sábado, 28 de agosto de 2010

Vocês conhecem Gil Melle?

Recentemente, recebi a visita de um fã de trombonistas. Perguntou-me se eu tinha alguma coisa em meus arquivos e, sim, disse-lhe, tenho alguns discos. Coincidentemente, no disco que agora ouço, conta com a participação de um trombonista que conseguiu chamar a minha atenção.

Achei o disco excelente em três aspectos fundamentais: performance dos músicos, bons temas e arranjos com o agradável clima cool.
Trata-se do primeiro disco do saxofonista Gil Melle para o selo Blue Note - Patterns in jazz, gravado em 1956.

Não sabem quem é Gil Melle?!? Perguntem ao Lester, ao nosso amigo Érico ou ao mr. Hotbeat. Eles, com certeza, terão algo a dizer sobre a biografia desse competentíssimo multi-sopro (barítono, tenor e brass).

A equipe que atua nesse agradável momento da discografia jazzística é constituída pelo excelente trombonista (pelo menos nesse disco - até então desconhecido para esse que vos tecla) Eddie Bert, dono de um sopro firme e de um fraseado daqueles que permite contar belas estórias; acrescente o curioso guitarrista Joe Cinderella - que consegue um timbre muito agradável do seu instrumento; o bom e velho baixista Oscar Pettiford, que dispensa apresentações, e, segurando a baquetas, o equilibrado Ed Thigpen.

Como bem destaca o comentarista do link onde encontrei esse disco, o trabalho da moçada mostra como é possível fazer um som cerebral sem abandonar o swing. Saliento a tríade melódica: Melle, Bert e Cinderella (este, também encarregado da harmonia, obviamente), músicos que parecem terem nascidos para se encontrarem e gravarem esse disco. Um presente dos deuses.
Recomendo sem titubeios e sapeco uma constelação de estrelas. Deixarei o disco na radiola para vosso deleite.

O link: Avax


segunda-feira, 23 de agosto de 2010

A primeira vez do Kenny

Foi em 13 de novembro de 1959 que o trompetista Kenny Dorham adentrou o estúdio para a sua primeira sessão como líder. O percurso até esse dia não foi curto. Já os anos quarenta do século passado, o jovem instrumentista atuava ao lado de nomes como Gillespie e Parker.

Quiet Kenny é um disco em que Dorham consegue revelar a sua alma de músico plenamente. Ele está bastante à vontade ao lado de Flanagan (piano), Chambers (baixo) e Taylor (bateria), demonstrando a segurança e sensibilidade que lhe são peculiares. Seu sopro límpido ressoa potente em up ou low-tempo, repleto de frases melódicas muito bem elaboradas, recheadas de um salutar e nada açucarado lirismo. Podem consumir sem restrições.

Deixarei o som rolar na radiola.
Link: Avax


domingo, 22 de agosto de 2010

Rouse

A primeira vez que ouvi Charlie Rouse, ele estava atuando como sideman de Monk. Desde então, Rouse passou a ocupar um lugar especial entre meus preferidos instrumentistas.

Passei a buscar seus trabalhos como líder e, confesso, entre os poucos que encontrei, ele não me convenceu tanto quanto quando acompanhava Monk. Talvez estivesse eu com os ouvidos contaminados pela força dos temas do genial pianista. Pode ser.

Pois bem, cá estou novamente às voltas com o meu herói, num cd que reúne dois lps com momentos bastante interessantes: Yeah! e We paid our dues. Os albuns foram gravados em 60 e 61 do século passado. O primeiro, Rouse se fez acompanhar por Billy Gardner, Peck Morrison e Dave Bailey, e, logo na primeira faixa - You don't know what love is - deparei-me com a sonoridade que apreciei em seus trabalhos com Monk. E, para me deixar ainda mais feliz, a faixa seguinte - Lil' Rousin' - em andamento mais up, mantém o clima da primeira. Para mim, já valeria a aquisição do disco.

As últimas seis faixas (são doze), referentes ao lp We paid our dues, reúne um time maior. Três faixas foram gravadas com Gildo Mahones, Reggie Workman e Art Taylor, outras três trazem o tenorista Seldon Powell (alguém aí sabe algo sobre ele? Aliás, só reconheci Taylor e Best entre os citados) que manda bem nos temas que ficaram por sua conta e Lloyd Mayers, Peck Morrison e Denzil Best. Agradou-me a versão de When sunny gets blue (uma das baladas que mais aprecio), em que Rouse constrói uma bela intro para a sua envolvente interpretação (como o tema exige).

É isso, meus amigos, dois bons discos em um. Fiquei duplamente feliz, especialmente por, enfim, achar discos de Rouse que não comprometem a imagem que dele guardo.
Curtam alguns teminhas ali na radiola.
Link: Avax

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Um guitarrista de jazz


Às vezes eu me esqueço de alguns bons discos que estão na minha discoteca.
Um dos esquecidos é o lp The jazz guitarist, gravado na primeira metade dos anos cinqüenta pelo excelente guitarrista Chuck Wayne. Na verdade, trata-se da reunião de doze temas gravados em 53 e 54. Ao seu lado estão Zoot Sims (tenor), Brew Moore (tenor), Harvey Leonard (piano), John Mehegan (piano), George Duvivier (bass), Vinnie Burke (bass), Ed Shaughnrssy (drums) e Joe Morello (drums).
Wayne, creio eu, começou seus trabalhos ao lado de George Shearing, ainda nos anos quarenta. conquistando reconhecimento por suas belas performances. No disco que vos apresento, a coisa não muda. As parcerias com seus colegas jazzistas nos rendeu uma boa leva de bons momentos musicais.
Deixarei vocês curtirem While my lady sleeps, You brought a new kind of love to me, S.S Cool e a sensacional Butterfingers.
O link: Avax

domingo, 8 de agosto de 2010

Jenkins & Burrell

Como viajarei para Colatina amanhã, resolvi postar imediatamente o disco que foi-me enviado pelo velho, querido e desaparecido amigo Vinyl. Esse não dá para ficar na gaveta esperando o próximo final de semana.

Disse-me ele, no bilhete escrito a mão, que achou o lp e o cd em um sebo em São Francisco. Trata-se do algo parkeriano altoísta John Jenkins (de Chicago), que, até onde eu sei, atua mais como freelancer do que como líder. Fez uns trabalhos com o quinteto de Mingus e, tá lá no encarte, com Mobley.

O disco, o primeiro de Jenkins como líder, leva o nome do saxofonista e destaca a presença do guitarrista Kenny Burrell. Agradou-me a expressão do sopro do camarada, com som fluido e fraseado bem articulado.

A parceria com Burrell, que não precisa de apresentações, deu uma boa liga. Os diálogos da dupla soam agradáveis tanto em up quanto em slow tempo. Também convém destacar a cozinhaça que segura o rítmo: Sonny Clark (piano), Paul Chambers (bass) e Dannie Richmond (drums) - trio de respeito, que garante boas molduras para as telas pintadas pelos nossos heróis.

Deixarei três temas para não deixar dúvida sobre a qualidade do som: From this moment on, Sharon e Blues for two.
Link: Avax

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Mulligan por Mulligan

Estava com saudades do meu quintal. Ficou um pouco abandonado, mas já comecei a fazer os necessários reparos. O primeiro deles, obviamente, é colocar um novo velho disco na radiola.

Saquei da estante um lp (também tenho o cd) que há muito não ouvia: Mulligan plays Mulligan, gravado em 27 de agosto de 1951. Os arranjos, o balanço, a performance de cada um dos músicos dessa antológica gravação faz com que mereça lugar etiquetado na discoteca.

A mini bigband de Mulligan (noneto - cf a formação na capa do cd) mantém o bom e velho swing em seu pedestal, mas com uma aura peculiar - o som menos estridente, valorizando os registros mais graves do seu sax barítono.

Destaque-se a faixa Mulligan's too, um blues de 17 minutos que ocupa todo o lado b do lp. É uma jam daquelas que acende o desejo delirante de dela participar. Puxando a brasa para a minha sardinha, o solo do bom tenorista Allen Eager é, como diz o Pituco, bacanudo. Confiram ali na radiola.

Link: Avax