Sete horas demoramos para chegar em Ouro Preto. Isso por estar no lombo de um carrinho 1.0, altamente poluente (de acordo com recentes pesquisas). A paisagem atual é de montanhas e mais montanhas sem vegetação outra que não capim. Mais devastadas do que a cabeça "desse que vos tecla" (como diz o bom e velho Acir). Dudu, baterista que me acompanhou na viagem, matutou sobre como seria a mesma viagem no lombo de uma velha mula carregada de minério e pedras preciosas furtadas do império. Povo maluco, aquele.
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Na divisa do Espírito Santo com Minas tem uma cidade chamada Manhuaçu, a qual somos obrigados a atravessar. O arguto baterista logo observou: "se alguém abrir uma loja que venda reboco/argamassa ficará rico nesse lugar", e mostrou como 90% das casas estavam com os tijolos à flor da pele. Ponderei que poderia ser o padrão estético da região. Assim sendo, pode ter havido uma loja com material para reboco, mas foi à falência por total falta de clientes. Dudu, insatisfeito, conclui: "e ainda põem esse monte de quebra-molas para nos forçarem a apreciar o arrojo arquitetônico do pedaço..."
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Chegamos, enfim. Após breve descanso, municiei-me com duas garrafas de vinho e parti para o largo do Rosário para o primeiro embate com a programação. No caminho, encontrei-me com Gilberto e Guzz (CJUB), Wilson (Clube de Jazz) e Olney (melobatera). Bla-bla-bla e coisa e tal e conversas outras sobre as expectativas para a primeira noite. Ninguém conhecia a jovenzinha canadense Kate Schutt, que se fez acompanhar por pelo menos uma pessoa conhecida: Terri Lyne Carrington (baterista). Imaginei que que o som seria a maior pedreira.
Não foi. A mocinha é pop. E, noves fora, nessa perspectiva, é até um alento. Fez um som leve com feeling jazzy ao fundo e ponto. Para quem gosta de Norah Jones, talvez soe até um pouco mais hard. Ponto. O saxofonista John Ellis, eu conheci ali. Nos seus breves solos, mostrou um fraseado moderno, explorando intervalos curiosos que produziam um bom efeito. Isso, no entanto, não foi suficiente para avaliar o trabalho do rapaz, mas permitia entrever uma boa promessa (no dia seguinte, ele teria outra oportunidade para mostrar sua competência musical). Difícil mesmo foi entender o que a foderosa Terri Lyne estava fazendo ali, tocando aquela coisa contida e limitada musicalmente. Graças aos bons deuses da música, foi-lhe concedido dois momentos para mostrar o que realmente pode fazer com as baquetas e tambores. No intervalo, meu amigo Dudu estava inconsolável, e Gilberto disse: "o que mais os músicos farão por dinheiro?"
7 comentários:
Mr. Salsa,
Seja bem-vindo à blogsfera.
Sua imensa torcida já está indócil, aguardando as novidades de Ouro Preto.
Nós, do MSF (Movimento dos Sem Festival) exigimos: resenha já!
Como diria aquele célebre slogan do Partido Comunista Menino Jesus de Praga: "O ovo cozido jamais será comido!"
Abração!
Pois é, Salsa, a Terri - apesar de um pouco "deslocada" ali - salvou a noite dos bateristas com dois belos solos. Aleluia!
Mais uma vez obrigado por prestigiar o Borboleta de Jade com seus comentários e apreciação dos nossos arquivos. Parabéns pelo blog e o conteúdo de melhor aqui achado. Valeu e fica na paz.
Admirável.Se algumas apreciam a música como fonte inspiradora, outras ,como Salsa – a convidam tornar-se parte da sua própria existência.Um indicativo do verdadeiro sentido da vida.
Prezado Mestre, parabéns pelo vinho em lugar dos destilados. A idade traz sabedoria e um fígado mais sensível.
E não me venha com reclamações sobre o festival: como diria Tristano, ou você faz jazz ou toca em festivais.
Podendo, envie os detalhes mais sórdidos, aqueles que as boas almas recolhem nas madrugadas e vielas de Ouro Preto.
Só queria ter visto a expressão do Olney ouvindo a Terri batucando.
Grande abraço, JL.
signore salsa san,
desconheço também kate schutt...mas,conforme-se com essa programação...pois por aqui,alguns eventos do gênero agendaram djs como jazz...rs
nada contra,nem a favor...contudo,ainda curto ouvir músico em seu instrumento...é isso aí.
aguardamos relatos outros poracá...
abraçsons pacíficos
Prezados amigos.
Apesar de não ter podido assistir todos os shows (voltei no domingo de manhã), achei o saldo bastante positivo. A única coisa destoante foi a Kate e a Martnália, de quem falarei em breve.
Edú,
Eu tenho maltrado bastante essa minha amada. Tentarei me redimir.
Prezado Lester,
O vinho e a desmesura causaram algumas seqüelas que o pudor ainda me proíbe relatar, mas, quem sabe, em breve eu crie coragem e me autodenuncie...
Pituco,
Acho que vou encarar essa. Comprarei um pickup, uma mesa de mixagem, um laptop e pimba: dj. Salário de banda para um só. Sedutor, não?
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