk revisitado

Deixar-lhes-ei um presente de natal. Sinto-me um pouco burocrático, sem grandes anseios (o natal faz isso comigo), e, assim estando, o presente não será dos melhores. Uma lembrancinha, pois. Duas, aliás.


As duas citam Monk. Uma delas é uma homenagem ao nosso maluco beleza gravada por um saxofonista obscuro, pelo menos para mim, chamado Paul Jeffrey. Encontrei o disco We see (que pode ser baixado por U$0,99 ou grátis). Não encontrei nem uma linha sobre o camarada em rápida pesquisa na rede. Atraiu-me o som preguiçoso do seu sax.


A outra lembrancinha é um disco de Horace Parlan, pianista com pegada blues muito interessante. O disco é Pannonica, que não é plenamente dedicado a Monk. Só tem a faixa-título e, creio, um ou outro standard que Monk chegou a interpretar. É um disco honesto e bem administrado pelo pianista e por seus sidemen Reggie Johnson (bass) e Alvin Queen (drums).


Ouçam alguns teminhas ali na radiola.


Os Links: Jeffrey e Parlan


PS - Ontem, deixei de beber um bom vinho branco com uma boa e bela companhia por causa da tal da música. O dia amanheceu com aquela saudade do que não aconteceu. Putz!

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Verão + preguiça

Fui tomado pela preguiça que o verão embala. Para dizer que postei algo, substituí a imagem da abertura do blog por outra tela por mim pintada (sob a orientação dos mestres Didico e Lester).
Em breve, se o calor deixar, postarei mais um disco.
Até lá.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Um violão especial

Esse post é dedicado a Ricieri, violonista capixaba radicado em São Luís, que espero em breve reencontrar.

Caiu na minha rede, em recente ciberpescaria, um disco - Night and day - de um para mim desconhecido guitarrista/violonista: Roland Dyens. O rapaz faz uma mescla entre erudito (mais no modo de operar o violão) e jazz (o fraseado e o ritmo sincopado) que soou-me agradável ao ouvido. Às vezes tem-se a impressão que são dois violões tocando. O cético poderá dizer que é overdubing, o crente dirá que o camarada desenvolve chords melodies como poucos. O fato é que Dyens domina seu instrumento com uma técnica impressionante, daquela que faz-nos parar para ouvir. Mesmo o jazzófilo mais purista admitirá que ele é um músico acima da média.

Confiram ali no podcast do jazz contemporâneo as versões de All the things you are (parece que Bach arranjou o tema) e Bluesette e depois me digam o que acharam.

Link: Avax

PS: Quem tiver mais informações sobre o moço deixe-as nos comentários.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

A voz de Portugal

Ouvia ao longe, enquanto navegava, o canto de uma sereia. A voz, afinadíssima, entoava um mantra envolvente. De onde vem? Desviei-me do meu trajeto e, enfim, aportei em terras lusitanas. A voz: Maria João. Rainha e rei, mãe e santo, reunidos numa só pessoa.

A menina tem uma já longa estrada, iniciada, creio, com o pianista Mário Laginha (já postei, dele, o disco Espaço), com quem conquistou rápido reconhecimento da crítica européia. Conquistou também a pianista japonesa Aki Takase, que a convidou para uma série de trabalhos. Entre um concerto e outro, gravaram Alice, em 1990. A gravação foi ao vivo, no festival de jazz de Nuremberg, e contou com o apoio mais que luxuoso de Niels-Henning Orsted Pedersen.

O resultado conquistou esse insensato coração. O trio funciona que é uma maravilha. Maria João brinca com a voz de modo magistral, jogando com os timbres e revelando uma extensão vocal que é para poucos. Takase, aqui, está mais comportada do que em seus trabalhos free, mas sem deixar de mostrar sua eficiência como pianista. NHOP dispensa comentários - sua competência é ímpar.

Confiram ali no Podcast do Jazz Contemporâneo.

Link: Avax

sábado, 5 de dezembro de 2009

Dinah sings Bessie

Às vezes acontece: eu acordo com um fino véu de melancolia envolvendo os sentidos. Hoje, por exemplo, nessa agradável manhã chuvosa que afastou o calor sufocante que por aqui grassava, assim sucedeu. Fico matutando um tempo até me recordar: as faturas dos cartões de crédito estão chegando. Pronto. Melhor seria não lembrar.

Lembrei-me também de uma conversa com um amigo. Falava de amores, de mulheres, de uma mulher que Destino deixou no seu caminho. De um Destino sacana e seu comparsa Eros, que parecem gostar de ver como a embriaguez amorosa faz-nos trocar as pernas, confundir norte com sul e achar que a lua é algo além de um pedaço de rocha estéril. Disse-me ele que esse tipo de oceânico sentimento o assustava e, por isso, deixou a sua menina ir embora nos braços de um Mané que nem um pedaço dele poderia ser. Gaguejou um pouco de trôpego Lupicínio: eee-sssses moços, po...bres hic! mo-ços...

Pedi ao Geraldo, dono do boteco, para rodar o cd que Dinah Washington gravou em homenagem a grande Bessie Smith (que sabia como poucas cantar um amor bandido e naufragado). Digo sem titubear: homenagem mais que bem feita. Dinah deixa-se levar pelo espírito da cantora dos velhos cabarés e nos lega um disco excelente. As gravações em estúdio contam com Eddie Chamblee and His Orchestra, que soube manter aquele clima da década de 30 do século passado. De quebra, ainda rola umas faixas gravadas em Newport (1958) com os All-Stars Sahib Shihab, Blue Mitchell, Wynton Kelly, Paul West e Max Roach.

Indiquei Send me to the 'letric chair para meu desalentado amigo, que se lamentava por ter, de certo modo, assassinado o seu amor. Uiva pra lua, moleque!

Ouçam ali no podcast Quintal do Jazz.

Link: Avax

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Goodrick & Diorio - Avis rara

Mudanças atraem-me. Gosto de me arriscar com o novo.

Lembro-me de, há vários anos, uma cigana amadora ter dito, ao ler minhas mãos, que a minha vida passaria por grandes tranformações quando chegasse aos 50. Cá estou, pois, à espera. Enfim, a cigana me avisou. Novos ares podem fazer bem à alma. Disse-me Érico, que os ares ludovicenses são interessantes. Espero poder comprovar esse também bom presságio.

Mudanças, no entanto, não dependem apenas da sorte. O trabalho e os dias regados pelo suor e dedicação contam. Vejam, por exemplo, os dois dedicados guitarristas Mick Goodrick e Joe Diorio. Ambos são exemplo de investimento em seu campo. A longa estrada percorrida permitiu que eles se consolidassem como mestres dos seus instrumentos (professores mesmo).

Mick enfileirou trabalhos com Gary Burton, Pat Metheny, Charlie Haden, John Scofield, Jack DeJohnette, Paul Motian, Dewey Redman, John Abercrombie, Dave Liebman e mais um monte de gente, além de publicar uma série de livros didáticos sobre a arte de tocar guitarra.

Joe Diorio, nascido em 1936, também tem uma série de trabalhos como sideman de diversos nomes do jazz, marcadamente aqueles mais ligados ao mainstream jazzístico: Sonny Stitt, Eddie Harris, Ira Sullivan, Stan Getz, Horace Silver e Freddie Hubbard. O seu trabalho como professor também é bastante reconhecido - é um dos fundadores do respeitado Guitar Institute of Technology, na Califórnia. Aliás, dizem que ele costumava dar aulas aqui no Brasil.

Pois bem, em Rare birds, gravado em 1993, Mick e Joe trocam impressões sobre 12 temas de diversos matizes (seis são de autoria da dupla): de baladas como My funny valentine, passando por uma curiosa construção em contraponto a partir de Manhã de carnaval e até explorações na área modal, em Blue and green. É um daqueles discos que podem chamar de música para músicos. Isso fica patente principalmente nas seis faixas construídas no estúdio de gravação: quando apertavam o botão de gravação, os meninos mandavam os dedos, criando na hora os seus diálogos. Experimentação, reflexo, conhecimento de causa, ousadia, um pouco de delírio, tudo está em jogo nesse disco.

Confiram ali no podcast do jazz Contemporâneo.

Link: Avax