domingo, 2 de junho de 2013

Sábado - Última noite em RDZ 2013

A noite passada foi longa. Fui tocar o bom e velho roquenrou com amigos. Antes que o sol me incomodasse, fui dormir para poder tocar blues mais à tarde. À noite, em nome do jornalismo verdade, fui assistir o som da última noite do palco principal.
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Will Calhoun abriu a noite com o standard hardbop Afro blue, de Mongo Santamaria (durante muito tempo achei, pelo estilo, que  era coisa de Coltrane). Fiquei animado. A adrenalina afastou o cansaço da longa jornada off festival. O baterista e band leader mostrou que sua técnica é realmente impressionante. Mas ficou por aí. O som seguiu a linha mais contemporânea, explorando efeitos eletrônicos, que poderia ter sido mais equilibrado pela presença do saxofonista smooth Donald Harrison (um tipo de Leo Gandelman). Mas não foi.
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Em seguida, foi a vez do power trio do guitarrista Scott Henderson despejar uma avalanche sonora sobre a platéia.  Destaque-se seu vasto repertório de patterns e frases que usou sem dó nem piedade nos seus longos solos. Os jovens guitarristas de plantão curtiram bastante seu roquenrou jazzy.
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O ovacionado baixista Victor Wooten veio em seguida trazendo seu groove carregado de hip-hop, funk e soul. O tema de abertura (com quatro baixos) foi prejudicado por problemas na sonorização. Falha lamentável. Wooten usou e abusou dos malabarismos com seu instrumento (a galera adora ver piruetas), mas também mostrou suas inovações técnicas no espancamento das cordas. Ao seu lado, Steve Bailey também mostrava serviço com seu baixo de seis cordas (e com o trombone verde). Destaque-se a participação de Krystal Peterson, a loirinha tatuada e dona de bela voz, que se saiu bem interpretando Steve Wonder. 
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A noite foi encerrada por Lucky Peterson que, para os apreciadores do blues, foi quem roubou a cena. Eu ainda fico com Stanley Clarke e, depois, Christian Scott.

sábado, 1 de junho de 2013

Rio das Ostras 2013 - sexta-feira

Grandes músicos dominaram o palco principal na sexta-feira. Grandes e jovens, destaque-se. A banda que acompanhou Arthur Maia deve ter uma média de idade que não ultrapassa 22 anos (dois dignos representantes capixabas lá estavam: o trompetista Bruninho e o trombonista Roger Rocha). O bom e balançado show protagonizado por Rei Arthur e seus Cavaleiros teve seu momento de excentricidade, quando o baixista resolveu cantar algumas de suas composições (boas, diga-se de passagem). Rei que é, Arthur merece e pode até cantar, pois seus súditos aplaudirão (eu entre eles).
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O jazz em sua forma mais radical subiu ao palco com outro jovem e bom instrumentista: Christian Scott, que também trouxe uma banda de garotos. Garotos que se divertem com a força avassaladora que habita a juventude, inspirando e energizando a platéia. Jazz de muito boa qualidade.
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Vernon Reid, como de hábito, plugou a sua guitarra turbinada e metralhou o público num paredão sonoro. Seu som heavy-funk-jazzy intercalou momentos com a bela e sensual Maya Azucena que, além dos atributos canta muito (apesar de ter escolhido temas excessivamente pops para esses velhos ouvidos).
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Fechando a noite, o ícone do baixo Stanley Clarke fez um show e tanto. Esbanjou técnica e desenvoltura tanto no baixo elétrico quanto no acústico. A interpretação de Goodbye Pork Pie hat, com o groove da versão de Jeff Beck, foi excelente. O momento maior até o dia de hoje foi o seu solo com baixo acústico. Ali, ele mostrou que chama a música e seu instrumento de "meus amores", mas não  daquele jeito cheio de reverências e rapapés. Foi uma irreverente declaração de amor - daquelas que faz as amadas sorrirem e iluminarem o ambiente. Estou certo que velho Alzheimer terá dificuldades para tirar esse momento da minha memória. Thanks God!
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PS - o baterista de Stanley também é um garoto: 17 anos. 

Rio das Ostras 2013 - Quinta-feira

Viajar de moto e ouvir boa música. Duas coisas que aprecio e tenho feito. Cheguei em RDZ, apesar de ter de passar por Campos. Contornos às cidades deveriam ser obrigatórios. Ainda mais em lugares como Campos. Penso nessa passagem como uma provação, pois, de outro modo, seria o paraíso. E, segundo consta, essa seria um recanto acessível apenas pós-morte. Na dúvida, vou ficando por aqui administrando meu conhecido inferninho.
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Cheguei na quinta, a tempo de tentar assistir Stanley Clarke na Pedra da Tartaruga. Estava inviável. Muita gente e pouca pedra para pisar. Assistirei na sexta, no palco principal.
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Abriu a noite da morna sexta a furiosa de mórmons BYU Synthesis, que fez uma boa apresentação. Com volume alto, como deve ser. Fiquei pensando se a loirinha tenorista teria direito de ter vários esposos, como é da lei clássica.
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Primeira garrafa de vinho e uma cerveja 9,5º. Entra no palco o violonista Diego Figueiredo. Mise-en-scène à parte, sobrou pouco (apesar da boa cozinha que o acompanhava). A sua performance foi bem aquém de sua precoce fama. Esperemos a maturidade. Pelo jeito a noite permaneceria morna.
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Mais uma garrafa de cabernet com o amigo Dan Mendonça. Vez do smooth Leo Gandelman e seu convidado Charlie Hunter. Nada acrescentou ao show de Santa Teresa. Melhor estava o papo com o amigo. Falamos de atrações que representem o jazz de modo mais radical para convidá-los para Santa Teresa no próximo ano. Ofereci cem merréis para ajudar no cachê ou de James Carter ou de Joshua Redman. Mas seria bom trazer um dos dinossauros, que estão em plena extinção.
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Outra garrafa de Zorzal. Começa a homenagem ao finado guitarrista Celso Blues Boy. O blues comeu solto. O capixaba Saulinho Simonassi estava lá, incandescendo as cordas de sua guitarra. O povaréu curtiu e dançou com o balanço do som do Mississipi.
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Murphy me abraçou quando ia embora: derrapada na areia e mais alguns arranhões para compor a crônica escrita na pele. Sim, deve ter doído, mas eu não me lembro.