Mudanças atraem-me. Gosto de me arriscar com o novo.
Lembro-me de, há vários anos, uma cigana amadora ter dito, ao ler minhas mãos, que a minha vida passaria por grandes tranformações quando chegasse aos 50. Cá estou, pois, à espera. Enfim, a cigana me avisou. Novos ares podem fazer bem à alma. Disse-me Érico, que os ares ludovicenses são interessantes. Espero poder comprovar esse também bom presságio.
Mudanças, no entanto, não dependem apenas da sorte. O trabalho e os dias regados pelo suor e dedicação contam. Vejam, por exemplo, os dois dedicados guitarristas
Mick Goodrick e
Joe Diorio. Ambos são exemplo de investimento em seu campo. A longa estrada percorrida permitiu que eles se consolidassem como mestres dos seus instrumentos (professores mesmo).
Mick enfileirou trabalhos com Gary Burton, Pat Metheny, Charlie Haden, John Scofield, Jack DeJohnette, Paul Motian, Dewey Redman, John Abercrombie, Dave Liebman e mais um monte de gente, além de publicar uma série de livros didáticos sobre a arte de tocar guitarra.
Joe Diorio, nascido em 1936, também tem uma série de trabalhos como sideman de diversos nomes do jazz, marcadamente aqueles mais ligados ao mainstream jazzístico: Sonny Stitt, Eddie Harris, Ira Sullivan, Stan Getz, Horace Silver e Freddie Hubbard. O seu trabalho como professor também é bastante reconhecido - é um dos fundadores do respeitado Guitar Institute of Technology, na Califórnia. Aliás, dizem que ele costumava dar aulas aqui no Brasil.
Pois bem, em Rare birds, gravado em 1993, Mick e Joe trocam impressões sobre 12 temas de diversos matizes (seis são de autoria da dupla): de baladas como My funny valentine, passando por uma curiosa construção em contraponto a partir de Manhã de carnaval e até explorações na área modal, em Blue and green. É um daqueles discos que podem chamar de música para músicos. Isso fica patente principalmente nas seis faixas construídas no estúdio de gravação: quando apertavam o botão de gravação, os meninos mandavam os dedos, criando na hora os seus diálogos. Experimentação, reflexo, conhecimento de causa, ousadia, um pouco de delírio, tudo está em jogo nesse disco.
Confiram ali no podcast do jazz Contemporâneo.