sábado, 27 de junho de 2009

Stan "the steamer" Getz

Só depois que eu comecei a escrever em blogs foi que passei a dedicar algum tempo às notas, às fichas técnicas, aos detalhes que vêm escritos e descritos nas capas dos lps e cds. Preocupava-me mais em ouvir o som do que em ler. Achava eu que ali só poderia ter "rasgação de seda", "babação de ovo" em relação aos membros da banda. Se isso é um fato, também é fato que ali encontrarmos interessantes estórias e explicações curiosas sobre alguns detalhes das gravações, da história do jazz ou sobre alguns dos seus jargões.

Na contracapa do lp The Steamer, de Stan Getz, gravado em 56, por exemplo, é explicado que Steamer é o nick-name de Getz, e que teria sido criado por Oscar Peterson durante uma turnê européia da Jazz at philarmonic (em 55, creio). Oscar teria dito: "My, the Stanley Steamer is certainly cooking tonight" e, desde então, a rapaziada passou a tratá-lo desse modo. Não se trata, pois, da sonoridade do Stan, que está mais para cool do que para em ebulição e soltando vapor. O jogo está em relacionar "steamer" (vapor) com a expressão "cooking", jargão dos músicos de jazz que, ao contrário do que se poderia pensar (para nós, cozinhar é enrolar) designa aquele que está "mandando bem" naquela sessão.

Pois bem, Stan "Steamer" Getz reuniu-se com Lou Levy (piano), Leroy Vinnegar (baixo) e Stan Levey (bateria) para gravar esse excelente disco. Vale a pena dedicar um tempo para ouvir o piano de Levy (o seu solo em How about you? está sensacional), que, apesar de não ser um dos mais citados, é um músico que não deixa nada a desejar em comparação com os medalhões do jazz piano. Vinnegar e Levey já mereceram posts aqui e na vizinhança e já mostraram do que são capaz. Getz, por sua vez, nunca recebeu qualquer espaço aqui no meu sítio. Corrijo isso agora.

Em The steamer, o nosso herói está em plena forma e, com sopro firme e suave que lhe é peculiar, destila seu vasto repertório de frases; mais ainda, mostra-nos a sua grande habilidade em criar frases - sempre com um lirismo encantador. O som de Getz é daqueles que fazem a gente desejar tocar um instrumento. Se vocês não têm esse disco, aconselho que comprem-no logo. Vale mais do que cada centavo investido.

Ouçam alguma coisa ali no podcast Quintal do Jazz.

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quarta-feira, 24 de junho de 2009

Shirley Horn - I remember Miles

Como reflexo do meu confesso e galopante celibatarismo, eu não tenho dado muita chance para a mulherada aqui no meu espaço. Ouvir uma fêmea sussurando palavras de amor no pé do ouvido é o tipo de tentação a qual não consigo resistir. Mas, em nome do jornalismo verdade, eu me arriscarei nessa missão.


Já falei aqui no meu blog que minha paixão é Anita O'Day, mas a beleza circula por aí sem pedir licença, despreocupada, em diversas outras formas. Nem sempre formosas como a minha Anita, mas sempre belas em suas peculiaridades. Uma delas é Shirley Horn, que sabe como poucas, com sua voz grave e levemente rouca, como interpretar uma balada.


Ouço-a agora em uma homenagem ao polêmico Miles Davis. Miss Horn escolheu aqueles temas por ele interpretados e que mais se aproximam de seu (dela) estilo (para alguns arrastado demais) e se cercou por todos os lados com um pequeno grupo bastante representativo do jazz, que se revezaram nas gravações: Hargorve, Carter e Ables (baixo), Steve Williams e Al Foster (bateria), Toots (harmônica) e Buck Hill (tenor [que eu não conhecia] - dono de um belo sopro).


Pode comprar que o resultado é muito bom. Tanto que eu me empolguei e estou saindo para a esbórnia. Fui!!!


Ouçam ali no podcast Quintal do Jazz.


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domingo, 21 de junho de 2009

Grand Stan

Aaaah, que maravilha!, voltei ao bom e velho jazz. E em grande estilo. Na radiola, rodando com a elegância que lhe é peculiar, um dos bateristas que me conquistaram com maior facilidade: Stan Levey. Já comentei sobre ele em outra oportunidade. Aqui, em Grand Stan, gravado em LA, em novenbro de 1956, ele se faz acompanhar pelos seus camaradas Conte Candoli (tp), Frank Rosolino (tb), Richie Kamuca (ts), Sonny Clark (p) e Leroy Vinnegar (b) - alguns desses participaram do disco anteriormente postado.


Natural de Filadélfia (1926), Stan Levey sempre gostou de dar pancadas. Seguindo seu instinto, pensou em tornar-se boxer, mas, para nossa sorte, ele percebeu que distribuir bofetadas não era o melhor caminho a seguir. Aos dezessete, já estava encarando a bateria ao lado de Dizzy Gillespie (1942). Sua sutileza ao conduzir seu instrumento logo o levou a ser um dos bateristas mais solicitados no cenário jazzy - participou de aproximadamente 1400 gravações com os principais nomes do jazz (Parker, Sims, Tatum, Webster, Gordon, Shank, Stan Getz, John Lewis, Ray Brown, Sonny Stitt, Barney Bigard, Gerry Mulligan, Vince Guaraldi, Lee Konitz são alguns entre outras dezenas de jazzistas com quem partilhou sua habilidade). Em 1975, Stan saiu de cena e entrou numas de ser fotógrafo (pelo que parece ele se deu bem na profissão) e nos deixou definitivamente em 2005.

Em Grand Stan, como sempre, sua performance é uma sutileza só. Não tem aquela história de soltar umas bombas só para dizer que é o líder da banda. O clima cool mantido pelos sopros também é sensacional - Rosolino, Kamuca e Candoli destilam sensibilidade em seus fraseados e nas vozes por eles harmonizadas. Clark e Vinnegar também conhecem o caminho das pedras. Aliás, eles são encarregados de, com Levey, manter as pedras nos devidos lugares para que a música flua sem atropelos. Pode comprar que é satisfação garantida.

Ouçam ali no podcast Quintal do Jazz
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sexta-feira, 19 de junho de 2009

Violão brasileiro

Hoje eu ainda não escreverei especificamente sobre jazz, mas continuarei na seara musical. Fui convidado por Lídia e Beatriz, responsáveis pela organização, em Vitória, dos projetos desenvolvidos pelo SESC, para assistir o concerto de dois excelentes violonistas, Daniel Wolff e João Pedro Borges, que, sob os auspícios dessa instituição, estão circulando o Brasil para apresentar a sua arte.


Falemos, em primeiro lugar, sobre o projeto Sonora Brasil, que trouxe os dois grandes músicos a Vitória. Trata-se de um belo esforço para divulgar e formar ouvintes para a música brasileira que não encontra o devido respaldo nos rádios e nas tvs comerciais. O tema adotado nessa que já é a 12ª versão do projeto é o Violão brasileiro. Nesse sentido, reuniu-se oito violonistas do norte e do sul do Brasil para percorrer mais de oitenta cidades interpretando composições daqueles que contribuíram para que o violão se tornasse o instrumento que mais reconhecimento internacional traz para nossos músicos. Reconhecimento que ainda precisa alcançar grande parcela da população brasileira - ponto que o projeto do SESC ataca com louvável presteza.


Confesso que há muito eu não ouvia dois músicos de tal nível técnico. João Pedro Borges, maranhense de São Luís, é mais conhecido pelo seu trabalho à frente da Camerata Carioca e por seus trabalhos ao lado do grande Turíbio Santos. Na estrada há aproximadamente quarenta anos, João Pedro adquiriu um nível incomum de coesão entre técnica e paixão ao interpretar suas peças. Daniel Wolff, do Rio Grande do Sul, foi o primeiro brasileiro brasileiro a conseguir o título de Doutor em violão no Brasil (Manhattan School of Music). Intérprete e compositor, Daniel também mostrou grandes habilidade e sensibilidade ao tocar seu violão. Destaco a sua composição Scordatura, uma suíte em quatro movimentos na qual ele "brinca" com as afinações das cordas.


O leque de compositores do nordeste e do sul do Brasil selecionados pelos violonistas (Marlos Nobre, José Siqueira, Edino Krieger, Jaime Zenamon, Radamés Gnattali, Bruno Kiefer e vários outros) permitiu à platéia perceber as diversas linguagens adotadas, as diversas dicções que povoam o nosso violão.


A abertura do concerto foi com uma peça de Kiefer, Sons perdidos, escrita para dois violões, em que Borges e Wolff trocaram frases curtas e nitidamente contemporâneas (lembrando boas sessões de jazz). A partir daí a cena ficou ao encargo de Borges, que, além de Marlos Nobre, apresentou-nos o paraibano José Siqueira, autor da excelente Cinco invenções para violão. Wolff, por sua vez, apresentou-nos autores contemporâneos cujas peças também jogavam de modo genial com aspectos rítmicos, melódicos e harmônicos. O público pode apreciar o lirismo de Sonhando alegria, de Zenamon, que, interpretado por Wolff, soou como se fosse a coisa mais simples do mundo (não estivese ele apoiado em intricada harmonia); muito interesante também o Poemeto, de Fernando Mattos, e Ritmata, de Krieger.


De acordo com Lídia e Beatriz, essa é ainda uma pequena amostra do que virá por aí. O melhor virá quando, no segundo semestre, concluirem-se as reformas do Teatro Glória, que passará a ser o palco dos diversos projetos (teatro, cinema, literatura e música) que serão implementados em Vitória. Aguardamos e torcemos para que tudo siga o cronograma estabelecido.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Epílogo: Bad Plus - The pop at the top

Sempre gostei da idéia de os músicos se apropriarem dos novos standards, dos sucessos pops, e darem uma repaginada com a linguagem jazzística. Hancock fez isso há alguns anos e eu comprei o disco ansioso por saber o resultado. Não gostei - achei os arranjos muito pesadões (acho que voltarei a ouvi-lo para ver se o tempo alterou minha percepção).


Atualmente, ouvi dois grupos que pegaram ícones do rock'n'roll e deram o tal trato jazzístico: o Air, que trabalhou temas do Deep Purple, e o The Crimson Jazz trio, que viajou nas águas do King Crimson. Esse último me soou bastante consistente e merece ser ouvido. Há mais tempo, Lester, do Jazzseen, apresentou-nos o Bad Plus - quase foi apedrejado pelos amigos do Clube das Terças (fraternidade jazzista da ilha de Vitória) - eu, inclusive, titubeei entre meu passado roqueiro e o jazz que atualmente me domina.


Hoje, três anos depois, cá estou, frente a frente com o grupo. E, sem titubear, posso afirmar que, entre os roqueiros que se apresentaram em Rio das Ostras, o The Bad Plus foi o melhor. Gostei do modo como eles construíram os arranjos dos temas interpretados: alterações da divisão (evidenciando a habilidade em jogar com aspectos ritmicos); alterações harmônicas; acentuações falsamente anárquicas que deslocam o "chão" da música e propiciam uma certa vertigem nos ouvintes. Tudo isso fez-me admirar o trabalho da moçada.

Quando a cantora convidada, Wendy Lewis, iniciou suas performances cantando a linha melódica tal como todos conhecem, a impressão que nos restou foi que de uma hora para outra ela iria se esborrachar na semitonação ou que iria entrar no momento errado. Mera ilusão proporcionada pelos arranjos do escorregadio band leader Ethan Iverson (piano - ele evitou o máximo possível contatos ou entrevistas). O trabalho de Reid Anderson (baixo) e de David King (bateria) deu uma consistência e tanto aos arranjos - eles eram responsáveis pelo insólito chão, que mais insólito parecia com as harmonizações de Ethan.
A mágica parceu-me ser a seguinte: ao deslocar os acentos, a banda cria vácuos onde deveria ser chão. O curioso é que esse "vácuo", esse "vazio" continua sendo "chão". E o cantor ou solista tem que acreditar nisso, tem que continuar andando (como naqueles desenhos animados em que o personagem só cai quando vê que não tem bada sob seus pés). E Wendy, uma fadinha punk, seguia seu caminho como se estivesse no jardim mais seguro da vizinhança. O resultado foi surpreendente, pois o balanço continuava ali, o rock'n'roll continuava ali sob a influência do jazz.

O grupo iniciou o show tocando alguns clássicos do jazz (Ornette Coleman entre eles), sempre usando o modus operandi citado. Quando Wendy foi anunciada, a banda atacou uma boa versão de Blue velvet, que serviu de "ponte" para os novos standards que estavam engatilhados: Nirvana, Pink Floyd, U2 e mais um monte de ícones pops desfilaram no palco. Desfilaram devidamente revisitados pela linguagem da rapaziada. Linguagem que traz em si os bons ensinamentos dos mestres do jazz.

The Bad Plus, ao meu ouvir, elevou o pop a um nível musical que raramente encontramos. O pop foi ao topo.

Rio das Ostras: It's only rock'n'roll...

Enquanto assistíamos a apresentação do Rudder, banda mais que fusion novaiorquina, Wilson me perguntou se eu usaria os efeitos que o saxofonista estava usando. Nem titubeei: é lógico que sim, principalmente se fosse para tocar rock'n'roll como a rapaziada estava fazendo.


Chris Cheek (saxofones) não permitiu que apreciássemos a sua real capacidade de tocar um instrumento, pois os efeitos se tornavam a atração em si. A banda, um quarteto, se completou com Henry Hey (teclados), Tim Lefebvre (baixo) e pelo baterista do Saturday Night Live, Shawn Pelton, que estava substituindo Keith Carlock, o dono das baquetas. O som é rock'n'roll de primeira. Segundo consta, tocado por jazzistas. De acordo com Wilson, Chris participou da Eletric Bebop, de Paul Motian. Foi divertido. Nada mais a dizer.

Os vagalumes do Rio das Ostras Festival



Nunca gostei do Spyro Gyra, nunca gostei do estilo de música que eles fazem. Vertente que produz excrecências como Kenny G. Fui assistir o show em nome do jornalismo verdade e porque era "de grátis". Obviamente, esse fator afetará a minha análise do que eu vi e ouvi.


Admito que não foi uma das piores experiências da minha vida, mas não chega ao ponto de eu querer comprar algum dos seus discos. Isso não. Reconheço, porém, que os músicos são muito bons. O conjunto está muito bem articulado, seguindo as convenções de modo preciso e eficiente. A banda passou por algumas alterações, mas mantém o trio principal e fundador: Jay Beckenstein (saxofone), Julio Fernandez (guitarra - muito bom, por sinal - foto, ao meu lado) e Tom Schuman (piano). São eles os responsáveis pela linguagem smooth adotada.

Destaco a performance do baixista Scott Ambush (foto, com Guzz), a quem foi concedido longo espaço do show. Seu estilo lembra os bons do baixo elétrico, principalmente Stanley Clark. O baterista e armário Bonny B. desceu a mão com força e também teve longo espaço, para delírio dos apreciadores de Carlinhos Brown (o camarada entrou numas de cantarolar olê, olê, olê, oláá enquanto espancava batera). Foi nesse momento que eu deixei um Guzz (CJUB) emocionado por assistir seus heróis e voltei para o backstage para beber um pouco de água... e por lá fiquei.

Rio das Ostras - e o jazz?

Logo que eu comecei a escrever sobre o festival de Rio das Ostras, os amigos perguntaram "E o jazz, Salsa, e o jazz?". Com certeza, esse foi um festival restrito quanto a esse aspecto. Em outras oportunidades houve maior abrangência de estilos, permitindo ao visitante, aficcionado ou não, experiências mais interessantes.

A tendência no sentido de tornar o festival mais "moderno" ficou mais patente. Os "clássicos" do jazz foram Jason Miles e Spyro Gyra. Faltou dizerem não confio em bandas com mais de trinta anos. Muitos dos meus amigos jazzófilos se quer consideram os citados como jazzistas. Enfim, se eles lá tivessem ido poderiam ter morrido de desgosto ou matado alguns músicos.

Eu não partilho dessa posição extremada. A música se movimenta. O jazz também, obviamente. Se não, ainda estaríamos ouvindo dixieland e não existiriam Hawkins, Monk, Coltrane, Mingus, Burrell, McBride, Jarret ou Evans. Mas me incomodou não ter ouvido nada que lembrasse os citados.

Minto. A única coisa que seguiu o veio principal do jazz foi o Júlio Bittencourt Trio, que se apresentou no Hotel Atlântico, próximo à Lagoa de Iriri. Os irmãos Júlio (bateria) e Luciano (guitarra), mais o excelente baixista BJ Bentes, acompanharam a americana Rodica (radicada no Brasil), dona de uma bela voz, em um show honesto e bem equilibrado. O show não fazia parte da programação oficial (aspecto que poderia ser melhor explorado pelos donos de bares e hotéis de Rio das Ostras).


Quanto ao festival, fiquei incomodado com a restrição do cardápio. Mas isso não significa que eu não gostei dos pratos servidos. Jason Miles, por exemplo, me surpreendeu. A sua história de programador de teclados me deixou reticente. Reticências que se transformaram em exclamações e interrogações (!?!?!) com o susto inicial provocado por um batuque gringobrasilianista acrescido de efeitos de teclados. No entanto, Jason deu a volta por cima rapidamente e mostrou a força de sua banda fusion.


O trabalho de Jerry Brooks (baixo), Brian Dunne (bateria) e do trompetista Michael ”Patches” Stewart foi muito bom. Brooks e Stewart, então, foram muito além daquilo por mim esperado. As performances dos dois foram excelentes. A homenagem fusion de Miles a Miles valeu, apesar da chuva que caiu e encurtou o show. Um colega ao lado disse: "acho que São pedro não gostou".




PS - Um porém: ainda não consigo engolir a idéia de um dj ser considerado músico. Achei completamente desnecessária a presença do tal DJ Logic no palco, arranhando vinís.

Rio das Ostras - Matou a cobra e mostrou o Pau Brasil



O Pau Brasil está na estrada desde 1979, sempre primando por produzir discos de muito boa qualidade. O próximo, aliás, como nos informou o grande pianista Nelson Ayres, contará com a participação de um quarteto de cordas e fará homenagem ao bom e velho Villa-Lobos. Aguardem. Enquanto conversávamos, eu, Wilson Garzon e Nelson Ayres (foto), começou a cair o maior chuvaréu. Nelson, chateado, pois era a vez do Pau Brasil subir ao palco, reclamou da intempérie, achando que o público iria embora. Enganou-se. Quando o grupo foi anunciado quem foi embora foi a chuva, num claro sinal de respeito ao excelente trabalho do grupo.

O show foi um dos melhores, se não o melhor entre aqueles que assisti (só perdi a primeira noite). O grupo formado por Nelson Ayres (teclados), Paulo Bellinati (violão), Rodolfo Stroeter (baixo), Mané Silveira (saxofone, substituindo o Teco Cardoso) e Ricardo Mosca (bateria) foi impecável em sua performance. A sonoridade e a musicalidade do Pau Brasil arrebatou o público e se tornou uma espécie de unanimidade: não ouvi ninguém fazer comentário negativo.


O grupo estava com uma coesão que só os grandes conseguem. O trio de frente: Ayres (ali no meio do campo, distribuindo as jogadas), Bellinati e Silveira, deu um passeio. Passeio facilitado pelo bom trabalho desenvolvido por Stroeter e Mosca (foto, com Wilson e Ayres), que não deixaram a peteca cair. Fica difícil dizer se há algum deles que mereça maior destaque. No entanto, por nunca tê-lo visto e ouvido tocar, gostaria de ressaltar a excelência do violão de Bellinati (foto, ao meu lado), músico que, sem dúvida, pode figurar no panteão dos melhores. São Pedro agradeceu e o público pediu mais.



Deixarei alguma coisa dos velhos discos ali no podcast do Jazz Contemporâneo


terça-feira, 16 de junho de 2009

Rio das Ostras - Blues urbano e blues da roça


Lembro-me de, no ano passado, em Rio das Ostras, ter perguntado ao guitarrista texano que toca com John Mayall se o blues, assim como o jazz, também havia se mudado para a Europa. Sua resposta foi simples e objetiva: o blues nunca deixará de ser americano. Depois de, esse ano, ouvir John Hammond e Coco Montoya, sou obrigado a admitir isso. Nós jogamos futebol, tocamos samba e bossa, até fazemos um bom blues, mas essa praia é mesmo dos gringos.




John Hammond, branquelo comprido e simpático, empunhando seu violão e com uma gaita presa num suporte (a la Dylan) fez um blues mais "raiz", roceiro, da margens do Mississipi, das fazendas de algodão do sul dos USA. Pode-se dizer que John Hammond é um músico que não tem dúvidas sobre o que faz. Seu estilo é bem definido e o segue desde o início de sua carreira. O Robert Johnson branco, como ele costuma ser chamado, assessorado por Marty Ballou (baixo), Neil Gouvin (bateria) e Bruce Katz (teclado), Hammond conseguiu dar o seu recado numa boa, envolvendo o público com sua performance.




O canhoto Coco Montoya é urbanóide (seu som é próximo à tradição de Chicago) e não inverte as cordas de sua guitarra. Uma coisa foi fácil de observar: desde os primeiros acordes, desde as primeiras notas que emergiram do contato de sua palheta com as cordas de sua guitarra ficou claro que se tratava de um grande músico. Curiosamente, Coco Montoya iniciou sua carreira, de acordo com o release do festival, como baterista do blueseiro Albert Collins. E foi com ele que aprendeu tocar guitarra. O mestre pode se orgulhar do seu aluno, pois Montoya fez um show muito bom.




Uma observação técnica para os blueseiros de plantão: o blogueiro Guzz (CJUB), fã de guitarras, durante um papo com o guitarrista, obteve informações sobre o seu instrumento: foi fabricado por um luthier californiano e usa duas numerações de cordas simultaneamente (12 e 11) para conseguir a sonoridade que tomou de assalto o público presente no palco da Enseada Azul.




segunda-feira, 15 de junho de 2009

Rio das Ostras - blues brasileiro

I


O festival de Jazz & Blues de Rio das Ostras tem uma peculiaridade interessante: é tudo "de grátis". É uma festa popular com um tipo de música a que a massa não costuma ter acesso. Iniciativa que poderia muito bem ser copiada por outras cidades (aliás, isso já vem sendo feito, ainda em pequeno número, de norte a sul do Brasil varonil), mas, até o presente momento, a administração pública tem preferido investir fortunas em shows de um único grupo de axé, dupla breganeja e que tais em nome do mito "é disso que o povo gosta". O povo gosta disso sim, mas não desgosta quando lhe é permitido o contato com outras formas de expressões artísticas. A confirmação desse fato foram as milhares de pessoas que, mesmo sob chuva, prestigiaram as apresentações nos três palcos (lagoa de Iriri, Enseada Azul e Tartaruga).



II



Os grupos de jazz que se apresentaram mantiveram uma distância considerável do mainstream jazzístico, fato que, a meu ver e ouvir, não os condena (teremos oportunidade para falar disso mais adiante). O blues, sim, teve um leque mais representativo de suas diversas tendências.



Na vertente blueseira, tivemos dois representantes brasileiros: os grupos de Ari Borger e de Jefferson Gonçalves.



Ari, que já morou uma temporada na região de Saint Louis, pilota o Hammond com competência e segue uma linha mais próxima do blues/soul/jazz que povoava os anos sessenta. O grupo contava, além do band leader, com Celso Salim - guitarrista com pegada mais voltada para o blues, Humberto Zigler (bateria) e Marcos Klis - baixo acústico, que imprimia uma sonoridade mais jazzy, mas mantendo-se no básico. O quarteto interpretou temas próprios e de outros compositores, conseguindo balançar a moçada que prestigiava os shows. Acho, no entanto, que o grupo poderia ousar um pouco mais em seus arranjos para romper com a sensação de repetição que, a partir do terceiro tema executado, começa a dominar o ouvinte. Eu, com o meu contaminado ouvido, acho que Ari Borger poderia usar algumas pitadas do tempero de Hancock e Horace Silver para dar mais brilho ao seu já satisfatório trabalho.



O gaitista Jefferson Gonçalves, dono de um largo currículo na seara blueseira, por sua vez, buscou justamente ousar no território da fusão. A sua linguagem está mais voltada para o blues dos pântanos norte americanos acrescido do tempero tropical. A maioria dos temas interpretados pelo grupo reunia elementos do nordeste brasileiro, que foram usados sem parcimônia na jambalaya cajun de Jefferson. Um amigo comentou, enquanto caminhávamos para o almoço, que o clima cajun com forró até que deu uma liga, mas não arriscaria encarar um "prato de estivador" misturando jambalaya e buchada de bode. Aí a mistura pode ser indigesta. Sábio, o meu colega.

domingo, 14 de junho de 2009

Rio das Ostras - social

Uma das boas coisas que acontecem nos festivais de jazz é o reencontro com amigos. Amizades iniciadas na web, firmada nos blogs de jazz que freqüentamos - trincheiras na luta para divulgar e manter acesa a chama desse estilo (que ainda se mostra vigoroso) - associadas às outras que se iniciaram lá, no meio do turbilhão musical.



Estavam lá em Rio da Ostras: Leo Jazzman, Wilson Clube de Jazz (foto a sua direita), Guzz CJUB, Olney Figbatera (foto da esquerda), Vinícius Jazz + (na foto central, com os músicos do Spyro Gyra). Acrescentem aí a moçada da Guitar Player e os colaboradores da Jazz +, que escaparam das fotos.
As notícias sobre o festival saem amanhã.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Stan Kenton

Resolvi deixar mais um post antes de embarcar para Rio das Ostras. Só retorno no domingo.

E, vejam só, um post para falar de coisa que eu não gosto: orquestra. Sigo as palavras dos amigos visitantes: sempre rola uma coisa interessante, por mais que você deteste o lance. Eu não chego a detestar. Não é isso. Já disse antes: só não gosto de naipes histriônicos, carregando nos agudos como se quisessem derrubar as muralhas de Jericó. As orquestras gostam disso, seja como um grito de alegria ou como um acento dramático - e a orquestra de Stan Kenton não escapa dessa sina.

Mas, devo admitir, Stan faz isso de uma maneira singular. Pelo menos no disco New concepts of artistry in rhythm, gravado em 1952. Gostei de ouvir a aula - literalmente - exposta na primeira faixa Prologue (This is an orchestra!). Trata-se de uma apresentação bastante didática dos músicos da orquestra (entre eles, Maynard Ferguson, Richie Kamuca, Stan Levey, Conte Candoli, Sal Salvador, Konitz e Rosolino) e dos papéis por eles desempenhados na construção da música. É muita gente boa no mesmo palco.

Os temas que eu mais curti foram Invention for guitar and trumpet e Swing house (o naipe me fez cantarolar Bananeira, de João Donato)

Ouçam ali no podcast Quintal do Jazz

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segunda-feira, 8 de junho de 2009

Chu

Esse post é para colecionadores e demais malucos que gostam de gravações antigas salpicadas por arranhões (até que não são tantos). De antemão digo que gostei do disco, uma coletânea com temas do final dos anos 30. E não é para menos, pois quem está tocando é o tenorista Leon "Chu" Berry.

Para quem ainda não conhece, esclareço. Chu é um tremendo tenorista que pode, sem dúvida, ser comparado aos grandes de sua época: Lester e Hawkins. Em sua breve vida (*1908 +1941 - morreu aos trinta e três em um acidente automobilístico), ele conseguiu mostrar uma habilidade incomum com seu instrumento. Tanto que muitos dizem que Charlie Parker seria seu herdeiro nos quesitos velocidade, controle e clima envolvente do seu sopro (e é bom lembrar que o filho de Parker, numa clara homenagem ao seu herói, chama-se Leon). Quando vocês ligarem o podcast, observem como Chu toca como se estivesse fazendo a coisa mais simples do mundo.

O disco que encontrei por acaso na web é uma coletânea de sua fase final: entre 36 e 38 (pouco antes de sua morte - sua vida profissional durou em torno de uma década). Antes, ele já havia passado por grupos importantes: Benny Carter, Teddy Hill, Fletcher Henderson. Em 1937, ele formou o hepteto Chu Berry and his Stompy Stevedors, cujos membros sabiam pegar no pesado. Em 38, trabalhou com Cab Calloway Orchestra e dividiu a cena com Dizzy Gillespie. Mestre nas baladas, ele também o era em temas up tempo, como afirma o diretor da furiosa Calloway Brooks: " But when it comes to up tempo playing I say he was absolutely untouchable at the time, left everybody in the dust and this inspired Bird to no end. Chu had to have inspired Dizzy Gillespie a great deal as well".

Ouçam ali no podcast Quintal do Jazz

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sexta-feira, 5 de junho de 2009

BBB & Co

Existem nomes que se impõem nesse nosso universo. Por suas reconhecidas contribuições para que esse mundinho cão tenha algum sentido, por suas histórias, por suas sensibilidades, por suas artes, essas pessoas merecem nossa consideração e respeito. Aqui no cantinho da música tem uma boa quantidade, ou melhor, creio eu, são poucos, mas o efeito de suas obras é elevado a enésima potência, causando a impressão que são milhões produzindo o belo diariamente. Alguém até pode me dizer que existem milhões proliferando o belo, mas eu ando pessimista quanto a esse número.


Apresento-lhes, hoje, caros navegantes, uma nova versão do BBB. Não, não tem nada a ver com biguebróderbrazil. Tranquilizem-se. O que lhes trago é a reunião de Benny Carter, Ben Webster e Barney Bigard. Sim, senhores, BBB & Co é um disco gravado em 1962 protagonizado pelo sax alto, pelo tenor e pela clarineta. Os três formam um time sensacional, que, assessorado por Dave Barbour (guitarra), Mel Lewis (bateria), Jimmy Rowles (piano), Shorty Sherock (trumpete - outro melhor que Miles) e Leroy Vinnegar (baixo) consegue alçar nossa existência a um patamar mais elevado. O clima bluesy emanado das quatro faixas mexeu com esse velho coração.



Cada um desses músicos merece um post (Vinnegard já recebeu um muito bem elaborado lá no blog do Érico). Carter e Webster são ícones do jazz, cantados e decantados por todos os apreciadores desse estilo. Já Barney Bigard a gente não vê muita coisa escrita por aí. Ele nasceu no início do séc. XX (1905 ou 6, confiram por favor) e faleceu em 1980. Tocava clarineta e sax tenor. Tocou com a banda de Joe "King" Oliver, e, ainda na década de 20, passou a tocar com Ellington (casamento que durou aproximadamente quinze anos). O seu sopro, vocês ouvirão, é daquele tipo envolvente que vai bem com uma boa garrafa de vinho.



Outro nome pouco falado é o do guitarrista Dave Barbour. Ele tem uma longa história como membro de orquestras (Herman, Goodman, Shaw e várias outras). Foi casado com Peggy Lee durante nove anos, mas a cachaça (e, creio, o excesso de açúcar de mrs Lee) levaram-no a precoce morte. Observem o seu modo sutil de encarar as cordas da guitarra - é agradável.

Confiram o show ali no podcast Quintal do Jazz.
O link: here!

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Wynton Marsalis - He and she

Wynton Marsalis. Devo dizer que, às vezes, ele me irrita, outras vezes me faz parar para ouvi-lo. Dono de uma técnica exuberante, o trompetista parece ter uma alma bastante irriquieta em sua lida com a música - característica louvável. O que me irrita é que eu acho que falta em seus trabalhos um pouco mais de brincadeira, do lúdico, do sexo inerente ao jazz. A sua maneira de brincar me soa camerístico. Tenho a impressão que seus discos são muito arranjados. Pode ser uma grossa bobagem minha, mas parece que até os improvisos são escritos. Talvez isso seja apenas efeito de sua exuberante técnica. Que me digam aí os seus fãs.

Apresento-lhes agora um disco que me fez parar para ouvi-lo: He and she, gravado em agosto de 2007 e lançado há pouco mais de dois meses. O nome já diz tudo: trata-se da narrativa de um encontro. Mas não é apenas o encontro entre um homem e uma mulher (um garoto e uma garota), mas sim do encontro de ambos com as peripécias do amor. O casal é palco para Amor brincar.

Curiosa é forma adotada por Wynton: mesclando poemas e música, nosso herói vai tecendo a história amorosa. Os poemas introduzem-nos na história e a música dá o clima da coisa: das brincadeiras da infância (School boy), passando pelo medo (Fears) diante do universo que se apresenta até alcançar o primeiro beijo, a primeira vez (First kiss e First time). Achei que a forma funcionou bem.

Acompanham Marsalis, os jovens músicos Walter Blanding (saxofones), Dan Nimmer (piano), Carlos Hendriquez (baixo) e Ali Jackson (bateria). Destaco as faixas School boy, First slow dance, Girls! e A train, a banjo and a chicken wing. Esta última é um blues slow tempo com aquela aura on the road, como deve ser. Um disco que merece ser ouvido.

Curtam ali no podcast do jazz contemporâneo.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Six views of the blues

Eu não sou um fã do Jimmy Smith, antecipo. É aquele tipo de efeito decorrente de maus encontros, maus momentos que, pelo jeito deve ter acontecido ao ouvi-lo pela primeira vez. Não me recordo qual era o disco (recalquei), mas me lembro que me soou excessivo, estridente. Jimmy devia estar com a mão pesada.

Não sou fã, mas tenho alguns dos seus discos. Nada estridentes, diga-se de passagem. Agora mesmo, enquanto redijo essas linhas, estou ouvindo Six views of the blues. Disco que me agrada por dois motivos básicos: é blues (dos bons) e é muito cool. Jimmy, aqui, faz-me rever meu preconceito. Adorei ouvi-lo interpretando Swingin' shepherd blues, um tema que sempre me agradou (gostava de tocá-lo nos primórdios das sessões na Curva da Jurema, antro jazzístico que ainda funciona nas segundas-feiras, em Vitória). O set list inclui ainda St. Louis Blues e quatro variações sobre clichês de blues, todos muito bem conduzidos pelo time.

O ambiente produzido pela equipe formada por Jimmy Smith (Hammond B-3 organ), Cecil Payne (baritono), Kenny Burrell (guitarra), Art Blakey (drums) e Donald Bailey (drums) é mais do que agradável: é envolvente. Até Blakey está comedido. O barítono de Payne e a guitarra de Burrell dão um toque especial às gravações. Não há como não indicar.
Ouçam no podcast Quintal do Jazz.
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