Não havia grandes preocupações quanto ao segundo show da primeira noite do Tudo é Jazz. Avishai Cohen, o trompetista e membro da confraria Telaviv-Nova Iorque, já havia mostrado em momentos anteriores que entende do riscado. A única ressalva foi feita por Guzz, apreciador de guitarristas, que achava (e continua achando) a presença do africano Lionel Loueke totalmente dispensável. Opinião que seria respaldada por personagens como o Predador e pelos membros mais idosos do Clube das Terças, mas não por mim (nem por Gilberto) e nem pela massa que insistiu e foi agraciada por um sensacional bis. O baixista Omer Avital e o baterista Daniel Friedman, merecidamente reconhecidos como grandes instrumentistas, completaram o time que lavou a alma dos presentes.
O show After de big rain, que bem serviria para intitular o dia seguinte do festival, foi bastante consistente musicalmente. A sonoridade oriental que prevalecia nos temas não era algo que distoava do bom e velho jazz. Aliás, já disse isso antes, a confraria consegue utilizar os elementos de diversas culturas equilibradamente, sem tirar nem pôr, propiciando um amálgama sonoro envolvente, balançante, com clima jovem, que permite ao jazz dar uma boa e saudável respirada. A participação de Loueke tem tudo a ver com isso. Seu modo de tocar, harmonizando com um preciso contratempo ou inserindo frases curtas e cíclicas, propiciou um balanço especial à apresentação e mostrou que é possível fazer jazz de qualidade usando diversas dicções.
Esse equilíbrio musical, contudo, não é simplesmente tirado da cartola - é produto de muito trabalho, como disse Daniel Friedman ao meu amigo e baterista Dudu. Usar elementos rítmicos diversos com precisão requer conhecimento de causa. Friedman, em busca de novos sons, costuma passar temporadas em diversas partes do mundo para melhor absorver esses elementos e articulá-los à sua pegada. Proposta que parece ser dividida por todos os integrantes do grupo.
Avishai estava em uma noite inspirada. Seu sopro solar, sem surdina, invadiu o largo do Rosário e tomou de assalto o grande público presente. As frases límpidas ressoavam nas velhas paredes dos casarios, insuflando vida e alegria na histórica cidade de Ouro Preto. A sua desenvoltura no palco mostrou a crescente segurança do antes tímido jovem músico. Segurança talvez conquistada com o auxílio explosivo de algumas doses de pinga e outras tantas garrafas de cerveja, alegremente degustadas no palco. Preocupei-me quando Avishai iniciou uma performance utilizando um pedal de volume (pensei: "a cachaça pegou o cara de jeito"). Preocupação que logo se mostrou inócua. O jovem sabia o que estava fazendo, ele ainda tinha o controle da cena. O resultado foi mais que satisfatório. Um belo fim de noite.
7 comentários:
grande Salsa
foi um showzão mesmo o do Avishai !
agora, sobre Loueke, como eu disse lá no CJUB, passa longe de um improvisador mas fez o seu papel ali e complementou o som do Avishai e conseguiu contagiar o público, que é o que importa
abs,
Mestre Salsa,
Uma bela descrição do show, para nós que ficamos entre fraldas e mamadeiras.
Excelente trabalho, meu caro ouvidor e olhador!
Abração!
O show foi belo mesmo.
Bruno Leão
salsa san,
aproveite o festival...e não se esqueça de sua pick-up...hehehe
amplexossonoros desse lado do planeta
Tá certo, Guzz, tá certo. A alegria e o balanço africanos são contagiantes.
Érico,
Vc já é catedrático em fraldologia e adjacências. A tarefa fica fácil.
Brunão é sangue novo na praça. Seja bem-vindo.
Pituco, aí no oriente deve ter uns lances hitech bem interessantes para turbinar uma pick-up, né não?
Irretocável.The show must go on.
Bela descrição, Salsa; eu tava lá mas aqui pude reviver aqueles bons momentos... aleluia!
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