Conheci
Wanderson Lopez há dez ou quinze anos, aproximadamente. Era um jovenzinho elétrico (capixaba da gema) querendo tocar jazz. Mostrou-me a sua guitarra e dedilhou suas cordas com o ímpeto dos jovens: muita paixão, muitas notas, voluptuosas notas revelando a sua autodidata alma musical. Naqueles dias,
Wandinho, como seus amigos o chamam, já mostrava ser um grande músico - mais do que somente um músico de jazz - e que estava burilando uma peculiar assinatura musical.
Na semana passada, ele aproximou-se de mim e mostrou-me um cd, o seu primeiro cd: Poemas brasileiros, que será lançado em breve - aqui e na Europa (na Itália, para ser preciso), fruto de longos meses de árduo trabalho. Cheguei em casa de madrugada e resolvi ouvi-lo enquanto me preparava para o merecido sono. Logo nos primeiros acordes, o sono se foi e deu lugar à necessidade de ouvir todos detalhes que Wandinho usou na confecção do seu trabalho.
Wanderson Lopez mostra, em Poemas brasileiros, que o jovenzinho impetuoso de há dez anos ainda mantém a verve que o movia, a paixão, mas com o tratamento que a vivência propicia a algumas almas sensíveis. Suas composições revelam boas influências do erudito e do pop, que se articulam com particular eficiência, produzindo um resultado bastante convincente.
A Suíte brasileira, que abre o disco, dividida em quatro movimentos (Poemas, Brasileiros, Abrigo e Casa de Baden), passeia pelo baião, pelo choro, pela valsa e pelo afro-samba. Poemas traz um sabor mais erudito em que os violões são explorados de modo eficaz. O estiloso choro Brasileiros, com a participação do irrepreensível gaitista Gabriel Grossi (que participa em mais duas faixas), é um momento e tanto. Abrigo, o terceiro movimento, é uma valsa que se divide em três, sendo cada parte um estilo bem definido - pitadas de um lirismo erudito com uma brisa metheniana (aqui Wanderson conta com o apoio de Pedro Alcântara ao acordeon). A Suíte se completa com uma bem feita homenagem ao grande Baden Powel. Essa peça já seria uma boa justificativa para a edição do cd.
Para nossa sorte, o disco ainda tem muito mais. Além das bem estruturadas composições de Wandinho, o violonista, baixista e bandolinista nos brinda com boas interpretações de composições de grandes contemporâneos: Toccata in blues (Domeniconi), Jongo (Bellinatti) e Saudade a trois (Dyens).
A empreitada foi realizada com a participação dos músicos Pedro Alcântara e Fabiano Araújo (acordeon), Edu Szajnbrum (percussão), Diego Frasson (bateria) e Gabriel Grossi (gaita). Wandinho cuidou dos violões, bandolin e baixo.
Serviço:
CD: Poemas Brasileiros
Cotação: ****
Selo: Independente