domingo, 30 de maio de 2010

O jazz no horizonte


Retorno, após desvio, ao tema. O jazz surge no horizonte. São dois cds em um. O primeiro e o terceiro (gravados em 57 e 58) dos irmãos brothers Pete & Conte Candoli, aqui intitulado Jazz horizons.

São 21 faixas curtas (apenas uma com mais de quatro minutos) que, em vários momentos, deixam aquela vontade de ouvir um pouco mais dos geniais músicos. Digo vários momentos porque nem todos me agradaram. Há faixas em que a sonoridade pareceu-me com aquela dose a mais de tequila, se é que me entendem. Mas é um disco que vale a pena ter na discoteca.

O sexteto se completa com Jimmy Rowles (piano), Howard Roberts e Kessel dividem a guitarra (as primeiras onze para Roberts e as outras para Kessel), Joe Mondragon (baixo) e Alvin Stoller (bateria).

Confiram algumas faixas na radiola.

Link: Avax

sábado, 29 de maio de 2010

Um pequeno desvio

Ontem, quando retornava para casa, a lua cheia estendia um véu de leve luz sobre a deserta estrada. Por alguns poucos segundos, tomado pelo lunar feitiço, numa reta, apaguei o farol. Parecia deslizar nas nuvens.

Mais à frente procurei um disco para ouvir. Decepção - havia esquecido o porta cds em casa. Parei no acostamento e procurei alguma coisa no porta-luvas (alguém, cá nos trópicos, guarda luvas no porta-luvas?) e, entre um amontoado de arqueológicas relíquias e quinquilharias acumuladas pela preguiça, encontrei um cd que nem sabia que constava entre meus pertences: Elis Regina e Toots Thielemans - Aquarela do Brasil, gravado em 1966.

Infelizmente, não consta o nome dos músicos que participaram dessa bela sessão. O que importa, porém, é que o disco é muito bom e casou perfeitamente com o meu estradeiro e lunar estado de espírito.

Curtam aí quatro teminhas: Wave (Jobim), Volta (Menescal & Boscoli), Wilsamba (Menescal) e Canto de Ossanha (Powell & Moraes).

Link: Avax

segunda-feira, 24 de maio de 2010

My fair lady

My fair lady era figurinha fácil na antiga sessão da tarde da tv. A estória é uma adaptação do livro Pigmaleão, de Bernard Shaw. No filme, a tentativa de transformar um plebeu em nobre envolve a pobre e bela florista Audrey Hepburn e o linguista Rex Harrison (o encarregado da transformação). Um grande sucesso. Até a globo fez uma adaptação para seus folhetins: Pigmaleão 70.

O musical da Broadway teve trilha sonora composta por Lerner (letras) e Lowe (música) e, obviamente, foi muito bem aceita pelo público e crítica. Seduzidos pela música, no mesmo ano de lançamento da peça (1956), o baterista da costa oeste, Shelly Manne, reuniu seus companheiros de lida André Previn (piano) e Leroy Vinnegar (baixo) para gravar oito das composições que compõem a famosa peça.

O resultado é muito bom. O tratamento dado às canções é primoroso, permitindo aos músicos mostrarem habilidade e sensibilidade que lhes são peculiares. O piano de Previn, como não poderia deixar de ser, está fenomenal. Manne, mestre que é, conduz com delicadeza quando necessário e com alegria quando esta se impõe. Vinnegar é a segurança em pessoa e garante seguir a trilha sem riscos.

Confiram tudo ali na radiola.

O Link: Avax

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Coop!

Dois anos antes do meu nascimento, ou seja, no bom ano de 1957, o tenorista e compositor Bob Cooper gravou um lp que, a meu ouvir, merece ser ouvido por todos apreciadores do jazz. Trata-se de Coop! The music of Bob Cooper.

Como bem destaca as liners note, nesse disco o menos vale mais. O noneto faz som que vale por uma bigband das boas. Destaque-se a competência do saxofonista ao elaborar os arranjos. O clima cool é muito bem articulado ao swing, intercalando momentos de delicada leveza com momentos de vivaz alegria (sem histeria).

Isso a gente percebe logo na primeira peça, Jazz theme and four variations, de Cooper, que consome a metade do disco e já valeria a sua aquisição. Logo no primeiro movimento (Sunday mood), o vibrafonista Victor Feldman demonstra uma sensibilidade e tanto em sua interpretação, passeando sobre uma "cama" comfortabilíssima construída por Frank Rosolino e Cooper (que em seus respectivos solos mostram a grandeza de suas artes).

Mas a coisa não pára por aí. Do segundo movimento em diante, entra uma galera fenomenal: Pete e Conte Candoli e Don Fagerquist pilotam os trumpetes; Johnny Halliburton (que eu não conhecia) substitui Rosolino ao trombone. Pronto, eis um naipe de respeito.

Tá bom? Então veja quem está sustentando a obra: Lou Levy (piano), o já citado Victor Feldman (vibrafone), Max Bennet (baixo - desse, eu não me lembro) e o grande Mel Lewis (bateria).

Os outros seis temas que compõem o disco são os standards Confirmation, Easy living, Frankie & Johnny, Day dream e Somebody loves me. Querem mais? Ouçam tudo ali na radiola.

Link: Avax (ape)

sábado, 15 de maio de 2010

Som para uma tarde de outono

I am a old man. Como eu sei? Minha filha está no salão se preparando para uma festa de quinze anos (de uma amiga); meu filho mais novo está jogando video game na casa de um amigo; meu filho mais velho (que não vejo há algum tempo) deve estar com a namorada ou com amigos jogando futebol. Eu, cá ouço um disco dos anos 50. 57, para ser preciso. Aliás, esse ano é impressionante no quesito jazz. Será que os vinhos desse ano são tão bons quanto os discos? Diga lá, mr. Lester.

Smoke gets in your eyes, sopra-me o trompetista Don Fagerquist. Arranjo simples (pelo menos em aparência) e envolvente. Está no disco, seu primeiro como líder, Eight by eight. São oito standards interpretados por oito bons músicos. O clima é cool, como essa tarde outonal (considerando-se o calorzão que tem feito ultimamente).

O time é composto por, além de Don, Herb Geller (alto), Ronnie Lang (barítono), Ed Leddy (trompete), Bob Enevoldsen (trombone de válvula), Vince DeRosa (trompa), Marty Paich (piano), Buddy Clark (baixo) e Mel Lewis (bateria). Destaco a performance do altoísta, mas sem desmerecer o restante do grupo (sou tendencioso, no caso).

Como aperitivo, deixo-lhes Easy to love e Smoke gets in your eyes.

Link: Avax

segunda-feira, 10 de maio de 2010

O jazz da costa norte está em órbita

Uma cidade acabou de entrar no meu mapa musical: Minneapolis. O nome parece de cidade de desenho animado. A namoradinha do Mickey Mouse deve ter nascido em um esgoto lá pr'aqueles lados. Sim, senhores, lá, além de ratinhas que mostram as calcinhas, também tem jazz - e dos bons.
Bob Davis foi-me apresentado por nosso contumaz visitante de codinome Jazzlover, que deixou o link em um recente post. O cd contém dois lps: Jazz from the north coast e Jazz in orbit, gravdos nos anos 57 e 58.

Pois bem, mr. Davis é um pianista bastante articulado e com um vocabulário abrangente. Sua mão direita me lembrou um pouco de Peterson com pitadas de Garner (mas sem muita afetação). Seus solos são voluntariosos e envolventes, conseguindo capturar minha atenção imediatamente.


A coisa ainda fica melhor quando ouvimos o bom flautista David Karr e o também bom saxofonista (alto, tenor e barítono) Bob Crea. Os rapazes entendem do riscado e, em vários momentos, fazem com que os discos pareçam ser seus. Gostei muito da eloqüência dos moços. O baixista Stu Anderson consegue manter um up tempo de primeira e sustenta o edifício musical com firmeza. Bill Blakkestead (assim mesmo, com dois ks) mostrou-se um baterista de boa escola que, para mim, não fica a dever muita coisa aos grandes nomes do seu instrumento.


Agradeço ao bom e velho Lover pela dica. Gostei e recomendo.
Link: Lover


Raul de Souza Quarteto

Programa para o fim de semana:

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Pat Moran

Para amenizar os pecados de seus parcos habitantes, Montana não nos legou apenas a jovenzinha Hanna, que faz furor entre os adolescentes. Aliás, nem sei se o nome da menina tem a ver com o estado dos USA, rico em montanhas (como o nome sugere) e o 3º menos populoso daquelas frias plagas. Pois, saibam vocês que, além de ser a casa do Zé Colméia, de vacas e local de batalhas contra os indígenas (lá aconteceu a famigerada batalha de Little Bighorn), Montana também gerou o bom pianista Pat Moran.

Ouço o disco This is Pat Moran trio, gravado em 1957, em Chicago. Agradou-me o toque límpido e percussivo as frases melódicas e sua bem posta harmonização. Ao seu lado está o baixista Scott La Faro. Abro parênteses - no post anterior afirmei, pautado em informações do encarte, que a primeira gravação do baixista foi em 58; oras, esse disco é de 57. Danou-se! Deixo para os fãs do baixista o pedido de correta informação. O que interessa, porém, é que o rapaz é realmente muito bom e consegue roubar a cena em diversos momentos. O baterista é Johnny Whited, que mostra-se um músico eficiente e elegante com seus tambores.

Anfan, gostei do lp e indico para os amigos. Confiram Onilosor, Could have danced all night e Blues.

Link: Avax

sábado, 1 de maio de 2010

A chegada de Victor Feldman

E, por falar em inglês, Victor Feldman também é inglês. Lá, na velha e mofada Inglaterra, cercado por lagos de de puro malte, ele iniciou sua carreira, já disse isso aqui, como baterista. Ao mudar-se para os EUA, continuou com as baquetas, mas espancando o vibrafone, e, com os dedos, passeando pelas teclas do piano. Bem, espancar não é o verbo apropriado para as suas performances musicais. Todos sabem, que ele é um dos músicos mais respeitados do cenário jazzístico.

A maestria de Feldman pode ser atestada com o disco The arrival of Victor Feldman, gravado em janeiro de 1958. Creio ser este o primeiro disco em que se apresenta em trio. E que trio. O repertório e as performances estão impecáveis. O inglês reconquista o velho território com uma entrada triunfal - manda muito bem tanto no piano quanto no vibrafone. Ao seu lado, o impecável Stan Levey, com a elegância de sempre, conduz a bateria com a segurança que só os grandes conseguem.

Uma coisa, porém, chama um pouco mais de atenção: o baixista, meus amigos, o baixista. Deveria ter um subtítulo destacando a chegada de um jovem de 21 anos chamado Scott La Faro, que fazia, naquele momento, a sua primeira gravação. Ali já estava toda a razão que o alçou ao Olimpo dos grandes jazzistas. Impressionante.

Ouçam Chasin' shadows e Bebop

Link: Avax