quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Tudo é Jazz - A homenagem a Lady Day



A terceira garrafa de vinho foi aberta pelo amigos Sérgio e Luciana, jovem casal de BH. Um bom cabernet argentino, destaque-se. Falei-lhes da apreensão quanto ao show que se avizinhava. A banda não me preocupava, pois tinha uma formação excelente: Mulgrew Miller ao piano, Bucky Pizzarelli com sua indefectível guitarra de sete cordas, Ron Carter ao baixo, Antonio Sanches à bateria, e um naipe de responsa formado por Ingrid Jensen (trompete), Marcus Strickland (tenor) e Anat Cohen (clarineta/sax). O grilo ficou por conta da Madeleine Peiroux e da Mart'Nália.


Em edição anterior do festival, eu havia abandonado o show de Ms Peiroux antes da primeira metade. Mart'Nália, eu não conhecia. Sabia apenas que canta samba e que é filho de Martinho da Vila. Respirei fundo e concentrei minhas energias na banda. Abracei-me à musa Azul e clamei que os deuses da música fossem complacentes.



Show iniciado com Madeleine tentando fazer cover de Lady Day - razão pela qual se tornou conhecida (o fato é que, em discos, até que eu consigo ouvir alguma coisa do garoto). Ao meu lado uma jovenzinha estrebuchava aos gritos: "Madalena, ailoviú!!!!". Quando Mart'Nália entrou o frisson aumentou na galera. Como já diz a música por ela interpretada(?): God bless the child!!! Divertido mesmo foi ver Gilberto estupefato diante da gargalhante interpretação de Body and soul: "My heart is sad and lonely -rá-rá-rá-rá - for you I sigh rá-rá-rá" e por aí foi. Ali, Mart'Nália deu sua grande contribuição à memória de Lady Day. "Só rindo", diria o Cobrador, personagem de Rubem Fonseca, antes de mandar bala em suas vítimas.


Enfim, depois do papo furado, o show começou. A Lady Day All-Star Band tomou conta da cena. O velho Bucky sorria enquanto mandava os dedos nas sete cordas de sua guitarra, imprimindo aquele peculiar balanço da era do swing, e dialogando com os jovens sopros Marcus, Ingrid e Anat. Do car**** mesmo foi a versão de Love for sale mandada por uma segura e madura Ingrid Jensen e pelo fenomenal baterista Antonio Sanches. O diálogo entre sopro e baquetas foi primoroso. Anat, mais uma vez reluziu no palco (mandarei uma proposta de casamento amanhã cedo). Para mim, as duas meninas foram as vedetes do festival. Mulgrew Miller, senhoras e senhores, mostrou a face envolvente da velha escola: piano com balanço (aquele balanço que muitos jovens têm se esforçado para enterrar). A essa altura, uma quinta garrafa de vinho surgiu magicamente nas mãos da minha musa Azul. Felicidade bateu à minha porta. Depois desse momento auspicioso, o céu poderia cair.
PS: Não foi possível assistir aos shows do domingo. Compromissos inadiáveis me aguardavam na minha vitoriana ilha. Fica para o próximo ano.

16 comentários:

Érico Cordeiro disse...

Mr. Salsa,
Entre mortos e feridos, salvaram-se todos, não é mesmo? rá-rá-rá-rá!
E ainda teve a Anat prá lavar a alma.
Mas é isso aí, festivao ao ar livre, de grátis, tem que ter essas figuras, digamos, pitorescas...
Abração!!!

Érico Cordeiro disse...

Errata: festival, por favor - erro de digitação (ficou feinho...)

edú disse...

Fizeram um maremoto verbal contra a presença da Martnália(não aqui neste ambiente,felizmente) mas é preciso colocar alguns fatores: Madeleine Peiroux é “louquinha de pedra”(simulou o próprio desaparecimento para dar migué na própria gravadora).E a Martnália - do seu jeito é modo, é uma versão tupiniquim de Billie Holyday , seja pela sexualidade e os problemas de alcoolismo corajosamente assumidos publicamente.A menina é uma cantora talentosa q foi colocada nessa cilada ,talvez, pela interferência da Madeleine - o Ivan pode esclarecer a questão.Mas no final de tudo prevaleceu o jazz instrumental, com uma ligeira aventura experimental, com essa nobreza toda no palco.Durante um tempo de minha adolescência considerei tornar-me rabino.Diante das intenções do Salsa, renovo essa hipótese para celebrar esse ilustre matrimonio de personalidades da música.

pituco disse...

pois então, salsa san,
recordo-me que dona elis regina ponderou muito antes de aceitar sua participação no fest.jazz montreaux '79...

imagine o signori,elis regina com aquela bandaça e o melhor de nossa música popular, áquela época, questionando se mpb é jazz ou não...

bom,
creio que os organizadores pensaram em alavancar público com um toque de inusitado...talvez?

enfim...como afirma mr.érico...todos sobreviveram

valeô o relato
obrigatô
amplexos sonoros e pacíficos

figbatera disse...

Estou boiando aqui com esse negócio de "musa Azul"...rs
E eu perdi o show dessa banda de cobras por conta da ameaça de chuva e do desconforto de ficar em pé ou sentado do chão.
Pior é que, além do show, perdi tb a companhia dos amigos e seus vinhos, que pena!

Salsa disse...

Prezados amigos,
É bom destacar que os aplausos da massa não se dirigiram apenas a Mart'Nália e Madeleine. Durante os solos dos super-stars o povo ia a baixo, demonstrando a plena satisfação com que era apresentado pelos músicos. Sérgio, ao meu lado, comentou sobre a juventude com visual funk e outras tribos que lá estavam, olhos e ouvidos fixos no que acontecia no palco. O evento aberto é, sem dúvida, a melhor maneira de disseminar o que se faz de bom nesse nosso mundinho cão.
Edú,
Seria uma grande honra tê-lo como ministro (rabino também é ministro?) no meu casamento com Anat. Estou aguardando a resposta da moçoila (enviei três camelos carregados com a minha proposta matrimonial).

Salsa disse...

PS - Prezado rabino,
Se Anat não topar, posso eu casar em efígie? Lembro-me que "mataram" o marquês de sade dessa forma - simbolicamente.

Unknown disse...

Cá estou eu, querido Luiz!

E tenho aqui uma perguntinha: O que será da tua musa Azul se a Anat aceitar tua proposta matrimonial? Hum?!

Agora, sim, aqui vai um breve comentário meu:

Confesso que me arrisquei nessa aventura em Ouro Preto com o único propósito de prestar serviços à Vênus, como tu mesmo já o presumiste. Entretanto, acabei envolvida pelo clima do Festival e, como apreciadora iniciante do Jazz, digo que foi uma experiência bastante agradável, não apenas pelas célebres companhias das quais desfrutei, mas pela beleza do que ali vi e ouvi. Embora meus ouvidos não sejam dos mais apurados, a ponto, por exemplo, de achar a Kate Schutt merecedora de críticas negativas, concordo que as demais apresentações foram, sem dúvida, bem mais extasiantes.
Rendo-me, por tanto, ao talento encantador e apaixonante de Anat Cohen. Por outro lado, animo-me mais com a existência de igual talento na versão masculina: seu irmão Avishai...(rs!).
Brincadeiras a parte, sinto-me realmente conquistada por esse tal de Jazz. Sinta-se, por sua vez, orgulhoso, pois você resgatou uma alma do fundo do poço, onde vivia uma terrível Tarantela!

Grande abraço!

Sua “senhorita de tez azulada”. :-D

Érico Cordeiro disse...

Ah, Mr. Salsa!!!
E agora, compadre?
Será que nessa mistura das tradições judaicas com cristãs (Seu Edú já resgatou até sua antiga quase-vocação), não sobra espaço prá um ecumênico islãzinho (é que lá o sujeito pode ter mais de uma esposa).
Sei não, Seu Mr. Salsa, mas o páreo é duro - eu é que não gostaria de estar na sua pele (ou não).
E prezada "senhorita de tez azulada", musa do nosso querido Salsa, aproveito para convidá-la a conhecer o blog JAZZ + BOSSA - endereço:

www.ericocordeiro.blogspot.com

Agregue-se à nossa alegre fraternidade virtual e que o casamento dê certo (ou os casamentos, não sei).

Seu Mr. Salsa, desculpe a (como se diz por aqui) "saliênça" e um abração a todos!!!

Salsa disse...

Oh, meu deus, a musa voltou em letra e texto. Por que levastes as fotos, minha principal prova de sua existência? Aguardo-te para aquela garrafa que restou de nossa estadia em Ouro Preto.
Prezado Érico,
esse seria um dilema pra mais de metro. Mas, como Anat ignorou solenemente minhas oferendas, bem melhor estarei com a minha musa venusiana.

edú disse...

Srta Ana,
respeitando sua discrição e privacidade e fazendo apenas uso de suas palavras "na beleza q ali viu e ouviu".Tb sentiu?

John Lester disse...

Esse é nosso correspondente oficial em Ouro Preto. Quase me corroí de inveja por não ter visto o Martinália grunhindo.

E viva Anat, e viva Jensen!

Grande abraço, JL.

Unknown disse...

Como não, Sr. Edu?!!

Vi, ouvi, senti, vivi, provei e aprovei...

figbatera disse...

Esse Lester, é terrível: "o" Mart'nália? kkkkkk.. Grunindo?
Esse prazer eu não tive.

Anônimo disse...

Pelos relatos sinceros e sonoros não posso deixar de estar presente ao próximo encontro. Salsa é o meu repórter saxofonista preferido, abrindo ou fechando os vinhos. Vcs foram privilegiados com tanta música, etílica ou não, e não deveriam reclamar tanto.Afinal, nem tudo é jazz, sempre foi assim, em qq festival, encontro, ou seja lá o q for.Preciso testar os elogios a Anat Cohen.Salsa, leva a menina no clube, terça qualquer.(RC)

Salsa disse...

Levo sim, Rogério. Aguarde.